sábado, 31 de março de 2012

Guerra




Por que estamos sempre preparados para a guerra se queremos a paz? Se gostamos tanto de sossego, e não tenho razão para duvidar que a maioria de nós deseja isso, por que nos entregamos tão facilmente ao ódio que consome o nosso equilíbrio emocional?

É que valorizamos a guerra. Aprendemos que a capacidade de lutar é uma qualidade absoluta. Por isso costumamos dizer que uma pessoa que vence grandes obstáculos é guerreira na vida. É apenas uma questão de escolha da palavra? Questão semântica? Ser guerreiro poderia ser dito lutador? Ou um batalhador? Um combativo? Qualquer que seja a palavra, todas têm o mesmo sentido, o de vencer algum confronto.

A acção de deslindar uma situação adversa poderia não ser encarada como uma batalha, não ser comparada a uma guerra. Por que não designá-la de desafio? Melhor ainda, de dificuldades? Mas essas palavras não são as preferidas. Talvez porque desafios e dificuldades não sejam tão emocionantes. Faltam explicitar inimigos. Não evidenciam que existem pessoas a serem combatidas e que se sentirão derrotadas.

Queremos, e deveríamos cooptar as pessoas para uma causa que tem como conceito a não-violência, o respeito pelos outros. Destruindo tudo o que é a favor da guerra, da violência, do acicatamento de espíritos mais exaltados. Às vezes conseguimo-lo, porém, à custa de um desgaste mental que, na maior parte dos casos, se nos afigura como tarefa dificílima e por consequência muitas vezes intangível.

É que quer o egoísta, quer o avarento, quer mesmo o veemente revoltado contra a menor espoliação, chegados à última hora, mandam juntar à sua volta o exército e então aí está a declaração final de guerra. Para mim, em todo este desencadear de acontecimentos há um factor determinante, decisivo e que abala fortemente qualquer alicerce do bom-senso. É a inteligência humana, ou melhor, a falta dela.

E o que é ainda mais criticável é que há gente que aplaude, entusiasmada, esta abnegação do ser guerreiro. Não se eleva a condição do preserverante, do verdadeiro corredor de obstáculos que a todos aborda e salta em busca do prémio. A meta.
Por esta e por outras razões é que a mente humana é diversamente insondável e no mais das vezes o que nela está submerso, escapa, mesmo aos mais atentos e mentalmente melhor estruturados.

Quanto aos outros, aos fazedores de guerras, pode-lhes ocasionalmente parecer que venceram mais uma e ainda outra batalha. Mataram muitos inimigos. Mas lá virá inexoravelmente o tempo em que meditarão e a lição que, tardiamente, aprenderão, é que a única coisa que conseguiram foi enterrar mais uns quantos. Mais. Concluirão inevitavelmente que o que fizeram foi apenas selar mortes na terra e que este acto, mais tarde ou mais cedo, mais não será que soterrar fundamento, alicerce, semente que virá a dar fruto.

Mas o que foi feito, foi feito, e o peso que lhes pesará na consciência há-de flutuar-lhes sempre em jeito de interrogação. O que há de verdadeiramente grande, espantoso, novo, quanto ao que fiz? Nada! Então querem voltar a ser crianças, começando tudo de novo. Tarde demais...


Mário Rui