segunda-feira, 13 de maio de 2013

Do lado de cá de mim





Do lado de cá de mim

Aos vinte nunca me lembrei que fazia anos. Não havia necessidade de toldar os doces sonhos que me ocupavam. Via luzes de todas as cores, dias que passavam tão velozes que só o aproximar das inefáveis subtilezas que nos enchem o nosso ‘eu’ me acalentavam a ideia de que o seguinte seria ainda melhor. Aos trinta já duvidei se não seria a noite a melhor companheira. Era fugidia e descobri-lhe outro encanto. O de passar despercebido entendendo outros sons, outras vivências, outras jornas, afinal, bom, mas não mais que outro click. Aventurei-me porque quis. Aos quarenta comecei a repudiar tudo o que me queria reeinvindicar já que não era objecto dado em penhor a ninguém. Foi o momento em que percebi que era melhor compreender a razão dos outros e isso ajudou-me à descoberta de mim mesmo. Já era outro “eu” e começava a ter pena do desfalecimento de muita gente próxima. Quando chegaram os cinquenta vislumbrei uma recta mais curta e então fiz o possível por analisar o que é a duração de uma vida de homem. Ainda não tenho conclusões mas uma coisa já apreendi. É curta! Demasiado curta. É por isso que outra coisa me ficou dos cinquenta. É que a felicidade habita no coração dos que conseguem deixar legado. Companheira, filhos, amigos, ramos, folhas, frutos. O amor não se pensa. É! Eu sei que há gente que já não nos quer quotidianos, com os nossos silêncios, os nossos desafios, as nossas certezas e incertezas mas, mesmo assim, se nos trocámos pelos objectos da nossa própria criação, não há razão para lá não permanecermos. Não quero falar em reconstrução porque a casa não está vazia e muito menos é poeira ou núvem que tudo envolva. Pode estar em desordem mas não nos tirem a desarrumação. Faz-nos imensa falta! Perto dos sessenta, toda a gente precisa de viver com a simplicidade das coisas que são. Estou a tentar observar da razão porque vos escrevo. Não, não é por ser aniversário. É só para dizer aos que porventura me esfarraparam, às amigas e amigos que apaixonada e consentidamente me degradaram, que me refrescaram a boca, aos que me ajudaram a seguir em frente, a todos, mas mesmo a todos, só devo uma palavra amiga. A quem me lembra o modo como os anos passam, fica também um abraço fraterno posto que, afinal, uma ‘pequenina grande’ parte dos segredos de todos vós, faz também parte dos meus segredos. Podem sentar-se todos ao sol e sem pensamento reservado! Irra, felizmente só temos pessoas amigas. Fiquem bem.

Mário Rui