domingo, 28 de setembro de 2014

Domingos parvos



Nunca fui grande adepto de domingos. Não só porque se prestam a tendências ocas para o próprio ócio mas sobretudo pela contemplação quieta das coisas que proporcionam. A união dos dois elementos é uma completa inacção e, pior que isso, permite  inércia que não ajuda a resolvê-las pela acção. Enfim, domingos, dias em que são mais as coisas sobre as quais não escrevemos do que aquelas acerca das quais escrevemos. Domingos parvos…
 
Mário Rui
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sábado, 27 de setembro de 2014

Disputa de fronteiras



Coisa feroz, esta a do ofício de viver, quando as grandes marcas disputam as suas fronteiras e cada uma parece premeditar o achincalho da outra. Há uma invasão recíproca de espaço assim não faltem razões para a competição. Claro que os criadores aparecem sempre bem armados para este trabalho de subtilíssima habilidade e talvez astúcia mas, por outro lado, por baixo de tudo, todo o homem está nú. Até o Rei!
 
Mário Rui
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

I am a simple man


 


Nos anos de todos os sonhos cantava-se assim, com gente que dava ânimo a todas a poções que serviam de alimento às ilusões bem urdidas de uma existência com céu azul sonhos em que só o horizonte do invisível constituía limite daquilo que nos era permitido pensar, fazer, discutir e depois ter. Sem constrangimentos duplos mas com combate em nome de uma relação que queríamos multiplicar de maneira quase transcendental. O gesto, o olhar e a frase, tinham a luz que fazia toda a mudança necessária às coisas bem feitas. Fugidiamente, sempre a dois. Podemos nós passar sem mitos como os destas consciências? Sei lá, só sei que mito também foi meio carregado de sentimentos parceiros. O final da história está contado na canção!

  
Mário Rui
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Histórias da história

Pela ciência de viver

Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.
O título da notícia sobre a entrevista de Stephen Hawking ao El Mundo diz tudo: "Não há nenhum Deus. Sou ateu". Imagine-se o cabeçalho contrário, igualmente ridículo: "Deus existe. Sou crente".
Hawking pode ser um bom cientista, mas até hoje não foi capaz de escrever um único livro que fosse compreensível por quem não fosse cientista também. Foi o autor de um dos maiores golpes publicitários do século XX: chamou a um impenetrável livro de física A Brief History of Time.

Tudo naquele título atrai o flâneur curioso. Quem não quer ler um livro sobre a história do tempo? Quem não acha graça à ideia do tempo ter uma história? E, acima de tudo, quem é que resiste a um livro sobre coisas científicas (e logo porventura chatas ou incompreensíveis) que promete e consegue ser breve, não obstante ser breve apenas em termos milimétricos?
Uma Breve História do Tempo – que eu já comprei e tentei ler umas más duas vezes – bem poderia ter 50 mil páginas se fosse só um pouco mais claro. Tal como é, exigiria um título diferente: "Um Longo e Confuso Livro Armado em História do Tempo".

Hawking acrescenta que "A religião acredita nos milagres, mas estes não são compatíveis com a Ciência". Note-se que a Ciência tem direito a letra grande, mesmo no meio de uma frase.
Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.

Deus pode não ser grande, mas Hawking é parvo.

Miguel Esteves Cardoso   (Crónica jornal Público de 24/09/2014)
 
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Uma “história”, qualquer que seja, tem sempre dois lados. Cada um interpreta-a como muito bem entender e não vem mal ao mundo pelo facto de haver opinião diferente quanto à leitura que dela se faz. O futuro, seja qual for, se calhar não será mais racional do que o presente ou do que o passado, então como preferir isto àquilo? A escolha pode e deve ser feita individualmente. Acontece também que, qualquer dogma, pode muito bem ser negado por quem não alinha em crença religiosa, mas também deve ser lembrado que há outras espiritualidades, por exemplo políticas e científicas, que deixam muito a desejar por se revelarem exactamente do mesmo modo, ou seja, dogmas absolutos. Por mim, opto por uma posição de neutralidade meramente benevolente relativamente aos que acham que a conformidade está com eles, não importa quais nem o tipo de conformidade. Em todo o caso, e não obstante bondade minha assim expressa, devo manifestar igualmente modo de ver pessoal. Assim, acho que o que também há, sem dúvida, é uma imensa maioria de verdades que não são absolutamente verdadeiras, mas nem por isso são menos existentes; elas são «deste mundo» e eu adoraria que, segundo muitos, não sendo a religião capaz de as explicar convincentemente, fosse então a 'sabida´ ciência a desempenhar papel subtil na explicação do pensamento humano. Fico pois à espera que tal ciência acabe em definitivo com a guerra, com os extremismos, com a fome em África, e não só, com a loucura de certos homens e já agora com as outras respostas que façam do mundo um sítio melhor para se estar. Ninguém é dono da verdade irrefutável e se alguém se arroga o direito de a tomar para si como coisa inquestionável, só está a dar prova da sua própria ignorância. E tanto se me faz que se trate de 'verdade' religiosa ou de 'verdade' da ciência!
 
 
Mário Rui
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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Efectivamente



Tenho acompanhado o evoluir das inundações que ocorreram durante o dia de hoje na capital portuguesa  e, para além de lamentar o sucedido, como é óbvio, há uma nota comum no dizer de todos os envolvidos na prestação de ajuda que me parece digna de registo. Trata-se do advérbio de afirmação “efectivamente” que, usado  e desgastado de tanto ser dito, mais se assemelha a frontaria de crepes do que a bom e escorreito modo de construir frases em língua portuguesa.  O bombeiro diz que «efectivamente choveu muito», o comandante acrescenta que «efectivamente foi uma situação problemática», o técnico de saúde soma-lhe «efectivamente o pânico tomou conta de algumas pessoas», o repórter amigo e atento regista «…o que efectivamente aconteceu hoje em Lisboa …», o responsável pela protecção civil refere que «efectivamente o pior já passou» e até o dono da vitrina inundada diz «… a loja ficou efectivamente debaixo de água». É muito “efectivamente” para que de facto possamos libertar as frases desta represália ferina que acontece sempre e quando se recorre abusivamente a esta luminosa arquitectura linguística para mostrar aos demais o quanto falamos bem mal a língua de Camões. Mas isto sou eu a pensar alto e a dar conta das dificuldades hermenêuticas patentes nas lutas de inteligência de muito boa gente. Enfim, realmente parece-me que não vale a pena estarmos votados ao martírio de certas lides cerebrais porquanto falar bem português também pode ser, e é certamente, destilar outras palavras maravilhosas, também lusitanas de gema, evitando sempre repercutir a já tão coçada mania do pretenso brasão oral. Sobretudo por uma razão soberana: é que familiaridade abusiva com alguns termos do nosso idioma, conduz necessariamente ao desleixo da língua pátria. “Efectivamente” há que deixar em casa oralidade repetitiva e julgada aprimorada, ainda que não incorrecta,  uma vez que assim desperdiçada sempre seria melhor aproveitada para fazer xarope para o Inverno que aí vem – o das não esperadas mas quase certas futuras cheias. Ah, só mais uma coisinha: não sei se houve mais “efectivamente” porque “decididamente” quem devia preocupar-se “atempadamente” com o escoamento do saneamento feito “pluvialmente”, está indisponível  “intemporalmente”. Verdadeira e “lamentavelmente”!!!    
 
Mário Rui
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O Papa e a Albânia - Setembro de 2014



Indiferente a tudo o que seja diferente, no melhor dos sentidos, o Papa Francisco continua com exemplos de relacionamentos ainda que alguns destes possam oscilar entre o sonho e o pesadelo. Mesmo sob a ameaça de alguns fundamentalismos e seus óbvios riscos, para este homem o importante é condescender, confiante em que a mensagem que leva será sempre recomendação dirigida a todos os que lutam com incertezas, armadilhas e erros. Mais interessante ainda é que apesar de rodeado de tanta diferença, sempre está cercado por uma respeitosa unidade de multidões. Já são poucos os que demonstram esta humildade e coragem pelo que o fascínio de homens assim é tesouro a guardar. A sério!
 
Mário Rui
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Borboletas que voam, voam...




Eu bem dizia há uns dias que até a borboleta se queria pirar. Aí está. Já foi!
Campanha Novo Banco, novo símbolo: borboleta voa, ficam as asas.
 
 
 
Mário Rui
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domingo, 21 de setembro de 2014

Happy birthday Mr. Cohen




O mestre da poesia cantada
Celebra hoje 80 anos de vida. Amanhã chega “Popular Problems”, o 13.º álbum de estúdio. Chama-se Leonard Cohen e é alguém que se habituou a falar de sentimentos e sensações.  
 
Mário Rui
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Futuros



A natureza, que é a fonte de toda a sabedoria, reparte tão liberalmente os seus tesouros que acho que só ela é capaz de mostrar um futuro de sumarentos frutos. Outros futuros são sempre coisa algo incerta e é por isso que tenho a mania de me alistar mais depressa nas fileiras do presente do que andar a premiar profecias. Mas quanto a provar futuros, cada um saberá como o fazer.

 

Mário Rui
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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Tem dias escuros e bafientos




Tem dias escuros e bafientos em que a partida de amigos se revela como algo demasiado veloz, sofrido e simultaneamente coisa mal compreendida. Antes mesmo de darmos o passo seguinte aflora-nos à memória aquela reminiscência de passado, de epopeias mansas mas não apagadas, com um ar de mistério como se de surtida de sonhos que se escapam pelos interstícios do tempo se tratasse. São dias mais melancólicos mas nem por isso distraídos, servem-nos justamente para acariciar aquela sensação de mágoa por tudo o que não fizemos e devíamos ter feito. A vida é assim, umas vezes certeira quanto ao atingir de propósitos por nós estabelecidos, outras vezes ataca-nos com a refinada tolice de quem nos quer precipitar para a interrogação. E posto assim o tom cinzento o que deve um homem fazer para colorir de oiro outro meio mundo? Faltam-nos palavras que explicam os despojos que inventámos, inventámos, digo bem, e a sensação com que se fica é como seria então com os que a gente nem conhece. São maus os tais dias escuros mas concedo-lhes o benefício da dúvida porque às vezes mostram-nos momentos lúcidos
para o espírito e ajudam a perceber a tão desesperada quanto estúpida luta em que nos vamos todos os dias um bocadinho. Daí que uma boa lógica ou tão só uma boa lembrança se deva escrever sempre com dois ou mesmo três lll.


 
 
Mário Rui
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domingo, 14 de setembro de 2014

Novo Banco. Um bom começo??



Afinal há coisas que nunca são como parecem e daí que seja diferente a espera e a esperança. A primeira, com pouca ou com muita paciência, lá se vai tolerando. A segunda,  já é assunto do domínio do mistério. Pelo menos assim parece no caso do Novo Banco já que quem regula não quer regular e quem pensava que ia abrir um banco novo, enganou-se, ou então foi enganado. A complexa questão da insegurança colocada pelos novos desenvolvimentos conhecidos só pode sobrecarregar de ansiedades os que continuam a confiar nesta banca de retalhos, e o preço do silêncio de quem devia ter a obrigação de falar, sossegando os depositantes, é afinal  a única e dura moeda do sofrimento de quem lá meteu as economias de uma vida.  E pelos vistos não foram apenas os novos administradores a bater em retirada. Já se diz que até a borboleta também se quer pirar, e se calhar até cheia de razão posto que  uma pegajosa tristeza saí de todo este turbinado e lamentável espectáculo alucinatório dentro do qual permanecem muitos vírus anunciadores de presentes e futuras doenças incuráveis. Mas não há quem ponha mão a isto???
 
 
Mário Rui
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Em suma, a verdade nunca cairá do céu



E se me pedissem para definir o fictício de toda esta medíocre gente e de baixa condição política, para não lhe chamar outro nome feio, eu diria, sem floreios: esta é a nervura essencial de um País que não existe. Lamentavelmente! De facto, é impossível antever o que vai acontecer amanhã. Esse é que é o grande barranco que se opõe ao desenvolvimento desta terra, sítio onde já não há nivelamento, nem objectivo quer interior quer exterior, realidade também é coisa que já partiu e por agora resta aquilo que a suposição de cada um de nós quiser partejar. Mesmo a ficção fugiu a sete pés pois que percebendo estar paredes-meias com gente de simulacros, optou, e bem, pelo abandono de milhões de configurações eventuais trazidas à luz do dia através das brumas contínuas de quem tem feito de Portugal um esboço de meras lacunas. O BES já foi região que rondou a morte, o Novo Banco parece ser algo que se vai extinguindo com o pensamento e em que a promessa de melhor saúde retrocede indefinidamente, mas ninguém explica ao ‘portuguesito’ esta religião informe. O pretenso, pretendido, ou suposto novo político, lá vai expelindo a marca da sua pequena importância e depois de ter andado anos a fio a criticar os políticos e de se ter candidatado ao PE, 18.000 euros/mês, porque tem de criar uma filha, decidiu entrar na vida político-partidária e até apetece dizer que, deste modo, tenho de amealhar ainda mais calma. Outro diz que as elites, os notáveis, são responsáveis pelo estado a que o país chegou. Há muita gente fora da tal Lisboa, a dos salões de alcatifa vermelha, de uma enorme qualidade, acrescenta. É o apagamento do autor, espécie de epopeia destinada talvez a perpetuar a (i)mortalidade do herói, porque o que diz já foi afinal esforço de todas as noites de milhões de portugueses que nunca tendo pisado tapetes dessa cor, já deles se tinham sentido presas na armadilha de tantos bacocos fundadores da discursividade. Depois surge outro, anafado, pois que nunca teve fome mas antes apetite a mais, a dizer que o Governo está num sarilho e que quando o “Dono Disto Tudo” falar as coisas vão ser diferentes. Muito significativo é que esta leitura seja feita a partir da música reflectida pela sua própria “obra” em prol do país. Um dos herdeiros mais rigorosos e mais criativos da escola do moderno regime à portuguesa. Música, pintura, arquitectura, filosofia, linguística, mitologia, sol, praia, sinecurismo e o mais que convenha, é só ver os últimos quarenta anos bem passados e de ângulo que me é familiar. Cito só mais dois. O primeiro, o que dizia “vou andar por aí”, canta agora loas à ciência e à tecnologia trazidas pelas emergentes e profundas raízes do antigo rival que depois estudou fora a maneira de continuar dentro. Parece querer mensurá-lo como potência de transformação, destacando-o como força de inovação e lugar de pensamento. Francamente, como é possível tanta mentira? Para acabar, vamos então ao segundo: neste caso apetece dizer que as mutações da relação entre o visível e o dizível já não são como eram e portanto se o Presidente não soube tudo do BES foi porque não perguntou, diz o Primeiro. Mas atenção, se a tradição se quebrou, não foi certamente porque a arqueologia deixou de ser disciplina uníssona. Não, quebrou-se apenas porque o meio está tão desregulamentado, resultado do colapso progressivo a que assistimos, que já nem os casamentos políticos são tidos como um romance. Passaram a ser simples compilação de contos mal contados. E assim vai Portugal, a maior parte do tempo em busca da sociedade elusiva.
 
 
 
Mário Rui
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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

S. Paio 2015 à vista



E a festa está no fim. Para uns mero júbilo por mais dois ou três dias de fartura de cores, de sons, de tons e já agora também de dons, para outros a certeza de que ainda podem contar com histórias de bem estar. Tudo coisas que convêm aos mais cépticos e não menos aos entusiastas de dias e noites que se prolongam numa deleitosa passagem de instantes que marcam. É assim que vivem os que observam mas também os que absorvem, e aquilo a que assisti mais uma vez foi à fila de inseparáveis amigos de recreio e boa disposição alinhados entre pares que fizeram da festa a apoteose da alegria. E é assim que deve ser, pois em muitos vi essa nobreza de linhas que dão alma a um festejo, a uma graça, ou tão só a dias mais coloridos. Até os vi nos escaninhos de um beco pardo a trocarem beijos de contentamento tão fecunda a romaria era. Mas coração ao largo! Uma população frenética entrechocava-se por mais e melhores cunhos de S.Paio e assim sendo que importa ao tal coração saber onde fica amor parceiro. Interessa, e bem, é compostura que se afigure mais independente já que em altura de céu de fogo, chão de areia, ar de música, mar de sonhos, conta é que todos se levantem em cerimonial, puxando os punhos se lhes apetecer, e digam: - como eu estou contente em te apanhar aqui S.Paio ! Então não é uma tolice criar aversões nos patrícios bem aparecidos? Claro que é! Tiro o chapéu a todos os que estiveram e fizeram a festa, ou as festas, porta de muitas aspirações, mesmo que passageiras, a que até eu ouso erguer a vista. É um auxílio, que diabo! Em conclusão, eu sei que há muita gente desgostosa de haver assistido a uma riqueza de sabores, mas calma, para o ano há mais e todos, mesmo eu, certamente tomaremos assento nessa excursão que há-vir de novo até ao teatro das nossas antigas rapaziadas. Obrigado S.Paio e bebe um copinho até que chegue nova folia.

 



Mário Rui
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Portugal vs Albânia




De facto há alturas em que o perder nos devolve a noção do nosso valor perante as coisas. É algo desoladoramente tonificante mas com este “mister” e com boa parte dos por ele escolhidos, também não era de esperar muito mais. As palavras dele e as belas jogadas produzidas mais não são que apenas sensações. Deixa-nos pensativos a “grande potência” de imagens como as do Brasil 2014 e agora estas contra a poderosíssima Albânia. E se este era o jogo para apagar más memórias, então estamos conversados. Descobre-se assim que quanto a selecção , quase tudo é passatempo.




Mário Rui
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