quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Convém relembrar

A Islândia conseguiu acabar com um governo corrupto e parasita. Prendeu os responsáveis pela crise financeira, mandando-os para a prisão. Começou a redigir uma nova Constituição feita por eles e para eles. E hoje, graças à mobilização, será o país mais próspero de um ocidente submetido a uma tenaz crise de dívida. É a cidadania islandesa, cuja revolta em 2008 foi silenciada na Europa por receio de que muitos tomassem nota. Mas conseguiram, graças à força de toda uma nação e o que começou como sendo crise converteu-se em oportunidade. Uma oportunidade que os movimentos altermundialistas observaram com atenção e colocaram como modelo realista a seguir. Consideramos que a história da Islândia é uma das melhores noticias dos tempos actuais. Sobretudo depois de se saber que segundo as previsões da Comissão Europeia, este país do norte atlântico, fechará 2011 com um crescimento de 2,1% e que em 2012, este crescimento será de 1,5%, uma cifra que supera o triplo dos países da zona euro. A tendência para o crescimento aumentará, inclusivé em 2013, prevendo-se que alcance 2,7%. Os analistas alvitram que a economia islandesa continua a mostrar sintomas de desequilíbrio. E que a incerteza continua presente nos mercados. Porém, voltou a gerar emprego e a dívida pública foi diminuindo de forma palpável. Este pequeno país do periférico ártico recusou resgatar os bancos. Deixou-os cair e aplicou a justiça sobre aqueles que tinham provocado certos descalabros e desmandos financeiros. Os matizes da história islandesa dos últimos anos são múltiplos. Apesar de transcender parte dos resultados que todo o movimento social conseguiu, foi pouco falado o esforço que este povo realizou. Do limite que alcançaram com a crise e das múltiplas batalhas que ainda estão por resolver.Porém, o que é digno de nota é a história que fala de um povo capaz de começar a escrever o seu próprio futuro, sem ficar a mercê do que se decida em despachos distantes da realidade dos cidadãos. Apesar de continuarem a existir buracos por preencher, escuros e por iluminar. A revolta islandesa não causou outras vítimas para além dos políticos e homens de finanças. Não derramou nenhuma gota de sangue. Nem foi tão apelativa como a tão famosa "Primavera Árabe". Nem sequer teve rasto mediático, porque os media passaram por cima em pézinhos de lã. Mesmo assim, conseguiram os seus objectivos de forma limpa e exemplar. Hoje, o seu caso bem pode ser o caminho ilustrativo dos indignados espanhóis, dos movimentos Occupy Wall Street e daqueles que exigirem justiça social e económica em todo o mundo.

Começo a ter vergonha da minha nacionalidade. Nem vos conto do descalabro que por aí continua a grassar. Gostaria apenas de vos lembrar dos chorudos vencimentos de alguma gente, tida como exemplo para alguns, que sendo administradores não executivos - ou seja sem funções de gestão - vencem por cada reunião do conselho de administração 7427 euros. E esta era a média de "salário" obtido por esta gente em 2009. Não estou a brincar, não. Espero que me concedam algum crédito quanto ao que digo e afirmo. As fontes são fidedignas e os nomes são bem conhecidos de todos nós. Esses são alguns dos indivíduos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de sacrifícios e de redução de salários.

Quando soubermos um dia que somos alguém, que a opinião que temos acerca de nós próprios é correcta, e que os nossos campos e fábricas foram feitos para servir a vida, e não a vergonha e a morte, então poderemos responder, nós mesmos, às questões que todos os dias nos apoquentam. E para isso não precisaremos da acção dos nossos políticos ou embaixadores. Em vez de continuarmos a berrar «Viva!» e a cobrir de flores o túmulo do soldado desconhecido, ou a consentir que qualquer príncipe à pressa venha esmagar com o seu peso a nossa consciência nacional, deveremos opor-lhe a nossa auto-estima e a consciência do valor do nosso trabalho.

Quase me apetece lembrar aquele astronauta americano, Edgar Mit­chell, que numa missão da Apollo 14, disse um dia, em órbitra; (…) de­sen­volves de ime­diato uma cons­ci­ência global, uma ori­en­tação di­ri­gida ao povo, uma in­tensa in­sa­tis­fação pelo es­tado do mundo e uma com­pulsão para fazer qual­quer coisa. Vista da lua a po­lí­tica in­ter­na­ci­onal pa­rece tão pe­quena. Ape­tece agarrar um po­lí­tico pelo pes­coço, ar­rastá-lo um quarto de mi­lhão de qui­ló­me­tros para aqui e dizer-lhe:«Olha para aquilo, filho da puta».

Estou do lado de tudo o que escrevi. Eu que até nem sou de esquerda nem de direita, Só quero ser vertical.

Mário Rui








Time Person of the Year 2011




Observou-se mal a vida se não se tiver visto também a mão que, de uma maneira especialmente delicada - mata.

«From the Arab spring to Athens, from occupy Wall Street to Moscow»


Mário Rui