segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O emigrante



Francamente...
Por muito que queira abster-me de comentar a situação política e económica em que o nosso país se encontra, não consigo fugir à vontade indómita que acaba por me dominar e assim trazer à liça tudo aquilo que me parece demasiado bacoco, quando pronunciado por gente com responsabilidades políticas. Seja gente do partido A, B, ou C, tanto me faz, como me fez. Tenho é que deixar a minha própria marca na comunicabilidade dos meus persistentes pensamentos quanto à dureza do que ouço, vejo e leio. E hoje li, no Jornal de Notícias, um título e um texto que me deixaram verdadeiramente irritado. Mais um. Então não é que um tal Sr. João Ribeiro, porta-voz ou secretário nacional do novo e seguro Partido Socialista afirma que , e passo a citar: “ se não fosse a posição que ocupo também eu emigrava”. Segundo a rigidez dos meus princípios, se tal posição é desbocadamente proferida por alguém que se assoma como porta-voz de um partido, então eu desisto já de acreditar na pessoa que o disse e no partido que acolhe no seu seio gente desta. Nem Salazar, nem o Estado Novo, teriam estado tão bem quanto o senhor Ribeiro ao proferir tal declaração. Esses corriam com os seus concidadãos para o mundo novo, mas depois ‘caçavam-nos’ na fronteira. Mas maus como eram, sempre praticavam o acto no silêncio da escuridão. Não que isso seja, ou tenha sido uma vantagem ou mesmo tenha feito deles seres mais nobres. Não! Não conseguiram tal desiderato e por isso mesmo foram, e muito bem, castigados esses políticos-governantes. Será que o apelo agora feito, porque é disso que se trata, retoma um certo jeito de fazer política que nem ao diabo lembra? Pelo caminho que trilha este porta-voz, seria preferível ser guarda-voz, essas excelentes declarações acabarão por ganhar o coração do povo? Não creio! Faça exactamente o contrário e verá que conquistará mais pessoas para a sua causa política qualquer que ela seja. Como é que as pessoas que leram isto, se podem regozijar com um prejuízo? O sr. não percebeu que Portugal não quer emigrar? Portugal quer contar com homens e mulheres cá dentro, gente silenciosa mas decidida, gente que sabe contentar-se com a sua tarefa invisível e indivisível, perseverantes. Gente que, em todas as coisas procura apaixonadamente o obstáculo a vencer. E sabe qual é o obstáculo? É exactamente aquele que uma geração inteira de políticos da sua escola lhes deixou por palavras, actos e dívidas infindas. Eis as esperanças em que a maior parte dos portugueses, que o senhor aconselha a emigrar, ainda acredita. Mas realmente em que podereís vós ver , mas em que é que podereís bem sentir estas esperanças se a vossa estatura não conheceu esplendores, fartura, depois pobreza, miséria e, agora, desespero. Não lhe vai ser possível, não! É demasiado novo, ainda que sendo sociólogo, para perceber que não se dão conselhos destes a um País martirizado. Há expressões de espírito, há sentenças, uma mão cheia de palavras, nas quais , de repente, se pode cristalizar uma sociedade. Pense bem nas palavras ocasionais antes de as proferir. Não é emigrando, perdendo o que de bom este país tem, que se provará o seu senso de responsabilidade perante os males da nossa própria sociedade.
E qual direita a que o senhor se refere, qual esquerda, qual centro? Nós, os portugueses, só queremos que emigrem definitivamente, os asnos que nos obrigam a puxar a carroça do nosso amado povo.


Mário Rui