domingo, 31 de maio de 2020

Dos situados fora do centro


Hoje, ao ver o lançamento da cápsula Crew Dragon que levará dois astronautas rumo à Estação Espacial Internacional (ISS), perguntava-me filho meu:
- Pai, gostavas de ir à Lua?
- Nada, não sou desses sítios – disse-lhe eu.
- Se ainda hoje estou para perceber a natureza excêntrica de alguns que andam cá pela Terra, que faria eu com outros lunáticos, ainda por cima lá no alto?
E fiquei satisfeito com a resposta, e ele também, rindo. E sabem porquê? Porque quer eu, quer ele, sabemos exactamente quantas pernas tem um cão, quantas orelhas tem um burro e quantos rabos tem um gato. E só com isso, imaginem, já nos demos por felizes por, descontada a imodéstia, tão incomensurável talento que revelámos. E ainda radiantes ficámos por termos a certeza de que gente feliz não cansa a beleza dos outros, que é coisa que alguns excêntricos fazem com muita frequência! Ah, quase me esquecia da Crew Dragon. Sucesso para a missão, é o que desejo.



Mário Rui
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Uma casa a flutuar na ria de Aveiro


Uma casa a flutuar na ria de Aveiro (AQUI)

Podia ser só uma casa flutuante, mas não é. A experiência que ela tem para oferecer não se resume ao alojamento dentro de quatro paredes. Desde o pôr do Sol à presença constante dos pernilongos, são várias as vivências que levam o hóspede a sentir-se na fila da frente de um filme dedicado à ria de Aveiro.



Mário Rui
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Por aí






Mário Rui
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Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas


Antoine de Saint-Exupéry, tinha razão;

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração”.



Mário Rui
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A esquisita prosa de Marcelo


Sobre este texto, só uma coisa me ocorre; a semântica está grávida. Dito de outro modo, pardal pardo, porque palras? Será a necessidade de obedecer a outros ditames para não sucumbir, senhor Presidente? É que desconfio que um destes dias começo a tratá-lo com “p” pequeno. Ou pensará o senhor que isto é coisa que se escreva por cabeça dita pensante para ser lida por imbecis? São tantos os subentendidos absurdos aqui expressos, que o leitor zonzo, como eu já estou, cada vez mais luta por não desprezar esperanças tidas. Mas começando a perceber o truque, se calhar ainda que com um bocado de atraso, lá vai de vela a esperança.

Presidente da República promulgou diploma da Assembleia da República (AQUI)

O presente diploma, na versão final aprovada pela Assembleia da República, só proíbe, até trinta de setembro, o que os promotores qualificam como festivais e espetáculos de natureza análoga.
Quer isto dizer que, se uma entidade promotora definir como iniciativa política, religiosa, social o que poderia, de outra perspetiva, ser encarado como festival ou espetáculo de natureza análoga, deixa de se aplicar a proibição específica prevista no presente diploma. Por outro lado, mesmo os assim qualificados festivais e espetáculos de natureza análoga podem realizar-se desde que haja lugares marcados e a lotação e o distanciamento físico sejam respeitados.
Atendendo a este quadro legal, ganham especial importância a garantia do princípio da igualdade entre cidadãos, a transparência das qualificações, sua aplicação e fiscalização e a clareza e o conhecimento atempado das regras sanitárias aplicáveis nos casos concretos”.



Mário Rui
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Não, assim não!


Anda um homem a tentar livrar-se de cercas e acaba nisto. E eu que gosto da ilusão da liberdade, o melhor que tenho a fazer, já agora, é pegar no ‘autoimóvel’ e ficar em casa. Devia talvez, acima de tudo, impedir-me de pensar, mas com cordas à minha volta é que não. Até parece que me serve para alguma coisa a garantia da minha clandestinidade. Cordas, a quererem travar risos e conversas, mais um pouco de uma coisa e outra, na quietude, mesmo que afastada, das velhas amizades? Não, assim não. Nunca fui capaz de perceber no mundo os movimentos imóveis, nem sequer os pleonasmos. No areal da praia só desejo uma coisa; que me deixem à solta e que não exijam muito de mim. Portanto, se este ano for com cordame, precisarei de outros movimentos para me convencer. De resto, como é possível fazer o que não se compreende?



Mário Rui
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Quando o pensar pesa





Mário Rui
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Por aí







Mário Rui
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Bicicletas


Volta a Portugal mantém-se nas datas previstas apesar da pandemia. A prova começa a 29 de Julho e termina a 9 de Agosto.

Umas vezes não, outras sim e ainda há as nim. Falo de distanciamentos, ajuntamentos, confinamentos e coisas afins, como, por exemplo, pensamentos. Pensamentos, sim, porque deve haver deles a mais e é isso que prejudica o êxito das decisões. E quando são muitos a pensar no que fazer, em vez de imperar a ordem das razões, quem decide é a mera soma das más opiniões. Pode a Volta a Portugal realizar-se ou pode antes Portugal andar à Volta? São observações esparsas as que faço e sem que pretenda traçar um diagnóstico, mas indicam fortemente no sentido de uma suspeita: a suspeita de que algo no mando nacional não vai bem. É muito confuso tudo isto. Mas enfim, tenho que aprender a relaxar para não ficar com o sistema nervoso.



Mário Rui
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Por aí









Mário Rui
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Por aí





Mário Rui
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É uma ideia


Este café na Alemanha oferece aos clientes chapéus com ‘macarrão’ de piscinas para mantê-los afastados entre si.



Mário Rui
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domingo, 17 de maio de 2020

Maritimamente circunscritos. Quem diria!


Não há que desistir. O que tiver de ser, será. Temos pena, muita pena, mas pelos vistos a condição de um qualquer banhista em 2020 é sofrer. Também me parece que por muito que se discuta o assunto, o mais que se conseguirá é  prolongar a discussão até ao infinito, em linhas paralelas, o que por si só já revelará bem a inanidade dos debates. Mas eu acho que nem isso vai acontecer. De resto, só de ler este “Manual do Regime excecional e temporário para a ocupação e utilização das praias, no contexto da pandemia COVID-19”, penosa transição do que já foi para o que vai ser, o melhor é fugir para o campo e levar o arado atrás. É que, apesar de tudo, com os progressos da mecânica, sempre deve ser melhor lavrar a terra do que frequentar praia tão cheia de regras. E, depois, em não havendo maresia que nos embale em ária tonificante, sempre podemos contemplar as leiras feitas direitinhas já que mais seguras do que as curvas são as linhas retas. E assim nos furtamos à leitura deste Manual da Nova Praia, bem capaz de cavar a nossa ruína cerebral e com ar de lhe ficarmos ainda por cima agradecidos. Cavar por cavar, cave-se então noutra areia, noutro “mar”, mesmo que, infelizmente, não fiquemos com a obsessão das sardinhas assadas. O dito compêndio balnear, pode ser estudado, mas não sem antes tomar um bom estimulante, aqui; https://www.jn.pt/infos/pdf/manualpraias.pdf



Mário Rui
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Do Sol tão profundamente companheiro


Não sei se o Sol é para todos, mas gostava que assim fosse. Que a todos juntasse auréolas, assim quentes de recordações, porque há janelas por onde ele entrar que valem um tratado de felicidades e com poemas íntimos e inteiros de delicados sentimentos. A filosofia céptica larga-nos e longe de nos atrair com pesadas imaginações, só nos desperta simpatias. Se chega o ocaso de laranja pintado, com ele vem o horizonte dos pensamentos que nos coroam as paisagens longínquas do que já fomos. Até o quente da noite pelo que ficou do soalheiro do dia faz jus à sua fama de boa conselheira. E quanto mais cálida, melhor. Aflora-nos uma idiossincrasia que mais não quer senão que a sigamos com a vista e o pensar. Precisamos do sol para com ele lidarmos todos os dias em gestação mental de modo a fazermos do bem-estar um som que reclama um eco. Frases cortadas, exprimindo muito, mas deixando ainda mais a adivinhar. Amanhã, precisamos de novo do Sol!



Mário Rui
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Costa sugere recandidatura de Marcelo a Belém (e reeleição)


Como nunca antes visto (LER AQUI)

Duetos improváveis, mas odes partilhadas, com rosas postiças. Para alguém que se vê ir pela velhice fora, custa a perceber. Mas enfim, é o novo mundo. Que bela melopeia. Admirável, como os tempos mudam. E não vale a pena pensar muito mais, porque a única coisa que ainda não está para mudar, é o dia de amanhã que, a seguir a uma quinta, é sempre sexta-feira.



Mário Rui
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… FUTEBOL E FADO, PORQUE ATÉ A “CAUSA” JÁ FOI MODIFICADA


Fátima, ficou fora da equação. Percebe-se. As pessoas iam dar, ou tentariam dar, um pontapé num vizinho, passariam uma rasteira ao amigo, saltariam sobre o próximo, agrediriam o parceiro, empurrariam o sacerdote, entrariam de pé em riste quando tivessem um adversário por perto, cuspiriam na face do que estivesse a invectivar, dariam uma cotovelada na cara de um desconhecido, puxariam o véu à crente da frente. Já fora do santuário, os crentes envolver-se-iam em lutas estéreis corpo-a-corpo. Nos autocarros, como aqueles que não foram ao Parque Eduardo VII, seria um regabofe íntimo de fé. Nos sanitários, sabe-se lá que proximidade. Nos balneários de Fátima, é melhor nem falar. Nas cadeiras do crer, também há quem lhes chame bancadas, seria um reboliço marcial. A polícia atacada, petardos a ribombar, tochas a iluminar o firmamento. Tudo isto aconteceria em Fátima. Felizmente que o futebol, dizem por aí, começará lá para 4 de Junho e, aleluia, finalmente nada do que poderia ser Fátima, aconteceu, acontece ou vai acontecer no futebol. Faz sentido que venha pois a bola porque o trinómio mudou. Agora, passou a binómio; é Futebol e Fado. Fátima, felizmente, fica fora desta nova equação. Assim, mudos estão os que acham por bem que o esférico role em contexto pandémico porque Fátima era um perigo. De resto, destas mudezes arregimentadas e de coreografia feita ao sabor da voz do dono, casais que têm feito carreira e criação neste fecundo solo lusitano, muito propício à má semente, fujo eu como o diabo fugiu da cruz. Tudo quanto assim não seja, é um cavar ruinoso dentro do próprio abismo. E para isso, já eu não dou patavina. Fátima não fazia sentido. Sentido, faz o futebol! E, já agora, quanto aos fígados recalcitrantes que apoiam o futebol, a manifestação e o festival que não é festival, nesta fase epidémica, se não quiserem ver o óbvio, limitar-me-ei então a continuar a fixar os aspectos públicos dos personagens. Apenas isso, porque eu não discuto direita nem esquerda. O que eu quero é ir para a frente e no bom caminho.



Mário Rui
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Regulador para a Saúde aplica às autarquias taxas sobre hospitais de campanha


Regulador para a Saúde aplica às autarquias taxas sobre hospitais de campanha (LER AQUI)

Como qualquer educador da verdade sanitária do país, e com o mais envolvente dos estilos profiláticos que em muito ajudam à erradicação da epidemia, e à sorte dos que se substituíram ao Estado para ajudar o próximo, já cá só faltava, com demencial soberba, mais esta Entidade Reguladora. Não é única neste país, infelizmente o que mais temos são reguladores e reguladoras que se encostam umas às outras para não caírem, sendo elas mesmas, isso sim, uma verdadeira questão de higiene pública a que urge dar tratamento. Façam-lhes uns testes e depois avaliem o resultado. Têm só um inconveniente, esses testes; é o de se ir gastar muito dinheiro com os desinfectantes necessários para que tantas reguladoras deixem de cheirar tão mal. Mas façam à mesma os testes. É preciso ter lata. Taxa sobre a instalação e funcionamento dos hospitais de campanha criados por causa da pandemia? É mesmo ter muita lata! E no fim de contas, para que precisamos nós das entidades reguladoras? Já não temos muitas outras, em especial de bancos, que fazem a mesma coisa? Pois não nos chegam às mil maravilhas essas mesmas? Francamente!



Mário Rui
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Por aí




Mário Rui
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V-E Day - 8 de Maio de 1945



V-E Day - 8 de Maio de 1945

75° aniversário da capitulação alemã que pôs fim à II Guerra Mundial na Europa.



Mário Rui
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Banksy presenteia um hospital com a sua mais recente pintura


Banksy presenteia um hospital com a sua mais recente pintura.

O artista postou a obra de arte na sua página do Instagram com o título “Game Changer”, referindo-se ao facto de o menino da pintura ter abandonado os super-heróis tradicionais (como Batman e Homem-Aranha) em troca de um novo herói-enfermeiro, prestando assim homenagem aos profissionais de saúde que estão na linha da frente da luta contra a pandemia de Covid-19.

A pintura encontra-se no Hospital Geral de Southampton, na costa sul da Inglaterra, e aí permanecerá em exibição até ao Outono, altura em que será leiloada para arrecadar dinheiro para o NH.


Mário Rui
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Por aí





Mário Rui
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Médicos russos caíram de janelas abaixo


CORONAVÍRUS

Médicos russos críticos da resposta à pandemia caíram de janelas abaixo (LER AQUI)

Na Rússia, as janelas são muito traiçoeiras. Desde que lhes é conhecida a configuração, apanhar ar debruçados é coisa assaz perigosa para médicos e outros que tais. Se não se apoiam bem, com as devidas cautelas, logo uma medida de ‘put in”, disfarçada em casca de laranja, de melancia ou de banana, convida os críticos … a dar com a prosa na calçada. E aí ficam bem colocados. E quer seja por via da atmosfera, da estratosfera ou de outras feras, cai-se mesmo. Espiolhando a razão por que isto acontece, só encontro uma explicação; o chefe não quer que tanta gente ande no ar. Não é paradoxo, é assim mesmo, e é uma excelente maneira de algumas ‘democracias’ estarem sempre em normalidade constitucional. De resto, é por essa razão que mantenho aquele lema contemporâneo, embora já muito viciado, que 'democracia' e água benta, cada qual toma a que quer, ou a que melhor lhe sirva.



Mário Rui
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Jornal o Concelho de Estarreja - edição Maio 2020




Mário Rui
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Por aí






Mário Rui
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E vem aí a praia, que vai certamente ser hora de outras irresponsabilidades


Se um dia destes ainda houver risco e gravame maior do que aquele a que assistimos ontem, e isto porque certas naturezas têm necessidade psicológica de arranhar a paciência dos sensatos, eu proponho então que se comece a fazer a encomenda das lápides que assinalarão o acto heróico dessas faúlhas de substância rebelde que se acham no púlpito, exigindo de cátedra, negando a ciência, preferindo a tribuna e violando a lei, através dos títulos rotos dos seus direitos(?).

E vem aí a praia, que vai certamente ser hora de outras irresponsabilidades, hora de outras imprecações veraneantes, também de outros anátemas, outras interpelações súbitas e até a cólera dos fora-da-lei vai golfar.

Pelas amostras tidas, é isto mesmo que vai acontecer se nada se fizer que obste a essas vicissitudes cruéis.

E se não me quiserdes aceitar como adivinho fiel desses futuros dias, com os quais me desconsolo, aceitem pelo menos o conselho: trave-se a onda que nos pode levar ao abismo.

Olhem que posso não ser grande na inteligência, mas acho-me grande entre os experimentados a ver a fraqueza de cabeça de muita gente.

Na praia, há muita areia. E cabendo a vez a muitos de nela enfiar a cabeça, fica a sugestão quanto ao buraco onde a meter.

E não há querer, ou não querer. Se executada a medida, mais não fará senão arrefecê-la e esvaziá-la de ruinosas imoderações.




Mário Rui
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Por aí






Mário Rui
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O puto do capacete amarelo - Ayrton Senna da Silva


26 anos depois, o puto do capacete amarelo permanece vivo.

A 1 de Maio de 1994, a Fórmula 1 mudou para sempre com o desaparecimento de um dos seus mitos: Ayrton Senna.



Mário Rui
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sexta-feira, 1 de maio de 2020

O ‘nosso’ mar da Torreira


O ‘nosso’ mar, é assim. Umas vezes dá à praia coisas admiráveis, fantasias toscas e impolidas, mas de traço forte. Se foi ele a moldá-la, ou se alguém a lançou borda fora, desconheço. Sei que ofereceu à costa a peça, como querendo dizer que a arte que sai da onda leva consigo uma espécie de formosura. E lá ficou a formosura quietinha no areal por não sei quanto tempo. Um dia, um belo dia, foi a mão amicíssima de um familiar a trazê-la para casa. Por cá ficou, por cá se mantém, o que prova que assim que o ‘nosso’ mar veio ao mundo, só em se mostrar, disse o que havia de ser. Bate certo, a cantiga; “O mar enrola na areia, Ninguém sabe o que ele diz, Bate na areia e desmaia, Porque se sente feliz”. E o resto do ’nosso’ mar, é coisa que contém riqueza imensa para quem se souber servir dela.



Mário Rui
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Desconfinadamente


Governo anuncia medidas de desconfinamento e eu penso desconfiadamente. E porquê? Porque espero que a população aja prudentemente. Se infelizmente assim não acontecer, estamos todos perdidamente lixados. E não será por causa dos advérbios de modo. Será mesmo por atitudes inconscientemente tomadas. Fiquem bem, duradoiramente.



Mário Rui
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Ainda bem!


Foram à reunião à mesma hora, na mesma cidade, no mesmo prédio, o mesmo interlocutor e todos de gravata. Ainda bem!

Tão iguais, tão parecidos, tão semelhantes, tão estruturalmente dedicados, que apenas o sistema capilar torna fácil distinguir o Filipe do Nuno e o Varandas do Pedro. Se for ao contrário, vair dar ao mesmo. Ainda bem!

E não tiveram que provar as suas identidades pois se tivessem de o fazer, todos tinham de se descompor! Ainda bem!

E nenhum disse; - a sua presença nesta casa é desnecessária, para não dizer inoportuna, inconveniente e censurável. Ainda bem!

O resultado? Um empate, com prolongamento e tudo. Ainda bem!

Simplesmente fantástico. Com toda a certeza não houve tamanho regozijo quando D.João I arrumou com os espanhóis em Aljubarrota. Ainda bem!

Enxugo a fronte às costas da mão e saúdo-os pela união. E digo-lhes adeus com a mão, com a mão aberta. Ainda bem!

Vê-los juntos e aprumadinhos, foi um consolo. Ainda bem!

Só não desejo é outra pandemia como razão única capaz de os voltar a juntar. A de hoje, é-nos muito cara. Ainda mal!

Bem que já podiam ter feito destes ajuntamentos cordatos a razão de ser do nosso futebol.

Mas como o Verão, que é o futuro do verbo ver, está à porta, logo veremos, que é para eu voltar a dizer; AINDA BEM!



Mário Rui
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Do neolítico até à informática, e veio um pingo e mudou o mundo


Questão sobre a qual muita gente se debruçará hoje, será a de saber o que virá de quotidiano logo que se vá em definitivo o vírus. Se calhar não tanto pensando em hipotéticas novas realidades, essas são mais do que certas, mas antes no modo como vamos conviver com elas. Claro que não sendo conhecida a composição de dias futuros, fácil também não será encontrar hoje roupa que lhe sirva e assim sacie o nosso roupeiro de dúvidas. No entanto, há já uma certeza e essa parece-me inquestionável. Não tendo ainda começado a segunda parte do confronto entre o que já fomos e o que vamos ser, bem podemos estar cientes de que haverá uma enorme diferença entre aquilo que já vivemos e aquilo que é pensado sobre aquilo que falta viver. É pena é que tenha sido a irrupção inesperada de um acontecimento de peso, a determinar uma nova hierarquia de compromissos, de posturas sociais, de trilhos individuais, de actividades humanas, de valores e de crenças. Há quem defenda a pós-pandemia como podendo ser uma lufada de ar fresco que melhore estas condições já de si muito ocas de recheio. Mas também há quem entenda que a profundidade das coisas acontecidas, não trará grandes conversões à vida de cada um. O problema, quanto a mim, é que esta emergência actual e o cenário mundial que lhe sucederá, já não podem ser pensados e decididos a partir dos nossos velhos instrumentos analíticos preferidos. De resto, a prova disso mesmo é que não fomos capazes de manter o mundo nos carris quando confrontados com o minúsculo parasita que o pôs fora dos eixos. Agora, o que eu acho importante é que tomemos a nosso cargo o que está a acontecer, e sobretudo aquilo que será o futuro, sob pena de ver mais um sonho de vida transformar-se em pesadelo.




Mário Rui
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Torreira 2020





Mário Rui
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Chernobyl - 26 de Abril de 1986


Trinta e quatro anos depois da explosão de um dos seus reactores, em 26 de Abril de 1986, uma zona de exclusão ainda vigora em redor da instalação nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - ao tempo uma das repúblicas da antiga União Soviética.
Poucas coisas provocam mais fascínio do que os lugares que foram construídos para as pessoas, mas onde não há pessoas.
Edifícios abandonados, estruturas enferrujadas e ruas que antes eram lotadas hoje reconquistadas pela vegetação, são um poderoso símbolo da passagem do tempo,da nossa futilidade como espécie e também uma imagem impactante do que poderia ser um mundo no qual o ser humano não mais existiria.



Mário Rui
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Dos muitos “ólogos” do meu país vendedores de fumos e lumes correlativos


É só ver qual deles chega primeiro.

E entretanto chegaram os ideólogos e com eles veio aquele fragor de um choque de ambições e interesses pessoais. Não se fizeram rogados os tudólogos. O seu poder de acção e contágio tornaram-se formidáveis, avassaladores. Vibraram poderosas as suas vozes, magneticamente mesmo. Iguais à voz que saiu da boca dos Apóstolos. Os optimólogos, como a claridade de uma aurora nova, levaram-nos a um raiar afinal igual ao anterior. Às vezes, é bom comparar. Os colapsólogos disseram-nos que vinha o caos. Até o próprio ar que se respirava ia mudar. Já do Céu, juravam, ia ver-se perdido. Chamaram então o ferreiro, julgando-o meio astrólogo, e encomendaram-lhe um corisco novinho em folha. Mudava-se o firmamento, havia novo farol e a navegação passava a guiar-se de noite e de dia da janela deste, que afinal era tecnólogo. Pediu-se depois um fisiólogo, acabadinho de publicar um estudo muito interessante sobre as funções sociais dos treatólogos de hoje. Leram-no os sociólogos e disseram que andavam por aí demasiadas cenas de carregar pela boca. Concordou o filólogo ao alvitrar que a língua da obra era coisa de andar por casa. Ripostou o grafólogo, irritado, quando garantiu que também servia para andar na rua, mas para isso era preciso levá-la. Mas má-língua na rua, como afiançou o ecólogo que na língua papas não tinha, era coisa para fazer só meio-ambiente. Foi quando entrou o geólogo. Para mim, disse ele, já descemos tanto na análise que o melhor é levá-la ao teólogo. E a análise lá foi mas saíu como entrou. Não era aquele o esperantólogo que lhe convinha. Para análise certeira, alguém sugeriu, é chamar o futurólogo. E chegou o dito e disse; - tenho noventa e cinco anos, mas ainda estou em excelente estado de conservação. Para adivinhar é que não. Peçam antes ao pensólogo, ao seu homólogo, ao opinólogo ou mesmo ao sabinólogo. Esses é que entendem da poda. De repente, sai sem se saber donde um acertólogo que logo resolve a dificuldade e assevera; - tenho a solução! Convidem um anatólogo que eu cá sei e é trigo limpo, farinha Amparo. Impávidos ficaram todos os outros “ólogos” e pediram-lhe melhor explicação. É fácil - disse ele. É um anatólogo tão brilhante, professor na Faculdade dos Mentólogos, que colecciona abortos, alguns dos quais são já hoje seus colegas de cátedra. E tudo ficou esclarecido. E mais! Todos os “ólogos” do país ficaram ainda mais sabichólogos. Finalmente a República podia dormir. Reinava o sossego, e com sapiência. Boa noite.



Mário Rui
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25 de Abril





Mário Rui
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Salreu-Estarreja





Mário Rui
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As Time Goes By (A kiss is just a kiss)





Mário Rui
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