domingo, 2 de janeiro de 2011

Portugal tão longe estás...



Volvidos 37 anos após essa renovada esperança de uma vida melhor para o meu País, eis-nos chegados a 2011. Trinta e sete anos de caminho duro, muito duro, traçado por alguns e aceite por outros tantos. Os primeiros, quais comandantes de um pelotão que há muito se decidiu pela debandada, não governaram. Governaram-se. Contaram histórias a um povo que, pela sua incultura e impreparação cívica (lá vem outra vez o maldito Salazar como é óbvio, mais a geração de sessenta, que alguns teimam em culpar por terem construído o mundo idílico em que vivemos, mais o capitalismo selvagem, mais as guerras, mais o obscurantismo parido, sabe-se lá se tão só pela ditadura se pela democracia dos interesses instalados após Abril) nunca se conseguiu encontrar, nunca entendeu ou não quis entender porque razão chegámos ao estado lamacento em que nos encontramos. Claro que este povo também é culpado. Mas à cabeça deste País mil vezes adiado, está seguramente uma cáfila de pseudo dirigentes que mais não fez senão soterrar as legitimas ambições de Portugal. Gente que, como diz um amigo meu, nunca pôs uma colher de cimento em cima dum tijolo. Gente sem carácter nem princípios. E não me digam que o País evoluiu, apetece-me dizer, com esta escumalha. Não me falem dos sucessos conseguidos nesta ou naquela área e no mais que quiserem. É mentira! Nada temos a agradecer-vos! Se algo se modernizou, o que eu acho altamente improvável, isso só resultou da obrigatoriedade que esta classe dirigente tinha em copiar, ao menos isso, o que de melhor era feito lá fora. Não nos presentearam com felicidade, muito menos com bem-estar social, antes pintaram gerações de jovens e de menos jovens com cores que pareciam as de um País rumo ao sucesso. Enganaram-nos! Não só Portugal não conseguiu apanhar os da frente como, pior, pariu hordas de incompetentes, de novos-ricos sem inteligência, mas ricos, de gente que acha que tem história e sabedoria mas que não sabe ler e, quanto a escrever, também estamos conversados. Estes políticos descobertos com Abril não souberam, porque ninguém pode ensinar aquilo que não sabe, dizer aos portugueses que nenhum vencedor acredita no acaso. Fizeram crer aos incautos que o conhecimento não é fonte de esperança, que a profícua vida comunitária não traz sabedoria , que a tranquilidade social duma Nação, não são valores de todos. Destinam-se a alguns. Eis a lição desta gente. É o tipo de tese que, quando sentida, e escutei-a vezes sem conta, me faz comichão no ouvido. Bem sei que nós e os outros que estão piores que nós, os mais avisados entenda-se, por vezes fervemos com tudo isto. Endurecemos, como é o caso presente, arrefecemos de novo na ideia de que o ritmo de Portugal não é divino nem encontra Messias que o salve. Até sabemos, imaginem, que o tempo que vivemos é ímpio, imoral, desumano, mas agora já não é amargura o que sentimos mas antes revolta. E não nos iludam com eleições. O regime que vos encobre e que tão caro vos é - veja-se a vossa ânsia pela justa participação popular - convém-vos afinal, é o regime que afiança a vossa segurança e que vos é mais útil e importante que a verdade. Mas olhem que a nossa liberdade não se esgota no voto! Políticos incompetentes do meu País, percebam de uma vez por todas, e já agora façam constar, que esta matriz eleitoral é muito parecida com a de 1932 - também houve eleições livres e para parir um monstro. E o curioso é que o povo que deu à luz génios como Schumann, Beethoven, Bach, foi o mesmo que pariu essa criatura. Povo, povo, homem comum, vê se começas a entender a patológica degenerescência do animal político. Só tu podes libertar-te.
Mário Rui