sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O que mais me espanta.



O que mais me espanta na admiração de alguns comentadores da nossa praça quanto à divulgação de documentos, tidos como secretos, de práticas menos recomendáveis de alguns Governos, não é tanto o facto de só agora tomarem conhecimento de tais devaneios governamentais, mas sobretudo o espasmo que manifestam por ser possível que tal informação venha à luz dos nossos dias. Antes mesmo de continuar devo confessar que o tal Sr. Julian Assange e a sua organização WikiLeaks em nada me surpreendem. Em todo o caso, bem gostaria eu que este ilustre Sherlock Holmes dos tempos modernos divulgasse, antes de mais, igual informação das ditaduras que por aí campeiam. Isso sim, para início de actividade, seria ouro sobre azul. Mas porque raio terá ele enveredado pela mexeriquice de regimes tidos por democráticos. Dá que pensar, não? Bom, mas voltemos ao raciocínio inicial. Então o que esperavam os ditos comentadores, leia-se jornalistas, na actual sociedade da informação, da abertura, da transparência, da democracia e o mais que estes e outros tantos apregoam como sendo a imperiosa virtude do nosso tempo? A liberdade. A liberdade é isto mesmo, meus senhores. E a julgar pela vossa dialéctica há-de vir a ser algo muito mais ignóbil, esta pobre liberdade. Então os Estados, e o nosso é disso triste exemplo, para além de outras organizações com carimbo securitário, não vasculham as nossas e as vossas vidas privadas? Não vos intriga que os actuais sistemas, quer sejam fiscais, bancários ou de outra qualquer natureza, e há tantos, conheçam ao ritmo de um simples clique a vidinha de todos nós? Sim, vidinha, disse bem. Ora vejam. Se vamos passear ou tão só arejar o automóvel lá somos perseguidos e descobertos em tempo real através daqueles sinistros identificadores. O nome não vos diz nada? Se querem conhecer os nossos próprios rendimentos, eu até diria, esses estão ao sabor do livre arbítrio do pachorrento dedo dum qualquer apagado agente da Fazenda Pública. O sistema bancário? Até faz transações de contas pessoais sem que nos apercebamos. Andar pacificamente na via pública sob o olhar atento das câmaras de vídeo que nos vigiam a cada passo, é outra virtude da democracia. Ou não? Mas há mais! Se nos metemos com aquelas entidades que tudo seguram, até a morte, é bom que nos blindemos. Essas espiolham-nos até à medula. Então onde está a vossa admiração pelos actos do dito Julian Assange? Não discuto sequer se a divulgação de tais segredos é coisa que se faça ou não. Apelo só ao vosso bom senso de modo a que afastem essa incredulidade quanto a estes factos, no estádio em que o Mundo rola e sob a capa da propalada democracia mentirosa que se nos é imposta tudo é, infelizmente, despido ao pormenor. Não fiquem pois deprimidos ilustres comentadores do meu País. Há anos, também um outro ilustre, mas à época político, escreveu uma obra intitulada “O Partido com paredes de vidro”. E afinal era tão escuro o vidro. Tudo vale nesta Sociedade da informação. Portanto não se espantem com os actos. Admirem-se sim é das regras. E já agora pergunto: não serão vocês mesmos os fiéis depositários e obedientes condutores desta liberdade mais ou menos perigosa? Olhem que convém que um homem resista à totalidade da sua época, que a faça deter à porta e a obrigue a prestar contas. Isto é o que exerce forçosa e verdadeiramente influência! Daí que seja importante clamar por regras quando elas devam ser aplicadas em lugar de poisar os olhos em perplexidades que decorrem do mau estado de saúde duma sociedade que também vocês defendem. E de que maneira. Pensem é em juntar-se aos que dizem que “esta ou aquela coisa é contrária ao bom uso da nossa liberdade”.
Mário Rui

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Georges Moustaki - Le Meteque



E eu serei príncipe de sangue
Sonhador ou adolescente
Como quiseres
E faremos de cada dia
Uma eternidade de amor
Que viveremos até à morte

Assim sim!



Certo dia, um Lobo só pele e osso encontrou um cão gordo, forte e com o pêlo muito lustroso. Via-se bem que não passava fome. O Lobo, admirado, quis saber onde é que ele conseguia obter tanta comida.
- Se me seguires, ficarás tão forte como eu - respondeu o cão. - O homem dar-te-á restos saborosos.
- Mas o que preciso de fazer em troca? - quis saber o Lobo.
- Muito pouco, na verdade - respondeu o Cão. - Uivar aos intrusos, agradar ao dono e adular os seus amigos. Só por isto receberás carne e outras iguarias muito bem cozinhadas. De vez em quando, receberás também festas no dorso.
O Lobo ficou encantado com a ideia e meteram-se ambos ao caminho. A dada altura, o Lobo reparou que o cão tinha o pescoço esfolado.
- O que tens no pescoço? - perguntou.
- Nada de grave. É da argola com que me prendem - explicou o Cão.
- Preso? Então não podes correr quando queres? - exclamou o Lobo. - Esse é um preço demasiado elevado: não troco a minha liberdade por toda a comida do mundo.
Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pode para bem longe dali.

Moral da história:
A tua liberdade não tem preço.

Três Tristes Paus


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um país negro


A um mês da eleição presidencial, já se percebeu que os portugueses não se interessam, nem se interessarão, por ela. O que não admira. A maioria dos candidatos não existe (quatro em cinco). Os que andam por aí a fingir que existem não têm rigorosamente nada a dizer. E todo o país sabe que o Dr.Cavaco vai ganhar e que Alegre não ameaça ninguém, a não ser ele próprio. De resto, a crise também serviu de pretexto para nos poupar a estridência habitual e os cartazes na rua. Não há comícios. Suspeito mesmo que em 23 de Janeiro nem sequer haverá muitos votos. Pôr em Belém uma criatura medíocre e baça, com o único poder de mandar para casa o Parlamento, não entusiasma ninguém. A extraordinária pasmaceira em que se tornou a nossa vida pública é apropriada. Isto sucede porque os partidos desapareceram. Mais precisamente, porque a esquerda e a direitra desapareceram. Na esquerda, o Partido Comunista sobrevive misteriosamente, alimentado pelo atraso e pela miséria de uma sociedade arcaica. O Bloco é um grupo de adolescentes de meia-idade, a tender para o senil, que sobreviveu sem mudar a trinta anos de história da Europa e do mundo. Gasto o reportório de "questões fracturantes", ficou o vazio. E o PS, depois de 15 anos de Estado, gordo e corrompido, deixou de representar fosse o que fosse e não inspira a mais remota confiança. Pior ainda: desde o "25 de Abril", e tirando o Dr. Soares, que não é jovem, a esquerda não conseguiu produzir um só homem (ou mulher) que mereça o mais vago respeito ou simpatia.
A direita, essa, é, como sempre, um parasita do Estado central ou da adminstração local. O PSD conservou cuidadosamente as suas relações com o PS para aproveitar as ruínas do país, que também na sua altura promoveu. Com Pedro Passos Coelho ou sem Pedro Passos Coelho, a grande aliança do "centrão" continuará como até aqui. Cavaco é um ornamento, que não mexeu, nem mexerá um dedo para acabar com a promiscuidade entre a política e os "negócios". Verdade que o CDS nunca entrou nessa abençoada partilha. Mas não cresce. E não cresce porque não distribui as sopinhas que o PSD assiduamente distribui (basta ver onde foram para os velhos ministros de Cavaco). Neste deserto, para quê votar em 23 de Janeiro? Para passear a sua insignificância e a sua importância por esta desgraçada terra, Cavaco serve!
VPV in "Público"

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Quando se gosta ...

Dizem que estar apaixonado é uma coisa lamechas. E eu até posso concordar com isso, mas gostar de alguém é também uma coisa bonita. Bem, às vezes!
O mais engraçado é que quando estamos apaixonados só precisamos do GPS uma única vez para saber onde ela mora. Quando estamos apaixonados sabemos de cor o nome e a morada, o número de telemóvel e até o nome dos pais. E graças ao Facebook, podemos eventualmente saber a data de nascimento e onde é que ela estuda – e até mesmo saber quem é a melhor amiga que usamos para lhe preparar uma surpresa. Digam o que disserem, quando se gosta verdadeiramente, sabemos mais do que aquilo que às vezes gostaríamos de saber – até o nome do ex-namorado, rais parta!
E estar apaixonado é isto, meus amigos. Ok, é muito mais, mas para começar chega. E isto até podia correr muito bem e ser uma daquelas histórias de amor com um final feliz se não esquecêssemos tudo isso e trocássemos o nome dela por ‘aquela’ com quem falámos no sábado à noite – talvez, afinal, tu não fosses a tal.
O que dificulta as coisas – e é isto que também impede que esta seja uma daquelas bonitas histórias de amor, estão a ver? - é saber quando é que elas estão apaixonadas por nós. Por isso, se querem dissipar essa dúvida, continuem a ler esta crónica e estou certo de que aprenderão alguma coisa (ou talvez não!). A verdade é esta: por muito orgulhosas que elas sejam – sacanas! - quando estão apaixonadas não demoram mais de meia hora a responder a uma mensagem, não utilizam o truque do ‘eu já te ligo’ e não voltam a ligar e nunca, mas nunca dizem que não tinham saldo como desculpa para não terem dito nada – alguém perto delas há-de ter um telemóvel, que diabo! E mais: – que agora estou revoltado - quando estão apaixonadas de verdade, não há longe nem distância que as impeça de avançar – ai que vais para Lisboa e vamos estar tanto tempo separados! – nem mil e uma desculpas para não poderem estarem naquele lugar àquela hora.
Qualquer semelhança com a realidade de cada um de vocês é pura coincidência, mas se por acaso ela não vos respondeu à mensagem nem devolveu a chamada ou se continua a dar quinhentas desculpas para não estarem juntos, o mais provável é que já esteja com outro. Essa é a má notícia. A boa é que graças a mim vocês podem perceber isso antes de continuarem a fazer figura de parvos. Sou um fixe, não sou?
Agora que pararam para pensar – e cancelaram a mensagem de bom dia que lhe iam enviar - digam-me lá se gostar de alguém não é uma coisa bonita?!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Este povo não presta!

Acabava de entrar o ano de 1872. E o novo ano que chegava interrogava o ano velho. “- Fale-me agora do povo”, pedia o ano velho. E o velho: “- É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre, porque lhe não montam na anca; e o desgraçado não se lembra da canga!”. “Mas esse povo nunca se revolta?”, insistia o ano novo, espantado. E respondia o velho: “- O povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia. Por conta própria, nunca”. E uma derradeira questão: “- Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?”. E a resposta lapidar do ano velho: “-Um país geralmente corrompido, em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer.”
Este diálogo deve-se a Eça de Queirós. O mesmo Eça que escreveu sobre Portugal de então: “O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (…) e padres que rezam contra ele (…) Paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa”. Estávamos, repito, em 1872.
Estamos obviamente a falar do povo português. Esta “raça abjecta” congenitamente incapaz de que falava Oliveira Martins. Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouso de indignação e muito menos de revolta. Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém. É vê-los nas televisões, por exemplo. Filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil, absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado “que se pagavam a si mesmas”! Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai facilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões agora no poder, se lembrou de inventar! E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for. E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o “privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado”.
Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes. Porque, se esta gentinha “os tivesse no sítio”, recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens. E isto seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas. Mas não. Esta gente come e cala. Leva porrada e agradece. E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem quando e como eles o definirem. Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. Pelo contrário. Paga tudo, paga para tudo. Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta. E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala. Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado e exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar, como se tivesse ganho uma medalha olímpica.
Esta multidão anestesiada espelha claramente o país que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser – um país estúpido, pequeno e desgraçado. O “sítio” de que falava Eça, a “piolheira” a que se referia o rei D.Carlos. “Governado” pelas palavras “sábias” de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. Dizia o Conde: “Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito…” Nem mais. Eis aqui o segredo da governação. A ilustração perfeita com que o rei D.Carlos nos definia há mais de um século: “Um país de bananas governado por sacanas”. Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal.
In “Jornal de Barcelos” de 27 de Outubro 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

Natal


Azul rigor de Inverno



Pelo silêncio das marés chega sempre à praia o hálito perdido e vago dos sonhos que construímos um dia à beira-mar... Sonhos tecidos com todos os fios do nosso descontentamento, sonhos mantidos com a goma do nosso desespero, da angústia que se agarrava a nós e ameaçava como uma sombra escura a pureza das nossas horas de solidão... As algas têm o sabor dos pássaros que morreram nas nosas mãos e as gaivotas recordam a melodia salgada que preenchia as nossas manhãs de gente por detrás das portas a respirar todos os gestos. Afogávamos no azul a nossa revolta e cuspíamos na espuma a necessidade de esvaziarmos as pessoas para as construir de um modo diferente. Talvez porque nunca o fizemos, talvez porque estas manhãs têm hoje uma cor de desespero, eu respiro em cada maré o hálito perdido e vazio dos sonhos que construímos à beira-mar...

Branco rigor de Inverno


sábado, 4 de dezembro de 2010

Honoring Dave Brubeck with his Sons Jazz Quintet



Este é um dos tais vídeos que vale ouro em pó. Emocionante ver o velho Dave Brubeck, um ícone do jazz, talvez o mais marcante de todos, velhinho, assistindo à nata do jazz actual, tocando os seus maiores sucessos e sendo aplaudido por uma plateia de cachet milionário, incluindo Barack Obama e a primeira dama. Emocionante!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Homens bons.


Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.

O Provincianismo Português

Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro.
O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.

Este, o Governo ainda não se lembrou de taxar e o BE de atacar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Orçamento Geral do Estado dá entrevista!


Jornalista - O seu criador, o ministro TS, citou Winston Churchill dizendo - tempos de dificuldade como este, exigem que façamos o que é necessário.
Orçamento - É uma bela frase. Mas talvez faça mais sentido citar Adolf Hitler - se não chegarmos a triunfar não nos restará senão, ao soçobrarmos, arrastar connosco metade do mundo neste desastre.
Jornalista - O Orçamento usa óculos?
Orçamento - Só para ver os abatimentos ... ...

- Mestre, para construir algo de novo, por onde devo começar?





- Mestre, para construir algo de novo, por onde devo começar: pelas fundações ou pelo telhado?
- Que diz a tua consciência?
- Pelas estruturas de base, pois são elas que sustêm o telhado que abriga das intempéries.
- De que te serve um telhado se não deixas nada da antiga construção que te recorde o que ela significou para ti e tudo aquilo de bom que ela te proporcionou? De que adianta o novo pelo novo quando não tens memória?

Mark Blyth: A austeridade é uma ideia perigosa

Orvalho


Rastos


Fragâncias


sábado, 20 de novembro de 2010

Crisis? What Crisis?


ACTUALIDADES

“Aproxima-te um pouco de nós, e vê! O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a um rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Isto não é uma existência, é uma expiação. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!”

Moeda de troca.

Se tempo é dinheiro, vamos então pagar a crise com o tempo.

Notas de culpa.



Os nossos políticos ofendem-me devido à maneira como apresentam as ideias que lhes ocorrem: exibem-nas com tamanha insistência, procuram persuadir-nos com artifícios tão grosseiros que se diria que se dirigem a mentecaptos. Quando consagro um certo tempo às suas artes, sinto-me sempre em «má companhia»

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ideias estúpidas que se arriscam a salvar Portugal !

Não sei se já alguma vez tiveram a oportunidade de folhear o jornal Metro, que se distribui gratuitamente, entre outros lugares, nas estações de metro de Lisboa e Porto. Se não tiveram, garanto-vos que estão a perder a verdadeira pérola do jornalismo português, principalmente se prestarem a devida atenção às capas e aos títulos das notícias, cuidadosamente elaborados. Só para terem uma noção, a 14 de Junho (pura coincidência com a data do meu aniversário, obviamente) de 2010 a capa era a seguinte: “Eles desconfiam das cuecas delas”. Para o efeito, o conteúdo da notícia é absolutamente secundário, mas o título, meus amigos, é de uma categoria ao nível de poucos. Assim vale a pena fazer jornalismo!
Mas o que me traz aqui não diz propriamente respeito ao jornal Metro. Esperem só um bocadinho que já me esqueci qual era o tema de hoje. Ora bem, prossigamos. Ao que parece há um movimento criado no Facebook intitulado Subway Love, ao qual aderiram portuenses e lisboetas e que promove, nada mais, nada menos, do que reencontros entre pessoas que se apaixonaram no metro. Calma, esta não faz parte das ideias perigosas para Portugal do livro com o mesmo nome, dos autores João Caraça e Gustavo Cardoso, mas podia muito bem fazer parte das Ideias Estúpidas para Portugal. E onde é que entra o jornal Metro no meio disto? Coitado! Pois bem, a referência advém justamente de mais um título gracioso, desta vez assim publicado: “Amor na mesma carruagem”. Bonito, de facto!
Mas deixemos o jornal Metro em paz e reflictamos agora sobre a notícia propriamente dita. O movimento em si deixa-me angustiado. Vamos lá ver. Haverá certamente local melhor para se conhecer alguém, não acham? Eu proponho, e posso tratar disso imediatamente sem a vossa prévia aprovação, que se crie o movimento Porto ou Lisboa Beach Love para pessoas que se apaixonam na praia. É uma ideia estúpida na mesma, mas tão válida como a outra, ora essa. Ainda no Verão passado vi lá muito ao longe uma rapariga que me enchia as medidas. E se eu tivesse que a procurar nesse grupo do Facebook, optaria pela seguinte descrição: procuro jovem morena, que no dia X se encontrava na praia Y com um bikini cai-cai vermelho e por aí fora. E quem diz na praia diz no autocarro, na igreja ou no talho do senhor António, cujos bifinhos de lombo dizem atrair muitas mulheres bonitas. Aqui a história seria bem diferente: procuro jovem loira, que no dia X levou 300 g de fiambre da perna extra e que pagou com uma nota de 10€. E assim seria tudo bem mais fácil e as relações durariam bem mais, vos garanto.
E já agora, há mesmo um grupo no Facebook para todas as pessoas que consideram inadmissível a capa do dia 18 de Maio do jornal Metro em que o Presidente da República aparece vestido com um fato com a bandeira gay e a dizer "Cavaco deu o nó". Isto sim, é jornalismo com classe!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Suspensões


Tons da floresta.



Tudo aquilo que é da minha espécie, na natureza e na história, fala-me, louva-me, encoraja-me, consola-me: o resto não o entendo, ou esqueço-o imediatamente. Nunca estamos senão em nossa própria companhia.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O que faz falta

A propósito dos mais recentes desenvolvimentos que pioram o já débil estado do nosso país – e não estou a falar da Casa dos Segredos – parece-me de extrema inutilidade e alguma estupidez falar da previsão meteorológica para amanhã. Por isso, como o caso é sério, talvez seja uma ideia gira dar-vos a minha opinião sobre aquilo que eu acho que faz falta ao nosso país. E mais uma vez não falo da Casa dos Segredos ou da Júlia Pinheiro.
Aquilo de que Portugal precisa mesmo é de homens capazes. Em termos técnicos, Portugal precisa de Líderes (não de Engenheiros, percebem?!) É isso mesmo! Vamos lá clarificar as coisas. Um líder é alguém que, com os seus valores, carácter e qualidades pessoais, consegue atrair um grupo para as suas ideias, motivando-os para a concretização de um objectivo que se pretende comum. Compreendido?
Não será difícil constatar, portanto, que temos assistido, em Portugal, a tudo menos a um consenso generalizado no que toca às diferentes áreas de actuação e decisão. E parece-me que é esta falta de consenso e esta divisão no seio da sociedade que nos arrasta para o abismo. E, ao contrário do que se possa pensar, este défice de credibilidade nos pseudo-líderes que (não) nos lideram, estende-se a todos os sectores, não apenas ao político: do empresarial à justiça, da saúde e educação à segurança.
Liderar está longe de ser uma imposição. Aproxima-se mais em conseguir que as pessoas, num determinado contexto, façam o que não querem e, mesmo assim, gostem de o fazer. Só assim se consegue consenso, motivação e empenho que, estou certo, mudariam o actual estado do nosso país. Não é difícil perceber, portanto, que se alguém nos fizesse remar a todos no mesmo sentido, talvez o sacrifício não fosse tanto. O que é o mesmo que dizer que talvez a minha mãe não tivesse que se sujeitar a um valente corte no ordenado!
Tome-se o caso paradigmático de Liderança que é o de José Mourinho. Ou o de Barack Obama. Carácter, meus amigos, carácter! É preciso mudar o que está mal, sim senhor, mas talvez não seja mal pensado começarmos pelos valores éticos que, enquanto governados, devemos exigir aos que nos governam. Acabaram-se os tempos do sebastianismo ou da esperança infundada de um líder salvador que nos livre disto. Não se nasce líder. Fazem-se líderes.
Júlia Pinheiro a primeira-ministra, se faz favor!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Novela à portuguesa

Conhecida a sentença do processo Casa Pia, creio estarem agora (já estariam antes) reunidas as condições para a Justiça portuguesa enfiar a cabecinha na areia, qual menina envergonhada depois de ter metido o pé na argola. O caso mediático mais longo da Justiça nacional assumiu contornos dignos de um país que funciona mal e que é preciso mudar.
Como é que se explica que um caso desta dimensão se sujeite à pressão da comunicação social e a interesses alheios, deixando vulneráveis vítimas e arguidos, expondo factos e depoimentos, levando à condenação em praça pública dos envolvidos? A Justiça portuguesa funciona mal porque não é capaz de arrumar a casa como deve ser, nem manter de fora os intrusos. No fundo, a Justiça portuguesa é uma terrível mulher-a-dias, que nem o pó das estantes consegue limpar. E as revisões constitucionais que deste caso resultaram, provam que a nossa Justiça sofria de uma doença grave há já muito tempo. E vai continuar a sofrer.
Um caso que se arrasta há 6 anos e que parecia ter agora chegado ao fim, entra numa nova etapa que durará mais uns anos valentes, sendo mais ou menos expectável o seu desfecho: o caso prescreve e nenhum dos culpados cumpre as penas que lhes foram deliberadas. Os recursos que aí se avizinham e os demais episódios desta telenovela que aí vêm serão certamente penosos para eles, mas também para nós que já não podemos ouvir falar mais nisto. E assusta-me pensar que um caso mediático monstruoso como este assuma estas proporções, quando um semelhante na Alemanha esteja resolvido em apenas 2 anos, dizia um repórter alemão no dia da sentença.
E enganam-se aqueles que pensam que é só a imagem pública dos envolvidos que se altera aos olhos do povo. Também a imagem de Portugal e das suas instituições fica totalmente descredibilizada, aos olhos da opinião pública portuguesa e estrangeira. E são acontecimentos destes que nos vão arrastando cada dia mais para um poço sem fundo, neste Portugal numa cauda da Europa que já é grande demais para nós.
Ora digam lá se a Justiça portuguesa não anda a precisar de um puxão de orelhas valente. Haja paciência!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

Led Zeppelin- Whole Lotta Love

Creedence Clearwater Revival-Suzie Q

sábado, 21 de agosto de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Não tem nada p´ra fazer? Faça rotundas

Existem dois tipos de pessoas (existem mais, mas para o efeito estas duas chegam): as que gostam de fazer muito e as que gostam de fazer pouco (este último grupo ao qual, orgulhosamente, pertenço). Existe depois a subcategoria daqueles que gostam de chatear, fazendo algo só porque sim e porque lhes apetece. E o que é que acontece? Acontece que esse grupo de pessoas se decidiu pela construção de três rotundas – ajudem-me se estiver enganado porque é natural que eu lhes perca a conta - no caminho para a Torreira e isso a mim chateia-me um bocadinho.
Explanando o tema, até há rotundas bonitas, mas estas a que me refiro não o são. Não sei porquê, mas não são. E são tão iguais como as outras. Não vou com a cara delas, pronto. Ainda assim, aquilo até seria boa ideia se essa ideia não encerrasse um quê de estupidez. Em primeiro lugar, porque se gasta o dinheiro dos contribuintes de uma forma que me parece a mim totalmente dispensável, e em segundo porque as obras me estragam o carro todo e a minha mãe diz que não me dá dinheiro para outro (mesmo que o carro não seja meu). Ou seja, aquele bonito serviço que ali se fez é tão desnecessário como uma viola no enterro.
O mais bonito disto tudo é que eu adoro a Torreira (estão desculpados, portanto), embora reconheça que não é nenhum destino turístico de sonho. E com tanta rotunda que se contorna para lá chegar, acaba por se perder toda a mística por que ficou célebre a nossa querida praia: eu vou lá porque fica a 15 minutos de Estarreja. Com isto tudo, agora chego a demorar 20. Imperdoável!
Bem, isto não é totalmente verdade. Se a Torreira ficasse a 300 km de Estarreja, certamente que eu continuava a lá passar férias. E não me obriguem a enumerar todas as qualidades da nossa belíssima praia. Há uma mística, uma magia que ninguém sabe explicar, em relação à Torreira. É como um amor de Verão que dura o ano todo. E ponto final que já estou a suar. Resumindo, não há rotunda nenhuma que me faça arrepender de lá ir. O amor vence sempre.
Agora, se me permitem, tenho de ir que combinei um café na Torreira às 21h30 e já são 21h10.
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

quinta-feira, 10 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Operário em Construção

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

The Bee Gees- 'Massachusetts'

Pois é. Estes eram os anos de ouro da música do século XX. Uns gostavam, outros nem por isso. Nem nos vinha à ideia o desaparecimento de Charles de Gaulle, os assassinatos de J.F. Kennedy e Robert Kennedy, os que morriam numa estúpida guerra colonial, a ida à Lua, a guerra do Vietnam, o primeiro transplante de coração -lembram-se do prof. Christian Barnard? - enfim às vezes a ignorância é o estado mais puro da felicidade. Ou não?

Seal-It's a man's world

John Lee Hooker - Don't Look Back (PÉROLAS I)

O País menos católico do Mundo

A visita do Papa a Portugal veio revelar uma série de coisas que eu um dia terei todo o gosto em partilhar convosco. Mas, para os mais curiosos, posso já partilhar uma ou duas: o Papa é do Benfica e não concorda com a convocatória de Carlos Queiroz para o Mundial. E para os mais cépticos, era este verdadeiramente o terceiro segredo de Fátima. Obrigado irmã Lúcia!
Enquanto cá esteve, o Papa Bento XVI disse que Portugal está cheio de humanismo e de cristianismo. Pois bem, eu cá acho que Portugal é o país menos católico do mundo. Que raio, das 80 mil pessoas que estiveram no Terreiro do Paço, das 500 mil que estiveram em Fátima e das 50 mil que estiveram nos Aliados, nenhuma tem realmente fé na salvação económica de Portugal, o que é o mesmo que dizer que ninguém acredita nos dotes governativos de Sócrates. Mas o que vem a ser isto? Isto são maneiras de receber o Santo Padre? Dez ave-maria e dez pai-nosso, imediatamente, que é para aprenderem.
Mas se somos o país menos católico do mundo, podemos, no entanto, pular de alegria por termos sido o primeiro país a ultrapassar a crise económica… pelo menos assim foi durante a visita Papal. Durante as comemorações do 13 de Maio, alguém ouviu falar do défice, do desemprego, dos cortes do 13º mês, ou das minhas chaves do carro que as perdi? É óbvio que não. E porquê? Porque é preciso o Papa cá vir para sucederem duas coisas que deixam os portugueses extremamente felizes: o fim da crise económica e o Benfica campeão. E reparem também como a primeira é resultado da segunda. Fantástico!
Conclusão: com as comemorações Benfiquistas e com a visita do Santo Padre, só lá para Setembro é que vamos ter novamente tempo para pensar na crise económica. Até lá, podemos dar-nos ao luxo de suspender o trabalho sempre que uma figura importante nos venha cá visitar. Quem é a próxima?!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

Avós e netos.

Caros amigos (reparem que a palavra ‘amigos’ é aqui propositadamente utilizada para evitar represálias futuras, se se vier a confirmar que não concordam com uma palavra do que eu aqui disse), receio que o assunto que hoje tenho para vocês, vos entristeça fortemente. Mas cá vai: as avós não gostam dos netos! Bem sei que este é um balde de água fria e um choque que ninguém merece, mas não havia outra forma de o dizer.
O que se passa é o seguinte: as nossas avós só gostam de nós quando não faltamos às aulas e quando vamos lá a casa almoçar com ela porque “o teu avô foi para a tertúlia com os amigos”. No fundo, as nossas avós só gostam de nós quando somos bons meninos ou meninas e quando, ao sábado à noite, nos deitamos antes das 21h30.
Ainda não estão convencidos, pois não? Deixem-me então arregaçar as mangas, se faz favor. Ora bem, as nossas avós não gostam dos nossos dotes de condução – “oh rapaz, tu anda devagar na estrada”. E esta, hein? Não gostam da nossa aparência física – “oh André, faz a barba que ficas mais lindinho”. Querem mais, querem? “Credo, que cabelo é esse, filho?”. E mais: “Puxa as calças para cima que pareces um gandulo”. E “ai que tatuagem é essa?” e “não acredito que furaste a orelha! Que desgosto”. As coisas começam a ficar mais claras, agora? Bem me parecia!
Mas atenção. Apesar de nos irritar profundamente, não quer isto dizer que os netos não gostem das respectivas avós. Muito pelo contrário. Por sabermos que a verdade magoa, e uma vez que não queremos magoar uma pessoa de quem gostamos muito, não nos atrevemos a dizer “Porra velhota, já pintavas esse cabelo”, ou “Por amor de Deus ‘vó, esse casaco é mais velho que o Papa, ”. Ou, se quiséssemos mesmo ser desagradáveis como elas às vezes são, “oh ‘vó, que buço é esse?”, o que equivale a um “não vás para o mar que está bravo hoje” de avó para neto.
Mas afinal, de que é que elas gostam em nós? O que é que elas gostam que façamos? Bom, é por estas e por outras razões – “tu estuda, rapaz” (eu estudo, caraças!) – que me entristece esta nova relação avó e neto. Antigamente é que era: davam-nos 25 tostões para irmos compras guloseimas. Agora que crescemos, dão-nos 5€ e, embora não nos digam que destino dar ao dinheiro, todos sabemos que o seu desejo é que o gastemos no cabeleireiro quando o cabelo está grande.
E é também por todas estas razões que, apesar de tudo, eu adoro as minhas queridas avós.
Bem, e agora, se me permitem, vou andando que tenho de ir ali à minha avó perguntar se ela gosta do meu novo corte de cabelo e do aileron que meti no carro. Um bem haja a todos!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

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