sábado, 27 de julho de 2013

Os Privilegiados







































Gustavo Sampaio - 'Os Privilegiados'
 
“Há conflito de interesses na actividade de muitos deputados”
 
Jornalista investigou durante oito meses as actividades paralelas dos deputados e os cargos dos ex-políticos nas empresas do PSI20.
 
Pacheco Pereira disse que o livro de Gustavo Sampaio equivale a “uma grande reportagem jornalística” sobre os privilégios dos políticos e ex-políticos em Portugal. Em “Os Privilegiados”, o jornalista Gustavo Sampaio - que trabalhou no jornal “O Independente” e na revista “Sábado”, tendo publicado artigos no “Público” e na “Exame”, entre outros – analisou exaustivamente o registo de interesses dos deputados em funções na Assembleia da Repúplica, a transição de ex-políticos para cargos nas empresas cotadas no PSI20 e as subvenções vitalícias a que têm direito, comparando ainda estas situações com as de outros países europeus.
 
do Jornal i
 
Em política existe a dissidência e a resistência. Interessa-me mais a resistência já que se trata de acto que leva à utilização de meios políticos para uma revolta de carácter ético. Em Portugal, são poucos os que enveredaram por esta noção de realismo do cumprimento. Invariavelmente, chegados à actividade, os de cá, e os exemplos abundam até dizer chega, optam desde logo por relações complexas que lhes tragam mordomias, como que passaporte para uma bela vida sem sobressaltos. Creio mesmo que já é uma ideia fixa a que se entranhou nesta gente, assim como algo que está geneticamente dentro do indivíduo. Ora, estes genes “naturais”, não podem ser patenteados uma vez que existem: a plebe apenas os “descobre”. Mesmo assim, como é sabido, existem genes que podem ser manipulados e portanto podem ser sujeitos a patente. É isso mesmo que tem acontecido nas últimas décadas no que à política “à portuguesa” diz respeito. Pessoas guindadas à condição de dirigentes de um país sem que para o efeito revelem qualquer aptidão e muito menos vocação. Promovidas a altas patentes e com o reconhecimento dos pares de função, e quantas vezes com a benção da plebe desinformada e acolitada, sendo essas promoções a principal categoria de ‘violência’ num meio politicamente desregulamentado. Um estado de “sub-regulação” que tem sido o colapso absoluto para os mais desfavorecidos e o climax transcendental para a boa vidinha dos citados promovidos. De resto, uma condição nunca antes vista em qualquer país digno desse nome. É só ler o que diz Gustavo Sampaio: «... fiz entrevistas a deputados estrangeiros (suecos, dinamarqueses e britânicos) perguntei-lhes se havia uma lei mais restritiva nos seus parlamentos quanto a conflitos de interesses e incompatibilidades face a actividades paralelas. Todos me responderam que nem sequer há lei. Disseram que isso é extremamente invulgar porque não têm disponibilidade para outras actividades. O trabalho parlamentar ocupa-lhes sete dias por semana. A maioria não se lembrava de nenhum caso. Isso levanta a questão da razão por que em Portugal há deputados com três ou quatro actividades paralelas. É estranho...»
 
Só me ocorre uma reserva mental: descansemos um pouco no corpo e interroguemo-nos se é justa uma entrega tão completa a este rol de alguns pseudo-políticos, especialmente em tempo de eleições. Será conforme à razão? É que assim sendo, Portugal até parece uma bola, mas com mais alguma coisa do que ar lá dentro. Desgraçadamente, o afã avarento de muitos. A génese de tão feia situação é longa e complexa, mas com os fenómenos concretos e evidentes baseados no diagnóstico feito, já só é preciso evitar o voto nesta prole famélica, escolhendo-os bem, de modo a afastá-los de vez e com isso afugentar a completa decadência da Nação!
 
Mário Rui