sábado, 31 de dezembro de 2011

Unidos por um 2012 melhor.



No final de cada ano é habitual desejarmos aos amigos mais chegados o começo de um novo, com a esperança de que sempre seja melhor que aquele que termina e, se possível, um pouco pior, que o que há-de vir a seguir. É pois sinal que a esperança dos anos vindouros sempre sejam melhores e nos tragam portanto mais ânimo, alegria e menos sacrifícios, para levarmos por diante o destino que a cada um de nós bate á porta.

Assim tem sido ao longo de milhares e milhares de anos, através das gerações que nos antecederam e assim há-de ser quanto às que nos vierem a suceder. A este modo de estar chamamos nós “a vida”. Para uns mais sorridente, para outros nem por isso. Porém, mudar o curso da mãe-natureza para anos sempre prenhes de sonhos bons, não é exactamente tarefa da qual nos possamos orgulhar. Podemos sim lutar por tal conquista, mas sabendo de antemão que não atingiremos na plenitude tal desiderato.

Também se o conseguíssemos, talvez as nossas vidas não fossem aquilo que de facto ansiávamos delas. Há milhões de seres na aldeia global que habitamos e certamente que seria impossível conciliar propósitos que conduzissem a tal estado. É tido como dado adquirido que muitas mentes, pensam e agem de maneira diversa entre si, razão pela qual e no mais das vezes, se nos afigura como incompreensível o mal que podem causar ao nosso mundo. Do bem que outras tantas nos possam aportar, não vale a pena falarmos. Contentemo-nos em louvá-las, admirá-las e, sem falsas vaidades, falarmos favoravelmente e com orgulho das mesmas.

Dando especial enfoque ao de 2011, e muito em particular a tudo o que nos passou pelos olhos, que o mesmo é dizer a tudo o que vivenciámos, julgo estar em condições de poder dizer que o que nos fez sofrer mais profundamente, foi assistirmos a um dia a dia incerto e irregular, em que os nossos “benfeitores”, se calhar até mais que os nossos inimigos, diminuiram o nosso valor e a nossa vontade. Mesmo a maior parte dos parcos “benefícios” com que nos gratificaram, tiveram alguma coisa de revoltante , devido ao facto da ligeireza intelectual como nos foram propostos.

Causas várias o determinaram sendo que, a meu ver, sempre tivemos necessidade de medos, de privações, de empobrecimentos, de riscos , de transgressões para o levarmos até ao fim. Genericamente classificaria o ano que agora acaba como tendo sido qualquer coisa que nos lançou com muito “encanto” para novos perigos. Chamar-lhe-ia um ano supostamente encantatório mas que não trouxe os objectivos , por poucos que fossem, a que todos aspirávamos. Vivemo-lo como se tratasse de deglutir um repasto cuja cozinha não nos inspirasse grande confiança.

É por ter percepcionado este sentimento em relação a 2011, que muito me amedronta o que aí vem para 2012. E agora pergunto eu; como, em face desta realidade, poderemos nós agarrar com as duas mãos o novo ano que está a chegar, ousadamente, de peito feito, por forma a que possamos, mais uma vez, deglutir um 2012 que se nos apresenta ainda mais escuro, como que o cair de uma tarde invernosa e com frio de enregelar almas e corações?

Teremos de entrar por uma porta que está fechada e para uma sala onde tudo está às escuras. Vai ser esse o modo de entrar e depois ficar. De toda a maneira quero crer que seremos capazes de abrir, senão mesmo de derrubar a dita porta, e acender tudo quanto seja luz. Mesmo que para o efeito tenhamos que nos hipnotizarmos. Não sou homem profético, esses sofrem muito, mas é meu desejo que, de ora em diante, não desistamos de agarrar com positivismo tudo o que de mau se anuncia.

Não será porventura tão difícil como alguns dizem. Basta que nos unamos, nós e os que acima de nós estão, nos centremos num objectivo essencial a todos. A importância de sermos deste lugar a tanto nos obriga. Consonância de direitos e deveres, leis que solidifiquem finalmente o nosso bem-estar e muito em especial segurar um alvo específico. O seu nome popular é ... seriedade e muita paciência. Nossa, mas em primeiro lugar de quem nos governa. Seremos capazes? Detesto as almas acanhadas . Não têm nada de bom, e quase nada de mau. A ver vamos.

Mário Rui

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Barclay James Harvest -Child of Universe

Os progressos do atraso


O atraso económico é um dos mais perenes temas de discussão entre cientistas sociais portugueses. São-lhe atribuídas várias causas, entre as quais a situação periférica, a fraqueza da sociedade civil, a falta de recursos naturais, a inexistência de Reforma, o centralismo excessivo, o intervencionismo do Estado, os níveis de educação insuficientes, o domínio da grande propriedade fundiária e tantos outros. É possível que os especialistas nunca cheguem a acordo na identificação das causas decisivas. E talvez isso não seja o mais importante. Realmente interessante é fazer, como Pedro Lains faz de modo exemplar, um esforço rigoroso de estudo e acompanhamento, a par e passo, do crescimento económico português ao longo de quase dois séculos, o que lhe permite mostrar como o atraso não é produto de uma causa singela. Depende de variáveis múltiplas e, em cada momento histórico, da situação geral. (António Barreto) Pedro Lains é um dos pioneiros e um dos autores de topo da nova corrente de historiografia económica portuguesa. As suas conclusões são baseadas em cuidadosas investigações estatísticas e em técnicas modernas de análise económica, em vez de assentarem, como anteriormente tanto se fazia entre nós, em inferências extraídas de informações muitas vezes pouco quantificadas ou apenas parcelares. O seu livro é uma referência indispensável para o estudo da história económica portuguesa desde meados do séc.XIX. Nele se apresentam explicações fundamentais para as questões mais relevantes dessa história. Entre outras, são especialmente interessantes as suas contribuições para a discussão da falta de convergência real da economia portuguesa em relação às dos países europeus industrializados desde meados do séc.XIX até ao fim da I Guerra Mundial e dos avanços na mesma convergência durante o período posterior até ao fim do século XX. (José Silva Lopes)

Mário Rui

Aos 80 anos, morre Chita, chimpanzé dos filmes clássicos de Tarzan



O chimpanzé Chita ou Cheetah (seu nome em inglês), que protagonizou 12 filmes de “Tarzan” nas décadas de 30 e 40, morreu em consequência de problemas renais no refúgio de animais The Suncoast Primate Sanctuary de Palm Harbor, no estado da Flórida, nos Estados Unidos. “É com grande pesar que comunicamos a perda de um querido amigo e um membro da família em 24 de Dezembro de 2011″, afirma o site do Santuário.
Chita, que estava no livro Guinness dos Recordes como o macaco mais velho do mundo, participou, entre muitos outros, nos filmes “Tarzan , o Homem Macaco”, de 1932, e “Tarzan e sua Companheira”, de 1934, clássicos protagonizados por Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan.
O famoso animal nasceu originalmente na Libéria chamava-se Jiggs. No cinema, foi rebatizado como Cheetah e ficou conhecido no Brasil como Chita, o que gerou uma confusão e fez com que o público acreditasse que se tratava de uma macaca, quando na verdade Chita era um macho.
Quando se aposentou, o chimpanzé foi para o Santuário em 1960. Segundo o director do local, Debbie Coob, Chita amava pintar com os dedos e assistir a jogos de futebol americano e ficava calmo ao ouvir músicas cristãs: “Ele sabia quando eu tinha um dia bom ou ruim. Sempre tentava fazer com que eu sorrisse se estivesse num dia ruim. Era muito sintonizado com os sentimentos humanos”, declarou Cobb.
Ron Priest, um voluntário que trabalha no santuário, afirmou que Chita se destacava porque conseguia parar com as costas erguidas, como um humano, além de ter outros talentos. “Quando não gostava de alguém ou algo acontecia, pegava em parte de seus excrementos e lançava. Podia arremessar a quase nove metros através das barras de sua jaula”, disse Priest.
Apesar do estrelato, o macaco teve cerca de uma dezena de chimpanzés duplos nas filmagens ao longo dos anos, mas sempre foi o chimpanzé oficial dos filmes. Curiosamente, o personagem não existe nos livros de Edgar Rice Burroughs, autor das aventuras originais de Tarzan.


Ah, desculpem. Já agora recordo-vos que, com o respeito devido a quem parte deste mundo, morreu também o Quim. O Kim Jong-il, que também fez vários filmes mas de outra natureza. Menos sedutiva, menos amigável, menos democrática, menos fiel aos bons costumes de vida em sociedade. Tudo menos. Lá se foi também. Que vá em paz e, se possível, a existir outro mundo, que não lhe dê para mais filmografia... Tal como Chita também era muito sintonizado com os sentimentos, mas os desumanos. São variantes próprias de sétima arte. Sabe-se lá se não irá ainda descobrir a oitava ...


Mário Rui

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Vamos longe, vamos...


Não tenho qualquer pretensão a emitir opinião marcante, relevante ou mesmo tocante. Basta-me escrever para aliviar o que vou sentindo pelo que vejo, ouço e leio. E tentar perceber, como dizia o outro...

"Fátima Campos Ferreira (10 mil euros mensais), Catarina Furtado (30 mil euros), Fernando Mendes (20 mil euros), José Carlos Malato (20 mil euros), Maria Elisa (7 mil euros), Jorge Gabriel (18 mil euros), Sónia Araújo (14 mil euros), João Baião (15 mil euros), Tânia Ribas de Oliveira (10 mil euros) ou Sílvia Alberto (15 mil euros), entre outros." in DN
Vamos longe, vamos ...... ...
Mário Rui

Défice zero...


Reiterando a minha feliz ignorância a propósito de questões de economia, sobretudo daquela economia que nos entra casa adentro todos os dias através dos média, ainda por cima falada, ou escrita em termos tão técnicos e sinuosos, mesmo assim permito-me dissecar um pouco sobre esta impiedosa matéria.

Impiedosa porque para a maioria de nós é cruel, marca-nos indelevelmente e de uma maneira que, por vezes, em lugar de nos bafejar com alguma inesperada mordomia, leia-se retribuição justa pelo muito que já pagámos por tudo e para tudo, antes nos põe mais infelizes e a fazer contas de cabeça. Quantas vezes sem soma à vista mas quase sempre com visível subtração de bens ou meios para.

Dito isto, convirá sublinhar que, para quem, como eu, pouco percebe da dita, seremos seguramente uns óptimos criadores de riqueza que, afinal de contas, também deve ter algo a ver com a tal economia confusa de que antes falei, pois que a nossa ajuda a todos os que estão procurando libertar a condição humana do que nela possa haver de primitivo, sempre esteve e está presente nos nossos mais comezinhos actos do dia-a-dia. Somos assim como que uma espécie de sociedade civil muito dinâmica, inovadora, produtiva e que arrisca. Ainda que julguemos o contrário.

A nossa capacidade de mobilização para o que aí vem, dificuldades económicas, será talvez exígua para levarmos o barco a bom porto. Na raíz deste problema estará, digo eu, um povo ainda algo entorpecido por um Estado Social que, melhor ou pior, lá nos foi ajudando ao longo dos tempos.

Assim irá deixar de ser, creio eu, mas desiludam-se os que pensam que não seremos capazes de virar a agulha. Já o fizemos em alturas mais difíceis e, mal por mal, voltemos então à luta. Assim tenhamos a candeia que vai à frente, a tal que ilumina o caminho. O líder! Se de facto ele não se mostrar, então o mais provável é que passemos a protectorado de uma qualquer nação, que eu quase apostaria de natureza germânica.

Posto o assunto deste modo, continua a prevalecer a cisma de alguns relativamente ao défice, como eu percebo afinal de economia, conforme passo a explicar: o Governo francês revelou na passada terça-feira que em resultado das suas conversas com a Alemanha para a reforma dos Tratados da União Europeia (UE), anunciados na semana passada, foi incluída a exigência de retornar ao défice zero na zona do euro para 2016.

A informação foi dada pela ministra do Orçamento, Valérie Pécresse, que declarou ao canal "France 2" que Paris e Berlim estão estudando exigir "mais disciplina à eurozona", ao mesmo tempo que rejeitou que ambos países favoreçam a criação de uma Europa a duas velocidades.
"A França não deseja isso", afirmou Valérie, acrescentando que todos os países da eurozona "têm que colocar como meta o défice zero".

"A regra de ouro é um retorno ao equilíbrio em 2016", comentou a ministra francesa, assegurando que será sobre a base da vontade de cada Estado que se assumirá uma "trajectória de retorno ao equilíbrio".
As declarações de Valérie chegaram depois do seu companheiro no Governo, o ministro das Finanças, François Baroin, defender que sejam França e Alemanha os que preparem iniciativas e propostas para estabilizar a zona do euro.

Pois, está bom de ver. Não nos enganemos! Os fortes aspiram ao supremo poder. Os fracos a unir-se. Os primeiros se se agrupam, é geralmente para uma acção agressiva comum. Os segundos se se juntam é sempre, e bem, para irritar o instinto dos fortes. Toda a oligarquia envolve o desejo da tirania.

O que é isso do défice zero? Então e se aí vier a ferocidade de uma catástrofe natural que, jamais desejada e muito menos esperada, nos deixe, a nós ou aos outros, de rastos. O défice também deve ser zero? E se os ricos não quiserem pagar mais, os remediados não suportarem mais cortes, os pobres não puderem pagar, e se os que vivem do Estado não quiserem sair? O défice também deverá ser zero?

Se bem me lembro, o último governante sério, mas mais míope que propriamente burro que nos levou ao défice zero, foi Salazar. Será ele exemplo para este eixo franco-alemão que quer dominar a velha Europa? Folguem lá o garrote. Se Eça de Queirós fosse vivo, diria: «então hoje apuram-se os músculos do mesmo modo como antigamente se apuravam as ideias?»

Essa do défice zero não me convence e nela não depositarei fé alguma. Por pouco que seja. Estes desejados fenómenos paradoxais, costumam manifestar-se nas pessoas, países, que possuem uma grande força centrífuga. As suas satisfações são tão rápidas e ao mesmo tempo tão violentas que são imediatamente seguidas pela repugnância de quem ainda tem dois dedos de testa. Fogem imediatamente para o terreno oposto.
Já não temos um eixo do mal numa estação televisiva portuguesa? Acho que sim. Ó franco-germânicos: a vossa frieza deve estar cheia de uma secreta embriaguês de valores. Os nossos são outros. Muitas vezes é infinitamente mais importante conhecer o nome das “coisas” do que tentar adivinhar o que elas são. Não se ponham a adivinhar quem somos. Somos PORTUGUESES. Chega-vos?

Mário Rui

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A estúpidez é sempre uma ignorante.



Finalmente estou verdadeiramente convencido de que Natal é sempre que uma mulher e um homem quiserem. A prova provada de que assim é, e há-de ser, fica nas caras felizes e cheias de promessas que vos deixo em cima. De que servem as guerras, os martírios, as vielas tortuosas das nossas vidas, se afinal tudo se resume ao acto de nascer, ser feliz por dentro, viver a vida consciente de que a paz é bem melhor que a guerra e, depois, serenamente voarmos até ao infinito.

Como é que o homem vai viver sem uma significação para a vida? A velhice que se me anuncia, anuncia-me a aceitação e a serenidade. Só isso nos torna fortes, mesmo com os velhos costumes e sem necessidade de estúpidas e nervosas novidades. Sejam elas de agora ou de amanhã. A estúpidez é sempre uma ignorante.


Mário Rui

domingo, 25 de dezembro de 2011

Tempo de paz

A todas as minhas amigas e amigos quero deixar votos de um Bom Natal e um Feliz Ano de 2015. (Obrigado Zé Nóbrega pela ideia do 2015 - está bem apanhada).

Não lhe chamem "troika". Chamem-lhe antes José Sócrates!

Mário Rui

sábado, 24 de dezembro de 2011

Perdoem-nos, mas nunca se esqueçam dos seus nomes.



Eu bem sei que a imagem é chocante. Mas foi meu propósito deixá-la aqui para que todos a vissem. Desde logo porque retrata uma realidade que a alguns toca em particular. Os desfavorecidos deste planeta. Depois, porque nesta quadra que parece tentar ser mais solidária, muitos de nós esquecemos, ou simplesmente queremos ignorar, que há sítios, lugares, povos, onde Natal significa o mesmo sofrimento de sempre. Por esses sítios sempre existe uma forma bizarra de transformar as pessoas em coisas. Ainda acredito que leis novas hão-de erigir-se em protecção da vida, leis a que teremos que obedecer por forma a que imagens destas sejam definitivamente banidas deste mundo. Não saberei dizer-vos ao certo como será o futuro. Mas sei o que não mais deveremos fazer nos próximos cem, quinhentos, ou mil, ou cinco mil anos. Não é nada de extraordinário. Basta que continuemos arando os nossos campos, levando os nossos filhos à escola, contando aos amigos o nosso dia-a-dia, não dando grande importância a minudências, interiorizarmos que defenderemos aquilo que deve ser o suporte da sociedade humana. Tudo isto seremos capazes de fazer ainda que tenhamos na conta de insignificantes tão simples actos. Ainda podemos fazer mais. É que, pensando bem, se calhar não nos falta amor e dinheiro para ajudar quem precisa. Sobram-nos é ladrões. No mínimo, para ajudar à definitiva exclusão da fome, miséria e trevas que sempre se abatem sobre os mais fracos, combatamos esses ladrões. Perdoem-nos, mas nunca se esqueçam dos seus nomes.
Mário Rui

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como tudo muda!



Os tempos mudam, os hábitos mantêm-se. Entre os beijos mais apreciados, sobretudo no imaginário norte-americano, está o do marinheiro. Imortalizou-o o fotógrafo Alfred Eisenstaed em Nova Yorque, no ano de 1945: um soldado, vestido de marinheiro, beijando a sua noiva para celebrar o fim da II guerra mundial.

Agora, 66 anos depois, a Marinha dos EUA oferece-nos outro beijo para recordação. A sub-oficial de segunda classe Marissa Gaeta, de 22 aninhos, beija ternamente a sua noiva, Citlalic Snell, de 23 aninhos, logo após o navio de guerra USS Oak Hill ter atracado no porto de Virginia Beach, navio onde a primeira havia passado os últimos dois meses e meio de serviço militar.

Tudo muda, minha gente. Lembram-se daquela história que nos interrogava a propósito do regresso a casa de um marinheiro, após longa ausência por mares distantes onde cumpria o seu trabalho? O que fazia ele quando chegava a casa? Bom, primeiro fazia amor com a mulher e depois pousava as malas.

Agora já não há malas, maridos ou noivas! Que coisa mais estranha. Lá quanto às malas eu ainda posso perceber o seu declínio. Quanto aos beijos apaixonados entre marinheiras, e outras, acho que fazem muito bem. Pois se vos dá prazer, façam-no... Mas pensem muito antes de consumarem tal acto. Lembrem-se sempre que continua a haver uma mole imensa de homens que procuram rapariga trabalhadora e lavadinha para contrair matrimónio. Se mulheres se casam com mulheres, lá se vão as esperanças de tantos e tantos mancebos ávidos de companhia feminina. Não deixemos que sonhos masculinos se desmoronem deste modo. É uma pena.

Mário Rui

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobreiro já é a árvore Nacional.



“A partir de agora, abater um sobreiro não será apenas abater uma árvore protegida, mas sim, um símbolo nacional”, disse ao PÚBLICO o deputado socialista Miguel Freitas, relator do projecto. “O consenso total na Assembleia da República foi muito importante”, acrescentou.

Não me levem a mal, mas deixem-me rir. Esta terá sido a mais importante medida tomada pelos parlamentares portugueses, p´ra aí nos últimos 15 anos. Medida demasiado importante e absolutamente necessária ao crescimento do país.

Eu, que confesso a minha galopante ignorância, até desconhecia que medidas deste calibre eram tratadas na Assembleia da República. Imagino a dificuldade, 'louvando a atitude', em levar por diante tal decisão. Devem ter sido dias e dias a fio e noites de discussão, planeamento e debate sério para, finalmente, se chegar a um consenso de tão elevada e ansiada maturidade democrática.

Agora abater um sobreiro não é só arrancá-lo à terra-mãe. É abater um verdadeiro símbolo nacional. Vão trabalhar srs. deputados! Deixam lá esses assuntos para quem melhor sabe tratar deles.

Portugal precisa de símbolos nacionais mas de uma outra natureza. De uma natureza que dê os frutos tão esperados por todos nós. Desenvolvimento, crescimento económico, justiça social, educação, saúde. A qualidade da nossa democracia desceu mais um ponto.

E eu que até gosto do sobreiro, acho que deputados há que são como estas árvores. Quanto mais ela aspira a subir para as alturas, para a claridade, tanto mais aspiram as suas raízes a mergulhar na terra, nas trevas, na profundidade - no mal.

Mas que fervilhante piolhame de gente «culta» que se regala com o suor dos heróis. Prestem-nos um favorzinho. Pequenino. Elevem o nível da discussão ou então plantem mais árvores. Daquelas que dão vimes. Depois nós daremos aos vimes o que de melhor eles sabem fazer. Vergastar incompetentes que subjugam heróicos cidadãos.

Mário Rui

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Teremos sempre Paris, José



As faculdades de memória, inteligência, honestidade intelectual e coerência do professor Freitas do Amaral foram hoje publicamente fustigadas sem piedade , no artigo de opinião de Pedro Lomba, no Público.

De facto este tipo de homem-mistura da nossa política, entenda-se Freitas do Amaral, precisa absolutamente de um traje de máscara. Naturalmente que assim sendo, nenhum traje lhe assenta bem - muda e volta a mudar. São as suas preferências efémeras e nas diferentes mascaradas de estilo em que se meteu; também nos seus momentos de desespero por «nada estar à sua medida» . Depois, claro, sujeita-se a ouvir o que certamente não gosta.

"Nós sempre teremos Paris", balbucia Rick para sua bela amada Ilsa" (Casablanca)
Mário Rui

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Natal



Está a chegar o Natal e como se nos tivéssemos portado todos mal durante o ano vamos ter de levar novamente com o Sozinho em Casa, com o Shrek e com o Harry Potter.

O Natal é a minha época do ano favorita e, pelo menos por cá, onde eu moro, deve ser a única altura que se confunde com o Carnaval, que também é bonito mas, pelo andar da carruagem, sou capaz de me cansar facilmente dele antes de Fevereiro.

Imbuídas do espírito, o Natal é também a altura do ano em que as operadoras móveis aproveitam para cobrar aos clientes dinheiro pelas chamadas e mensagens, em que as pessoas se lembram que conceitos como solidariedade e caridade existem mesmo, em que são feitas músicas alusivas de que ninguém se lembra e, como novidade para este ano, em que muitos de nós nos lembramos que afinal não devemos ter dinheiro que chegue para viver o Natal como deve ser.
Reunir a família é provavelmente a melhor coisa que o Natal me pode oferecer e terminada a época natalícia sinto-me angustiado até aos ossos, mesmo que me digam que o Natal é quando o homem quer. Não, não é! Ninguém come rabanadas no Outono, os Ferrero Rocher azedam no Verão e a árvore de Natal nunca é feita na Primavera.

O Natal só pode ser celebrado agora não porque Jesus nasceu em Dezembro, mas porque em mais nenhuma outra altura saberia tão bem a lareira com o azevinho e o mau tempo lá fora, a árvore de Natal e a manta no sofá, os vidros embaciados nos carros que aproveitamos para desejar “Feliz Natal”, ou tão só porque seria desesperante ter de levar com o Macaulay Culkin também no Verão.

O melhor Natal é sempre aquele que é sentido e vivido em família e, apesar da crise, este não será muito diferente dos outros. Mas tendo em conta a situação que vivemos, desejar-vos um bom 2012 seria uma grande ironia da minha parte.Feliz Natal!

Rui André

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Clockwork Orange



"Laranja mecânica", a história do jovem que amava violência, sexo e Beethoven, faz hoje 40 anos.

Mário Rui


domingo, 18 de dezembro de 2011

A banhos



A paisagem faz a raça.


É um erro pensar que a guerra moderna é mais destruidora de vidas do que o foram os conflitos menos importantes de outrora.


Mário Rui

USA - Retirada do Iraque


Não se metam noutra! Já chega.

As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.

Fernando Pessoa

sábado, 17 de dezembro de 2011

A uns e a outros



Não vos ofereço balões porque já somos, todos nós, suficientemente adultos para nos alegrarmos com tal artefacto. De resto, nem sequer sei se iriam gostar de os encherem de ar, que é coisa qua a cada um de nós começa a escassear para viver. Ar puro, daquele que em vez de nos trazer amarguras, sempre nos enche de um novo folêgo para enfrentarmos mais não sei quantos dias, semanas, meses, anos de vida. Assim o espero e desejo a todos quantos no passado dia 16 de Dezembro estiveram juntos em mais uma jantarada de Natal, altura em que, em maior número e embuídos de um outro espírito, necessariamente mais fraterno, nos unimos para celebrarmos a data.

Mas é bom referir que, sendo a data marcante para todos, não é menos importante que estes “ajuntamentos” sirvam simultaneamente para trazer à memória velhas histórias, velhas peripécias, que fizeram de nós adolescentes, jovens e depois adultos. Se me perguntarem qual a melhor fase das nossas próprias vidas, terei eterna dificuldade em escolher uma. Todas foram vivenciadas e marcadas por um ou muitos episódios que nos deixaram chegar, às vezes com alegrias, outras tantas com tristezas e angústias, ao que somos hoje. Sempre gostámos do convívio dos nossos amigos, amigos que connosco atravessaram estradas poeirentas, caminhos cheios de luz e imaginação, rotas que por vezes muito nos custaram à alma, ao coração e sobretudo ao espírito.

Mas, enfim, dizem alguns que a vida é feita disto mesmo. Não que discorde da afirmação, mas parece-me que em muitos casos poderia e deveria ser bem diferente. Para melhor, entenda-se. Não creio em coisas eternas assim como muito me custa interiorizar a partida, o ir sem regresso, de alguns dos melhores parceiros que algum dia tivemos. A vida continua a ser assim? Talvez. Mas agora com mais veemência, porque dos amigos vos falei, não quero emparceirar com esta ideia que parece blindada e intocável, de que temos que nos resignar a esse cenário.

Perguntar-me-ão então os meus amigos, como reverter este trajecto tantas vezes companheiro e, afinal, muitas mais vezes matreiro, ladrão, fantasma. Não tenho resposta para tal questão. Estas realidades, em boa verdade, ultrapassam-me sem que seja capaz de lhes dar uma definição aceite pela maioria, ou tão-só uma pequenina razão para que assim aconteçam e as possamos percepcionar com alguma lucidez e sem muita filosofia ou metafísica. Nunca gostei de ficção e sempre amei o que é terreno e minimamente palpável, perceptível. Quando assim não acontece, logo tenho litígios com a minha própria consciência.

Fico triste, acabrunhado, ciente de que poderia ter feito algo para alterar o curso destes destinos mas, finalmente, tenho de dar a mão à palmatória. Não está ao meu alcance tal desiderato. E como fico interiormente revoltado por saber que a este ou àquele amigo, não me foi possível mudar-lhe o rumo que, seguramente, ele próprio não teria escolhido.

Eu sei que é Natal. Também sei que é um tempo de maior solidariedade. Também sei que todos nós, em momentos mais difíceis, sempre pensamos do modo como atrás enunciei. É por isso que, sem querer influenciar pensamentos ou acções de outros, ainda assim apelo às consciências que eu também sei que são sãs, dos meus amigos, no sentido de que façamos, nem que seja por um breve instante, uma paragem de vida para homenagear, e chorar se for o caso, a companhia, ou antes a ausência, daqueles que se foram e não mais partilharam connosco as coisas boas e más que eles tinham para nos dar e não deram. Seguramente não por culpa própria, mas porque algo ou alguém que eu desconheço, desculpem-me os crentes religiosos, não permitiu que assim fosse.

E, sem qualquer espécie de rebuço ou preconceito, com os olhos inundados de lágrimas de apego pelos que amei à minha maneira, permito-me com toda a propriedade, lembrar aqui os nomes dos meus, dos nossos grandes e leais amigos e amigas que desembarcaram definitivamente em portos distantes, longe de nós. O Américo, o Luz, o Carlos Cruz, o Paulo Mano, a São, a Teresa, o “velho” Reis, o “velho” Zé Ferrolho, o Toninho Traqueia e irmã, o Rui Traqueia e tantos outros que abalaram sem que nos tivessem pedido licença para nos deixarem mais sós.

Perdoem-me os respectivos familiares mas eu tinha que os lembrar, não só pelo respeito que nos continuam a merecer, mas também por tudo o que nos ensinaram, pela companhia que nos dedicaram, pela amizade fecunda de que nos impregnaram. Tinha de dizer isto. Em qualquer altura. Há já demasiados anos, ou dias, que resistia à totalidade das minhas frustrações para deixar por muito mais tempo de dizer isto. Obrigado por vos ter tido como exemplo para as nossas próprias vidas.

Não pretendo sensibilizar ninguém para os desenlaces que cada um de nós já sentiu e viveu. Até porque as verdades são sentidas por todos e por cada um à sua maneira. A minha é esta porque todos os que enunciei mais os que esqueci, e perdoem-me por isso, me fazem muita falta. Agora que o disse, fiquei mais tranquilo e só espero que relativamente aos que, como eu pensam, assim fiquem também. O que não podemos é calar as verdades que nos vão na alma. Sabem porquê? Porque essas verdades não ditas, envenenam-nos.
Agradeço a todos os meus amigos a santa paciência que tiveram em ler-me mas, em obediência a todo um mundo de sentimentos, paixões, vivências e experiências que até agora me ocupavam um canto do meu, e se calhar do vosso espírito, julgo ter ficado em mais harmonia e tranquilidade convosco e com os que amei a certa altura e que, pese embora a sua ausência, hoje mesmo ainda me servem de guias.

Um abraço a todos e para nós que temos outra fé, que a vida nos sorria. Portem-se bem e um especial agradecimento ao Fernando Reis, a quem quero deixar um abraço, um tudo-nada mais apertado que o dado aos restantes, mas sem qualquer desprimor para estes, já que o álbum fotográfico do jantar de ontem, desencadeou em mim este despejar, quem sabe, de lânguidas palavras sem sentido mas que há muito já devia ter dado à estampa.
Já agora nunca esqueçam: “O Deserto cresce; ai daquele que traz em si Desertos”
Beijinhos.
Mário Rui

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Portugal já tem a bomba atómica.



“Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida” e se o fizermos “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”. Quem o diz é o Sr.Pedro Nunes Santos, da bancada socialista. O mesmo que há uns tempos aconselhava os jovens sem emprego a optarem pela emigração.

É a nítida expressão e a linguagem de um instinto malévolo e porventura a roçar a loucura. Fechem-se-lhe as portas na fronteira do leste e mediquem-no. Parece que ainda é deputado!

Mário Rui

Abecedário Simbiótico



É amanhã o lançamento do novo livro do Professor José Adelino Maltez. Não conheço a sua obra, mas a julgar pelas suas intervenções televisivas parece-me ser um livro a comprar. No mínimo interessante.

Mário Rui

A entrega dos deputados



“Numa entrevista que deu há semanas a este jornal, a Dra. Assunção deixou alguns comentários reveladores do espírito auto-protector com que vê o Parlamento: ‘Os deputados sabem que podem contar comigo para defender a imagem a que temos direito, que é uma imagem de dignidade. E é uma dignidade acrescida pelo sentido de entrega que é superior ao do cidadão comum, à das pessoas que estão habituadas às suas vidinhas’. Está a Dra. Assunção a dizer que a “dignidade” de um deputado é “acrescida” face ao cidadão comum? Que a “entrega” de um deputado é “superior” ao do cidadão comum que aguenta há décadas em silêncio os vexames de uma democracia partidária de videirinhos? Quer maior “entrega” do que essa? E ainda fala das ‘pessoas habituadas às suas vidinhas’? E não poderíamos nós – nos jornais só li um artigo do arquitecto Tiago Mota Saraiva -, discorrer sobre a própria “vidinha” política, muito curiosa e esportulada, da Presidente do Parlamento? De juíza no Tribunal Constitucional (com certo mérito) a deputada no Parlamento Europeu por obra e graça do poder político e agora Presidente da Assembleia para libertar o PSD do Dr. Nobre, a Dra. Assunção não é apenas um caso de fortuna. É um exemplo da incrível endogamia que pulula no Bloco Central. Ainda por cima, lamento dizê-lo, tendo-se reformado aos 42 anos para auferir uma pensão robusta por causa de uma norma iníqua da Lei do Tribunal Constitucional, com que autoridade é que a Dra. Assunção pretende catequizar os portugueses?”
“O notável Professor Freitas do Amaral que, em entrevista recente à Visão, afirmou isto: ‘Como dizia a presidente da AR, Assunção Esteves, os problemas da Europa podem resolver-se numa folha de A4. Vinham os líderes dos países europeus, reuniam-se num fim-de-semana, num sítio tranquilo como o Hotel do Mar, em Sesimbra, e resolviam o problema’. Reparem que para o Professor Freitas, um político que desde o Estado Novo tem andado sempre para onde sopra o vento e para quem Sócrates é agora um réu político – depois de lhe ter sido conveniente servi-lo durante anos -, uma simples folha A4 não chegava. Mostrando os seus gostos hoteleiros, sugere o Hotel do Mar em Sesimbra, e um fim-de-semana tranquilo, para resolver os litígios da Europa. Espantoso. Mas não se surpreendam. Estamos a falar do mesmo Professor Freitas que, há uns anos, propos acabar o conflito Israel-Palestina com um jogo de futebol.”


Crónica de Pedro Lomba

in Público


Mário Rui

Amor de mãe



"É pensando nos homens que eu perdoo aos tigres as garras que dilaceram."

Mário Rui

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Convém relembrar

A Islândia conseguiu acabar com um governo corrupto e parasita. Prendeu os responsáveis pela crise financeira, mandando-os para a prisão. Começou a redigir uma nova Constituição feita por eles e para eles. E hoje, graças à mobilização, será o país mais próspero de um ocidente submetido a uma tenaz crise de dívida. É a cidadania islandesa, cuja revolta em 2008 foi silenciada na Europa por receio de que muitos tomassem nota. Mas conseguiram, graças à força de toda uma nação e o que começou como sendo crise converteu-se em oportunidade. Uma oportunidade que os movimentos altermundialistas observaram com atenção e colocaram como modelo realista a seguir. Consideramos que a história da Islândia é uma das melhores noticias dos tempos actuais. Sobretudo depois de se saber que segundo as previsões da Comissão Europeia, este país do norte atlântico, fechará 2011 com um crescimento de 2,1% e que em 2012, este crescimento será de 1,5%, uma cifra que supera o triplo dos países da zona euro. A tendência para o crescimento aumentará, inclusivé em 2013, prevendo-se que alcance 2,7%. Os analistas alvitram que a economia islandesa continua a mostrar sintomas de desequilíbrio. E que a incerteza continua presente nos mercados. Porém, voltou a gerar emprego e a dívida pública foi diminuindo de forma palpável. Este pequeno país do periférico ártico recusou resgatar os bancos. Deixou-os cair e aplicou a justiça sobre aqueles que tinham provocado certos descalabros e desmandos financeiros. Os matizes da história islandesa dos últimos anos são múltiplos. Apesar de transcender parte dos resultados que todo o movimento social conseguiu, foi pouco falado o esforço que este povo realizou. Do limite que alcançaram com a crise e das múltiplas batalhas que ainda estão por resolver.Porém, o que é digno de nota é a história que fala de um povo capaz de começar a escrever o seu próprio futuro, sem ficar a mercê do que se decida em despachos distantes da realidade dos cidadãos. Apesar de continuarem a existir buracos por preencher, escuros e por iluminar. A revolta islandesa não causou outras vítimas para além dos políticos e homens de finanças. Não derramou nenhuma gota de sangue. Nem foi tão apelativa como a tão famosa "Primavera Árabe". Nem sequer teve rasto mediático, porque os media passaram por cima em pézinhos de lã. Mesmo assim, conseguiram os seus objectivos de forma limpa e exemplar. Hoje, o seu caso bem pode ser o caminho ilustrativo dos indignados espanhóis, dos movimentos Occupy Wall Street e daqueles que exigirem justiça social e económica em todo o mundo.

Começo a ter vergonha da minha nacionalidade. Nem vos conto do descalabro que por aí continua a grassar. Gostaria apenas de vos lembrar dos chorudos vencimentos de alguma gente, tida como exemplo para alguns, que sendo administradores não executivos - ou seja sem funções de gestão - vencem por cada reunião do conselho de administração 7427 euros. E esta era a média de "salário" obtido por esta gente em 2009. Não estou a brincar, não. Espero que me concedam algum crédito quanto ao que digo e afirmo. As fontes são fidedignas e os nomes são bem conhecidos de todos nós. Esses são alguns dos indivíduos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários.

Quando soubermos um dia que somos alguém, que a opinião que temos acerca de nós próprios é correcta, e que os nossos campos e fábricas foram feitos para servir a vida, e não a vergonha e a morte, então poderemos responder, nós mesmos, às questões que todos os dias nos apoquentam. E para isso não precisaremos da acção dos nossos políticos ou embaixadores. Em vez de continuarmos a berrar «Viva!» e a cobrir de flores o túmulo do soldado desconhecido, ou a consentir que qualquer príncipe à pressa venha esmagar com o seu peso a nossa consciência nacional, deveremos opor-lhe a nossa auto-estima e a consciência do valor do nosso trabalho.

Quase me apetece lembrar aquele astronauta americano, Edgar Mit­chell, que numa missão da Apollo 14, disse um dia, em órbitra; (…) de­sen­volves de ime­diato uma cons­ci­ência global, uma ori­en­tação di­ri­gida ao povo, uma in­tensa in­sa­tis­fação pelo es­tado do mundo e uma com­pulsão para fazer qual­quer coisa. Vista da lua a po­lí­tica in­ter­na­ci­onal pa­rece tão pe­quena. Ape­tece agarrar um po­lí­tico pelo pes­coço, ar­rastá-lo um quarto de mi­lhão de qui­ló­me­tros para aqui e dizer-lhe:«Olha para aquilo, filho da puta».

Estou do lado de tudo o que escrevi. Eu que até nem sou de esquerda nem de direita, Só quero ser vertical.

Mário Rui








Time Person of the Year 2011




Observou-se mal a vida se não se tiver visto também a mão que, de uma maneira especialmente delicada - mata.

«From the Arab spring to Athens, from occupy Wall Street to Moscow»


Mário Rui

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Audácia, audácia, audácia


Não são os "ocupas" de Wall Street, nem o 15M espanhol ou uma primavera árabe! Mas que na Rússia algo de importante se começa a mover, lá isso parece indesmentível.

Eis o que escrevia Marx depois de 1850: "Uma vez começada a insurreição, deve-se agir com a maior decisão, passar à ofensiva. A defensiva é a morte de qualquer insurreição armada... É preciso surpreender os adversários enquanto suas forças estão dispersas e obter novos sucessos, embora pequenos, mas todos os dias; é preciso conservar o ascendente moral que vos foi dado pela primeira sublevação vitoriosa; reunir assim em torno de vós aqueles elementos vacilantes, que seguem sempre o impulso mais forte e se enfileiram sempre do lado que obtém sucessos; deveis obrigar o inimigo a retirar-se antes que tenha podido reunir suas forças contra vós: em suma, segui as palavras de Danton, o maior mestre de tática revolucionária até agora conhecido: De l'audace, de l'audace encore de l'audace" ["Audácia, audácia, sempre audácia"]

Mário Rui

Máquinas



E se assim voltasse a ser nos campos de Salreu?

Mário Rui

sábado, 10 de dezembro de 2011

Ainda mais uma história



Esta pequena crónica de João Pereira Coutinho, o marcoense que escreve no Correio da Manhã, é imperdível porque apanha o tom certo sobre mais uma aldrabice Inenarrável: José Sócrates é o típico aluno medíocre que ‘apanha’ umas ideias e depois debita-as com grande autoridade. Conheço vários. Felizmente, nenhum deles chegou a primeiro-ministro, embora o futuro seja uma surpresa constante.
Agora, de Paris, Sócrates resolveu abismar o mundo com uma teoria que aprendeu: pagar a dívida é ideia de criança. Dito assim, a coisa exigia um cordão sanitário nas fronteiras para impedir o retorno ao país – e, quem sabe, a Belém – de semelhante génio financeiro. Mas depois Sócrates corrigiu esta teoria com uma versão igualmente mal colada: infantilidade é pagar a dívida por inteiro e de imediato.
Quase, José, quase. A lição completa é outra: a dívida de certos países só pode ser ‘eterna’ quando existe crescimento económico para a ir ‘eternizando’. Quando um país não cresce e só contrai mais dívida, o resultado é a bancarrota.
Eis um pensamento melancólico que o estudante Sócrates teria aprendido se não andasse a faltar às aulas.


in "Correio da Manhã"


Mário Rui

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Official Ottawa Greek Festival (GreekFest) Flash Mob



Esta era, digo eu, a verdadeira alegria helénica que se nos apresentava de uma forma tão autêntica que a todos enchia o coração e a alma, como se de um sopro mágico se tratasse. Esse sopro parece agora percorrer toda uma angústia, senão mesmo tragédia, que alguns conduziram a contento de muito poucos. Mas na génese de um verdadeiro povo, sempre ficam as raízes profundas e nobres dentro das quais as ruínas do velho mundo em derrocada acabam por constituir um mundo novo. Assim o esperamos no que ao berço da democracia diz respeito, a Grécia, do mesmo modo que a Portugal há-de acontecer. Pode demorar, mas quero crer que a mais este "paciente" , um dia virá em que a nossa passividade atingirá o mais alto grau da sua actividade. Assim possamos desacreditar quem nos levou à derrocada. Pela Grécia e por Portugal, aqui fica o brinde a "Zorba o grego", e pode mesmo ser festejado por ambos os países já que a alegria e a música são só e apenas elos de ligação entre povos. Nada mais que isso.

Mário Rui

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Só para recordar



Só para re­cordar que um dos grandes com­po­si­tores do sé­culo XX, Frank Zappa, morreu há exac­ta­mente 18 anos - 4 de Dezembro de 1993 (52 anos)
Zappa foi um artista altamente produtivo e prolífico e ganhou a aclamação da crítica. Muitos de seus álbuns são considerados essenciais na história do rock e do jazz. É considerado um dos guitarristas mais originais de seu tempo. Também continua sendo uma grande influência para músicos e compositores. Alcançou algum sucesso musical, particularmente na Europa, e pela maior parte de sua carreira trabalhou como artista independente. Postumamente, Zappa foi incluído no
Rock and Roll Hall of Fame, em 1995, e ganhou um prémio Grammy, em 1997.


Mário Rui

domingo, 4 de dezembro de 2011

Os outros beijos



Estou-me perfeitamente borrifando para a nova campanha publicitária da marca Benetton. Sei que a mesma causou grande alarido entre as gentes mais púdicas e inevitavelmente no seio da Igreja Católica. Ainda assim, percebo que as gentes mais púdicas manifestem sempre alguma resistência quando uma águia sonda os píncaros mais altos na tentativa de descobrir novos mundos, novas formas de pensar e de viver. O contrário se passará com a igreja católica para quem esta ofensa ao Papa não fará qualquer sentido, especialmente numa sociedade de consumo, que mais não pretende – Benetton incluída – senão vender o seu produto à custa de uma campanha que, mesmo borrifando-me eu para ela, não me agradou por aí além. Não será seguramente com este marketing que irei comprar mais uma camisola, ou o que for, da dita marca.

Será que postos os dados deste modo, estaremos em presença do velho problema teológico da fé e do saber ou, mais claramente, do instinto e da razão? Seria assunto para dissecar longamente, mas não é isso que me move por agora.
O que por agora me leva a mais um escrito tem a ver com a leitura de um artigo dado à estampa pelo jornal Público, e curiosamente assinado por uma senhora que, em anterior crónica, jurei não mais ler. Penitencio-me pelo facto de não poder cumprir tal promessa, mas a verdade é que os laboriosos sempre tiveram dificuldade em suportar a ociosidade e então vai daí e cá estou para subjectivamente tentar avaliar se o instinto merece ou não mais autoridade que a razão.

Então regressemos a essa tal senhora que escreve aos sábados nesse jornal, de seu nome São José Almeida. Antes mesmo de continuar parece-me que em resultado do que escreveu, melhor seria tirar do seu nome o São José, dada a fortíssima conotação católica-apostólica e romana que tal representa. Bom, mas isso será lá com ela. Como sempre digo, eu só opino.

Diz ela que « a reacção do Vaticano é de intolerância e de uma inacreditável ignorância em relação às simbologias de poder e à história» e «também porque passou para a opinião pública a imagem de que o que estava em causa na campanha seria a erotização da casta imagem de um líder religioso, resvalando aqui na mais opressora homofobia ». Esta senhora está a misturar a “simbologia do poder” com uma milenar cultura europeia, e tenta explicar-nos este fenómeno com a ocorrência, essa sim histórica e estúpida, do beijo na boca dado por dois verdadeiros poderosos socialistas do ex-bloco soviético. Era o folclore de antanho. Veja-se no que deram esses poderes beijoqueiros e essa tradição tão irmanmente unida.

Depois, quando afirma que a reacção do Vaticano procurou passar para a opinião pública uma campanha de erotização da casta imagem de um líder religioso, resvalando aqui na mais opressora homofobia, está laborando em mais um erro de apreciação dos muitos que tem cometido ao longo dos seus variados artigos a despropósito de tudo e de todos. Esta ideia básica, primária sobre a ignorância do Papa ou do Vaticano, além de enfermar de uma grande estupidez, também revela mais de quem a diz do que de quem quer atingir. Digamos que “opressora homofobia” por parte da igreja até parece uma acusação à boa maneira inquisitorial ou mesmo estalinista. E se a igreja nunca foi perfeita, quantas vezes de facto inquisitorial e do mundo das trevas, mesmo assim o outro tal poder foi bem pior. Arvorou-se do povo e para o povo mas ao mesmo tempo dizimava esse mesmo esse povo.

Acabo dizendo-lhe que o meu amor cristão – não praticante e não concordante com centenas de actos que mancharam uma imagem que se queria imaculada, pouco representam de opressor ou homofóbico. O mesmo já não posso dizer do seu socialismo uma vez que, provado como está, nenhum objectivo verdadeiramente grande foi alcançado por meios vis. A vileza ou a desumanidade duma dada trajectória torna algumas pessoas vis e com um fim inatingível.

Mário Rui

sábado, 3 de dezembro de 2011

Felizmente



"Os seis tripulantes da embarcação “Virgem do Sameiro”, desaparecida há três dias, foram encontrados vivos esta manhã numa balsa de salvamento. Helicóptero transportou-os para a base de Monte Real." (RR)

Algum comedimento à imprensa que temos ficaria sempre bem, sobretudo não explorar a desgraça mesmo antes dela acontecer. O jornalismo serve essencialmente para educar. Tomar posição não significa ver o mundo entre bons e maus, de forma maniqueísta. Pelo contrário, significa ir à raiz, saber contextualizar cada história e explicá-la de forma coerente e clara. Tomar posição é conhecer bem o chão que estamos pisando, para que as falsas aparências não nos enganem ou nos confundam. Tomar posição é estar encharcado de realidade.


Mário RuI

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Grécia, Grécia...




Grécia: o desespero de um homem a quem não foi concedido um empréstimo bancário, leva-o à imolação.

Mário Rui

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Das duas às quatro rodas

Chegou de Vespa à tomada de posse do Governo de Passos Coelho, desloca-se agora num Audi topo de gama que custou 86 mil euros

O ministro Pedro Mota Soares, que chegou de Vespa à tomada de posse do Governo de Passos Coelho, desloca-se agora num Audi topo de gama que custou 86 mil euros.
O "Correio da Manhã" escreve que Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade e Segurança Social, faz-se transportar num carro de luxo cujo preço de venda ao público ronda os 86 mil euros. Numa altura de cortes nos subsídios de Natal e de férias de funcionários públicos e pensionistas e em que se pede contenção aos portugueses, o ministro que, em Junho, se apresentou na tomada de posse do Governo ao volante de uma Vespa desloca-se agora num carro novo, com matrícula de Julho de 2011.
A viatura, um Audi A7, de três mil cm3 de cilindrada, com o preço de 53 mil euros (a inclusão de equipamento opcional rondou os 46000 euros), foi entregue ao abrigo de um contrato com a SIVA e levantada pelo próprio ministro Pedro Mota Soares, num stand da zona Sul do Parque das Nações, em Lisboa

Bom, a ser verdade, não é nada ético e muito menos responsável por parte do dito governante. Assim, começo a ficar francamente desiludido relativamente ao discurso versus prática deste governo.

E refiro governo porque só alguém com competência hierárquica de peso poderá, digo eu, validar um acto destes. E que me pareça só um estará em condições de o fazer. O chefe do governo. Ou será que lá voltamos ao antigamente , que o mesmo é dizer que esta tirania, esta arbitrariedade, esta rigorosa e grandiosa estupidez, tem a cobertura de quem anda a pedir sacrifícios e mais sacrifícios ao já muito sacrificado cidadão português?

Então meus amigos, repito, se assim for, considere-se sob esse aspecto que tal moral não nos vem educar no sentido da necessidade de horizontes limitados, de vontades mais modestas, como necessárias à vida e ao crescimento do país. Assim posta a coisa., acho bem que não nos iludamos quanto ao tal discurso porque de facto não vai de encontro à digestão mais leve que nos pedem, e à expressão e linguagem de um instinto geral que, segundo os políticos que temos, deve ser escutado e de acordo com a barreira que se nos é imposta em nome da saída da crise.

Estarei porventura enganado, e espero bem que sim, mas o meu amado povo é de uma índole ainda fraca e indefenida e o que mais me dói é que continue a deixar-se esbater, ser apagado por uma raça mais forte, mais rija, que sabe e de que maneira, impor-se, mesmo nas piores condições, até melhor do que em condições favoráveis. Confesso que cada vez mais se afasta de mim algum do ânimo que ainda me resta para enfileirar na coluna que quer ajudar a minha terra a ver-se livre da crise. A ser certo que o ministro, ainda por cima da Solidariedade e Segurança Social, que coincidência bizarra, passou da mota para o carro de luxo, então digamos que o pensador em cuja consciência pesará a responsabilidade pelo futuro da aludida solidariedade, poderá sempre e em todos os projectos que fizer sobre esse futuro jogar mais em seu favor e menos em favor dos que precisam.

Reconheço que sou desconfiado mas também me revejo através das muitas morais, umas mais subtis, outras mais grosseiras, que até agora reinaram ou ainda reinam na Corte Portuguesa. Há nos homens determinadas características que regularmente se repetem. Especialmente as más.

Nós não queremos mais repetições desta natureza. Ansiamos por repetições exemplares que assim nos consagrem como verdadeiros fazedores do que deve ser o exemplo de um país em franco progresso. Nem que seja só de ideias. O resto virá depois.

Mário Rui

Vai uma leitura?



Mário Rui

Ar arlequim



Mário Rui

Massacre na Noruega. Anders Breivik é inimputável, afirmam os psiquiatras | iOnline


Massacre na Noruega. Anders Breivik é inimputável, afirmam os psiquiatras iOnline
«« O estado de pecado no homem não é um facto, senão apenas a interpretação de um facto, a saber: de um mal-estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e religioso. O sentir-se alguém «culpado» e «pecador», não prova que na realidade o esteja, como sentir-se alguém bem não prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos processos de bruxaria; naquela época os juízes mais humanos acreditavam que havia culpabilidade; as bruxas também acreditavam; contudo, a culpabilidade não existia.»» No caso particular do 'monstro' Anders Breivik, parecia-me oportuno que voltássemos então aos juízes mais humanos e trocávamos, com o devido respeito, os psiquiatras por novas bruxas. Podia até nem haver culpabilidade efectiva mas, no mínimo, todos acreditávamos convictamente que ela existia. Quem sabe se o mundo não seria um lugar mais seguro... ...
Mário Rui

domingo, 27 de novembro de 2011

Relíquias do passado


Mário Rui

Ainda o nuclear



Parlamento iraniano durante sessão em Teerão; irianianos aprovaram projecto de lei que reduz relações diplomáticas com Londres, uma vez que a Inglaterra apoia pressão dos americanos sobre o programa nuclear do Irão.

Mário Rui

O nuclear


Casal acampa em linha de caminho de ferro junto com outros manifestantes que tentam impedir a chegada de comboio com resíduos nucleares, na Alemanha.
Mário Rui

Futeboladas incendiárias



Paulo Cristovão – vice-presidente do Sporting – lamentou as «condições pré-históricas» dadas aos adeptos do clube pelo Benfica. E tinha razão: pouco tempo depois, alguns sportinguistas descobriram o fogo. Vamos lá ver quem agora descobrirá a roda.

Mário Rui

Prendas


Talvez uma boa prenda para o Natal.
Mário Rui

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O galo



Não vos falei há uns tempos atrás de um galo que persistentemente insiste em cantar durante a noite? Vá lá eu saber a razão para tal cantoria e a desoras. Alguma razão ele deve ter para se atrever a fazê-lo, de resto motivo pelo qual até não me dá para o mandar calar.

Não me incomoda nada esse cântico nocturno. Bem pelo contrário, como durante o dia não me é possível sentir, do modo como gosto, a marcha inexorável dos rituais campesinos do lugar onde moro, até me dá algum consolo ouvi-lo.

O galo não é meu, mas antes de um vizinho que há relativamente pouco tempo se instalou de armas e bagagens perto de minha casa. Quanto à dita ave, um galo é uma ave? sempre que se põe a cantar, recorda-me os dias da minha infância em que, no quintal de meus avós e vizinhos vários, a sinfonia de bucólicos e pachorrentos dias se fazia destes e de outros sons, sons que vinham da natureza então muito mais limpa e sadia que a que vivemos hoje.

Pode parecer poesia mas a verdade é que a tudo isto se juntava periodicamente o sino da minha aldeia. E digo aldeia, como aliás já o fiz em anterior crónica, porque gosto de chamar lugarejo ao sítio onde vivo. É como que uma espécie de arte deveras considerável que raramente se encontra e à qual eu me orgulho de pertencer.

Vive-se bem no seio de gente simples e do galo que entoa canções de embalar. Ah. Já agora deixem-me que lhes diga que nas grandes cidades, vive-se mal entre os homens. Há-os demasiados com cio.

Mas regressemos então ao galo. Vou deixar que ele continue a cantar ao longo da noite porque eu também quero voltar à natureza. Mas essa volta não significa ir para trás, mas sim para a frente. Admito estes encantatórios e doces sons porque se se tratasse de ruídos então outro galo cantaria.

É que o ruído mata os pensamentos. Dito tudo isto, continuo mesmo assim algo intrigado com a cantata nocturna do meu amigo . Mas julgo perceber uma parte dessa cantata. É que a ave também dança, ou pelo menos assim me parece e aquele que dança é nos dedos dos pés que traz os ouvidos.

Talvez esteja aí a explicação para a tal sinfonia da noite. O galo canta, o galo dança, mas para se ouvir a si próprio é-lhe favorável a escuridão e o maior silêncio que a noite sempre arrasta consigo. Grande galo! Só agora começo a perceber uma coisa.

É que por maior que seja o mal que os maus possam fazer, e o galo não é desses, o mal feito pelos bons é ainda o pior dos males. E este meu amigo, mesmo fazendo com que eu por vezes acorde e depois redurma, faz-me o favor de, com os seus sons, me obrigar a pensar para além do que me conheço. É bom isso.

É uma ilusão do contemplativo mas é também um modo de ver, de ouvir, pensando. Vou procurar continuar a pensar... O galo há-de continuar a cantar. Não serei eu a tirar-lhe esse prazer.


Mário Rui

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Greves



Relativamente à greve que ontem, dia 24, assolou o País, pouco se me oferece dizer em termos da forma de que a dita se revestiu. É um direito que assiste a quem dela quer fazer uma arma, uma luta, uma saída para a crise. Ainda assim, posso, e já agora devo adiantar que, quanto ao conteúdo, tenho muitas dúvidas que esta greve tenha servido para alguma coisa.

O que sempre vejo, ouço e pressinto é que outras tantas que já aconteceram ao longo dos anos, mais não foram que um pretenso assumir de liderança de centrais sindicais que, esvaziadas de conteúdo, mais não querem senão agitar as massas fazendo crer às pessoas que, elas próprias, são o garante da nossa unidade nacional, da nossa independência e sobretudo o escudo salvador dos menos afortunados – os trabalhadores.

Assemelham-se a dezenas de governos incompetentes que nos vão debitando “tretas e letras”, já lá vão 37 anos, sem que a melhoria da qualidade das nossas vidas de trabalhadores tenha sido visível. É isto que sinto, é isto que tenho que afirmar. Bem me podem dizer que este ou aquele governo é, ou foi péssimo, que grande novidade, que sempre se espolia quem menos tem, outra grande novidade, mas a verdade é que o cerne da questão fica sempre por nos ser dito.

O que os dirigentes dessas centrais sindicais proclamam é, e também foi sempre, o que qualquer vulgar comentador ou espectador atento a estes assuntos sempre disse. Pelo menos no meu País: carestia do nível de vida, acréscimo de dificuldades para os mais pobres, anúncio permanente da inutilidade de taxas ou impostos criados pelos sucessivos governos, tanto faz que sejam de esquerda, de direita, do centro, de baixo, de cima ou dos lados. Eu também sou trabalhador, mas seguramente que a mim não me “caçam” com um ideário tão balofo, tão sem recheio.

A conflitualidade social que eventualmente possa resultar do paupérrimo estado a que chegámos, não se resolve com a “ajuda” de rua que nos é oferecida por esta espécie de sindicatos. Afinal há 37 anos que vos ouço dizer as mesmas coisas, o mesmo discurso, sem que daí resulte a resolução do cerne da questão. Enriquecer o País.

Que há gatunos com nomes e endereços próprios que toda a vida roubaram a própria Pátria, e assim a deixaram depenada, é verdade. O que se torna a meu ver curioso é que as centrais sindicais não convoquem greves, essas sim, para demonstrar a esses monstros que o povo bem os percebe e lhes vai dar a resposta devida.

O que verdadeiramente me agradaria era que, em vez de andarem a contabilizar quantos aderiram, ou não, me dissessem como sair da crise. Como compensam os que nada tendo contra tantas e tantas greves, perdem o dia, ou dias de salário, para se arregimentarem a estas colunas sindicais que, a meu ver, não disponibilizam um tostão, e aqui ressalvo raríssimas excepções, para ajudarem os mais fracos os mais desamparados que fazem a vossa bandeira.

Que convoquem greves que nos conduzam à porta dos verdadeiros malfeitores para que, aí sim, possamos vociferar contra eles e neles depositarmos toda a nossa justa desconfiança, eu apoio. Isso é que não me é dado a conhecer. Quero lá saber se foram cem ou um milhão que aderiu ao protesto. Muito gostaria, e aí louvaria a vossa atitude, se nos convocassem para a solução do problema de que padecemos, se nos ajudassem a encontrar a solução ética para acabar de vez com tal problema. Um crepúsculo semelhante a esse cobriria toda a construção do nosso drama e daria especial significação ao coro.

Eu, trabalhador, nessas condições, juntar-me-ia a esse coro. De outro modo não me apelem aos meus direitos perdidos e roubados porque eu, e certamente muitos outros, pouca crença temos nas sentenças sindicais que nos vão impinjindo. Se essas sentenças, essas prelecções, de uma e outra central sindical, introduzissem na alma dos portugueses desfavorecidos todo um mundo de sentimentos, esperanças, paixões, assim como um coro quase invisível mas altamente eficaz, então todos nós que trabalhamos nos sentaríamos nos bancos dos vossos teatros para endurecer a nossa força com a reconfortadora certeza que melhores dias se aproximariam.

Infelizmente assim não acontece ainda. Vamos ter que dar resposta a este enigma, mas sem a vossa colaboração e muito menos sem a colaboração daqueles militares descontentes, quem não está, que querem refundar um 25 de Abril mas com armas carregadas de munições.

Tudo isto é lirismo que está tão dependente do espírito da música que nos querem dar como a própria música está independente da imagem e do conceito que nos querem meter na cabeça. De posse da nossa plena liberdade, nós os trabalhadores, não precisamos nem de uns nem de outros, apenas os toleramos ao nosso lado.

Para acabar, creio não afirmar uma falsidade ao dizer que o problema de Portugal nunca foi seriamente enunciado e, por conseguinte, muito menos resolvido, por mais numerosas que tenham sido as aparições de sindicatos, governos e outros que tais. Mas isto há-de ter forçosamente governação.

Deixemo-nos, e agora digo nós e vós, de doutrinas estéticas e assumamos o nosso destino. Dar guerra quando de guerra se precisa, mas dar tréguas quando de tréguas necessitamos. E por agora parece-me que é altura de conceder algumas tréguas a quem quer pôr o comboio no carril. Mas atenção já que o povo tem sempre razão quando julga as extravagâncias e as divagações dos que querem ser reis!


Mário Rui