quinta-feira, 28 de julho de 2011

Dos ricos e dos pobres



De repente deu-me para falar a propósito dos ricos. Ou pelo menos para me lembrar que de facto existem, e em grande número. Claro que não me ocupo na elaboração de listas que os mencionem mas, de quando em vez, sou confrontado, através dos média, com o cardápio onde se inscrevem os seus nomes.

Antes mesmo de prosseguir, devo dizer que nada me move contra os ditos cujos, conquanto o seu dinheiro tenha sido obtido através do súor do seu trabalho e o façam distribuir de modo igualitário e justo em relação a quem os ajudou a enriquecer. Os outros, de quem raramente ouvimos falar.

Só que, como não sou poeta, logo pouco sonhador, não resisto à malvada tentação de achar que muito deste riquismo provém de negócios muito escuros, eu diria mesmo pouco saudáveis para mentes impolutas. Mas enfim, assim vai o mundo em que vivemos.

E é curioso porque tanto quanto consigo perceber, a cada ano que passa, a riqueza desta gente, como que por artes mágicas, vai engrossando na justa medida em que os pobres vão ficando mais pobres.

Continuam a nascer crianças em todo o mundo condenadas à morte precoce, por falta de alimentos, de cuidados médicos. E a Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia, Uganda e Djibuti, a Zâmbia, o Malawi, Zimbabwe, Lesotho e a Swazilândia, desapareceram do mapa? E continuam ainda a morrer milhões de africanos, à fome, à sede, vítimas das secas, das inundações, das guerras, dos conflitos políticos, religiosos e da ganância de alguns.


Eram quase mil milhões de pessoas sem alimentos ou subnutridas. Já não se ouve falar disto? Ou já acabaram por morrer todos e não demos por isso? È que dos ricos todos os dias temos novidades. Que mundo injusto o nosso!
Dos ricos há também alguns que adoram o povo pobre e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo pelo qual parecem sacrificar-se. Só tal atitude pode justificar o sacrifício, a morte lenta de milhões de pessoas que mais não pedem senão água e pão. Tão pouco.


A isto também se chama opressão. E com toda a certeza que nós, os menos ricos e não tão pobres como os outros, também somos culpados quanto às tragédias humanas que por aí vagueiam quais abutres esperando o momento de dilacerar a carne de quem já não tem força tão-só p´ra balbuciar por ajuda.


É que o nosso compromisso também pode tornar-se necessário para que a vida se mantenha. Se não nos for possível ajudar de outro modo, pelo menos saibamos criticar a atitude egoísta, cruel e desumana como os ricos, enquanto indivíduos ou nações, se arrogam o direito de ajudar (pouco) quem precisa, mas com a mente sempre posta no que de proveitoso daí possa resultar em seu próprio benefício.


Deixemos pois uma centelha onde até aí apenas a treva se cerra e, já agora, ajudemos os que se arrojam – também os há – a combater todas as formas de infortúnio pessoal, quer seja a fome ou mesmo a pobreza de espírito. Esses resistentes da vida é que merecem toda a nossa consideração, quer seja pela dádiva a quem dela carece, quer seja pelo cansaço que um dia-a-dia desta nobre natureza sempre provoca. Pena é que, mesmo no século XXI, a história continue a ser escrita pelos vencedores e raramente pelos vencidos da vida.

Apetece-me falar novamente dos ricos só para perguntar se ainda existem pobres?
Mário Rui
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