quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Diálogo sobre o género do género ou ‘mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas’?




Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se p’rós maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam p´rós braços
De suas pequenas, Helenas


(Mulheres de Atenas – Chico Buarque)


Há de facto qualquer coisa estranha na composição do novo governo grego. Entre os dez que o compõem não há uma mulher. Será que os novos líderes entendem que é maís útil o recolhimento do género feminino do que deixá-lo a tratar dos negócios públicos? Esquisito, não é? As mulheres não fazem falta, ou na Grécia o destino cuida dos seus próprios assuntos sem outras ajudas de género? Esquisito, não é? É, e ainda o é mais quanto é certo que na ‘guerra’ são incomensuravelmente mais hábeis os corpos lindos que se podem encolher e assim proteger-se dos ataques inimigos do que aqueles cujo tamanho maior os deixa expostos às balas. Mas enfim, mesmo discordando da postura assumida pelo novo governo da Grécia, nesta matéria, de outras falaremos quando for o caso, eles lá saberão o que estão a fazer. Mas atenção, há obstinações que perturbam. Uma delas, entre as já referidas, é o silêncio ensurdecedor dos que, por cá, assistindo a tal discriminação, lá vão assobiando para o lado assim como que em jeito de um viver político com simplicidade mas com muita negligência patente. Imaginem o que diriam se na nossa terra se passasse algo idêntico. Conveniências, meus caros, conveniências que são compatíveis com muitas concepções esotéricas, metafísicas e sobretudo politicamente (in)úteis. E viva a “esquerda Rolex”, também a “direita champanhe” e já agora o mantra que dá corpo a artistas e intelectuais da coisa dita pública que não confere credibilidade a condutas assim assumidas. Que género de género é este? O Chico Buarque acertou na letra?



Mário Rui
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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O que convém


António Costa. "Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha". O líder socialista elogia o povo grego, que "resistiu a todas as pressões". E defende que os outros países devem seguir a mesma estratégia contra a austeridade. Syriza venceu as eleições deste domingo. .(LER AQUI)

Jornal Expresso – 27 Jan. 2015
 
Resultados por si só esperados face à situação social e económica vivida na Grécia. Em todo o caso, se alguns políticos se mostrassem mais sérios nas suas divagações de interesses, estariam hoje certamente a perguntar o que há de errado com a praxis adoptada quer na leitura do que convém, quer na omissão das leituras do que não convém. Como não o fazem, então adianto eu que além de se declarar o que se quer provar, é preciso é declarar o que não se quer provar, pois de vida política activa pitoresca e cheia de curiosidade poética estou eu farto. Ah, já alguém ouviu falar na torrefação do Movimento Socialista Pan-Helénico, mais conhecido como PASOK, nas recentes eleições gregas? De facto, quanto menos um homem conhece a respeito do passado e do presente, mais inseguro terá de mostrar-se o seu juízo sobre o futuro.


 
Mário Rui
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Prisioneiros do Holocausto


«… talvez estes poderes obscuros também tenham tido a sua quota-parte de influência no êxtase desenfreado em que tudo se misturava. A alegria do sacrifício e o álcool, o prazer da aventura e a pura fé, a magia arcaica dos estandartes e dos chavões patrióticos neste êxtase de milhões. Sinistro, quase impossível de descrever por palavras e que num dado momento incutiu um impulso selvagem e quase arrebatador ao maior crime da nossa época»

In “O Mundo de Ontem” de Stefan Zweig



Mário Rui
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Auschwitz, há 70 anos.




Com a libertação dos prisioneiros de Auschwitz, há 70 anos, o mundo conhecia o horror.

Perderam a vida entre 1940 e 1945 no complexo perto de Cracóvia, no Sul da Polónia, cerca de um milhão e cem mil pessoas.


 
 
Mário Rui
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24 de Janeiro de 1965 - Morte de Sir Winston Churchill



Winston Leonard Spencer Churchill nasceu prematuramente a 30 de Novembro de 1874, em Blenheim Palace, Oxfordshire, na Inglaterra. Depois de uma carreira militar de pouco sucesso, incluindo o fracasso da Operação Dardanelos, em 1915, durante a I Guerra Mundial, veio a destacar-se como um dos maiores estadistas da história. Nomeado primeiro-ministro em 1940, o seu nome ficou indelevelmente ligado às vitórias que a Grã-Bretanha conseguiu na II Guerra Mundial, ao comandar a resistência europeia contra a Alemanha nazi. Embora o sucesso da vitória seja incontestável, Churchill não teve o apoio necessário dos ingleses, quando tentou a reeleição, e foi derrotado pelos trabalhistas nas eleições de 1945. Retornou ao poder em 1951, ano em que foi premiado com o Nobel da Literatura pela publicação das suas memórias. Em 1955, retirou-se da vida política. Morreu em Londres, em 24 de Janeiro de 1965. Cinquenta anos após a sua morte, é caso para afirmar que os dedos de uma só mão chegam para contar outros tantos que se lhe igualaram. E que falta fizeram, e fazem, à velha Europa.
 

Mário Rui
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Quase tudo é singular em democracia

Syriza vence mas sem maioria absoluta. Neonazis são os terceiros mais votados - Globo - DN#.VMVZvBvxH2o.facebook#.VMVZvBvxH2o.facebook#.VMVZvBvxH2o.facebook#.VMVZvBvxH2o.facebook


Bom, dizem que a democracia é a matriz e o receptáculo final da vontade popular. Dizem, mas às vezes a coisa não funciona assim tão bem e lá aparecem os suplícios em lugar dos prazeres. A Grécia, hoje, segundo o partido vencedor das eleições, votou pela saída dessa redoma de tormentos e preferiu pensar que aquilo que é encorajador, pode ser verdadeiro. A democracia funcionou e, na defesa das regras do jogo, há que aceitar o resultado pois é a soma de decisões colectivas, na qual está prevista e facilitada a ampla participação dos interessados. Quanto ao futuro, tempo de difícil reconstrução e confusas esperanças, digo eu, logo veremos o que pode a Grécia ganhar. Se eventualmente não vier a conquistar o que espera, para um regime democrático, o estar em transformação é o seu estado natural. Boa sorte para os gregos. Ficaremos atentos à infinidade de futuros que agora começam.

 
Mário Rui
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Os amores dos outros e a evanescência do que se publica



Ora então chegou finalmente o momento destinado a falar de coisas sérias, com substância. Ronaldo já não tem namorada e Carrilho está sem mulher. Assuntos da maior importância para o pulo qualitativo do país, pois está visto que o resto das notícias julgadas importantes passaram, segundo alguma imprensa burlesca, a simples farsadas escritas. Pasquinadas a que alguns jornalistas devotam atenção especial que mais não são que matadouro do bom jornalismo, lamentavelmente em vias de extinção, que por cá já se viu, outrora. Concluíram esses escrevedores de diversões fatelas que é deste pão com manteiga que o povo gosta e vai daí engorde-se então a flacidez cultural de alguns – muitos – leitores com estas musculadas e bem intencionadas casas de cultura. Vêm estampadas em periódicos que movimentam máquinas-impressoras que bem podiam estar paradas se o que há para dizer é isto. Ou então, melhor ainda, desligue-se a máquina se a escrita prevista for tão raquítica quanto a que trata de penitências ou impertinências conjugais tão úteis à sociedade quanto a gaiola ao passarinho. Se a isto subtrairmos as depressões causadas, não pelo assustadoramente evidenciado no que toca ao país real e à crise, isso não tem qualquer importância jornalística, mas as que resultam do saber-se das experiências da vida íntima dos outros, então sim, podemos contar com povo informado mas nunca com povo a quem não só não chega o dinheiro nem tão-pouco, e isso é que é verdadeiramente grave, a educação. Mais lamentável ainda é o facto de haver imprensa dita de “referência” que, tal como a demais sem “referências”, entra neste delírio de notícias onde tudo é chinesice e desarranjo intelectual. Agora, a tal jornalismo que não acrescenta saber, já só falta explicar o caminho da casa de banho até à cama e, por este andar, as excitações de fora ficarão definitivamente em camarim de luxo, nirvana puro. O mais, é vender, vender muitos jornais e não interessa se a fatalidade de muitos leitores é serem mesmo tolos. De resto, ou me engano muito ou estou completamente certo; se alguma imprensa pudesse socorrer o tolo, já há muito teria sido banida por lei.
 
Mário Rui
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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Parabéns Ronaldo e vão três




Não sei, também não é importante que saiba, quem votou para os prémios da FIFA entregues hoje. Há no entanto uma constatação inequívoca a reter. Desde logo a supremacia em termos de distinção para técnicos e jogadores alemães o que, não querendo dizer que não a mereçam, me causa alguma estranheza. Parece-me que nestas peças há sempre uma parte típica, às vezes intraduzível, e que pela sua natureza íntima faz esquecer outros tantos com igual ou mais mérito para estas obras. Mas enfim, quem pode manda e, assim sendo, o resto da plateia que se contente com elementos, artísticos sim, mas de categorias subalternas.
 
Outra nota a salientar tem a ver com a língua de que cada um dos premiados se serve para dizer o que sente. Todos o fazem na sua língua de origem, e bem, pois mostram o que ela tem de raro e finamente original, sendo que no caso da portuguesa se recorre abundantemente à fuga da corrente de vida indígena que nos devia ligar ao resto do mundo. A nossa marca distintiva, a verve do diálogo lusitano, o imprevisto de certos lances linguísticos, o jogo cénico de falar portugalidades, é algo que só nos assiste por encanto de breves e quase sempre esporádicos episódios, vá-se lá saber porquê. Será que dizer em português ameaça a integridade do lar e da família? Será a nossa língua objecto macarrónico de tradução? Ou será que traduzir neste caso é, para alguns, concessão separatista? Bom, é verdade que qualquer transplantação diminui literariamente o que se explica aos estrangeiros, mas então decidam-se. Ou falamos na língua de Camões ou então não digam que são de cá. Fiquem calados ou expliquem-se por gestos, mas nunca esqueçam que falar em português é seguramente um excelente lugar de cultura, mesmo para os que não nos entendem.
 
Ah, não me esqueci, não. Ronaldo ganhou mais uma bola de ouro. Parabéns Ronaldo, parabéns Portugal. És grande rapaz e serás muito maior quando os teus encantos e cantos de grande autor da bola mostrarem ao mundo os dotes artísticos de um Portugal que diz como Pessoa «a minha pátria é a Língua Portuguesa». Quer durante os começos, intervalos e não só no epílogo da merecida festa, na última parte do discurso, na qual se faz uma leve recapitulação das razões principais que nele entraram. Sempre em bom português já que só isso fará de nós boas suficiências hereditárias. Quanto ao estranho grito de guerra, não o percebi, mas também não tem importância pois se isso quis significar o génio da nação, então mereces de novo o meu aplauso. Gosto de gente que puxa por nós e esse grito teve fragância. Parabéns, outra vez!
 


Mário Rui
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Paris Free Expression

 
 
 
 
Mário Rui
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sábado, 10 de janeiro de 2015

Singularidades Charlie




Não se trata, como alguns querem fazer crer, de uma guerra de religiões e muito menos uma guerra às religiões. Trata-se, isso sim, de informar algumas “doutas mentes da ciência política” nacional e internacional, esquecidas que estão do valor de associação, que a marca distintiva da civilização ocidental, a nossa, continua a ser a capacidade de se voltar para si mesma para se compreender, para se autocriticar e, assim, proteger culturas diferentes. Mesmo que para alguns petrificados bárbaros, assassinos da paz e do progresso, o espiritual esteja apenas ligado à intolerância, o que é importante é que lhes digamos e mostremos que jamais nos conseguirão convencer do real a partir do irreal. A especificidade dos da nossa espécie, livre e compreensiva, tem que se lhe diga, e quando valores associados a crenças malucas conferem ‘direitos’ quanto à chacina dos diferentes, então essa pretensa fé pode tornar-se numa forma de poder. É nesse preciso momento que até a saudável fé perde o seu fundamento mais seguro, ou seja, a faculdade do diálogo. É por tudo isto, mesmo entrando em conta, aceitando, embora não concordando, com as opiniões dos que por cá entendem que ser-se Charlie, por estes dias, é sofisma, que insisto em também o ser apenas porque acredito que quando as armas que jorram fogo são a única solução, já não temos qualquer hipótese de nos salvarmos. Para guerra, já me basta este tipo de chacina perpetrada em Paris, e outras que tais, pelo que convirá combater este terrorismo, que não traz consigo qualquer alternativa ideológica, política e muito menos civilizacional, mas nunca perdendo de vista a vantajosa coexistência pacífica com a diferença vinda de quem a assume e a quer com paz. Quanto ao mais, onde incluo especialmente essas “doutas mentes da ciência política”, que no caso do hediondo ataque em França já começaram a misturar direita e esquerda, opressores e oprimidos, colonos e colonizadores, devo lembrar-lhes que no assassínio inqualificável de seres humanos, não há direita nem esquerda, há só humanidade ou, se lhes der mais jeito, há esse governo do interesse de todos a que esses mesmos chamam de República. E ainda há uma outra singularidade porque tem a ver com a morte, que é, inequivocamente, a última singularidade, a singularidade radical. Direitos para todos, sim. Privilégios é que não!!
 

Mário Rui
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CORRUPÇÃO


‘Corrupção’ é a palavra eleita pelos portugueses para descrever 2014, numa votação levada a cabo pela Porto Editora.
Se se tratasse só da palavra em si, a coisa não traria mal ao mundo pois que “palavras leva-as o vento”. O problema está, isso sim, na miríade de finalidades humanas, umas mais habilidosas, outras mais inocentes mas nem por isso menos asquerosas, que consubstanciam o verdadeiro significado prático do termo. Muitos interpretam-no como sendo tentação, outros dirão tratar-se de sedução, não esquecendo em especial os que o entendem como paixão irresistível. Curiosamente, ou não, todos estes entendimentos acabam em ‘ão’ como que fazendo lembrar, para rimar, que afinal mais parece profissão. Não sei, nem quero saber, se tal ofício é coisa corrente em outros tantos países deste mundo já que me basta perceber que no meu, certos artífices deste labor, jamais deveriam ser tratados como regra mas antes como real excepção. Mas do que tenho mesmo a certeza é de que não gosto desse terrível algoz, o corrupto, sempre convencido da sua ilibada abundância, não só porque quer muitas fertilidades e consegue-as, mas sobretudo porque aos que trabalham de espírito aberto e sério, em querendo muito pouco, nada conseguem. E tendo tanta firmeza no que penso e digo quanto à palavra ‘eleita’, atrevo-me a explicá-la aos meus filhos. Nem que seja só para que percebam a complexidade de éticas solidamente unidas a empirismos traiçoeiros.



Mário Rui
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015? Quase lá...





Mário Rui
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Bom Ano ou Ano Bom para todos



No dizer de uns anuncia-se por aí ano novo, no de outros será antes um novo ano. Não é relevante o modo como se diz já que, no fundo, o que todos somos é herdeiros de guardar conveniências e nessa medida certamente que a esperança que mais religiosamente guardamos tem sobretudo a ver com a necessidade de simplificarmos a complexidade do mundo que nos rodeia. E esta peleja faz sentido, mesmo que a nossa condição natural nos leve a querer mais do que aquilo que podemos atingir, pois daí virá a vontade, sincera em muitos casos, em desejar aos outros caminhos mais amenos e direitos, em vez de peregrinações ásperas e carregadas de escolhos. Esse tal ano que agora bate à porta, é esperança que convém avaliar, medindo-se o futuro, é certo, mas tendo bem presente que segura e infelizmente tardará o 'império' esperado. Apesar da tempestade de cepticismo que nos tem servido de manto frio e da espera que desespera, importa que na passagem do minuto passado para o minuto futuro, até porque nestas coisas não se pode andar com os ponteiros do relógio para trás, consigamos então sugerir simplicidade em lugar de restabelecermos a aludida complexidade dos costumes impostos. Nem que seja por um só minuto, pois algum apetite imaginativo e uma certa satisfação na coisa, só acrescentará confiança. Divirtam-se, passem bem do ano relho para o que começa, ainda que seja em autocomplacência espiritual, mas jamais envoltos em céltico e repetido crepúsculo.
 

Mário Rui
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Bucolismos - Dezembro de 2014

























 
 
 
Mário Rui
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