sábado, 29 de dezembro de 2012

A discrição




















«Nós não somos duas pessoas, eu sou primeiro-ministro e também sou cidadão. E apesar de não utilizar o mesmo registo quando falo com a minha família ou com os meus amigos ou quando falo com os cidadãos, na minha qualidade de cidadão também, que muitas vezes uso quando falo como primeiro-ministro, isso não significa que diga coisas diferentes», afirmou Passos Coelho.

Este modo de dizer promete muito e dá pouco. Fosse eu capaz de descodificar esta, e outras comunicações, e estaria agora a formular uma opinião, a minha, a propósito do que disse o primeiro-ministro. Mas não sou capaz. A tanto não me ajuda o “engenho e a arte”. Bem percebo que não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser. No entanto, manda a prudência, se não somos capazes de dizer o que pensamos, então o melhor é ficarmos calados. Tem uma vantagem. Não embaraçamos os nossos interlocutores. Por outro lado, tendências populares-discursivas ininteligíveis exigem sempre muita discrição.

Mário Rui