sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um dói-dói que é o futebol português

Caros leitores, temo que as palavras de Luís Filipe Vieira no desfecho do jogo com o FC Porto, na final da Taça da Liga, se venham a concretizar, pelos piores motivos. Para quem não se recorda, o presidente encarnado afirmou que um novo ciclo no futebol português começara com a vitória categórica, diga-se, diante do eterno rival. O presidente nem sequer foi muito específico, o que, aliás, até era desnecessário, porque para meio entendedor meia palavra basta. Mas como me apetece chamar a atenção para o problema que a seguir desenvolvo, receio que esse mesmo ciclo que mencionou seja o do início de uma época negra para o futebol português, fruto dos incidentes que se verificaram antes, durante e após o referido jogo: a esse ciclo eu chamo o início do hooliganismo em Portugal. Mas não se assuste já, por favor. Se é daquelas pessoas que gosta de ir ao estádio assistir, ao vivo e a cores, a um jogo de futebol, tem bom remédio para evitar levar com uma cadeira na cachola: não vá! Muito pedagógico, não é?
E para aquelas pessoas que vêem nas minhas palavras hipérboles exageradas (e nestas mesmo que acabo de escrever, um admirável pleonasmo), deixem-me explicar-lhes o conceito de Hooliganismo, na óptica de alguém que, em boa hora, decidiu aclarar este mesmo conceito numa espécie de enciclopédia online chamada Wikipédia (o que, aliás, dá menos trabalho do que consultar um dicionário com 500 páginas): Hooliganismo refere-se a um comportamento destrutivo e desregrado (…) associado a fãs do desporto, principalmente adeptos do futebol. Ora bem, se aquilo que se passou e continua a passar nos estádios portugueses não se insere num comportamento destrutivo e desregrado, eu vou ali e já venho!
É com grande saudade que recordo as minhas visitas à antiga Catedral, aquele monumento outrora o maior estádio da Europa e um dos maiores do Mundo (só para fazer inveja aos portistas e sportinguistas). Nessa altura, eu mal percebia de futebol, quanto mais das rivalidades existentes entre alguns clubes. Agora que cresci, percebo que, muito dificilmente, voltarei a ir a um estádio de futebol sem correr o risco de ser apedrejado na tromba por um adepto da equipa contrária. Ou até mesmo por um adepto da minha própria equipa, se se tratar de um imbecil com má pontaria.
E uma vez que vivemos num país em que todos assobiam para o lado e ninguém quer assumir as culpas, eu arranjo facilmente os verdadeiros responsáveis por situações como estas: os dirigentes desportivos que, movidos pelo ódio, pela inveja e pela sede de poder, incitam à violência e ao desrespeito pelo próximo. Aqueles que nunca vi tomar uma atitude cívica de diálogo e aqueles que se atacam e insultam mutuamente, incendiando a opinião pública com especulações e acusações.
Meus caros, digam-me se estiver enganado, mas este dói-dói gigante que é o futebol português vai demorar muitos e longos anos para sarar totalmente. E receio que nem com Betadine, esse fabuloso anti-séptico, as coisas melhorem. Tenho dito!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira