quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Conheço bem os meandros desta "luta"



















70 personalidades escrevem a Passos Coelho (ver aqui) e pedem-lhe que se demita

 
Conheço bem os meandros desta "luta", porque já a partilhei em vosso nome. Até ao dia em que destruíram o meu trabalho, a minha simplicidade, o futuro dos meus filhos. É por isso que eu tenho medo de vocês! Um medo sem limites. De todos vós . Em nada diferentes uns dos outros. Quer o tempo seja o de agora, quer tenha sido o vosso próprio tempo. Depois resolvi seguir a minha própria linha de reflexão, investiguei e cheguei à conclusão que há gente que simula expandir uma solidária energia vital só porque se sente bem na vida. Os que julgam que são povo, quando afinal mais não fizeram senão assegurar a sua própria carreira em nome dum futuro risonho. O vosso próprio futuro, mas quase nunca o do povo que dizéis defender. Estou farto de sabotadores da minha tranquilidade, do rumo que há muito julguei certo e, afinal, quando atingido o último instante do meu sofrido dia de trabalho, eis que me roubam a infância que ainda julgava ter pela frente. Assim dito, acho mesmo que o coaxar duma rã no charco tem muito mais sentido que o tempo que medeia de uma lauta refeição a outra a que alguns estômagos  se habituaram.

Mário Rui

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

RESTAURAÇÃO NACIONAL





Um país sem rei nem governo e Alcácer-Quibir a abrir fendas numa já então consolidada pátria. Ao tempo, a nobreza tradicional e a iluminada burguesia entregaram à  Espanha dos Filipes o reino de Portugal. Assim, de barato e de boa-vontade. Chamaram-lhe de União Ibérica. Vejam lá bem do que se haviam de lembrar! Reino unido de Portugal e Espanha, a primeira união europeia a que havíamos de aderir voluntariamente.  Quando tudo isto aconteceu, estávamos mais ou menos no mesmo abismo em que hoje nos encontramos. Nesse tempo, como hoje, e diziam que a troco da nossa independência política, também nos prometeram mundos e fundos. Acabámos por alinhar em guerras que não eram nossas, em armadas invencíveis, trocámos os nossos valores por coisas. Até deitámos ao lixo velhas e honradas alianças. A haver diferenças quanto à adesão, só o facto desta ter sido feita através das Cortes, mas não sem a excepção, vertical e sublime, diga-se de passagem, de um português de seu nome Febo Moniz.  Febo Moniz, funcionário no Paço Real nomeado procurador nas Cortes de Almeirim de 1580 e que se opôs à escolha de Filipe II de Espanha. Quando o rei de Espanha tomou o trono de Portugal, Febo Moniz foi preso, morrendo no cativeiro. Bonita União. Mas, rezam as crónicas, Espanha governava e deixava aos portugueses umas berças do território para administrar. Mais dizem que, a coisa até nem corria muito mal já que não havia alternativa. Como hoje sói dizer-se. Coincidências das adesões. Da mais recente, disseram-nos, haveria de ser o renascimento de um Portugal moribundo. Tretas! Afinal nem o país estava moribundo nem tão-pouco voltou ao estado de graça. Volvidos sessenta anos, os portugueses bons reconheceram o erro e fizeram o 1.º de Dezembro de 1640! O Dia da Independência. Um dia assim, no tempo que corre, há-de vingar, há-de vir, acredito. Só não sei quantas luas serão precisas para voltarmos a ser portugueses. Se até o Dia da Restauração da nossa soberana vida está para se finar, digam-me lá em quem acreditar. Em nós ou em quem voltou a trazer Alcácer-Quibir?   

Mário Rui

1.º de Dezembro

























Mário Rui

domingo, 25 de novembro de 2012

Imputar







































Faz tempo, ou tempos, que não via esta minha velha amiga. Deixa-me saudades a sua leitura de antanho. Parece que se mantém viva, o que saúdo com alegria. Merece-o. Pela perseverança, constância, e já agora pela companhia que me fez numa época em que tudo se resumia ao papel. Depois veio a nova era, a da web, que nos inibriou e tantas vezes me fez sentir mais estúpido. Mas sem culpa que lhe possa imputar. De outro modo onde iria eu descobrir o "im...putar"?

Mário Rui


sábado, 24 de novembro de 2012

Eu tenho um sonho
























Parece que Portugal virou país de desconfiados, de tenebrosas conspirações, de perseguições a preço zero, de gulag’s aterradores, campos de trabalhos forçados, de tratamentos "educacionais",  de adoecimento pela loucura e outras pestes que tais.

Mas afinal que voz é esta que se levanta contra o visionamento, pela PSP,  das imagens da manifestação em frente ao Parlamento, no passado dia 14 de Novembro? Já há quem lhe chame “Brutosgate”. Sempre havemos de ser uns péssimos copistas no que aos epítetos, e não só, concerne.

Uma entidade extra-terrestre poisou nas instalações da RTP e, sem salvo-conduto, invadiu a régie e sacou as imagens de outros extra-terrestres que, munidos de calhaus e petardos do além, galharda e graciosamente receberam a polícia nas escadarias da casa dos deputados.

Tudo isto e o que mais aí vem, enche páginas e páginas da imprensa nacional. Convocam-se os guardiões do tempo, o de agora, e do templo, a televisão nacional,  para blindar  esta e outras instituições que são o baluarte primeiro da nossa amada vida. E bem. É disso mesmo que precisamos.

Primeiro discutam e entendam-se quanto ao modo como tudo terá acontecido, pois esta é uma emergência portuguesa, nacional. Concluída que esteja esta averiguação e castigados os verdadeiros mentores de tão vil ataque, então sim, ficarão os pobres mais ricos, os doentes mais saudáveis, os impostos a descer e o país a sorrir de contentamento.  Finalmente vamos poder dizer ao mundo que  porfiámos convictamente mas conseguimos lá chegar. Ao estado de júbilo permanente.

De todo o modo não o façam sem que antes tratem de resolver o litígio que põe frente-a-frente o meu canário e respectiva mal amada companheira. A minha gata! E já agora, peço-vos encarecidamente, não esqueçais o veredicto quanto ao roubo das meias do meu vizinho, perpetrado pelo Sabú. O caniche tóto do meu outro vizinho, o senhor Malaquias.

Depois, sim. O país sossegado, tranquilo, sem altercações de monta e prenhe de vazias satisfações, vamos então ao que importa.

Chegado esse esperado momento, é altura de conduzirem aqueles rapazes da bófia, os que marcharam violentamente sobre os tais marcianos (só agora percebi a que planeta pertenciam), mais os que ocuparam a régie da RTP, ao destino final. A forca. Tratadas a contento aquelas questões a que antes aludi, é tempo de lhes acabar com a mania de bater. Bem sei que é castigo pesado mas ninguém os manda andar em duetos de dança, que é mais chique do que dizer pas de deux.

Sim, até porque não se percebe a razão pela qual não foram pedir as imagens ao senhor Balsemão ou à TVI ou, ainda melhor, à CNN. Essas teriam sido as portas certas a bater. E não as facultassem eles e, acto contínuo, estariam todos no desemprego. Também era coisa de somenos. Mais meio, menos meio por cento, e a  taxa de desemprego não tugia nem mugia. Agora ir pedi-las à RTP, não lembra nem ao diabo. Que falta de tino. Francamente.

Bom, de qualquer modo o que está feito, está feito. Ponto final. Em todo o caso, e de posse de todos os dados e roubados que já juntaram, não liguem a prazos para fecharem o processo. Retenham-se por semanas, meses, décadas se preciso for, de modo a que as alegações finais sejam consistentes. Ah, já agora não se esqueçam de ir dando notícias cá para fora. Acomodado e contente como está o povo, e ademais sem outros motivos de preocupação, quaisquer duas páginas por jornal, cinco ou seis noticiários televisivos por dia, uma mão cheia de blocos informativos, p´ra aí uns vinte e quatro, estilo TSF, e um contentor de Marcelos, Daniéis, Pachecos, Miguéis, Claras, Mendes e outros que tais, darão direito a imediata prisão. Queremos muito mais. Muito mais, alma minha gentil!

A despesa sobe, a receita diminuí, mas o que interessa isso quando comparado com a mania que a PSP tem de ir ver televisão para o sítio onde ela se faz. Olhem, para a próxima levem é um televisor portátil na mochila. Assim não têm que chatear ninguém após a refrega.

A todos os que, denodadamente se batem, não batendo em ninguém, por causas e cousas que impeçam a visita da bófia a matinés televisivas gratuitas, eu gostaria de agradecer, posto que sinto estar a crescer, eu e o país, para a riqueza nacional, o bem-estar da população e especialmente para o vosso próprio ego altruísta. Continuem em frente. Vamos longe! Até ao fim. E não há buraco que nos resista!

Mário Rui

Tributo






















Assim foi, ontem à noite. Em ambiente intimista, como devem ser todos os momentos que mais não pretendem senão trazer à memória dos que por cá vão ficando, a chancela dos homens bons que,  indelevelmente, nos marcaram pela sua entrega desinteressada aos outros e à comunidade onde viveram. Parece escrito no modo passado, mas é tão presente a lição que o Martins da Silva nos legou que só podemos dizer; homens há, como as obras de casquinha, que só têm a sua superfície de metal nobre. Gostei do bocadinho da noite. Gosto ainda mais da simplicidade das coisas ilustres que o são. Dói-me que agora só possamos ficar com a memória do cidadão exemplar, do homem cordato, do ‘ensinador’ que, sem ornatos nem enfeites, à sua maneira, determinou a conservação e perpetuidade dos exemplos que tantas vezes nos escapam. Voracidade dos tempos. E como ele soube pintar magistralmente os seus e os nossos tempos! Afinal, a memória é uma faculdade tão prodigiosa que ela só bastaria para provar a existência da sabedoria, sensibilidade e  inteligência de alguns. Eternamente.

Obrigado Martins da Silva, e entregue-se à família que o trouxe de novo a nós o elogio da virtude por tão merecido tributo.  

Mário Rui

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jogos perigosos / Agora falo eu


















Editorial – Jornal de Angola on line


Jogos perigosos

12 de Novembro, 2012

Camões, faminto de tudo, até de pão, na hora da partida desta vida, descontente, ainda foi capaz de um último grito de amor. Morreu sem nada, mas com a sua ditosa e amada pátria no coração. Ele que sofreu as agruras do exílio e foi emigrante nas sete partidas, escorraçado pelos que se enfeitavam com a glória de mandar e a vã cobiça, morreu no seu país.

O mais universal dos poetas de língua portuguesa deixou-nos uma obra que é o orgulho de todos os que falam a doce e bem-amada língua de Camões. Mas também deixou, seguramente por querer, a marca das elites nacionais que o desprezaram e atiraram para a mais humilhante pobreza. O seu poema épico acaba com a palavra Inveja. Desde então, mais do que uma palavra, esse é o estado de espírito das elites portuguesas que não são capazes de compreender a grandeza do seu povo e muito menos a dimensão da sua História.

Nós em Angola aprendemos, desde sempre, o que quer dizer a palavra que fecha o poema épico, com chave de chumbo sobre a masmorra que guarda ciosamente a baixeza humana. A inveja moveu os primeiros portugueses que chegaram à foz do Rio Zaire e encontraram gente feliz, em comunhão com a natureza. Seres humanos que apenas se moviam para honrar a sua dimensão humana e nunca atrás de riquezas e honrarias.

A inveja fez mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana. Inveja foi o combustível que alimentou os beneficiários da guerra colonial. Inveja foi o estado de alma de Mário Soares quando entrou na reunião do Conselho da Revolução, que discutia o reconhecimento do novo país chamado Angola, na madrugada de 10 para 11 de Novembro de 1975. Roído de inveja e de cabeça perdida porque a CIA não conseguiu fazer com êxito o seu trabalho sujo contra Angola, disse aos conselheiros, Capitães de Abril: não vale a pena reconhecerem o regime de Agostinho Neto porque Holden Roberto e as suas tropas já entraram em Luanda. Uma mentira ditada pela inveja e a vã cobiça.

A inveja alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional. E já lá vão 37! Os invejosos e ingratos para com quem os quer ajudar estão gastos de tanto odiar. Que o diga a chanceler Ângela Merkel, que ajudou a salvar Portugal da bancarrota, mas é todos os dias insultada. Recusam aceitar que foram derrotados depois de alimentarem décadas de rebelião em Angola, de braço dado com as forças do “apartheid” de uma África do Sul zelosa guardiã da humilhação de África.

As elites políticas portuguesas odeiam Angola e são a inveja em figura de gente. Vivem rodeadas de matilhas que atacam cegamente os políticos angolanos democraticamente eleitos, com maiorias qualificadas. Esse banditismo político tem banca em jornais que são referência apenas por fazerem manchetes de notícias falsas ou simplesmente inventadas. E Mário Soares, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo e outros amplificam o palavreado criminoso de um qualquer Rafael Marques, herdeiro do estilo de Savimbi.

Os angolanos estão em festa pela Independência Nacional. Em Portugal, a nova Procuradora-Geral da República foi a Belém onde deve ter explicado a Cavaco Silva as informações que no mesmo dia saíram na SIC Notícias e no “Expresso”, jornal oficial do PSD, que fizeram manchetes insultuosas e difamatórias visando o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que acaba de ser eleito com mais de 72 por cento dos votos dos angolanos. Militares angolanos com o estatuto de Heróis Nacionais e ministros democraticamente eleitos foram igualmente vítimas da inveja e do ódio do banditismo político que impera em Portugal, neste 11 de Novembro, o Dia da Independência Nacional. A PGR portuguesa é amplamente citada como a fonte da notícia. A campanha contra Angola partiu do poder ao mais alto nível. Mas como a PGR até agora ficou calada, consente o crime. As relações entre Angola e Portugal são prejudicadas quando se age com tamanha deslealdade. A cooperação é torpedeada quando um ramo mafioso da Maçonaria em Portugal, que amamentou Savimbi e acalenta o lixo político que existe entre nós, hoje determina publicamente o sentido das nossas relações, destilando ódio e inveja contra os angolanos de bem. Da boca para fora, são sempre amigos de Angola e dos angolanos, da Alemanha e dos alemães. Enchem os bornais de dinheiro, à custa de Angola, comem à custa da Alemanha. Sobrevivem à miséria, usando como último refúgio a antiga “jóia da coroa”, feliz expressão do capitão de Abril Pezarat Correia. Mas na hora da verdade, conspiram e ofendem angolanos e alemães, usando a sua máquina mediática.

“De sorte que Alexandre em nós se veja,/ sem à dita de Aquiles ter inveja.” Estes são os dois últimos versos de Camões no seu poema épico. Os restos do império, que estrebucham na miséria moral, na corrupção e no embuste, deviam render-se à evidência. Angola não é um joguete! Nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele. Mas não tenham Inveja do nosso êxito, porque fazemos tudo para merecê-lo

Jornal de Angola on line - 12 de Novembro 2012


AGORA FALO EU  

Como eu compreendo o silêncio das supostas autoridades portuguesas face ao desconchavo deste editorial. Se de facto contássemos com gente de vertical aprumo, independentemente das razões que possam, ou não, assistir a quem assim escreve, assunto que de resto nem ao trabalho de melhor perceber me dou, então a esta hora Portugal estaria a responder condignamente à nomenklatura angolana. Não com iguais e ultrajantes palavras como as usadas por semelhante editorialista, mas antes com a dignidade que deveria ter quem se assume como governo de um país livre, honrado, pobre é certo, mas nunca vassalo de um qualquer aprendiz de feiticeiro. Mas não! Não temos gente para esta peleja. Não é que esteja desaparecida em combate. O problema é que quando se está comprometido, dificilmente se pode ser independente, lutador, defensor de valores. Este quadro de referências também já não faz parte do carácter de quem manda no meu país. Como havemos de clamar por seriedade e honradez no trato que os outros nos dispensam se nós próprios não nos respeitamos?

Fica-me uma mágoa imensa por saber que todos nos maltratam. Os de fora, os de dentro e pelos jeitos os que certamente hão-de vir. Até quando, até quando? Nós, sociedade civil, dado não termos quem nos defenda destes torpes ataques vindos do exterior, havemos de parar para pensar. E se vociferamos contra quem nos rouba o sustento do corpo, sejam os de cá, ou os de fora, não entendo a omissão quanto aos que nos arrebatam ardilosamente a alma lusitana. Convoca-se gratuitamente, em desespero de causa, Camões! Como se a qualquer um fosse dado o direito de invocar o símbolo maior da identidade da pátria portuguesa. Não haverá por Angola uma outra figura que materialize o sentimento dos que se acham ofendidos pela “inveja que faz mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana”? Dava jeito uma certa ‘produção nacional’ para o efeito. Talvez assim não vulgarizassem aquele que vos deu argumentos para serem povo. Mas leiam, leiam muito Camões, só isso vos pode fazer bem, desde que dele não se sirvam para adulterar a nossa portugalidade. Comecem por aqui e não percam a fé;

Ditoso seja aquele que somente
se queixa de amorosas esquivanças;
pois por elas não perde as esperanças
de poder n'algum tempo ser contente.

Quanto a «…nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele», nunca olvidem que se trata de mitologia grega. No meu país, sempre tratámos as coisas de forma mais terrena. Ainda assim, e mais uma vez, não estudaram bem a lição o que resultou, de novo, em asneira! Aquiles era invulnerável em todo o seu corpo, excepto no seu calcanhar. Tinha dois e um era realmente o seu ponto fraco. Quantos calcanhares terá esta nomenklatura de Angola?

Mário Rui

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cavaco: Portugal esqueceu o mar, a agricultura e a indústria

Cavaco: Portugal esqueceu o mar, a agricultura e a indústria - Política - Sol



Este homem, afinal, é igual a todos os outros que levaram Portugal ao abismo. Se alguma credibilidade ainda lhe restava, pela parte que me toca, agora sumiu-se de vez. O que eu não esperava era este discurso do «estigma que afastou Portugal...do mar, agricultura e indústria...» Mas qual estigma se foi ele próprio quem acabou com estas mesmas actividades? É preciso não ter ponta de vergonha para vir agora falar daquilo que soterrou! Esconda-se sr. Cavaco Silva. De facto, a genuína lealdade, se e quando existe, deve ser proscrita sempre que os traidores da palavra e da acção alcançam poder e autoridade.

Vezes sem conta tenho ouvido falar da incompetência, e eu concordo com o qualificativo, da classe política que nos tem (des)governado ao longo de tantos anos. Um dia destes, já se conta quase meio século desde a altura em que, fazendo jus à sublime arte de enganar o próximo, uma catrefada de homens ditos públicos, o que será lá isso, se decidiu por arrasar o que de menos mau o País tinha. Arrasaram ancestrais modos de vida, é certo que nem sempre agradáveis para quem os vivenciou, sobretudo porque atrasados no tempo e no modo, mas ainda assim ávidos de melhores dias, porque sedentos de inovação. Mas não! Decidiram os tais ilustres estrategas do meu pobre País que, definitivamente, a modernidade era tão só uma ideia nova. Nada mais que isso e, vai daí, a reboque de outras tantas mentes brilhantes do velho continente, entenda-se gente que pensa e portanto sabe, estudaram no Parlamento Europeu, destrua-se o que parece improdutivo, o que se lhes afigura menos digno de uma terra moderna e aí vem um Mundo novo. De facto, se ao tempo Vasco da Gama assim tivesse pensado, certamente teria encostado o barco às Berlengas e não mais avançaria. Mas felizmente não o fez, isso era gente de outra tempêra. Livre-nos o Deus maior de qualquer comparação.

Bom, mas vem tudo isto a propósito da estocada final que há uns anos foi dada às pescas e à agricultura portuguesas. Gerações de lobos do mar foram votados ao desprezo, ao abandono, à fome e, com eles, inevitavelmente, também os barcos se afundaram. Triste sina dum povo marinheiro que outrora, na matéria, deu cartas ao Mundo e que graças a essa épica epopeia guindou este rectângulo, ou será já quadrado?, aos mais altos ditâmes de civilização que se preze. Quanto à lavoura, porque atrasada como já se disse, nem vale a pena apostar. De que vale falar em inovação se nos pagam para fechar a loja? O celeiro antes prenhe de diamantes da terra arável, é hoje um esqueleto do qual já nem memória resta. Os agricultores, essa raça que incomodava a Europa rica, era chão que já tinha dado uva. Abatam-nos pois, a uns e outros, porque a miséria do meu País é ainda mais visível à luz de cada um destes pequenos horrores. Assim devem ter pensado ministros, depois parlamentares, depois Presidentes, depois a casta arregimentada que serve de lastro a esses pobres príncipes reinantes. Por quanto mais tempo?

Ah, mas eis que novos tempos correm e novos pensadores vão agora tentar a eloquência mais convincente! Não têm os meus caros leitores dado conta do frenético clamor que por aí vai quanto ao ressurgimento destas nobres actividades? São absolutamente decisivas para o nosso futuro. Dizem eles. Os mesmos que feriram de morte este nobre povo, do mar ou da terra ou de qualquer outro lugar, reclamam hoje as cinzas, as cinzas dos mais aptos. Dos homens de excepção, hábeis, inventivos e sempre prontos a juntar um belo sentido da vida e uma bela alma. Vão lá agora pedir-lhes, a eles, que voltem a lançar a semente à terra e o barco ao mar. Então ontem deram-lhes uma esponja para apagar o horizonte e hoje querem que estas vítimas do sacrifício e do espírito de sacrifício, se voltem a sacrificar em nome da loucura das leis que tanto prazer vos dá redigir? Será que estes tais príncipes reinantes de que atrás falei ainda não perceberam que o homem comum, o lavrador, o pescador, têm de saber quais são aqueles em que a sua imaginação pode acreditar como alavanca dos seus actos?

Mário Rui

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Horizonte



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perdemo-nos no abstrato quando o horizonte é longo...
 
Mário Rui

Fim





















Quando as coisas boas se esgotam não há muito que se diga. Restam só as imagens que nos perpassam pelo canto da nossa memória e delas fazemos como que o cenário do instante que vivemos. É que não há beleza material que não expresse uma ideia, pensamento ou sentimento moral.
 
Mário Rui

domingo, 18 de novembro de 2012

À grande e à portuguesa!!!!!



















Só para terem uma pequenina noção do descalabro que por aí vai,  ver aqui, será interessante darem uma vista de olhos. Assim se perceberá melhor quem de facto concorreu, e concorre, à grande e à portuguesa, para a desgraça em que nos meteram.
Mário Rui

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Assim a causa não causa efeito




















Ainda não acabou aquela espécie de manifestação em frente à Assembleia da República e já por aí pululam as mais diversas leituras sobre o que se passou. Ainda bem que assim é, mas convém guardar alguma serenidade intelectual para se perceber o que esteve em causa. E o que esteve em causa foi apenas uma brincadeira de meninos mimados que, fruto não de fome mas antes de apetite a mais, acabaram por deixar cair por terra os legítimos qeixumes dos que realmente sofrem com o actual estado do país. No fim, quem tinha toda a propriedade para livremente expressar o que lhe ia na alma e no bolso, acabou, sem culpa alguma, por comer pela medida grande. Da polícia, claro. Pior do que isso só a disciplina dessa mesma polícia, e eu compreendo-a embora assim dito possa parecer contraditório, que ‘deixou’ fugir os verdadeiros provocadores, os que mais não querem senão luzes de holofotes televisivos. Nem que seja de cara tapada. É essa a condição que eleva o espírito e a militância dos que, em lugar de lutarem por causas justas, preferem manchar a dignidade dos que se sentem realmente espoliados. Com gente desta, bem os podemos somar às piores práticas políticas de alguns governantes que por cá passaram e nos empobreceram. Pouco mostram de diferente. Afinal, quer uns, quer outros, atiraram a pedra e depois fugiram. Os primeiros de barriga cheia de inanidades, os segundos de barriga cheia de esplendor e riquezas mil. Face ao desacato vivido, só os que estoicamente se mantiveram por tanto tempo a guardar o 'templo', merecem uma palavra de reconhecimento pelo seu papel. E é sempre bom que nos lembremos que a pedra na cabeça do polícia há-de ser tão útil à democracia quanto a bicicleta o é para um peixe. Reconheço, assim, que muitos assuntos, tais como estas acções não verbais perpetradas por sabotadores, requerem normalmente que se pense. Só desse modo poderão ser comunicadas, debatidas e corrigidas eficazmente. Porém, se a tanto não quisermos chegar, entao há sempre uma “arte radical” que se pode manifestar. O argumento mais efectivo contra um regime que nos usurpa o nosso dia-a-dia não é afirmar a sua maldade, mas a sua estupidez. Uma maneira muito interessante de revelarmos o nosso descontentamento para com a estupidez talvez seja a nossa ausência na mesa de voto. Pelo menos até ao dia em que os próprios polícias, eles mesmos, se venham a rebelar.



Mário Rui

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Porra!! De uma vez por todas, façam com jeito.


























Pormenores pequeninos, talvez até sem importância por aí além. De todo o modo deixam-nos  um tanto perplexos. O que significará Merkl a usar do verbo numa tribuna com tal inscrição? Então, mas seria absolutamente necessário colocar “Governo de Portugal” à frente da senhora? Quem quer que seja o ‘artífice’ de tão despropositado modo de mostrar, esteve mal. Desde logo pela simples razão de que semelhante cenário se presta às mais variadas e jocosas leituras e, depois, porque o momento não se presta a mais trapalhadas. Não chegou a bandeira de pernas p´ró ar? Ou será que o criativo da cerimónia é masoquista ou quer deliberadamente dar o flanco? Porra! De uma vez por todas façam com jeito. Se não sabem então perguntem. Desta forma é que não. A coisa cerimonial assim disposta à frente de Angela até dá para perguntar; será que foi desta que o governo quiz dizer ao povo quem governa Portugal? Aprumem-se e vejam lá se acertam uma. Já vai sendo tempo!

Mário Rui

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quando os portugueses olharem para a folha do vencimento em Fevereiro vão entrar em “choque”


























Todos eles, os partidos, os políticos, os presidentes, os grupos de interesse, os famélicos bancos, todos eles e mais uns tantos concorreram fortemente para a era democrática do facilitismo, banharam-nos com «spots» do viver melhor, do sol e das férias, do divertimento mediático. Afinal atiraram para trás das costas as boas lições de moral. Esta gente sempre espectacularizou o mal, mas sempre de modo calculado. O fim era e é sempre o mesmo. Benesses em proveito próprio mas matreiramente sempre dizendo que em nome de uma sociedade mais justa e igualitária. Assim nos contavam a história. Os mais incautos deixaram-se embalar pela música falconizada de reles empregados de partidos que, sem grande esforço, subiram na vida. Passaram velozmente de apagadas figuras de ornamento a senadores. Esqueceram a revitalização ética que tanta falta fazia ao país, quiseram ensinar-nos que vivíamos uma época em que o dever devia ser anestesiado, que a ideia de sacrifício estava deslegitimada. Mais; juntaram a todas estas práticas a ideia de que, cada um de nós, não tinha de se dedicar a um fim superior a nós mesmos. Colaram-nos uma etiqueta onde se podia ler que os direitos subjectivos podiam dominar os mandamentos imperativos. Tolos. Tão tolos foram e são que atiraram com um país para o último estádio da sua amada cultura ética.  Exaltaram o bem-estar e os prazeres que pensavam estar a ofertar-nos mas jamais foram capazes de perceber que a sociedade civil estava ávida de ordem, de moderação e especialmente de homens com carácter. Sempre foram os grandes loucos e os maus espíritos humanos que perturbaram as nações, mas também os inumeráveis tolos que favoreceram e aplaudiram os seus desatinos e disparates, não se isentam de culpas. Parece que só um caminho resta. O da penúria. O sumário da nossa vida, volvidos tantos anos, mais se assemelha a enganos e desenganos. Só agora há uma certeza! A bandeira da falsa virtude da gentalha que nos levou à vergonha passou a ter para nós, espoliados, uma só legenda – Abstinência e Resistência. Enquanto insistirmos em chamar nomes aos de fora, esquecendo o mal que nos fizeram os de dentro, teremos que recear sempre o nosso próprio juízo.
Mário Rui

domingo, 11 de novembro de 2012

Abram a pestana, portugueses.



 
Julgo que este é o vídeo "pensado" pelo prof. Marcelo e que se destinava ao povo alemão. Até pode ser uma tentativa louvável para mostrarmos quem somos. Mas será que mostra mesmo? Não consigo ver nesta tentativa mensagem que marque o que quer que seja e muito menos que possa explicar aos outros o que não somos. Também ainda estou para perceber esta constante execração lançada sobre Frau Merkl. Mas será só a mulher a verdadeira culpada do nosso lastimável estado do Estado? A Finlândia não quis emprestar dinheiro a Portugal. Disse, alto e bom som, com vídeo e tudo, que mais valia deixar-nos cair na bancarrota. Que ainda por cima o mais certo era não pagarmos. Que, se nos dessem a mão, iríamos agarrar o braço todo. Sobre esta gente não lançámos qualquer 'fatwa'. Com Merkl, que tem seguramente defeitos em excesso, é um corrupio de maldições. O que eu acho é que confiar desconfiando destes vitupérios todos é uma regra salutar da nossa própria prudência. Abram a pestana, portugueses.
 
Mário Rui

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Atrevimentos eleitorais




















Maroto...  Não podes ganhar umas eleições. Ficas cá um atrevidote...

Mário Rui

Títulos de estúpida altivez





















Assim mesmo. Nem mais nem menos. A cidade do Porto, no norte de Portugal, acolherá, de 13 a 17 deste mês, a primeira "Feira de Emprego e Angolanização da Economia", ver aqui, no âmbito das comemorações do 37º aniversário da Independência de Angola, que se assinala a 11 de Novembro. Todos perceberão que se tratará de um evento onde as marcas, trabalhadores e investidores portugueses terão mais a ganhar do que a perder.  Agora, ‘angolanização da economia’ não lembra nem ao diabo. Ainda gostava de saber o nome da  mente brilhante que pariu tal designação. Cheira a tudo menos a ‘marketing’ daí que, com toda a propriedade, possamos dar a este título o significado que quisermos. Tanto pode ser uma nova forma do colonizado tentar virar colonizador, como um certo ressabiamento por tudo o que Portugal não terá representado para a antiga ‘província ultramarina’. Mais! Estando os eventuais investidores no nosso país, o conhecimento e o “savoir faire” também por cá e finalmente a força de trabalho igualmente aqui radicada, não entendo o que é isso de  ‘angolanização da economia’. Na Europa, bem poderia, por exemplo a Alemanha, organizar uma feira deste tipo, e já agora chamar-lhe “Feira de Emprego e Alemanhanização da Economia”. Era o bom e o bonito. Já estávamos todos neste momento a evocar o lado negro da história germânica e a chamar-lhe de “nacional-socialista”. Até posso perceber o silêncio, se calhar ruidoso, de alguns sectores da nossa economia, e não só, quanto a este título. O que me custa mais a aceitar é que seja a  Associação Comercial do Porto a acolher a iniciativa, não pela mesma em si própria, mas apenas pela designação que ostenta. Até o Norte começa a ficar com os movimentos tolhidos. O Norte que tradicionalmente era autónomo, pelo menos no pensar, e quase sempre de carácter distinto no que ao modo de estar dizia respeito, já há muito claudicou. Novas e tristes vassalagens, é o que é! E como eu também gostava de ver uma certa esquerda, a bem instalada na vida, a insurgir-se contra alguns títulos de estúpida altivez, julgada económica, para com Portugal. Não há só Merkel! Também há outras nomenclaturas tirânicas de idêntica gradação política.
Mário Rui

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Estou farto disto tudo

Estou farto de ver o país sequestrado por corruptos. Farto de ver políticos a mentir. Farto de ver a Constituição ser trespassada. Farto de ver adolescentes saltitantes e acéfalos, de bandeira partidária em punho, a lamberem as botas de meia dúzia de ilusionistas. Farto de oportunistas que, após mil tropelias, acabam a dirigir os destinos do país. Farto de boys que proliferam como sanguessugas e transformam o mérito em pouco mais do que uma palavra. Farto da injustiça social e da precariedade. Farto da Justiça à Dias Loureiro. Farto dos procuradores de pacotilha. Farto de viver num regime falso, numa democracia impositiva. Farto da austeridade. Farto das negociatas à terceiro mundo. Farto das ironias, da voz irritante, dos gráficos e da falta de sensibilidade de Vítor Gaspar. Farto dos episódios inacreditáveis do 'Dr.' Relvas, das mentiras de Passos Coelho e da cobardia de Paulo Portas. Farto de me sentir inseguro cada vez que ouço José Seguro. Farto de ter uma espécie de Tutankhamon como Presidente da República. Farto dos disparates do Dr. Mário Soares.
Estou farto de ver gente a sofrer sem ter culpa. Farto de ver pessoas perderem o emprego, os bens, a liberdade, a felicidade e muitas vezes a dignidade. Farto de ver tantos a partir sem perspectivas, orientados pelo desespero. Farto de silêncios. Farto do FMI e da Troika. Farto de sentir o pânico a cada esquina. Farto de ver lojas fecharem a porta pela ultima vez e empresas a falir. Farto de ver rostos fechados, sufocados pela crise. Farto dos Sócrates, Linos, Varas, Campos e outros a gozarem connosco depois de terem hipotecado o futuro do país. Farto da senhora Merkel.
Estou farto de ver gente miserável impor a miséria a milhões. Farto da impunidade. Farto de ver vigaristas, gente sem escrúpulos, triunfar. Farto de banqueiros sem vergonha, corresponsáveis em tudo, a carpirem mágoas nos meios de comunicação social. Farto de ver milhares de pessoas a entregarem as suas casas ao banco. Farto de vergonhas como o BPN e as PPP. Farto de ver um país maltratar os seus filhos e abandoná-los à sua sorte. E, finalmente, estou farto de estar farto e imagino que não devo estar só. 

(Tiago Mesquita -  Jornal Expresso)

Mário Rui

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A minha dívida






































Tenho estado a pensar profundamente no meu 'calote consolidado' para com o Estado português. Os tais 20.000 euros que me querem resgatar, e aos restantes 9.999.999 portugueses. Pela minha parte, afinal, cheguei a nova conclusão: o dever acima de tudo, então não pago mais as minhas dívidas. Os outros que façam como quiserem.

Mário Rui

sábado, 3 de novembro de 2012

Era digital, ou não era?



















Estalou a polémica entre o investigador da Universidade do Minho e a PT, a propósito da sua tese de doutoramento, em que refere que a Anacom terá favorecido esta última entidade na implementação da televisão digital terrestre (TDT), em Portugal. Ver aqui.  Não querendo dissecar o assunto, até pela minha evidente ignorância sobre o mesmo, nem por isso deixo por mãos alheias algumas considerações. Assim, a saber:

- comento, já que sou contribuinte líquido da TV estatal, e a dobrar, pois pago a uma operadora privada para ter televisão pública e pago – mais uma vez – uma taxa mensal ao Estado para o mesmo efeito. Está bom de ver que se a operadora que me fornece o serviço já por si entrega ao 'big brother'  a minha parte, então eu, e outros nas mesmas circunstâncias, não deveríamos ser duplamente taxados. 
- quanto à conclusão do investigador, não sei se tem ou não razão. Tão-pouco sei se essa conclusão, alegado favorecimento, se prende também com a qualidade técnica das emissões da TDT. Se tiver alguma relação, há-de certamente constar dessa tese o péssimo serviço que esta inovação representa, pelo menos por agora, a quem dela lança mão. Falhas de emissão, qualidade de imagem duvidosa, gastos acrescidos com descodificador para televisões antigas, substituição de antenas, etc, etc. De resto um acréscimo de custos que vêm mesmo na altura certa. Portugueses com bolsos cheios e especialmente com melhor? televisão pública! “As usual”.
- neste passo, e acabo já, fico com a ideia de que se trata de uma peleja do tipo Golias contra David. Aguardemos para ver o resultado. Ah, já agora digam-me, se souberem. A PT tem participação do Estado? E a Anacom é porventura um organismo estatal?
- então para concluir deixo-vos a solidariedade manifestamente demonstrada pela Universidade do Minho para com o seu investigador, patente na imprensa de hoje. Diz assim; «...a UM diz que não lhe compete influenciar a escolha de temáticas ou de quadros teóricos de referência, bem como assumir responsabilidade sobre os respectivos resultados ou conclusões, os quais se inscrevem no exercício da autonomia de criação intelectual e na esfera de responsabilidade dos seus autores, sejam estudantes ou investigadores».

Hum, bonito não é? Então mas em que sítio trabalhará este investigador? Será em Marte, ou lá no Minho?

É no universo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e imaterial. Com amigos assim, quem precisa de inimigos?

Mário Rui

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Abanões



















Li, ou ouvi, ou terei sonhado, também não importa, que a tragédia ocorrida a 1 de Novembro de 1755, por volta das 9:30 da manhã, quando Lisboa foi atingida por um violento terramoto, não terá trazido muitos ensinamentos em termos de prevenção e regulamentação que viesse a melhorar a segurança do edificado da cidade. O mesmo é dizer que, a acontecer situação idêntica, o mais certo é que, segundo o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, um previsível terramoto venha a matar entre 17 mil e 27 mil pessoas, mas essa estimativa peca por defeito. São acidentes naturais, difíceis de prever e que sempre deixam pouca margem de controlo, especialmente quando já em presença dos mesmos. Em 1755 assim foi e, dado o desconhecimento das técnicas mais seguras para fazer frente a uma catástrofe deste tipo, o resultado foi trágico. Estima-se que terão morrido cerca de 60 000 pessoas. Dizem que passado o terramoto, o Rei terá perguntado ao Marquês de Pombal o que se havia de fazer. Terá respondido ao monarca; «... sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos». Facilmente se percebe o que queria dizer o Marquês. Sepultar os que se finaram e cuidar dos que ficaram, era o mínimo que se podia fazer. Quanto a ‘fechar os portos’, a expressão só significaria que não seria prudente deixar as ‘portas’ abertas para que novos problemas viessem a surgir ou ‘vir de fora’, enquanto estivessem a cuidar e a salvar o que restava de tão funesto acontecimento. Teria certamente o Marquês em mente que a prioridade era a reconstrução e o novo. Volvidos 257 anos, e a julgar pelo que dizem os entendidos, muito pouco se quis fazer, e sublinho “se quis fazer”, uma vez que os dados disponíveis assim o demonstram. Em Julho de 2010 todos os partidos votaram, por unanimidade, uma recomendação ao governo, para que se criasse com urgência um plano nacional com vários pontos decisivos: redução da vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares, industriais, governamentais, de transportes, energia, património histórico e zonas históricas dos núcleos urbanos. A resolução recomendava ainda ao governo o reforço do controlo da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana. Mais de dois anos depois, o(s) governo(s) não fez nada: limitou-se a propor um modelo de seguros, para indemnizar os prejuízos materiais dos sismos. Estou plenamente convencido que será medida ainda pior que o próprio sismo. Pelo menos para os atingidos pelo mesmo. Para outros, como de costume, ouro sobre azul! A Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, num parecer enviado ao parlamento, reagiu com indignação: «A opção do governo é ineficiente, eticamente condenável porque não se preocupa com a salvaguarda da vida humana e contraria a resolução da Assembleia da República». Eticamente reprovável. Leram bem? Mas afinal haverá alguma cousa eticamente louvável que assista a esta gente? Toda ela sem distinção, digo eu. Pouca, muita pouca coisa!

Redução da vulnerabilidade sísmica das infra-estruturas hospitalares, escolares, industriais, de transportes, energia, património histórico, zonas históricas dos núcleos urbanos, etc, etc, etc, não conta para nada. O reforço do controlo da qualidade dos edifícios novos e a obrigatoriedade de segurança estrutural anti-sísmica nos programas de reabilitação urbana, também não convém. O que convinha mesmo, e foi feita, era a obra de reforço anti-sísmico do edifício da Assembleia da República. Quando o sismo chegar, esta espécie humana e em número apreciável, que habita a casa, há-de vingar em detrimento dos médicos nos hospitais, dos professores e dos alunos nas escolas, das forças de segurança, dos meios de socorro e por aí fora. Até em presença de aspectos que parecem ser de somenos importância – parecem mas não são - , quando valiosos para gente do calibre da maioria dos nossos políticos, até nisso esses espíritos metódicos e calculistas são ordinariamente os menos solidários e respeitadores da condição humana dos outros. Dá que pensar, não? A mediocridade é o elemento mais saliente desta gente. A acontecer uma tragédia sísmica, e rezemos para que nunca apareça , os moradores da AR ficariam para reconciliarem os mortos, para tratarem das montanhas e serras que dão abrigo aos vales. Eu duvido muito é que tal estado de coisas viesse a renascer das cinzas e se renovasse pela morte. De tantos portugueses úteis . E também já não se “fazem” reconstrutores do tipo Marquês de Pombal. Agora já só há imitadores! E péssimos.

Mário Rui