quarta-feira, 25 de setembro de 2013

São as eleições, estúpido!



À medida que decresce a verdade a ilusão aumenta. Não importa o que se inaugura. Importa que se inaugure! A forma e o conteúdo da inauguração, isso sim, são a justificação total das condições e dos fins de qualquer poder instalado e nomeadamente de qualquer campanha eleitoral que desse poder resulte. Ou seja, no mais das vezes, a inauguração é apenas uma ‘dádiva’ astuciosa, mimo aliciador, sinal da ‘produção’ reinante. Já alguém o disse e com toda a propriedade que, nestas condições, «o suposto verdadeiro é apenas um momento do falso». Com razão ou sem ela, a verdade é que assim é. Cada um de nós bem pode projectar no futuro todo um conjunto de aspirações e inquietações, sobretudo aquelas que minam o nosso bem-estar e o direito ao sossego, que a história prossegue o seu curso indiferente às nossas preocupações. Tentar abrir o diálogo que induza à resolução do desassossego que nos assola, com quem deve zelar pela quietude que merecemos, esse é que é contrato quase impossível. É correr o risco de uma pura perda de tempo. Quando instigados à resposta, os políticos inscrevem-se invariavelmente no universo do discurso do “estamos a considerar o assunto”, “já alertámos para…”, “está previsto para…”, enfim, expressões vagas, lugares-comuns. Depois, alguns deles admiram-se da revanche assumida pelos lesados em prol da recuperação do que foi perdido. Acho mais! O representante, devendo perseguir os interesses dos representados, nem em tempo de eleições lhes guarda apreço. O princípio sobre o qual se deveria fundar a representação política acaba por ser a antítese desse mesmo princípio. Lamento, mas vivenciei casos de sobra que me conferem autoridade para assim concluir. Guardo consideração íntima em relação aos que, são poucos mas ainda os encontramos, sempre foram o garante do cumprimento do acordo estabelecido com a gestão do equilíbrio dos governados. Normalmente não os vejo em inaugurações eleitoralistas. Essa é a razão substantiva que me leva a pensar que tais “consagrações” nem sequer deveriam existir. São rios de tinta, e de muitas outras coisas, que rapidamente perdem a cor. Notável, é a inauguração continuada de obras com valores mais seguros e mais fecundos que, mesmo podendo não ser as ideais, pelo menos não agravam a condição de vida de alguns. Desde o dia zero e até ao último. Quando assim não acontece, o fraco ofendido desabafa maldizendo. Que mais lhe resta?

Mário Rui