segunda-feira, 28 de março de 2011

A vida devia ser como nos desenhos animados


Há poucas coisas na vida que não podemos dar-nos ao luxo de controlar e o tempo é uma delas. Não é que não queiramos – que queremos muito – mas não podemos. E que jeito que nos dava! Já imaginaram como seria se todas as pessoas de quem gostamos nunca crescessem e morressem? Como se a nossa vida fosse como a dos desenhos animados de que gostamos há anos e que se mantêm iguais, sem rugas nem bengalas, cadeira de rodas ou necessidade de cremes para o rosto. Imaginem o que seria podermos desfrutar da companhia dos que nos são mais queridos sem a abalável preocupação de os ver partir. Imaginem o que seria viver num tempo sem fim sem medo de ver esse tempo tirar-nos alguém. A vida devia ser como nos desenhos animados e o comando devia estar sempre ali ao nosso lado, debaixo do sofá ou das almofadas para que fizéssemos pausa ou retrocedêssemos no tempo da nossa vida sempre que nos apetecesse. O tempo é orgulhoso e não nos deixa nunca voltar àquele lugar para desfazermos as asneiras que cometemos, para nunca termos dito aquilo que dissemos, para nos despedirmos de alguém e para dizer a esse alguém o quanto gostamos dele. O tempo é chato: ou porque só faltam 5 minutos para o fim do jogo e o Benfica está a perder, ou porque faltam 3 dias para aquele encontro especial quando devia ser já amanhã, ou porque ele se atrasou 15 minutos e por isso já perdemos o início do filme. O tempo devia parar, avançar ou retroceder sempre que sentíssemos necessidade disso. O tempo devia deixar-nos voltar àquele momento para reparar o que foi feito, para chutarmos à baliza em vez de termos dado ao lado, para nos desviarmos do carro da frente na auto-estrada, para não termos saído de casa naquele dia frio, para apostar no 8 em vez do 24 do Euromilhões, para termos avançado logo no primeiro encontro. O tempo é uma criança má que faz birra e só nos resta a esperança de acreditarmos que melhores tempos virão. Um qualquer outro tempo que seja nosso amigo e que não se importe de ser usado por nós e de nos abrir a porta lá de casa para nos aproveitarmos dele. Nós não controlamos o tempo e se acham que desperdiçaram o vosso tempo ao ler isto, eu digo-vos que já não podem voltar atrás. Até à próxima, se eu e o tempo quisermos.


Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira