segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Idiotices

    
                     





















No sentido de uma teoria da fé, como prova religiosa, e mesmo da simples convicção por coisas vulgares de outra natureza, umas de somenos, outras ainda assim mais interessante, já se me ofereceu tanto crer e tanta incitação que, antes de mais nada, é meu encargo dar conta de tanta porfia. Pois atentem: cinismo, arcaismo, comunismo, maniqueísmo, situacionismo, cepticismo, despotismo, obscurantismo, autoritarismo, ilusionismo, conformismo, progressismo, empreguismo, anacronismo, alienismo, profissionalismo, amadorismo, nepotismo, lirismo, preciosismo, revisionismo, proteccionismo, casuismo, puritanismo, silogismo, estoicismo, revanchismo, diletantismo, aposteriorismo, apriorismo, altruísmo, socialismo, anarquismo, marxismo, budismo, islamismo, republicanismo, protestantismo, nacionalismo, alcoolismo, criacionismo, alpinismo, curandeirismo, esoterismo ... ...! Estão cansados? Também eu, mas esta é uma pequena amostra do mínimo que se me ofertou e precisei de entender para não continuar a ser um idiota. Foi dose, mas julgo ter valido a pena não obstante subsistirem resquícios desta minha herança ‘cultural’, o que me leva a pensar se não estarei ainda a dar um contributo escusado, mas efectivo, para a multiplicação desta classe de “sujeitos formidáveis”, os patetas. Também mais não posso fazer. Tentei escapar a tal estado, esforcei-me, e só isso já me conforta. Se a reprodução da espécie se continua a fazer, já pouco posso mudar. Paciência. Em todo o caso, devo dizê-lo, na maior parte das incitações a que me sujeitei ficou-me a ideia de que estava a ser manipulado em vez de persuadido. Atitude assim interiorizada levou-me a que, forçosamente, tomasse opções mais de acordo com o meu modo de estar por cá. Cansado que estava de acreditar em muitas mentiras, decidi que a uma ficaria decisivamente imune; pensar e agir segundo os termos dos outros posto que jamais quero ficar com saudades de mim mesmo. Não sei se consegui mais cultura, mais conhecimento ou quiçá mais rebeldia, mas também não é o que mais importa. Livrei-me da subserviência à voz corrente e da longa história do que parecia óbvio! Que bom que foi! E se havia tanta e ignara gente que se promovia à custa da minha activa e disponível palermice. Chiça, quantos anos são precisos que nos induzam à introspecção crítica?

 

Mário Rui