quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Viva a reputação feita!



Quanto ao que os ricos têm, não faço ideia. Imagino que terão muito dinheiro, algum poder e certamente alguma , pouca pelos vistos, vontade para que se deixem taxar de modo mais gravoso que a maior parte dos portugueses. E digo a ‘maior parte’ porque é sabido que de facto somos um país pobre, de fracos recursos e ainda por cima sempre muito relutante quanto ao pagamento de impostos. Sobretudo aqueles que, numa análise feita muito pela rama, são realmente injustos, dos que ninguém percebe para que servem ou a quem servem.


É evidente que parte desses impostos, os justos somados aos injustos, deveriam sustentar e alicerçar algum bem-estar a outros tantos portugueses e, se assim acontecesse, não me parece que daí viesse grande mal ao mundo. Se os ricos os devem pagar mais ‘caros’ que o comum do cidadão, é assunto que tenho alguma dificuldade em percepcionar.


Em todo o caso, sempre achei, porque sempre ouvi o mesmo discurso, que os mais ricos se acham muito generosos e sensíveis quando se debruçam sobre a classe inferior que lhes cria a riqueza. Seja o empresário empreendedor, seja o patrão que subiu a pulso na vida, seja o que da dinastia muito herdou e quer preservar. Habitualmente traduzem em linguagem adamada o que desta classe ‘inferior’ julgam perceber. Mas realmente não percebem.


Bom, mas tudo o que já disse, prende-se no essencial com o facto de terem vindo recentemente à estampa algumas declarações daquele que dizem ser o português mais rico do país, Américo Amorim de seu nome.


Tão vago foi no que disse, que até fez um esforço, inglório, digo eu, para informar Portugal que afinal não era um homem rico. Deste lado já ficámos conversados e a perceber que da sua parte não virá outra contribuiçáo para cobranças que não a aplicada aos restantes compatriotas.


Claro que o dinheiro é dele e fará do mesmo o que muito bem entender. E quanto a impostos deverá igualmente pagar os que lhe são devidos e não mais que isso, a menos que, generosamente, reconheça ser seu dever fazê-lo por excesso, ou até por causas mais nobres, o que de resto e ao que julgo saber, até tem levado em conta relativamente a pessoas e instituições.


Em resumo e quanto a este homem “pobre de rico”, parece-me que as palavras que deixou a quem as quis ouvir, mais não foram que um certo egoísmo, mas um egoísmo que se sente como a imagem da virtude de quem adquiriu riqueza de uma forma insaciável mas muito esforçada. Não me horrorizei, como alguns articulistas da nossa praça, quanto ao que foi dito por este personagem.


A mim, o que me envergonha, é saber que há outros portugueses, também eles muito ricos de dinheiro, porque há os ricos de vaidade, de tesouros, de jóias, de avidez e até há os ricos em egoísmo indigente, que nunca mostraram a ninguém a imagem da sua improvável virtude, porque sempre obrigaram as coisas a vir até eles, e a ficarem neles próprios.


Nunca acenaram à multidão porque em verdade, nunca tiveram a força e a virtude de entesourar na alma do próximo um pouco que fosse dos seus tesouros. Mas enfim, assim se vive num século que parece nada ter aprendido quanto ao avanço do corpo e do espírito, quanto à qualidade de uma espécie, a humana, em direcção a um ser superior no que às virtudes diz respeito.


Fica-me a impressão, quando não certeza, de que estes são os espíritos degenerados que dizem: «tudo para mim». É por tudo isto que ainda hoje não percebi muito bem o que é a ditadura e a democracia. Defeito meu, admito-o.


Mas é também meu dever acrescentar que, de ditadura, eu ainda aprendi um pouco. É feia, porca e má. Da democracia cozinhada à portuguesa, acho tratar-se de um movimento dito por alguns de libertador, democrático, mas ao mesmo tempo e sobretudo isso, de uma forma de decadência da organização política, mas uma forma de decadência que se traduz na diminuição do homem, do retrato da sua desvalorização e na afirmação da sua mediocridade.


Viva a reputação feita. É o que eu penso!


Mário Rui