terça-feira, 3 de junho de 2014

E finalmente faz-se luz



















Ninguém me pediu opinião e tão-pouco me apetece expressá-la a propósito da abdicação de Juan Carlos Alfonso Víctor Maria de Bourbon e Bourbon-Duas Sicílias, o Rei de Espanha, simplesmente, ou não. No entanto, como assisto a uma frenética e muito vantajosa discussão para a resolução da crise portuguesa entre os mais elevados espíritos lusitanos críticos e acríticos do tudo e do nada, e em especial os chamados de esquerda, os de direita já não discutem, apostam em Filipe, sempre devo citar Charles de Montesquieu; “O luxo arruína repúblicas. A pobreza arruína monarquias”. De todo o modo, julgo que a tinta usada por estes fazedores de opinião para a intelectual análise ágil e reflectida sobre o assunto, teria sido mais útil, já que o caos, por cá, acabou, se utilizada para nos caligrafarem a explicação da maneira como o cavalo deverá no futuro montar o homem. O contrário já basta! É outro problema que nos acossa e para o qual procuramos solução! Um destes dias falaremos de novo.
 
Mário Rui
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É certo, a forma eterna não existe, mas também só vejo personagens hostis às letras pátrias




















 
 
 
 
É certo, a forma eterna não existe, mas também só vejo personagens hostis às letras pátrias

Eu até acredito que as palavras, tal e qual as coisas vivas, estão sujeitas a degradações orgânicas e portanto precisam de renovação em tempo certo. Contra isso, nada. De resto, sendo a língua portuguesa, como qualquer outra, o instrumento de expressão entre as pessoas de um dado sítio, convém dar-lhe rejuvenescimento que evite a sua própria velhice e consequentemente perda de valor circulante. Aceito e aplaudo pois que se substituam algumas das palavras/expressões do nosso vocabulário mas só e desde que não se mutile a sua própria anatomia e muito menos com sacrifício da alma e do entendimento geral. A introdução desse denominado acordo ortográfico que alguns pensadores do pouco resolveram dar à estampa, ainda recentemente, conjunto afinal infernal de intrincados termos que me levam a sentir-me órfão do português literário que aprendi ao longo da vida, em mais não deram senão em nova ortografia que não é língua em que se escrevam os futuros livros da escola. Quando um facto, coisa realizada, acontecimento, já só é um “fato”, então o que será um terno para o esforçado alfaiate que o cose? Ou coze? Já nem sei! E o que dizer do pêlo do nariz que agora já é “pelo” mesmo acima? Ah, e bem pode o leitor sentar-se para assistir a uma qualquer encenação pois deixou de ser o espectador e agora é mais um “espetador”. Daqueles que espeta? Talvez! É lamentável que não se respeite a raiz da nossa amada língua e, ao invés, se coloque a mesma à tracção do incompreensível mercantilismo das palavras. Há certas coisas na vida que jamais deveriam estar sujeitas a negócios pois que a recorrência às línguas paralelas deixam em nós um cheiro a trama, enredo mal explicado. Um novo mundo de gestão da língua, dizem os defensores do AO. A estes, a primeira coisa que lhes falta é talento, e depois do talento falta-lhes quase tudo o mais. Se as palavras, as nossas, tivessem sido feitas para produzirem efeitos orquestrais, já o país seria uma grande filarmónica e quem sabe se não estaríamos melhor servidos só com música. Mas não, as palavras servem para exprimir ideias e talvez seja esse o problema dos pensadores do AO; só estão à vontade com composições muito complicadas. Julgo ser finalmente um modo de tornar a língua portuguesa como artifício distraidor das faculdades que lhes faltam, sobretudo as de não conseguirem perceber as incompatibilidades do problema. Começo a estar farto destes escultores de si próprios.

 

Mário Rui
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