quarta-feira, 15 de abril de 2015

Putos, eduquem os jornalistas




Até posso lamentar que a tal lei proibicionista esteja mal feita e daí resultem esperanças goradas quanto aos fins a alcançar, mas lamento ainda mais a melancolia pálida dos sonhos desta senhora que acha que aos 17 anos se pode fazer quase tudo na vida, ter filhos, casar, trabalhar, pagar impostos, ser levado a tribunal, etc. Não se poderá, se o Ministério da Saúde ganhar esta guerra, beber uma mini, acrescenta a dita. Estou-me nas tintas quanto à cor política do Ministério que eventualmente venha a ganhar esta batalha do alcoolismo juvenil, e do outro também, pois aplaudirei aquele que conseguir, a cada mini a mais bebida, corrigir infantilidades cuja vida o tédio do vulgar álcool envenena. O que não vale a pena é a senhora dar a sensação (estarei enganado?) de que está do lado dos que bebem o que não devem pois tais decilitros a mais são uma espécie de deleite perverso no desnortear de muitos jovens e não jovens. O Estado deve fazer prevenção e pedagogia, como os pais devem continuamente fazer em relação aos filhos, tenham eles 16, 21, 25 ou 30 anos? Pois deve! O Estado deve ter um serviço de saúde com capacidade para tratar alcoólicos? Claro que sim, o Estado até devia ter tudo e mais um par de botas, mas também a senhora deveria refrear, pela viveza dos seus expedientes e remoques jornalísticos, essa cultura interior de sentimentos e essa exoticidade em achar que aos 17 anos se pode fazer quase tudo na vida, até beber o que se queira. É mentira; aos 17 anos não se pode fazer quase tudo na vida, minha senhora. Aos 17 anos deve-se aprender primeiro a ficar longe das peias deformantes da sociedade e só depois beber a tal ’bjeca’ que tanto defende. Transformar a proibição das ‘bjecas’ no alfa e ómega do combate ao alcoolismo é inútil e só serve para distrair da crise, salienta. Pois, mas então venha daí, do seu canto oratório, a luminosa medida, já percebi que se vier de um qualquer governo para si está sempre mal, que combata esta moléstia com cheiro etílico, herança fatal da vida airada de tantos e bons incautos jovens, agora já não com 17, mas antes com 11, 12, 13, 14 anos. Ou será que a senhora também defende que beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses? Ainda que eu perceba que a primeira felicidade de uns seja vender, jamais estarei de acordo que tal estado sirva uma causa, a única, a verdadeira segundo a sua opinião, que simplifica abusivamente, justamente a de que todos e quaisquer uns possam comprar. Não querendo invadir, sequer abeirar-me do privado, gostaria de saber se a senhora é mãe. É que esta coisa do vinho,‘bjecas’, enfim líquidos voláteis a rodos e sem freio, são o resumo de séculos de trambolhões e misérias no meu país. Já me basta que educar filhos não seja uma ciência exacta e ainda por cima aparece-me a senhora com tanto vanguardismo intelectual que parece puro como a luz mas afinal só tem trazido vida escura como a noite. Esperava mais pois estou farto desse “progresso”!


Mário Rui
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