domingo, 1 de fevereiro de 2015

Homenagem - O CDE ganhou, ‘Nelsinho’



E se cansado eu estivesse das coisas por que luto mas também das que não dão lida, jamais das primeiras me faria estranho posto que em tão desesperada luta em que alguns se vão, deles me ficam suas consciências invioláveis. Imaculadamente votado aos outros, era ver-lhe o riso e a sabedoria para cada efeito cénico da vida, destilando palavras amigas que repercutiam sinceridades. Era assim o ‘Nelsinho’, e hoje veio-me à memória o cortesão que ele foi, fecundo de afectos e boas graças, simples como são os que dão prova de aptidões singulares. Em resumo, para se ser alguma coisa cá na terra, é indispensável ser-se simples! E o CDE ganhou, Nelsinho! Foi mais um golo de uma pegajosa alegria que sei interessar-te, golo feito em desenho que se arroga teu pois foi marcado por todos nós, só para ti. Vês como não me canso das coisas por que luto? Um abraço.
 
 
Mário Rui
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Sussurro Descuidado


 
 
Uma, duas ou três nostalgias que embirram com a sombra dos dias cinzentos de chuva. Cinzentos que de nada servem para crestar a vida e lá caem as folhas secas que o vento desprega dos ramos. Às vezes são lufadas do nordeste, sopros de maus instintos, e é aí que mais toca a necessidade de um furor de aventuras, ânsia de que se fazem os gozos dos dias abertos e quentes. Chuva não é coisa que espicace curiosidades e frio também só serve para penetrar carnes. Nada disto é enlevo e só faz dos dias causa rasa de quietação plena chocada pela sinceridade do agreste que não ajuda à impaciência. Inverno, é coisa séria. Olhos no chão, mordidela no lábio e lá vamos como quem reflecte no cair da tarde, sítio onde o Sol não aparece, não mergulha no mar e cerco onde a sua grande riqueza de pinturas não sobressai. Valha-nos aquela música onde se pode lamber mel. Poeta? Não! Só raios quiméricos, galhos de uma faina de fortuna que tarda em chegar, quando muito também morna modorra de noite que se apresta afogando-nos a face no desaforo escuro e frio de invernosa desafinação. E depois? Bom, talvez amanhã haja arraial de baladas candentes, faço os meus arranjos e para lá devo ir.


Mário Rui
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