sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ilusionismo



















Editorial jornal i – 13-12-2013
Eduardo Oliveira e Silva
 
É inaceitável os pensionistas receberem 12 parcelas ou mais de acertos de IRS

Em Portugal, ninguém sabe exactamente com o que conta na sua relação com o Estado. Todos os anos mudam fórmulas de cálculo disto e daquilo, o que mina a confiança, tanto mais que é sempre em prejuízo do cidadão comum. Basta lembrar o método de estabelecimento do IMI, em que as finanças não hesitaram em fazer contas de permilagem com base no Google, o que é, no mínimo, escandaloso, além de potenciar erros graves e de ignorar as instâncias depositárias dos números oficiais.

 
Mais recentemente, há milhares, para não dizer milhões, de reformados e aposentados que ficaram estarrecidos quando se aperceberam dos cortes que estão a sofrer numa espécie de sucedâneo de subsídio de Natal que lhes tem vindo a ser depositado.

 
Primeiro, foram os pensionistas do Estado que foram apanhados por acertos que levaram à introdução de cerca de uma dúzia de parcelas de reduções acrescidas de IRS, o que, na prática, lhes retirou uma média de 200 euros por cada mil. Agora está a acontecer rigorosamente o mesmo com os reformados da Segurança Social, sendo que os primeiros ainda têm direito a um recibo discriminado e os outros nem isso, em mais uma absurda e lamentável falta de consideração e respeito.

 
Tudo isto aconteceu porque o governo inventou, no tempo do inenarrável Vítor Gaspar, uma forma de ilusionismo ao aplicar o pagamento através de duodécimos, para amaciar os cortes e criar em cada um a ilusão fantasiosa de que não tinha perdido tanto como, de facto, perdeu. “Com papas e bolos…”, julgava quem decidiu.

 
De habilidade em habilidade, em jeito do que o povo chama esperteza saloia, o facto é que, hoje, já ninguém sabe com o que conta mensalmente, o que afecta a lógica da estabilidade, que é um pressuposto económico absolutamente fundamental para qualquer sociedade.

 
Situações como esta que estão a viver os reformados portugueses e, em muitos casos, a generalidade da população são dignas do terceiro mundo e seriam absolutamente impensáveis em países europeus da Europa do euro, se exceptuarmos talvez a Grécia.
 
Mário Rui