quinta-feira, 30 de junho de 2011

Para agitar a multidão


Tenho dois filhos. Duas sementes que, cada uma a seu modo, foram florescendo, empurradas docemente pela parcela da sua criação. Enveredaram por rotas pessoais diferentes mas, permitam-me a falta de modéstia, foram, e são, rumos conquistados na justa medida em que quiseram, e conseguiram, moldar a sua própria argila. Um, desembaraçou-se dos seus pensamentos escrevendo, passando-os ao papel. O outro, curiosamente, escrevendo também, mas a traço de desenho que começa a dar frutos de fundações que mais tarde ou mais cedo albergarão o que quer que seja.

A ambos foi incutida a honestidade e a necessidade de simplicidade no que dizem, fazem e, se possível, nunca menosprezando o que a outros diz respeito, se existirem condições para tal, ou seja, se de facto, alguma similitude em quantidade de força e escalas de valores existir.

Vem tudo isto a propósto de um artigo de opinião, hoje lançado pelo que traduz pensamento em escrita. Compreenderão que as artes do outro são diversas, para mim não menos louváveis, mas de visibilidade pública que se me apresenta de mais difícil revelação. Defeito meu! Mas ele não me leva a mal.

Bom, quanto à tal crónica, se a quiserem ler, está disponível no
blogue do próprio.

Ao lê-la, julgo ter percebido haver ali um honesto sentimento de repúdio por tudo o que, segundo a sua interpretação dos acontecimentos, e já agora deixem-me acrescentar também segundo o que é a minha leitura, ali se traduz como sendo uma enorme preversidade por parte de alguns jornalistas que mais não fizeram senão sacrificar algumas pessoas em favor do seu pretenso império jornalístico.

Quisera eu ter bem vivo e actuante o artista recentemente desaparecido, tanto quanto o empreeendor que também deixou de estar entre nós. A ambos deixo o meu respeito pelo que fizeram, pelos marcos que criaram e pela forma como eventualmente viveram. Digo ‘eventualmente’ por desconhecer de todo muitas das virtudes que, quero acreditar, lhes eram peculiares e exemplos de nobreza de vida para outros tantos. Acrescento só que, em áreas distintas, foram seguramente diferentes da maioria e só por isso merecem o nosso respeitoso silêncio.

O problema é que esse respeitoso silêncio – leia-se homenagem – é-nos dado pela tal classe fatela de jornalistas de modo diametralmente oposto. E eu não percebo porquê.

Por mim, nem sequer quero discutir consciências. Apetece-me discutir apenas actos. E os actos de quem, a qualquer preço, apenas pretende vender papel, actos execráveis e que retratam de forma fidedigna a falta de princípios, carácter e valores que, com muita mágoa minha, revelam também uma parcela grande da sociedade portuguesa.

Sim, porque afinal é neste quadro de valores que a agenda mediática deste empobrecido País, como se já não bastasse a dos paupérrimos políticos que sempre tivemos e, quem sabe, continuaremos a ter, se revê e nos quer fazer crer que o que escrevem é conhecimento, é aprendizagem para quem lê. Não é, não! E é pena que algum povo ainda vá acreditando nesta comunicação baptizada de social.
Paz à alma de todos os que, por obras, de maior ou menor valor, da lei da vida se vão libertando. Mas, ao menos no acto final desta efémera passagem por este lugar, tratem-nos a todos de igual modo . Se já o nascer-se tem contornos diferentes em função de diferentes pessoas, pelo menos tenham a honradez de, na morte, considerarem a todos como iguais. E já agora, não dêem festas para divulgarem aquilo que pensam e têm como certo. Tal acto fere muita gente. Veja-se a “retumbante” foto publicada por um jornal para se perceber o modo como se quer agitar a multidão. Acalmem-se, porque se aquilo que escrevem e retratam estiver certo, isso mesmo revelar-se- à por si próprio.

E nunca esqueçam srs. jornalistas-fatela: os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar tudo o que lhes é vendido pelos que podem.
Mário Rui

A todos os outros Angélicos



A morte de Angélico Vieira veio provar uma coisa de que há muito eu já tinha a certeza: as pessoas são tratadas pela comunicação social como números em prol das audiências. E mais: parece que o Salvador Caetano, ao lado de Angélico, era comparável ao gordinho da escola primária de quem todos se esqueciam no recreio.

O acidente e a consequente morte do músico e actor chocaram metade do país e eu, que também sou humano, não fui excepção. Não que fosse fã do seu trabalho, apesar de saber reconhecer o mérito quando assim deve ser, mas situações destas devem fazer-nos pensar e, se for o caso, abrandar os nossos excessos e comportamentos.

Aquilo que me faz confusão e que contraria tudo aquilo que desde sempre me ensinaram, é chegar à conclusão de que nem as mortes das pessoas que anualmente se contabilizam nas estradas portuguesas as torna semelhantes e muito menos dignas de um tratamento jornalístico ao nível dos ídolos que as próprias televisões fabricam. E eu compreendo isso: as figuras públicas vendem e nós não. Aí está!

A cobertura a que se prestam os órgãos de comunicação social nesta e em situações idênticas é exagerada, esgotante e previsível. Quem não se lembra das imagens repetidas até à exaustão da morte súbita de Miklos Féher? Quem não se lembra da exposição mediática do desaparecimento de Madeleine McCann? Ou, mais recentemente, das notícias do acidente que envolveu Sónia Brazão?

E eu pergunto: então e as mães - chamemos-lhes anónimas - das crianças desaparecidas - também elas anónimas - que tudo dariam para expor, até à exaustão, o caso nas televisões? E as crianças vítimas de violência doméstica? Não seriam estes casos igualmente dignos e até mais justificáveis de uma cobertura semelhante?

Eu recordo que, precisamente na mesma altura em que as notícias sobre o acidente de Angélico nos eram impingidas, morrera um homem com 85 anos, empresário visionário e com sentido de liderança, responsável pela introdução da Toyota em Portugal na década de 60, um dos fundadores do BCP e BPI e que preferia o seu recanto às luzes da ribalta. O seu nome era Salvador Caetano e a comunicação social, na sua banal superficialidade, decidiu que a sua morte não era merecedora de um tratamento igual à obra que produziu.

Quanto a mim, eu acho que é tanta a previsibilidade, a hipocrisia e a arrogância com que se serve a comunicação social dos ídolos que ela própria fabrica que, no fundo, o que há a fazer nestas situações, como já todos reparámos que assim é, é substitui-los por outros que lhes garantam novamente, seja por quanto tempo for, o lugar que todas as estações procuram.

E isso porque, ao que parece, na batalha dos números e na ânsia do poder, nem a morte nos torna iguais.

Rui André

terça-feira, 28 de junho de 2011

Que televisão queremos?




O Programa do XIX Governo, que foi divulgado hoje, aborda a Comunicação Social. Aí se refere que a privatização de um dos canais da RTP será feita «oportunamente e em modelo a definir face às condições de mercado», o que parece colocar de parte, aparentemente, um cenário de privatização a curto prazo.



«... ... obter-se uma forte contenção de custos operacionais já em 2012 criando, assim, condições tanto para a redução significativa do esforço financeiro dos contribuintes quanto para o processo de privatização»...

Esta parte, julgo, a maioria dos portugueses, com ou sem empatia, vai ter de partilhar. É a factura de incontáveis incompetências a que se permitiram pessoas quando o seu pseudo talento, esse mesmo, começou a enfraquecer. E já lá vão muitos anos. Mas enfim.




O que me agradaria especialmente nesta altura de mudança, se é que de mudança o Governo se vai ocupar, era que se dedicasse mais atenção aos conteúdos. Têm sido, genericamente, muito pobres, sem mensagem, quantas vezes supremo disparate. Eu sei que se mede a "força" de um espectador e sobretudo a força de uma televisão pelo grau de fé que o primeiro tem necessidade para se 'desenvolver', pelo número de amarras em que não quer que toquem por estar agarrado a elas.



Mas de facto, assim, nem espectador, nem televisão, nem País como o nosso, irão longe. Ninguém vive sem mudança. Pois façam-na agora, invertendo o ciclo e oferecendo mais conhecimento ao público espectador. A quem quer saber mais a ideia agradará.



A quem pretenda continuar a ver a mesma TV, pouco mais restará - é a minha sincera opinião - senão continuar a ter um País que nunca ninguém teve, e não quer ter, neste velho continente. Agora decidam-se srs. governantes. Mude-se a televisão ou mude-se o povo. Vejam lá o que é mais fácil!



Mário Rui

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O fim do mundo está próximo… a sério!


Tenho-me sentido muito deprimido ultimamente por achar que os meus textos não têm tido a adesão que eu esperava. Por isso, arranjei um título falacioso (uma espécie de falsa promessa) que despertasse a vossa atenção – sim, porque eu também gosto de me sentir mimado. É isso que também fazem os políticos, não é?!
Mas pensando bem, se o mundo estivesse mesmo próximo do fim, de certeza que começaria na televisão portuguesa. A verdade é que tenho pensado seriamente no que leva as pessoas a submeterem-se a humilhações públicas na TV e não consigo encontrar uma explicação plausível para isso.
Aquilo que eu acho que se passa em alguns programas da televisão portuguesa hoje, se vos interessa saber, é de uma decência ao nível de um curral de porcos mal engendrado, no qual ninguém se atreve a entrar dada a imundice que por lá vai.
Vamos começar pelos programas da manhã e ficamo-nos por aqui que já não aguento o cheiro. O que é que passa pela cabeça das pessoas que se aceitam como convidados desses ditos programas para se humilharem publicamente, abrindo o livro da sua vida privada a meio Portugal, revelando pormenores que só interessam aos fracos de espírito e cometendo o erro fatal de se vitimizarem por tudo o que lhes acontece?
E o que é que passa pela cabeça dos directores de programas das respectivas estações para concordarem com esta política de invasão à vida alheia em prol das audiências? E quem fala nos directores, fala nos respectivos apresentadores que, ao que parece, preferem fugir aos seus princípios, se os têm, em detrimento dos cifrões no final do mês. Não há valores, dignidade, respeito e decência nas pessoas que todos os dias dão a cara por esses programas e que muitos de nós tomamos como exemplo?
Como é possível que directores, apresentadores, produção e convidados no estúdio se sujeitem e promovam situações ridículas, humilhantes e que mais não fazem do que denegrir a imagem de um Portugal com uma mentalidade por si só tão pequenina? Como é possível escarafunchar publicamente a vida alheia, submetendo tudo e todos a um estado de apatia intelectual e pobreza de espírito?
O que nos interessa a nós as histórias de assassinato, morte e crime, de traição, incesto e violência que nesses programas dissimuladamente se fomentam para esgravatar a vida privada dos outros, que não aquelas que nos dizem directamente respeito a nós e que em toda e qualquer circunstância queremos e devemos resguardar do olhar reprovador e tantas vezes escarnecedor dos outros?
É pena que parte da programação da televisão portuguesa e quem a ela se submete atinjam um grau de inteligência tão baixinho que também me humilham a mim enquanto português.
Mas no final tudo acaba bem e eu já me sinto melhor porque vocês acabaram por ler mais um texto meu e porque vem aí a Árvore das Patacas. Ligue já!

Rui André

domingo, 26 de junho de 2011

Adriano Correia de Oliveira - Menina dos olhos tristes


Escapei, por um triz, à marcha inexorável da Guerra Colonial. Vivi, muito de perto, a angústia de quem partia e de quem ficava. Emocionei-me com o choro de pais e combatentes que, resignados a uma verdadeira necessidade nacional - em que realmente não acreditavam e ainda bem –, se desligavam da família como se uma fina lâmina de aço os separasse para todo o sempre.

Interrogava-me então a propósito do sentido da arma apontada ao «inimigo». Por toda a parte se pregava uma piedade, e esse papel também a Igreja o desempenhou quantas vezes para a elevação transcendental do supremo disparate e escárnio geral.

Ouvi ainda os gritos de comando que cercavam pelotões de jovens (como os meus e os teus filhos), verdadeiros uivos, que arrogância, que sarcasmo nessas vociferações. E lá rumava p´ro longínquo, com que desprendimento, o barco que havia de ir salvar a Nação.

Tocou-me profundamente todo este desespero da guerra, dos guerreiros, dos que acautelando melhores dias por cá ficaram e desarmados. Desses, muitos, acabaram por perder o pé e a fé. Ainda hoje está por pagar uma dívida de gratidão a essa geração de homens, apenas dependentes uns dos outros, em redor dos quais tudo, ou quase tudo, se tornou tragédia. Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez?

Mas saber suportar a revolta, revoltando-a, combatendo os hábitos, as crenças más e apesar de tudo conservando a sua boa consciência, é igualmente digno de apontamento.
Obrigado Adriano Correia de Oliveira.

Grandes homens.

Mário Rui


Eu, o imoralista


Uns, entre muitos


Há os que vão para o CÉU e os que vão para CEO. Alguém saberá quem dita este caminho? Quanto aos primeiros, eu arriscaria o Criador (seja ele quem for e por quem tenho fé - a minha). Quanto aos outros, também tenho fé mas de natureza diversa. O poder é raro entre os mais fracos - mas é a regra nos grupos, nos partidos, nas épocas e às vezes até nos povos. Não vão agora os ex-governantes, ainda e por mais uma vez, mandar outros tantos para o CEO. Agradar-me-ia a ideia de que ficassem só por «homens do dever». Boa tarde.


Mário Rui

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nobre ou não?



Lá que o homem saltitou de partido em partido, lá isso é verdade. Também é certo que tal atitude não enobrece quem quer fazer da sua vida política um ideal ou um caminho pensado como o mais ajustado (se é que o quer). Deixa-nos sempre a impressão, pelo menos a mim, que de facto se anda à procura de qualquer coisa sem se saber muito bem que coisa é essa.

A menos que, no espírito do insigne médico esteja, tão-só, a vontade de, com o seu contributo e em qualquer força política, poder dar um honesto sinal do que significa ser-se um cidadão responsável e de pleno direito cívico, interventor, o que de resto faz verdadeiramente falta a este País. Ainda assim, duvido que esse protagonismo possa evidenciar-se no seio de um partido político, mas enfim. Se calhar, na sociedade dita civil, independente, tal desiderato ficasse em plano mais saliente e necessário. Se assim tivesse acontecido, até lhe desculparia os saltinhos partidários, ou apartidários como tantas vezes referiu, e a humilhação a que se sujeitou aquando daquelas votações repetidas. Uma bastava para perceber a moral da história.

Depois, confirmar como exigência que só a cadeira presidencial da Assembleia da República o satisfazia, é igualmente pretensiosismo que talvez esteja para além do que se espera de um candidato ao Parlamento. É realmente P’ra...lamentar.

Tudo isto me parece um episódio grotesco, obviamente pouco digno, porque bem apreciada a coisa, julgo não estar na mente do dito o tal imperativo de cidadania pura e dura que viesse fazer a diferença que tanto clamamos.

Bom, mas deixe lá Sr. Dr. F. Nobre porque, pese embora toda essa triste e efémera passagem pela politica, os outros também não foram muito convincentes, nem tão pouco sérios, em relação aos argumentos apresentados para a sua não aceitação na «casa da democracia».

É preciso ter-se experiência política, traquejo, dizem eles. É mentira, digo eu. Não é preciso ter-se nada disso para se ocupar a cadeira mais alta da Assembleia. Basta ser-se sério, saber incutir valores, referências, ter-se o sentido do respeito pelos outros – sobretudo pelas suas vidas pessoais ou de outra índole, saber conduzir os contraditórios e esses predicados o senhor terá com toda a certeza.


Mas também, e sobretudo, é preciso, no início da jornada, saber tomar o caminho certo. Esse trilho escolhido é que o desarmou.


Só não o aceitaram, porque cá a política é feita disto mesmo. Apenas tem lugar quem em todo ou em parte seguiu uma religião, uma política ou um líder (dos fracos que temos). Se a obra, em matéria social, é portanto socialmente inútil, como aos olhos dos que o rejeitaram parece ser, então o sonho é a pior das cocaínas. Este último pensamento não é meu. Foi Fernando Pessoa quem o constatou. Presumo que vivenciando-o.

Por último, custa-me a crer que, para alguém que bebeu compêndios e compêndios de medicina, a cadeira da Presidência seja lugar que cause algum engulho. Se me é permitida humilde opinião, que não conselho, se um dia voltar à luta, atenção ao caminho certo. Mostre-lhes os livros por onde aprendeu a ser homem. É que nas bancadas do Parlamento (onde se discutem os problemas do País) estão lá várias pessoas que nunca perceberam que o que hoje é grão seco levanta-se amanhã sobre as ondas do campo como a espiga mais alta e mais cheia. Só precisa de rega.


Mário Rui

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tolerância às opiniões


Para que os homens possam sentir-se felizes com a minha companhia, é necessário antes de tudo que eu tenha a grande força de ver como prováveis as opiniões a que aderiram, desde que as não venham contradizer os factos que posso observar; não devo supor-me infalível; não devo considerar-me a inteligência superior e única entre o bando de pobres seres incapazes de pensar; cumpre-me abafar todo o ímpeto que possa haver dentro de mim para lhes restringir o direito de pensarem e de exprimirem, como souberem e quiserem, os resultados a que puderam chegar; de outro modo, nada mais faria de que contribuir para matar o universo: porque ele só vive da vida que lhe insufla o pensamento poderoso e livre.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes '

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O aborrecimento desaparece logo que somos levados ao quase épico!

Mitos


«O fóssil não chega a um centímetro, é uma pequena vértebra encontrada numa pedreira no condado de Sussex, no Sul do Reino Unido. Mas mal o paleontólogo Steve Sweetman olhou para o osso, percebeu que não poderia pertencer a uma cobra, seria provavelmente de um dinossauro, minúsculo. O artigo sobre a descoberta foi publicada na revista Cretaceous Research.»
(Jornal Público)


E eu a pensar que se tratava de um pardal-ladrão. Afinal há dinossauros anões. Como em tudo na vida. O que parece grande às vezes é tão pequenino que somos levados à aceitação de mitos. Puro engano.
Mário Rui

Conclusões


O objectivo de um argumento é expor as razões (premissas) que sustentam uma conclusão. Um argumento é falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a conclusão, mas na realidade não sustentam. Da mesma maneira que há padrões típicos, largamente usados, de argumentação correcta, também há padrões típicos de argumentos falaciosos.

Ah grande Villas. Tanto amor ao clube, repetido vezes sem conta, que só inventa a melhoria aquele que sabe mentir. Como é bom às vezes nem sequer os nossos pensamentos traduzir inteiramente por meio das palavras.

Mário Rui

Expliquem-me lá!



«Os candidatos a magistrados suspeitos de conhecerem por antecipação o exame do CEJ deverão ser submetidos a nova avaliação. Vai realizar-se uma averiguação interna e deixará de haver os chamados "testes americanos" naquela escola de formação de juízes.Foi o que o vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura(CSM), Bravo Serra, propôs aos directores do CEJ com quem esteve reunido esta tarde.»


Então, mas expliquem-me lá. Os que nos vão julgar, julgam-se a si próprios deste modo? Até podia haver verdadeiramente alguma coisa a dizer em favor da excepção, mas desde logo com a condição de que ela nunca, mas nunca, se queira transformar em regra. Ou será que já é?
Mário Rui

Balanço do meu primeiro ano em Lisboa



Agora que terminou o meu primeiro ano de Mestrado em Lisboa, aproveito para vos revelar aquilo que de melhor a cidade me ofereceu.

Em primeiro lugar, quem estuda em Lisboa – e esses não me deixam mentir – sabe que a capital é mais propícia ao ócio e ao lazer, porque a oferta assim o permite. Por isso, aconselha-se uma daquelas caipirinhas que nos custam os olhos da cara – mas que valem a pena - neste ou naquele miradouro com vista para a cidade e para o rio Tejo, uma tarde às compras no Chiado ou um vinho branco nas casas de vinho do Bairro Alto, esse lugar especial que todas as noites parece diferente e que é impossível não gostar, principalmente nas noites em que a camisola fica em casa para nos deixarmos levar pelo calor da noite. E é muito, mesmo no Inverno.

Lisboa é também o local de alguns dos mais luxuosos e sofisticados clubes nocturnos do país e do mundo, clubes que se podem dar ao luxo de ter como proprietário o famoso actor John Malkovich ou orgulhar-se de ser o único clube do país a constar da lista do World’s Finest Clubs. E há também aqueles mais vulgares, mas que nem por isso desiludem os seus clientes que sempre saem satisfeitos depois de uma noite aberta para o Tejo com as luzes da pista a reflectir no rio.

Em Lisboa estão as sedes das mais importantes empresas nacionais e filiações de gigantes internacionais. Talvez por isso as oportunidades na capital sejam mais e melhores. É também verdade que, regra geral, se é melhor remunerado e há mais facilidade em arranjar emprego ou estágio e, por isso, o poder de compra é também mais elevado e a qualidade de vida mais cara.

Já vos falei da oferta que me parece ser bem maior do que a procura. Todos os dias da semana, sem excepção, há espectáculos, exposições, concertos, alguma coisa para ver, ouvir e sentir. Lisboa é literalmente uma cidade europeia. Tem movimento e dinamismo, tem a dimensão e o aspecto daquelas cidades que nos habituámos a ver nos postais das grandes cidades dessa Europa fora, tem ritmo e energia.

Não me posso esquecer das pessoas que tornaram a minha estadia em Lisboa mais fácil e gratificante, das boleias naqueles finais de noite que rapidamente se transformavam em dia, das amigas das minhas amigas, dos jantares caseiros, das confidências e daquilo que nos faz gostar das pessoas, mas que não se explica.

Em Lisboa conheci pessoas fantásticas e amigos que guardarei para a vida e que me conquistaram em bem menos tempo do que pessoas que conheço há muitos anos. Desculpem, mas é assim mesmo! É também mentira que os lisboetas sejam fechados e carrancudos. São simpáticos e hospitaleiros.

Não posso também esquecer o sotaque particular das miúdas da capital, da pinta das de Cascais e do Estoril, daquele jeito único e arrebatador que desarma qualquer homem e das turistas polacas, suecas e inglesas.

No fundo, só tenho de agradecer a quem de direito por me ter dado a oportunidade de viver e crescer com tudo isto e dizer-lhes que, felizmente, ainda não acabou!
Rui André

sábado, 18 de junho de 2011

Imposturas Intelectuais


“Impostura”, de acordo com o dicionário, significa “embuste, engano artificioso; afetação de grandeza; superioridade, orgulho, confinante com a empáfia e a bazófia”. Os cientistas Alan D. Sokal (Universidade de Nova Iorque) e Jean Bricmont (Universidade Católica de Lovaina, Bélgica) sustentam que intelectuais de renome, associados à corrente convencionalmente conhecida como “pós-modernismo”, têm incorrido sistematicamente em “abusos reiterados de conceitos e termos provenientes das ciências físico-matemáticas”, a ponto de constituírem verdadeiras imposturas intelectuais. Podem ser identificados quatro tipos de abusos:
1. “Falar abundantemente de teorias das quais se tem, no máximo, uma vaga idéia”;
2. “Importar noções das ciências exatas para as ciências humanas sem dar a menor justificação empírica ou conceitual”;
3. “Exibir uma erudição superficial ao jogar, sem escrúpulos, termos especializados na cara do leitor, num contexto em que eles não têm pertinência alguma”; e
4. “Manipular frases desprovidas de sentido e se deixar levar por jogos de palavras”.

Imposturas Intelectuais, de Alan Sokal e Jean Bricmont
Lisboa: Gradiva, 1999, 300 pp.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

American way of life



É a foto. A sensação do momento nas redes sociais e nos blogues. Um casal beija-se no meio da estrada, indiferente ao motim que a derrota da equipa local de hóquei em gelo provocou nas ruas de Vancouver, no Canadá.
A batalha travada entre milhares de apoiantes do Vancouver Canucks e a polícia não foi nenhuma brincadeira: muitas centenas de pessoas foram hospitalizadas, algumas intoxicadas por gás lacrimogéneo. Mais de cem foram detidas. Carros foram incendiados, incluindo duas viaturas da polícia. Testemunhas dizem que muitos dos adeptos que começaram os distúrbios já estavam bem bebidos.
E, no entanto, os namorados beijam-se. Mesmo em tempo de "guerra" a paixão perdura. É por isso que o amor não se discute. É!


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Há coisas que não se explicam



Há no tempo de agora vinte e quatro horas e ordinários minutos. Existem todas estas horas calmamente perdidas nos tempos. Há também hoje dezasseis dias de um mês de Maio, de um ano bom, que se arrasta há setenta e sete anos. Confuso? Talvez...
Há um perímetro de floresta calma, que rodeia milhares de válvulas corcomidas pelo tempo, esse tempo formado finalmente de horas , segundos e minutos. Vai acontecendo que desta composição, a decomposição observada traduz-se exactamente em nada. Vaga vida! Há também uma tela branca onde os homens observam a correr um pesado e duradouro caminho.
Há, há tudo isto. E vocês não se querem aperceber de tal. Mas, a juntar, há também o homem de bigode farto, com os dentes sujos e salientes, que ao falar mais parece nada dizer. Traseiro grande, nada perspicaz, antes sonolento, passivo...Ele, e muitos outros homens, caminham por aquela estrada poeirenta coberta de uma areia granulada. Atrás deles está o Sol. Aquela bola imensa de fogo que redescobre o sabor das coisas mais simples. É que pode dar-se muito ao simples.
Tudo isto não vai além de análise.
Vem ainda distante o roncar de um motor. Motor que faz rodar dois aros sobre os quais se apoia um homem . Os super-homens apoiam-se em quatro ou mesmo seis aros e, contudo, quantas vezes mal suportados pelo tempo. É o tempo dos homens. O chicote há-de castigar esse tempo. Alegra-te por isso!
E quando desço dos meus montes e falo aos que me escutam perco a ânsia de lhes dizer alguma coisa e fico-me. Só, comigo. Esses não me entendem apesar da escuta. Pensam demasiado neles próprios. Subo de novo aos meus píncaros. Muito brancos. Ávidos do surgir do deus Sol
O infinito enche-me as medidas. O vento é bom companheiro. Fustiga-me, sem contudo ferir-me.
E que importam os automatismos de que os homens se servem? Esforçam-se por conseguirem mais botões, botões onde carregar fazendo girar o sistema. Estás nele.
Eu amo o carregar na terra que se vai escoando entre os meus pés.
Calmamente, sento-me no chão do meu Deus
Calmamente, alcanço o fim.
É o meu monte.
É o meu começo.
Estarei certo?
E a nota errática e ao mesmo tempo melodramática , lá vem outra vez o tempo, dos homens é esta:
«... oh. serve!»


Mário Rui - Maio de 1977

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Frases feitas


Para o ignorante, a velhice é o inverno, para o instruído é a estação da colheita

domingo, 12 de junho de 2011

Este é o tempo



Este é o tempo

Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.

Sophia de Mello Breyner
in Mar Novo (1958)

Relíquia



Símbolos



Trabalhando em prol do próximo



Tempos idos, abnegados homens!



Custava(?), mas era assim.



Mulheres da minha terra



sexta-feira, 10 de junho de 2011

Burrices




Diz-se por aí que um ex-político português vai para Paris, durante um ano, estudar filosofia. Eu acho bem. Mas também me parece, como diz o povo, que «burro velho não aprende línguas». Mas não é por ser velho é mesmo por ser burro!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Telemóveis



Olá e xau. Hoje fico-me por aqui que estou a comer e não se fala de boca cheia, ok? Não? Pronto, está bem!
Estava aqui a pensar em quantos telemóveis já tive e acho que foram…muitos. Os meus pais nunca acharam piada a isso e eu consigo perceber agora porquê: sempre que eu compro um telemóvel novo, estou a comprar tudo menos um telemóvel. E para vos provar que eu estou certo e vocês errados – amigos na mesma – tive o cuidado de ir ao dicionário ver a definição de telemóvel e consta do seguinte: “aparelho portátil que permite efectuar ligações telefónicas”.
Digam-me se eu estiver enganado que eu deixo, mas “efectuar ligações telefónicas” não é aquilo que grande parte de nós menos faz com os telemóveis? Não seria melhor trocar o nome técnico do aparelho por outro que mais se aproximasse do verdadeiro uso que hoje lhe damos? É que ter um telemóvel hoje em dia é como levar o carrinho das compras ao supermercado e não fazer uso dele.
Aquilo que acontece é o seguinte: quantas mais mariquices têm – leia-se aplicações – e quanto mais vistosos são, maior é a probabilidade de virem a dar problemas. A câmara que deixou de funcionar, o acesso à Internet que ficou travado, a péssima duração da bateria, o ecrã que é demasiado pequeno para ver páginas Web, o sistema que é lento ou que bloqueou, o clássico problema dos carregadores – alguém tem aí um compatível com o meu? – e o inevitável arremesso do objecto à parede mais próxima.
Agora mais recentemente surgiram os telemóveis Touch que fazem com que as pessoas com dedos grandes acertem sempre na tecla ao lado, o que acaba por não ter consequências graves porque os telemóveis de hoje até já têm corrector automático. Espectacular! E consta-se que há já alguns que aspiram a casa das pessoas e armazenam o pó nos cartões de memória de 2Gb.
Portanto, livrem-se vocês de dizer que as pessoas hoje em dia passam a vida ao telemóvel, porque é muito provável que elas estejam a fazer tudo menos isso.
No fundo, eu só queria um telemóvel que me levasse os cães a passear, que me fizesse o jantar quando chego tarde a casa, que me metesse a roupa a lavar ou que permitisse que eu desse o máximo uso dele sem ele me dar problemas. Dá para fazer um assim? Pensem nisto com carinho!
Por hoje é tudo. Liguem-me mais tarde, ok? Estou? Ainda aí estão? Alô? Pi pi pi pi.


Rui André

Para hipotético Rei até tem profundidade de pensamento! Ou será que tanta profundidade lhe baralha as ideias?




Convidado a falar sobre Educação e questionado sobre se «o país está mais preocupado com as causas fracturantes do que com a realidade?», o Duque não tem dúvidas.

«Claro! Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene. Praticamente é só isso, em vez de dar referências éticas e morais em relação ao desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Ao mesmo tempo, desencorajam-se as aulas de educação moral e estamos a dizer que a moral não tem importância, que só a sexualidade livre é fundamental para a felicidade dos portugueses».

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Olhar pr’ó boneco



Há muitas maneiras de “olhar pr’ó boneco”. Pode-se “olhar pr’ó boneco” sem olhar para boneco nenhum; ou olhar para o boneco que passa. Pode-se “olhar pr’ó boneco” com a “cabeça no ar”, ou com a cabeça noutro lugar. Pode-se ainda “olhar pr’ó boneco” sem ver nada; ou olhar para ver o que é que ele tem a ver connosco. Cada um pode, enfim, “olhar pr’ó boneco” à sua maneira.


João Paulo Janicas

sábado, 4 de junho de 2011

Eleições - Votar, ou não votar, não tem preço. Tem uma consequência!



A campanha

Uma campanha eleitoral divide-se em duas partes principais: uma primeira parte em que os intervenientes não discutem nada de essencial e uma segunda parte em que os intervenientes lamentam que o essencial tenha ficado por discutir.

Ricardo Araújo Pereira

Vale, o que eu queria era voar, voar em ti...



Dependências



Toalha d'água



A vida no alto do vale



Tudo morre!



quarta-feira, 1 de junho de 2011

Marido rico

Saiu numa edição do Financial Times.
Uma jovem mulher enviou um e-mail para o jornal a pedir dicas sobre “como arranjar um marido rico”.
Contudo, mais inacreditável que o “pedido” da rapariga, foi a resposta do editor do jornal que, muito inspirado, respondeu à mensagem, de forma muito bem fundamentada.

Sensacional!

E-mail da rapariga:

“Sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos.

Sou bem articulada e tenho classe. Quero casar-me com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Há algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste jornal, ou alguma mulher casada com alguém que ganhe isso e que possa dar-me algumas dicas?

Já namorei homens que ganham por volta de 200 a 250 mil, mas não consigo passar disso. E 250 mil por ano não me vão permitir morar em Central Park West.

Conheço uma mulher (do meu grupo de ioga) que casou com um banqueiro e vive em Tribeca! E ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente.

Então, o que é que ela fez que eu não fiz? Qual a estratégia correcta? Como chego ao nível dela?”

(Raphaella S.)
_________________

Resposta do editor do jornal:

“Li a sua consulta com grande interesse, pensei cuidadosamente no seu caso e fiz uma análise da situação.

Primeiramente, eu ganho mais de 500 mil por ano. Portanto, não estou a tomar o seu tempo à toa...

Posto isto, considero os factos da seguinte forma: Visto da perspectiva de um homem como eu (que tenho os requisitos que procura), o que oferece é simplesmente um péssimo negócio.

Eis o porquê: deixando o convencionalismo de lado, o que sugere é uma negociação simples, proposta clara, sem entrelinhas: Você entra com a beleza física e eu entro com o dinheiro.

Mas há um problema.

Com toda a certeza, com o tempo a sua beleza vai diminuir e um dia acabar, ao contrário do meu dinheiro que, com o tempo, continuará a aumentar.

Assim, em termos económicos, você é um activo que sofre depreciação e eu sou um activo que rende dividendos. Você não somente sofre depreciação, mas sofre uma depreciação progressiva, ou seja, sempre a aumentar!

Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar linda pelos próximos 5 ou 10 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. E no futuro, quando se comparar com uma fotografia de hoje, verá que se transformou num caco.

Isto é, hoje você está em ‘alta’, na época ideal de ser vendida, mas não de ser comprada.

Usando a terminologia de Wall Street, quem a tiver hoje deve mantê-la como ‘trading position’ (posição para comercializar) e não como ‘buy and hold’ (comprar e manter), que é para o que você se oferece...

Portanto, ainda em termos comerciais, casar (que é um ‘buy and hold’) consigo não é um bom negócio a médio/longo prazo! Mas alugá-la, sim!

Assim, em termos sociais, um negócio razoável a ponderar é, namorar.

Sem ponderar... Mas, já a ponderar e, para me certificar do quão ‘articulada, com classe e maravilhosamente linda’ você é, eu, na condição de provável futuro locatário dessa ’máquina’, quero tão-somente o que é de praxe: fazer um ‘test drive’ antes de fechar o negócio... podemos marcar?”

(Philip Stephens, associate editor of the Financial Times - USA)