sábado, 5 de junho de 2010

Avós e netos.

Caros amigos (reparem que a palavra ‘amigos’ é aqui propositadamente utilizada para evitar represálias futuras, se se vier a confirmar que não concordam com uma palavra do que eu aqui disse), receio que o assunto que hoje tenho para vocês, vos entristeça fortemente. Mas cá vai: as avós não gostam dos netos! Bem sei que este é um balde de água fria e um choque que ninguém merece, mas não havia outra forma de o dizer.
O que se passa é o seguinte: as nossas avós só gostam de nós quando não faltamos às aulas e quando vamos lá a casa almoçar com ela porque “o teu avô foi para a tertúlia com os amigos”. No fundo, as nossas avós só gostam de nós quando somos bons meninos ou meninas e quando, ao sábado à noite, nos deitamos antes das 21h30.
Ainda não estão convencidos, pois não? Deixem-me então arregaçar as mangas, se faz favor. Ora bem, as nossas avós não gostam dos nossos dotes de condução – “oh rapaz, tu anda devagar na estrada”. E esta, hein? Não gostam da nossa aparência física – “oh André, faz a barba que ficas mais lindinho”. Querem mais, querem? “Credo, que cabelo é esse, filho?”. E mais: “Puxa as calças para cima que pareces um gandulo”. E “ai que tatuagem é essa?” e “não acredito que furaste a orelha! Que desgosto”. As coisas começam a ficar mais claras, agora? Bem me parecia!
Mas atenção. Apesar de nos irritar profundamente, não quer isto dizer que os netos não gostem das respectivas avós. Muito pelo contrário. Por sabermos que a verdade magoa, e uma vez que não queremos magoar uma pessoa de quem gostamos muito, não nos atrevemos a dizer “Porra velhota, já pintavas esse cabelo”, ou “Por amor de Deus ‘vó, esse casaco é mais velho que o Papa, ”. Ou, se quiséssemos mesmo ser desagradáveis como elas às vezes são, “oh ‘vó, que buço é esse?”, o que equivale a um “não vás para o mar que está bravo hoje” de avó para neto.
Mas afinal, de que é que elas gostam em nós? O que é que elas gostam que façamos? Bom, é por estas e por outras razões – “tu estuda, rapaz” (eu estudo, caraças!) – que me entristece esta nova relação avó e neto. Antigamente é que era: davam-nos 25 tostões para irmos compras guloseimas. Agora que crescemos, dão-nos 5€ e, embora não nos digam que destino dar ao dinheiro, todos sabemos que o seu desejo é que o gastemos no cabeleireiro quando o cabelo está grande.
E é também por todas estas razões que, apesar de tudo, eu adoro as minhas queridas avós.
Bem, e agora, se me permitem, vou andando que tenho de ir ali à minha avó perguntar se ela gosta do meu novo corte de cabelo e do aileron que meti no carro. Um bem haja a todos!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

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