terça-feira, 20 de setembro de 2011

A bancarrota da democracia


Por muito que me custe falar repetidamente sobre o estado moribundo em que se encontra o meu País, é justamente para aí que sempre me viro quando penso na terra que me viu nascer. Perdoem-me os mais incrédulos, mas realmente tudo me leva a crer que mais ano menos ano, deixaremos de ter lugar que seja o nosso e, então, passaremos a habitar numa qualquer colónia pertença de usurpador de Nações. Não sei exactamente qual será, mas convictamente não auguro nada de bom.

Quase estava virado para deixar aqui uma infindável cronologia de factos que durante os últimos 37 anos denegriram a nossa imagem. Dirão alguns: ‘pois, mas também avançámos em direcção a um melhor modo de vida, a melhores condições sociais’. Será assim tão verdade? Em Abril de 74, e não querendo, nem por sombras, saudar a governação perniciosa que antecedeu essa data, a verdade é que Portugal não estava falido! Tinha em mãos, já o disse algures, uma estúpida guerra colonial em três frentes, uma péssima imagem no exterior, governantes de vistas curtas e quando mais abertas só serviam para amedrontar o povo.

Mas a verdade é que a democracia também era uma esperança. E mais. Só para usar um termo de comparação não sei se, não obstante toda essa noite escura do Estado Novo, mesmo assim ainda pergunto se não seria mais democrática do que, por exemplo, Angola dos nossos dias. A tal democracia angolana que os democratas de pacotilha de hoje evitam denunciar, vá-se lá saber porquê.

Quem levou Portugal à falência? Muitos, sobretudo as forças políticas dominantes e os seus arregimentados que em mais de 35 anos de poder de lá nunca saíram. Mas há outros que se enquadram perfeitamente nesta triste realidade em que hoje vivemos. O velho e nunca definitivamente gasto problema da moral. A falta de personalidade vinga-se por toda a parte; personalidade enfraquecida, frágil, apagada, que se nega e se renega a si própria deixa de valer seja o que for, sobretudo para o Pais sonhado com Abril. Uma corrupção endémica sugou o pouco que tínhamos.

Mas é absolutamente necessário que, se mais não nos for possível ou se a tanto não conseguirmos chegar, pelo menos que tenhamos memória fresca e lucidez de espírito. E afirmo-o desta maneira porque a mentira que nos andam a contar há muitos anos, por exemplo, sobre a ilha da Madeira e seu vice-rei, ou rei? já não sei, não está muito bem contada. Sendo certo que insularidade significa mais solidariedade, nos dias que correm esta solidariedade já mudou de significado, agora deve ler-se dinheiro, dinheiro e mais dinheiro, também não é menos verdade que lá vivem cerca de 200 000 pessoas que precisam de governação. Precisam de condições dignas para o fazer e, lá nisso, com muitos ou poucos gastos, seguramente com arrogância e estupidez em excesso, o tal vice-rei lá foi tornando melhor e mais feliz o modo de vida dos madeirenses.

E digo mais. Agora foi descoberto um buraco orçamental na ilha. Dizem que estava escondido. Talvez seja verdade. Quem o escondeu? Quem permitiu que se chegasse a tal estado? Talvez o vice-rei da ilha seja um incompetente, um aldrabão e sei lá mais o quê. Mas não se esqueçam que o "buraco"da Madeira talvez venha a servir para esquecer os que temos no Continente.Só no Metro de Lisboa há um "buracão" de um valor superior ao da ilha. Sabem por certo o que é o Metro de Lisboa! Aquelas linhazitas férreas, não muitas, que por cima e por baixo atravessam a capital. Então o que têm andado a fazer o Banco de Portugal e o Tribunal de Contas? Quais são então, em última análise, as verdades deste e de outros homens? São os seus erros irrefutáveis!

Tudo isto é triste, tudo isto é fado!!! Não quero fazer moral, mas dou o conselho seguinte àqueles que a fazem: se quereis tirar às melhores coisas todo o prestígio e todo o valor, continuai a falar delas como o fazeis. Assim o nosso ouro há-de tornar-se em chumbo. Há aneiras de espírito que, mesmo naqueles que o têm grande, acusam a plebe de onde saíram: são o ritmo andrajoso e a marcha dos seus pensamentos que os traem.

Depois de tanto pensar e escrever, peço-vos que leiam o que disse o presidente da Jerónimo Martins, quando nos alertou dizendo não ter dúvidas de que Portugal é hoje um País falido.

"Estamos falidos e quando se está falido, está-se falido. Não vale a pena andar-se a discutir. A única coisa a fazer, todos em conjunto, é não assistir a este espectáculo triste de nos estarmos sempre a queixar na televisão, mas darmos as mãos e recuperarmos o país a trabalhar", argumentou hoje Alexandre Soares dos Santos durante uma conferência promovida pela AEP, em Lisboa.”


E o profeta da desgraça sou eu?

Mário Rui