sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Jornalismo à toa


Por muito que queira fugir à tentação de falar sobre o meu país e no mais das vezes criticando a sociedade que o compõe, é-me impossivel fazê-lo, confesso a minha fraqueza, já que a panóplia de acontecimentos e não acontecimentos que nos inunda o espírito, hoje, amanhã e depois de amanhã, é de facto por demais apelativa para que me deixe ficar quedo e mudo.

E se há alturas em que o ponho, ao país, lá bem no cume de tudo o que deve ser louvado, outras há em que só me apetece rir, criticar, ou por vezes vociferar contra ele. Os países são pessoas, com rostos identificados, com usos e costumes que à sua maneira cada um dos cidadãos que o povoa bem conhece. Daí que, sempre que falo ou escrevo sobre o país que somos, estou consequentemente a dirigir-me a todas essas pessoas e, por estranho que vos possa parecer, a dirigir-me também a mim mesmo.

O espirito humano tende sempre a criticar porque sente. No meu caso assim é também, embora eu ache que estaria bem melhor no seio daqueles que estão sempre na margem daquilo a que pertencem. Mas eu sou eu e por isso nunca abandonei o meu Deus e nunca aceitei a Humanidade tal-qual ela é. Sobrelevando Fernando Pessoa, que a par de Luis de Camões é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, também ele assim o dizia. Intui-se facilmente que, nem de perto nem de longe me estou a tentar comparar a qualquer um destes vultos maiores, ainda que o tentasse até ao resto da minha vida. Jamais lá chegaria, entendamo-nos!

Esta espécie de intróito fi-lo eu porque de ora em diante, e não me querendo alongar por saber que poucos serão os que me vão ler, vos vou falar, ou melhor partilhar convosco a propósito do que me fez rir e ao mesmo tempo meditar, nos últimos dias. Por certo não deixará de ser interessante, mais pela parte do riso e obviamente menos pela parte meditativa. São estados diferentes, e se o riso nos assite mais facilmente, já o mesmo não se passará quanto ao lado da meditação. Pois riam se quiserem e meditem se vos aprouver.

Os acontecimentos a que antes aludi, são basicamente dois e que eventualmente pouca importância terão para os meus leitores mas, para mim, despertaram-me a ponto de sobre eles discorrer um pouco.
O primeiro tem a ver com um jornal dito de referância, o Público, que rotineiramente leio, mas em relação ao qual começo a ter sérias dúvidas se não estará a trilhar o caminho de um tablóide do tipo Murdoch, leia-se News of the World. É que são já tantas as peças jornalísticas e afins de mau gosto e mal escritas, que me atrevo a dizer que nesta evidente agonia, já se procura a busca do impossível através do inútil. Para além das novas que diariamente nos mostra, de resto a exemplo do que fazem os outros, parece-me ter perdido uma boa parte dos excelentes analistas e cronistas que há um par de anos ainda por lá se mantinham.

Razões para o êxodo, não me perguntem quais porque eu só constato e não investigo. Motivo para rir tive eu em recente edição em que nos é proposta a leitura, todos os sábados e a partir de 21 de Janeiro, de informações sobre as principais agências secretas mundiais. Estou a falar, ou antes o jornal propõe-se contar, e passo a citar, «informações de modo a que cada um de nós saiba tudo sobre o mundo dos espiões antes que eles saibam».

Cheira-me a anúncio de noite de circo ambulante em aldeia alentejana. Com a devida vénia, pela parte que me toca, ao circo ambulante e às bonitas aldeias alentejanas. Mas continuando. Vai então o jornal, à boa maneira de Julian Assange à portuguesa, pôr a nú os principais segredos de agências como a CIA, KGB, SIS, Mossad e por aí fora. Designar como proveitosa e sobretudo essencial aos portuguesas este meritório trabalho jornalístico, é como dar uma bicicleta a um peixe. Muito útil ao condado portucalense. Francamente.

Se isto é jornalismo de eleição então eu tenho que dizer que há almas sobre quem pesa como que uma maldição o não lhes ser possível ser hoje gente da Idade Média. Como ainda me estou a rir, este é o lado bom da história. Mas eles lá sabem o porquê do caminho escolhido. Quanto a este jornalismo, estamos conversados.

O outro acontecimento que vos queria enfatizar, prende-se com a discussão histérica e estéril acerca da Maçonaria e suas lojas. Ela é televisões, rádios, jornais, eu sei lá que mais. Sobre tão nobre acontecimento tive eu a sorte de, numa das minhas últimas crónicas publicadas no meu blogue, intitulada “A natureza das coisas”, dissecar.

Não sendo minha intenção ocupar-vos mais tempo, repito tão só uma pequenina parte da minha percepção sobre o assunto que na altura escrevi; « ... assim sendo, eu acho que estas e outras sociedades secretas acabam resultando num conjunto de homens ditos nobres – serão?- que separam de si os seres nos quais se manifesta o contrário destes estados de alma elevados e altivos.
Devo estar enganado, mas então qual a razão substantiva para tanto secretismo que a envolve? Dos anos de vida que já levo, e relativamente a tais pretensas bondosas acções, quer-me parecer que qualquer tipo de homem nobre sente-se a si próprio como determinador de valores, valores que procura disseminar e que nunca os idealiza ou põe em prática de modo secreto.
Quanto ao secreto, sinto que as portas assim fechadas são de facto o melhor meio para dominar o Poder, para o subverter em proveito próprio. Seja na Justiça, na Saúde, na Educação e no mais que lhe queiram acrescentar. Será aí, nesse diabo desses secretos actos, que algum dia assentou a prosperidade de Portugal? Será por isso que sempre fomos a cauda do pelotão? ....»

E agora riam-se vocês se tal vos der prazer. Eu já enchi o meu ego de sonhos de boa disposição e há muito percebi que o mundo exterior existe como um actor num palco: está lá mas é outra coisa.
Mário Rui