sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A ver vamos



«Não o devemos ocultar! Fala-se, nem letra de mais, nem letra de menos, numa r-e-v-o-l-u-ç-ã-o ! Mas qual?»

Eça de Queirós - Agosto 1871

A ver vamos
Acaba hoje mais uma cruzada eleitoral. Não me pareceu ter dado um salto qualitativo se comparada com outras antes levadas a efeito. Não vi propostas ou apostas muito diferentes das que esperava, ou seja inovadoras quanto ao conteúdo, pelo que me limito a atribuir-lhe nota de sofrível. Quanto à forma, destacaria apenas o recurso às chamadas redes sociais, novo meio para fazer passar a mensagem e, mesmo assim, julgo não terem sido aproveitadas a contento dos interessados. Em suma, diria que se manteve a tentação de recorrer à bola de cristal para visualizar o futuro e o passado, em busca de rupturas entre velhos fins e novos começos. A oralidade dominante, a exemplo do acontecido em anteriores actos eleitorais, encarregou-se de dar destaque a esse rompimento com ‘velhos fins’, coisa de resto fácil quando apenas proferida, tendo enchido a boca com “os novos começos”. Estes últimos, não deixando nesta altura de serem igualmente, e apenas, despachos de pronúncia, são a meu ver o verdadeiro compromisso que, em tese, os diversos candidatos assumiram com os seus representados. Digo em tese já que tratando-se à partida de uma tarefa singela mas difícil, não deixa por isso de se tornar parte do vocabulário social e político contemporâneo a que fomos habituados desde que há eleições livres em Portugal. Procurando achar afinidade entre tal vocabulário e obra concreta, da boa, quedo-me pelo pouco que foi oferecido ao país. Já ia sendo tempo de o engrandecer tantos têm sido os candidatos à mudança. Na verdade, porém, convenhamos que estamos a tratar de conceitos complicados, às vezes honestos e às vezes muito suspeitos, a propósito dos quais já se verteu muito suor e nem sempre com resultados satisfatórios para a maioria. Também, e especialmente em redor desses conceitos que nada de bom produziram, foram feitas e desfeitas inúmeras carreiras. Pena é que as construídas à volta de tais concepções tenham sido em maior número que as destruídas. O corolário disto não foi nada animador. Está à vista de todos. Bom, mas falávamos do fecho da campanha eleitoral e gostaria então de deixar uma última nota. Com a recente reorganização administrativa do poder local e do território, mais de mil freguesias desapareceram do mapa tal como existiam. Foram agregadas. Não me interessa discutir sobre as medidas específicas tomadas a este respeito, interessa-me sim dizer que não foi feita qualquer reforma administrativa digna desse nome. Foi feito um ‘arranjo’ desastrado e não mais que isso. Mas neste particular também importa referir que a qualidade da maioria dos candidatos a este órgão é de facto de confranger. Pelas suas inaptidões, insuficiências e especialmente parcas vocações políticas. No todo nacional e partidariamente transversal, sendo poucas as honrosas excepções. Não há que ter medo das palavras! Será que os partidos não conseguem reverter esta ‘melancolia’ eleitoralista? É que aridez assim exposta, também pode concorrer não para a eleição mas para a extinção da Junta. Eu sei lá se não é por este motivo que ao invés de se pretender fazer uma reforma deste órgão municipal não se quer antes mandá-lo para a reforma! Cuidado!
Votem bem.

Mário Rui