sábado, 16 de março de 2013

As capas de Portugal


Lamento profundamente que muitas esperanças tenham sido depositadas em gentes impreparadas, concedendo-lhes ainda assim que algum esforço tenham feito a pensar num país melhor, sendo que o problema, afinal, assenta basicamente numa premissa: é que ninguém consegue ensinar aquilo que não sabe. De que vale, ou valeu, a aposta em condutores que ao longo de tantos e tantos anos nos levaram a este caos, qual servilismo nosso que lá os colocou, para agora concluírmos que todos esses pensadores políticos apenas conseguiram convencer-se a si próprios. Nunca aos outros. Apetece dizer, no seio de tamanha turbulência, que hoje é suspeito todo o pensador, deste calibre, que pretende demonstrar algo. Na nossa democracia, alguns ainda a entendem assim, esta tirania, esta arbitrariedade, esta rigorosa e grandiosa estupidez, educaram o espírito de muitos portugueses que, julgando-se em boa companhia, e na inocente interpretação cristã-moralista, mais não ganharam senão o estreitamento da perspectiva da sua própria vida. Como uma espécie de jejum inteligentemente engendrado, talvez única matéria feita com ‘acerto’ , em proveito próprio, por quem nos tratou da vidinha, estas políticas de quase 40 anos de existência, habituadas a mentir, atingiram finalmente o seu próprio clímax. A consistência de tais meios que a este lugar nos empurrou, conseguiu de facto o notável feito de persuadir muito eleitor a contentar-se com uma espécie de auto-intrujice. Quem tiver investigado a história da nossa história recente só pode nela encontrar um fio condutor para a compreensão do mal que nos assola: a matreira e velhaca vontade das fantasias de gerações de “cientistas” políticos que sempre acharam que o incerto também tinha os seus encantos. Afinal, o que temos nós em comum com a dívida pública, de que modo estamos envolvidos com o ‘déficit’ de Portugal, que mal lhe fizemos para que tenha terminado o ano acima ou abaixo do PIB? Não trabalhámos uma existência inteira, não contribuímos com o nosso dinheiro e sobretudo com a nossa moral do sentimento para manter vivo um país? Fizemo-lo! O país indisciplinado, o paradoxo da democracia livre da regra do dever, a erosão da solidariedade, a deslegitimação da benificência, o saque nacional que serviu a espiral dos ideais de autonomia individual, isso sim, está na base do desmoronamento dos grandes projectos políticos que deveriam ter guindado Portugal ao êxito. Os demolidores de uma construção assim traçada, têm nomes que não os nossos. E deveriam estar hoje na barra do tribunal. Tenho a certeza que a única via que depois lhes restaria, seria o castigo. Merecimento singular por todas as trevas em que nos enclausuraram. Dirão alguns: « calma, não vamos por aí.». Pois não. E agora quem tratará dos meus, dos nossos soluços incontidos, do futuro dos nossos filhos, dos testemunhos intímos e enfermos de quem chegou à miséria? Já nem se trata da aceitação, resignada ou não, deste tempo que nos ofereceram mas, antes, se nada mudar para melhor, de começar a preparar a nossa ingratidão futura quanto ao que, ou a quem, nos sentou no terror desta angústia.

Mário Rui