quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um país negro


A um mês da eleição presidencial, já se percebeu que os portugueses não se interessam, nem se interessarão, por ela. O que não admira. A maioria dos candidatos não existe (quatro em cinco). Os que andam por aí a fingir que existem não têm rigorosamente nada a dizer. E todo o país sabe que o Dr.Cavaco vai ganhar e que Alegre não ameaça ninguém, a não ser ele próprio. De resto, a crise também serviu de pretexto para nos poupar a estridência habitual e os cartazes na rua. Não há comícios. Suspeito mesmo que em 23 de Janeiro nem sequer haverá muitos votos. Pôr em Belém uma criatura medíocre e baça, com o único poder de mandar para casa o Parlamento, não entusiasma ninguém. A extraordinária pasmaceira em que se tornou a nossa vida pública é apropriada. Isto sucede porque os partidos desapareceram. Mais precisamente, porque a esquerda e a direitra desapareceram. Na esquerda, o Partido Comunista sobrevive misteriosamente, alimentado pelo atraso e pela miséria de uma sociedade arcaica. O Bloco é um grupo de adolescentes de meia-idade, a tender para o senil, que sobreviveu sem mudar a trinta anos de história da Europa e do mundo. Gasto o reportório de "questões fracturantes", ficou o vazio. E o PS, depois de 15 anos de Estado, gordo e corrompido, deixou de representar fosse o que fosse e não inspira a mais remota confiança. Pior ainda: desde o "25 de Abril", e tirando o Dr. Soares, que não é jovem, a esquerda não conseguiu produzir um só homem (ou mulher) que mereça o mais vago respeito ou simpatia.
A direita, essa, é, como sempre, um parasita do Estado central ou da adminstração local. O PSD conservou cuidadosamente as suas relações com o PS para aproveitar as ruínas do país, que também na sua altura promoveu. Com Pedro Passos Coelho ou sem Pedro Passos Coelho, a grande aliança do "centrão" continuará como até aqui. Cavaco é um ornamento, que não mexeu, nem mexerá um dedo para acabar com a promiscuidade entre a política e os "negócios". Verdade que o CDS nunca entrou nessa abençoada partilha. Mas não cresce. E não cresce porque não distribui as sopinhas que o PSD assiduamente distribui (basta ver onde foram para os velhos ministros de Cavaco). Neste deserto, para quê votar em 23 de Janeiro? Para passear a sua insignificância e a sua importância por esta desgraçada terra, Cavaco serve!
VPV in "Público"