sábado, 21 de janeiro de 2012

Descoroçoamento de uma nação



Oh Sr.Prof. Cavaco. Esperava de si outra atitute que não a tão vulgar quanto a normalmente utilizada pela maioria dos políticos que temos. O senhor que, parece, tão sensato, tão racionalmente contido no que faz e diz, por esta vez esteve mal. E não lhe concedo perdão por tudo o que nos disse acerca do seu parco rendimento, quando o país definha, está de rastos.

Faz-me lembrar o comandante daquele navio que recentemente, e ao que se diz, terá sido dos primeiros a abandonr o barco quando viu as coisas mal paradas. Então um timoneiro feito o senhor, dos poucos em que ainda depositávamos alguma réstea de esperança e bom-senso, dá um golpe de asa destes? Tudo isto se assemelha a uma tragédia grega, das antigas que não das actuais, rica, poética e de tradição religiosa.

Muitos dos cidadãos que se revêem na sua imagem enquanto Presidente de um País que parece nunca sê-lo, sem trabalho uns, outros qualificados ou não, optam pela emigração. Para África, para o Brasil, para a Europa. O senhor parece não perceber que se o fazem é porque nem ao ordenado mínimo têm acesso, às vezes foge-lhes do prato a comida e a roupa com que se hão-de vestir. E depois revoltam-se e com razão porque de facto não compreendem que os sacrifícios nunca atinjem a sério os mais privilegiados.

Os que, como o senhor, não conseguem viver com 10 mil euros por mês, ou os que acham que lhes é devida uma remuneração de 45 mil euros por mês porque se auto-intitulam de verdadeiras cabeças pensantes que movem Portugal. Movem, movem, para o abismo. As suas queixas mais não são que indignas e um insulto aos portugueses. Então, mas agora juntou-se definitivamente aos que sempre nos maltrataram, sendo que era o senhor que ainda há bem pouco tempo dizia, e com razão, que há limites para os sacrifícios? Seja menos ambíguo e diga-nos lá do que estava então a falar.

Será que quer engrossar a fileira dos que sem uma pinga de vergonha, nos levam tudo em proveito próprio. Dos famélicos que vivem e reinam há já quase 40 anos por sobre a miséria e o descoroçoamento de uma nação. Está pois aberta a audiência. Que o réu decline a sua identidade. É tudo o que se lhe pede.

Mas vou-lhe dizer mais. Eu e os meus, a gente moderna e pobre, somos prudentes, com supremas convicções. A nossa desconfiança manteve-se sempre em guarda. Desconfiámos sempre das seduções de algumas palavras que nos pareciam prudentes e ponderadas por parte de alguns políticos. O senhor também o é! Político. E sabe qual a razão porque sempre assim fomos e continuaremos a ser?

Só porque sempre tivemos receio, medo, de sucumbir às armadilhas que qualquer um dos ditos nos poderia pôr no nosso caminho. E realmente puseram-nos já muitas. Agora, adicionemos mais uma. A sua! É a nossa circunspecção de «gato escaldado» que nos induz a não mais acreditarmos em vãs palavras de conforto e de esperança num futuro melhor. Consigo parece que também não vamos lá.

Mário Rui