sexta-feira, 18 de julho de 2014

A Teoria dos Sentimentos Morais

 

Chama-se Dennis Hope, é americano, não podia ser de outro lado, e diz ser o verdadeiro dono da Lua. Afirma ter em sua posse documentos oficiais das autoridades dos EUA que atestam da propriedade a que se arroga o direito de lotear pedaços e, vai daí, como zeloso senhorio do sítio, o seu negócio é vender terrenos lunares. Mais espantoso ainda é haver gente que lhe vai adquirindo parcelas do nosso satélite, transacções que já lhe terão rendido qualquer coisa como 4 milhões de dólares, o correspondente a cerca de 611 milhões de hectares de solo que, presumo eu, deva ser propriedade urbana. Há tratados que proíbem expressamente que qualquer Estado reclame a soberania da Lua, particularmente o Tratado do Espaço Exterior, aprovado pela ONU e ractificado por mais de uma centena de países. Ora, como tal convenção nada refere a propósito de um qualquer lunático que em nome individual se queira apropriar do solo galáctico, o senhor Dennis tomou-se de agente imobiliário e vamos lá ao comércio. No fundo, esta excêntrica e incomum história acaba por se revelar, apesar de tudo, mais sincera do que o que se poderia esperar. O homem não estará a mentir relativamente à oferta de venda do chão do satélite natural da Terra, afinal para ele e respectivos compradores, quem sabe, um pouco as suas segundas casas no espaço. Se a coisa é conforme à lei da Terra ou não, isso é outra discussão que para aqui não interessa trazer. O bem em apreço é este e só compra quem quer, sabendo de antemão ao que vai. Assim, trago esta história a terreiro tão-só para que possamos avaliar do modo como a mente humana parece não ter fronteira que a trave na sua avidez por magnanimidades, agora até as do Sistema Solar. Ao que sei, em Portugal ainda não apareceu interessado que queira resgatar um naco desse solo lunar, o que não significa ausência de visionários parecidos com o nosso amigo americano. Se esta constatação vos parece irreal, então reparem no ‘modus operandi’ de tais lusos utopistas. Muito mais astutos que o senhor Dennis, encarregaram-se os ditos de, antes de tudo, publicarem a obra intitulada “A Teoria dos Sentimentos Morais”. E o que diz este tratado? Pois bem, para além de outras brilhantes partes deste ambicioso e muito cívico projecto, se calhar até literário, pode-se também atentar em capítulos que versam o desenvolvimento da profunda amizade e intimidade que os autores da Teoria dedicam aos seus compatriotas. Desde os princípios da boa economia financeira até à política económica, está lá tudo. Tendo a obra começado por dissecar filosoficamente estes assuntos, acabou em volume escrito prático onde se ensina, pela mão de figuras prestigiadíssimas dos círculos da finança, como abrir as portas da corte e dos salões. Deve ser notado, também, um outro lado da Teoria onde se fala da remuneração do capital, do princípio do bom juro, juro dos autores que não de outros, associados às acertadas decisões de investimento para, depois, ir parar ao verdadeiro sumo da publicação, ou seja, à produtividade do capital próprio. Em suma é livro que contém uma síntese abrangente da evolução económica/financeira operada ao longo de muitos anos em Portugal. No contexto da obra tudo o que se pode dizer é que se trata da narração empírico-histórico da teoria do crescimento de uma Nação. Não fui capaz de levar até ao fim a leitura de tão grande tratado da arte de bem cavalgar todo o tolo português mas, julgo, por ter posto os olhos a páginas tantas, ter visto uma farta secção dedicada ainda à racionalidade da engorda financeira de alguns banqueiros, imaginem, via superestrutura do arreigado sistema mandante cá de dentro que deu ser a muitos dos ilustres responsáveis pela actual fascinante obra que nos ilumina o futuro. E qual é então a similitude entre o dono da Lua e os quiméricos criadores do estado a que o Estado chegou? É simples: são ambos gente de vistas largas, mas se o primeiro se limita eventualmente a enganar os ricos, aritmética de fácil resolução, já os segundos declaram danos aos desarmados e guerra assim feita é não só mal feita, mas também miseravelmente feita! Representa uma grande doença moral! São estas baças intrigas da banca que ajudam sobremaneira à aflição da razão e da compreensão a juntar à justiça e à verdade que parecem não se ofenderem com tais afrontas a um pobre canto de terra, a que ainda se chama Portugal!
 
Mário Rui
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