sexta-feira, 9 de outubro de 2015

E o país delira!


Um chama ela a ele, ele e os demais entram em fermentação enchendo o peito noutro peito amigo. Vem mais um e informa que estão prestes a ser todos presos, os das fugas futeboleiras, para a seguir cortar o pensamento virtual aos do clube. O das Contas resolve ir para a Fundação. Vara, paga e livra-se do monótono peregrinar a longa via doméstica. O das leis, agitado como anda, chama nomes feios aos pares de função. Os das moções de censura, muito construtivas, ufanam-se por saborosa, regalada e soberana consolação a de ver essa luz de discórdia brilhar vinda do ponto do horizonte que menos esperavam. Aparece ainda o que ganhou as primárias e perdeu as ‘secundárias’ e assim entende que o seu passado e em especial o presente lhe dá incontestados direitos. Os da esquerda sobrante, mais agitados pela sua fé, alumiam-se agora com o clarão da sua glória recente e acham que deve governar a outra maioria, pelos vistos há duas, o que faz crer que a matemática passa a ter nova cambiante que é a álgebra política. Os da direita, estendem os braços...gritam, somos irmãos! Tudo movimentos de paixões egocêntricas, de aturadas paciências narcisistas onde o que conta é que cada um se transforme na personagem do anúncio de néon que possa dar brilho aos obcecados por si mesmos, pese embora tratar-se de comparsas quase sempre socialmente defeituosos. E tu, Portugal, espera, pois então. Espera que passe esta vergonha, ou mesma a falta dela, espera que caia uma chuva encantada, essa receita que há-de levar alguém a ajudar-nos duas, três ou quatro vezes pois talvez tanta insistência os leve a ajudar-nos uma primeira vez. E tu, Portugal, espera, pois então, espera até que estejamos tolhidos pelo aperto da serpente ou, se quiseres, aguarda por crença onde todos comunguemos. Se não comungarmos, pelo menos que nos fique na boca essa rodela delgada de massa muito fina de trigo sem fermento, consagrada e oferecida. Mas espera, pois D.Sebastião chega sempre a horas!
 

Mário Rui
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As Almas São Desertas E Grandes


As Almas São Desertas E Grandes
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.
 
Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.
Fim.
(Álvaro de Campos)
 
 
Mário Rui
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