domingo, 26 de outubro de 2014

Stress Positivo



Falar em campanhas que incrementem valor social à comunidade em que vivemos, eu percebo. São batalhas que valem bem um esforço e raramente causam stress. Agora se me falam em testes de stress à banca nacional, aí já a coisa deixa de ser entendível e passa a traduzir-se, segundo a minha mal dotada cobrança para tais assuntos, em resultado obtido após mais um mero “desastre sanitário” decorrente de exame feito a alguma dessa mesma banca. Li algures que o BCP terá chumbado em teste de tal natureza recentemente efectuado, tendo em conta o balanço de final de 2013, no cenário adverso. A tradução deste código linguístico, ou se preferirem técnico, é-me indiferente, pois o que me parece necessário reter é a parte onde se fala de cenário adverso. Já não só o que respeita ao próprio banco, mas muito especialmente o stress que também ataca ferozmente algum jornalismo cá do burgo, enfileirado com outras doutas, esclarecidas e convincentes opiniões sossegadas e calmantes de espíritos alheios, que previram e insistem em encorajantes pressentimentos. Ora repare-se; “…no entanto, graças às medidas de reestruturação que tomou em 2014 o banco liderado por Nuno Amado deverá ficar dispensado de quaisquer medidas adicionais de reforço de capital” , “…BCP antecipa contas e não vai precisar de reforçar rácios de capital”, “…o Banco Espírito Santo está a salvo”, “… a declaração de solvência do Banco Português de Negócios é efectiva” , “… há certezas quanto ao bom estado de saúde do Banco Privado”. Tudo conjectura a acertar na muche. Parabéns, pois. É justamente deste stress que eu mais percebo e a quem voto a minha admiração sobretudo pela certeza de refrigério que incute aos preocupados. É o chamado stress positivo, e viva o momento em que o apostolado deste saber, deste dever e da adivinha, vire caduco!!!
 
Mário Rui
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O encanto do virtual



Tivessem estas imagens sido o passaporte para um futuro tão risonho quanto o que os seus mentores nos quiseram fazer crer e hoje estaríamos certamente num jeito de vida que em nada se assemelharia ao presente afinal existente, quão difícil de entender. À luz dos dias que correm, tratou-se simplesmente de propaganda feita com objectivos contrários à igualdade, aos bons hábitos, e mais não fizeram senão exercer uma infindável influência sobre a maneira de pensar e de sentir de milhões de pessoas. Foi propaganda que se encarregou de anunciar, enganosamente, os novos bens que iriam bater à porta dos desprevenidos e a que poucos ousaram resistir pois que a perigos assim expostos, os demais, acharam por bem calá-los evitando desse modo mais triste vida do que a levada até então. Hoje, a propaganda, embora diferente quanto à forma, e pese embora o encadeamento dos tempos que nos deram informação acrescida sobre as petulantes fórmulas outrora estabelecidas, não é muito diferente no que toca ao conteúdo. Bem se sabe que as modernas democracias já não têm espaço para acolher a autoridade musculada do grande chefe ou a do timoneiro, mas nem por isso a tendência para submeter o outro à norma propagandística deixou de ser usada. Não é por se terem mudado antigas crenças ou por se terem alterado costumes antigos que se conseguiu abrir caminho e mentes para todas as coisas novas e de boa natureza. Os recorrentes casos de malfeitorias infligidas a muitos países, sobretudo ao nosso, cobertas sob o manto de uma “respeitável” identidade individual ou de pequeno grupo, assentes em novo estilo de propaganda, deram e continuam a dar cobertura inimputável a tais actos e respectivos artífices beneficiários dos ricos proventos que dessas práticas resultam. O que talvez diferencie este tipo de propaganda de ontem relativamente à de hoje, e em especial os seus mentores, será a forma, como já referi. Se antes o desrespeito pela norma “pedagogicamente” propagandeada era punido severamente e em tempo de sofrimento curto, agora, os novos fazedores deste género de doutrina do convencimento, lançam mão de original estratagema; estão sempre prontos a condescender com a rebeldia dos que não estão convencidos, mas não sem que antes tenham a quase certeza de que a procura pelas suas “recomendações” venha a dar os resultados pretendidos. É tudo questão de modo como se estabelece o padrão que mais tarde oriente o gosto dos outros e isso basta para os ganhar para a causa. No mais das vezes, ou se calhar sempre, chegam as relações virtuais contidas e mal percebidas na mensagem propagandística, mas isso também não conta para nada posto que, melhor ou pior, muitos se rendem a essa pressão. Pode-se perder algo de um lado, mas depois ganha-se muito de outro! E assim sendo também pouco importa se entretanto se deixa um sem número de vítimas pelo caminho, como outros o tinham feito antigamente, com mais furor e sangue, é verdade, mas afinal não muito diferente de hoje já que, no presente mundo, a emergente propaganda virtual difundida não olha a ganhos mútuos, como de resto outrora acontecia. Tal como dantes, o entendimento de “relação” é a coisa mais traiçoeira que se possa imaginar e se em tempos idos se dava muito uso à guilhotina ou à prisão, agora nem é preciso contacto para eliminar fisicamente os desprevenidos, os descrentes e os insubmissos. Para acabar com eles basta fazer “delete”, coisa virtual mas igualmente eficaz, nessa máquina infernal com teclado ao alcance dos dedos de um qualquer fazedor desse género de doutrina do convencimento a que antes aludi. Pode-se-lhes prometer tudo, aos ditos; o sol, a praia, a boa vida, o apartamento, o empréstimo para as férias, o carro, a mais valia da cotação bolsista, o vício, o bom voto, o banco novo, o velho banco, uns bons « fait divers» , o gozai sem barreiras, a volúpia, a felicidade, o bom governo, o benefício da taxa social, a renascida solidariedade, o ensino tendencialmente gratuito, a PT que foi do Bava, uma nova empresa de saudáveis águas, outra que regule a vida da cidade, ou mesmo a maneira de atingir o orgasmo fácil. Mas atenção, se toda esta gente mostrar ingratidão futura para com tanta propaganda seguida desta farta oferta virtual, então depois façam como sempre têm feito; comecem por mutilá-la docemente e vão por aí fora até ao “delete”. Apagada que esteja do mundo dos que ainda sobrevivem, outra virá, e nessa altura só há que acender os novos néons da propaganda, ciclicamente virtual como convém, pois tais vendedores da banha da cobra já há muito devem ter percebido que por mais justas que sejam essas manifestações de ingratidão, elas não são, segura e infelizmente, testemunho do descrédito deles mesmos, dos tais vendedores.
 
 
Mário Rui
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