quinta-feira, 7 de julho de 2011

Consciências e almas


Como vos disse há umas semanas atrás, persisto em litígio com a minha própria consciência. Já lá vai algum tempo. O problema tem vindo a agudizar-se a ponto de agora achar que este litígio começa também a roçar-me a alma o que se me afigura como coisa ainda mais complicada.

É que a alma não pensa, só sente. E aí reside verdadeiramente o problema pois, sem ter com quem dialogar cá por dentro de mim mesmo, custa-me recorrer à dita consciência. É que essa sempre pensa, e quando eu e ela estabelecemos raciocínios logo concluímos haver muito pouca coincidência de pontos de vista. Com efeito, ambos estamos sobrecarregados de uma era tecnologicamente muito avançada e que, bem vistas as coisas, não nos tem dado lá muitas alegrias e ainda menos proventos.

Deve ser especialmente por causa do campo da comunicação que de forma quase radical não nos temos entendido quanto às nossas comuns existências. A minha consciência parece apontar como nefasto, e portanto causador destes desentendimentos tudo o que de mau nos rodeia, e às vezes até me lança reptos no sentido de me obrigar a pensar se, mesmo o lado tido como bom, não será o responsável primeiro por tal estado de coisas.

Convictamente, já não distingo com total lucidez o bom do mau. Já não sei se deva atribuír a culpa às “janelas de Gates”, se às agências de notação fnanceira – e já agora esclareçam-me lá se essa treta da notação é um requisito indispensável para a obtenção de dinheiro
do vizinho - se à idílica geração de sessenta, se aos seres aculturados da nossa sociedade. Isto penso eu.

A minha consciência ainda me segreda de outro modo. Adianta-me que todos nós já não dependemos apenas de comida, bebida, abrigo e saúde para sobrevivermos, mas também de um alimento chamado de informação. Ora aí está o tal modo desavindo em que temos vivido ultimamente. Eu, a consciência e, agora, parece-me, a alma. Por mim, e como causa de tantos conflitos interiores ,inclino-me mais para a possibilidade deste facto se ficar a dever a tanta informação dada de bandeja a tanta gente desinformada e que, se calhar, não percebendo que melhor seria pouco saber, me vai patologicamente afectando.

Mas, de novo, a minha consciência me sussura conselho. Diz que o problema reside basicamente no facto dos meus mecanismos perceptivos me estarem a fornecer cenários pouco confiáveis. Fico algo preocupado porque, como antes disse, esta pensa.

Bom, mas seja qual for a real causa do problema, fico-me com a minha. Estou com fé que gente que nada sabe a respeito da única coisa que importa, deixa-se às vezes, para não dizer quase sempre, levar por uma ilusão de falsa ciência: para conhecer , o melhor é desmontar. E o que me diz a alma? Só me faltava mais esta.

Não a escarneço, até porque sou dos que pensam que é a ela que devemos os nossos sentimentos ou, se preferirem, a sombra dos nossos sentimentos. Mas ela nada me diz, apenas sente, e tudo o que eu devo esperar de quem apenas sente, é compaixão, virtude e que se me exprima por relações. E isso ela faz! Logo, eu só tenho de estar de bem com esta alma pese embora o tal litígio que me pareceu querer juntar-se à consciência. Certamente ter-me-ei enganado.

Quero ficar de boas relações com este sentir, com este estado de alma. Não o tinha pensado antes mas se calhar é por isso que eu qualifico de fúteis os financeiros, alguns políticos e de razoáveis as bailarinas. Não que eu despreze por completo a obra dos primeiros. O que eu não percebo é a arrogância que eles mostram, a segurança e a satisfação de si próprios .

Acham-se o termo e o fm e a essência, quando não passam de criados. Começam logo por servir as bailarinas. Será que em boa parte é esta civilização que me traz disputas interiores? Quem sabe! Não vos falei já das tais ‘agências de nota são fnanceiras’?

Mário Rui

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