quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Manifestações



Um grupo de jovens angolanos está a convocar para o próximo sábado, dia 3 de Setembro uma manifestação em Luanda a pedir a "retirada do Presidente Eduardo dos Santos do Poder e do seu Executivo" e a eleição directa do Presidente da República, entre outras medidas.

Eu acho que se o caudal do descontentamento engrossa, não se augura grande coisa... ...

Mário Rui

Uma carta à esquerda americana

Nada causou impressão mais duradoura durante minha viagem à América do que o estado semicomatoso no qual encontrei a esquerda americana.

Sei, é claro, que o termo "esquerda" aqui não tem o mesmo sentido e ramificações que tem na França.

E não sou capaz de contar quantas vezes já me disseram que nunca houve uma "esquerda" autêntica nos Estados Unidos, no sentido europeu.

Mas no fim do dia, meu amigos progressistas, vocês podem cunhar ideias da maneira que quiserem. O fato é: Vocês têm uma direita. Essa direita, em grande parte graças ao seu batalhão neoconservador, trouxe uma transformação que é substancial e alarmante.

E o facto é que nada remotamente como isso tomou forma no outro lado -- ao contrário, através do espelho da "esquerda" americana repousa um deserto de sortes, um silêncio ensurdecedor, um vazio ideológico cósmico que, para um leitor de Whitman ou Thoreau, é completamente enigmático. Os "jovens" democratas sessentões que se apegaram às velhas fórmulas da era Kennedy, as pessoas de MoveOn.org que foram tão boas em registar eleitores, em protestar contra a guerra no Iraque e, finalmente, em ajudar a revitalizar a política mas de quem ouvi tratar, em Berkeley, como puritanos de um novo tipo, dos lapsos de um presidente libertino como quase-equivalentes ao neomccarthysmo dos seus maiores rivais políticos; os estrategistas anti-republicanos confessando que nunca pisaram em uma destas megaigrejas neo-evangélicas que são os mais avançados (e mais maquiavélicos) laboratórios do "inimigo," olhando-me com descrença quando disse que ocupei um bom tempo explorando-as; o ex-candidato Kerry, que encontrei em Washington algumas semanas após sua derrota, pálido, fantasmagórico, debilmente cochichando no meu ouvido: "Se você ouvir alguma coisa sobre aqueles 50 mil votos em Ohio, me avisa;" os partidários da senadora Hillary Clinton que, quando questionei exactamente como eles planejavam empreender a batalha de ideias, casualmente responderam que tinham que vencer primeiro a batalha do dinheiro, e que, quando persisti em perguntar para que o dinheiro serviria, que projectos ele iria abastecer, responderam como autómatos angariadores enlouquecidos: "Para levantar mais dinheiro;" e quando, talvez mais do que tudo, quando fui ao sangue vital da esquerda, os escritores e artistas, os homens e mulheres que modelam a opinião pública, os intelectuais -- encontrei uma falta de vida curiosa, um traço peculiar de timidez ou irritabilidade, quando confrontados com tantas questões fervilhantes que em princípio devem mantê-los tão firmemente mobilizados, como a Guerra do Iraque e o assim chamado "Império Americano" (a denúncia do qual é, infelizmente, tudo o que resta quando eles não tem nada mais a dizer).

Para um observador de fora é estranho, por sinal, que vários progressistas precisaram, como eles mesmos admitiram, esperar pelo Furacão Katrina antes de se indignarem com, ou mesmo de serem informados sobre, a completa escala de pobreza arruinando as cidades americanas.

Para um intelectual europeu acostumado com o campo de batalha das ideias, é simplesmente incompreensível que mais vozes não tenham se levantado no passado, em nome de não menos que a força "do Esclarecimento," para denunciar a fraude ridícula dos defensores antidarwinianos do "desenho inteligente."

E o que dizer da pena de morte? Como pode ser que ainda não haja, dentro dos partidos políticos, especialmente no Partido Democrata -- o qual todo o mundo sabe que nunca sairá do lugar sem pressão interna decisiva -- uma corrente de opinião reclamando a abolição dessa barbárie civilizada?

E Guantánamo? E Abu Ghraib? E as prisões especiais na Europa Central, aquelas áreas nas quais a força da lei não mais se aplica? Sei, é claro, que a imprensa as denunciou. Sei que vocês tem jornalistas que, em questão de dias, realizaram o que nossa imprensa francesa ainda não concluiu, quarenta anos após a Guerra da Argélia. Mas desde quando a imprensa exime os cidadãos dos seus deveres políticos? Por que não ouvimos de mais intelectuais como Susan Sontag -- ou mesmo Gore Vidal e Tony Kushner (de quem discordo na maioria dos outros assuntos) sobre tal questão vexatória e vital? E que devemos fazer do punhado de indivíduos que, após 11 de Setembro, lançaram o debate sobre as circunstâncias a tortura pode estar repentinamente justificada?

E não estou nem mesmo falando sobre Bush. Nem menciono as mentiras grosseiras de Bush sobre as armas iraquianas de destruição em massa, excepto com o fim de apresentar a evidência conclusiva. Sei, é claro, que vocês o denunciam -- mas mecanicamente, estou quase tentado a dizer ritualisticamente. E, contudo, os Estados Unidos quase impediram Nixon porque ele espionou seus inimigos e mentiu. Eles [quase] impediram Clinton por causa de uma mentira perdoável sobre conduta inapropriada. Como pode ser, então, que se leve tanto tempo para desenhar um paralelo entre essas mentiras e uma mentira sobre a qual o mínimo que se pode dizer é que suas consequências são tudo menos perdoáveis? Como pode ser que tão poucos "intelectuais públicos" possam ser encontrados, no interior dos limites desta formidável, impetuosa democracia americana, que possam lançar a ideia de impedir George Bush por mentir?

Alguns responderão que o "intelectual público" é uma especialidade europeia, que não devemos culpar os americanos pela infidelidade a uma tradição que não é a deles. O que esses desmancha-prazeres fazem com o Norman Mailer dos anos 60? Do Arthur Miller de The Crucible? Ou daquela idade do ouro da consciência dos direitos civis, quando grandes escritores enunciaram o que era certo e bom e verdadeiro?

Outros objectarão que a mobilização massiva e retumbante da sociedade civil não é um costume americano. Tudo o que você precisa para convencer-se da falsidade disso é lembrar dos anos 60 e do movimento pelos direitos civis, depois pelos direitos das minorias em geral, os quais eram a grande honra do país e fluíram, é preciso enfatizar, de todos os principais partidos políticos.

Há ainda os que ironizam sobre a doença de escrever petições, uma especialidade francesa afastada pelo pragmatismo americano. Aqui a objecção é mais séria; e eu sei da fatuidade que pode existir na mania do engajamento ininterrupto em nome de um miríade de causas -- mas vocês não se afligem, meus amigos americanos, com a doença radicalmente oposta? A ética da sobriedade não venceu muito frequentemente, entre vocês, sobre a ética da convicção? E como pode alguém não esperar por uma petição que se dirija à nossa náusea comum quando estamos ante o espectáculo de um velho diabético, cego, quase surdo, empurrado na sua cadeira de rodas à câmara de execução de San Quentin, na Califórnia?

Posso estar enganado, mas me parece que uma grande parte do país está esperando por isso. Em todo o lugar, no recôndito da América, você pode encontrar homens e mulheres que esperam por grandes vozes capazes de ecoar sua impaciência de maneira significativa. Se eu fosse um escritor americano, tentaria reflectir sobre as lições do século totalitário e sobre aquelas da democracia, no estilo de Tocqueville, tudo de uma vez, de um só fôlego, com o mesmo rigor.

Bernard-Henry Lévy

Reportagem sim, mas com maneiras



Também já estávamos cansados de ver o José Rodrigues dos Santos de capacete e colete à prova de balas, no deserto, a fazer reportagens. Ora vejam lá se o Sr. Bernard-Henry Levy não se esmerou e só lá vai de fato. Um homem não pode perder de vista o seu próprio aspecto. Quer chovam balas, obuses, granadas ou apenas o pó do deserto, a compostura é muito bonita... É que o Sr. BHL teve uma educação esmerada num colégio da Suiça.

Mário Rui

sábado, 27 de agosto de 2011

Os sorrisos do Mundo




As fotos que vos deixo em cima, retratam uma ilha, deixem-me chamar-lhe assim, não muito longe do mar da praia da Torreira, sobre a qual fumega uma montanha incandescente de gente jovem que há-de ser o futuro do país que somos. É juventude que não quero criticar já que acredito que serão estes os homens e mulheres de um amanhã mais risonho, mais dado a um certo desprendimento dos formalismos que nos incutiram, a nós mais velhos, e que, afinal, acho que fizeram de nós próprios inventores de novas algazarras, de novos egoísmos e quiçá até de novas hipocrisias.

A montanha incandescente de gente jovem de que vos falo, parece-me não querer inventar novas algazarras mas antes inventar valores novos. Podemos discordar quanto aos propósitos que movem esta juventude, mas há factos que, relativamente à mesma, são já hoje dados adquiridos e visíveis aos olhos de qualquer espectador mais circunspecto. Desde logo criados e vocacionados para uma nova cultura, chamem-lhe académica, social, humana, tolerante ou o que muito bem vos aprouver. Mas, estaremos todos de acordo, se vos disser que é uma massa humana que nos concede, se calhar pela primeira vez desde há muitos anos, um olhar amigável, uma atitude de antemão favorável.

Bem sei que brincam muito, neste ou naquele aspecto mais pavões que o desejável, às vezes mais impetuosos que o necessário, mas a verdade é que também há neles intensidade de sentimentos, maturidade de actos e isso significa seriedade e conhecimento do que é importante fazer logo de seguida. E é destes últimos sentidos que vem toda a autenticidade, toda a boa consciência, toda a evidência da verdade que os acompanha.

Correndo o risco de estar a sobrevalorizar estes espíritos novos, dirão alguns, facto com o qual não quero concorrer porque não é minha intenção menosprezar gerações anteriores, tudo o que desejo é que o julgamento e as condenações morais não continuem a ser a vingança predilecta de algumas inteligências mais velhas e limitadas. E nós conhecemos tantas.

Regressando aos novos, e da minha experiência vivida bem próxima deles, sobeja-me espaço e tempo para proclamar, no que aos mesmos diz respeito, quanta bondade há nas suas astúcias.

Necessário é que nós, os mais velhos, possamos trazer à luz do dia todos os mistérios de que somos feitos de modo a que estas gerações mais jovens sempre tenham presente que não se constrói o império com os materiais. Os materiais é que se absorvem no império.

Vivam bem e aqui deixo um aplauso pela vosso bom gosto em criarem ramos, flores e frutos. Só assim o mundo há-de ser um sorriso.

Mário Rui

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Angustia existencial



O cartaz é de Outubro de 1976, da empresa Jornal do Comércio, S.A.R.L. , impresso em 67x97,5cm em 10 mil exemplares. ( tirado do livro A Guerra dos Cartazes, publicado em Abril de 2009 pela lembrabril). As instruções para colar este tipo de cartazes eram conhecidas: " Planear a acção; local de colagem;não colar em locais mortos; colar nas praças de maior movimento, zonas comerciais,paragens de autocarro, estações de metropolitano". A importância da primeira colagem também fazia parte do manual de instruções: "Ocupação de locais; não colocar baixo, facilmente se arrancam; colar direito e ao alto, principalmente quando se fazem manchas com vários exemplares; colar em mancha em locais amplos de paragem automobilística."

Será que, apagando o símbolo da UDP, os ricos começam mesmo a colar cartazes destes por aí fora? Os ricos de fora. Os de dentro, tenho a certeza que vão arrancá-los das paredes. Certamente que o primeiro a fazê-lo, porque será talvez o de estatura física mais alta, é o número onze na lista dos portugueses mais abastados, e que considera que “temos que nós ajudar uns aos outros”. «Todos nós, incluindo as pessoas que têm mais flexibilidade financeira, não estamos bem, ninguém está bem com a situação presente. Não se pode pôr mais impostos sobre o povo que tem tão pouca remuneração», acrescentou o empresário Joe Berardo.

Que compaixão eu tenho por este senhor. Que grandes nós terá o senhor nessa cabeça. Trate urgentemente da sua depressão não vá ela virar angustia existencial. Faça-o em nome do nosso país !

Mário Rui
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um destes dias havemos de falar sobre estas amizades

Acabadas umas curtas mas saborosas férias, após mais um ano de trabalho que sempre me parece uma eternidade, lá se foram as delicadas leituras, subsequentes interpretações estampadas no papel electrónico que mentes brilhantes nos disponibilizaram, e, claro, lá se foram de novo os momentos tranquilos para essas interpretações.

Preparando-me para mais trezentos e não sei quantos dias de “luta”, fica-me sempre a sensação de que intelectualmente começo a regredir na justa medida em que me ocupo das tarefas profissionais a que alguns chamam de “ganha pão”.

Não que discorde deste modo de retratar o trabalho. Afinal ainda vou engrossando a corrente que, melhor ou pior, vai produzindo alguma coisa de útil para o país. O meu mal-estar, quanto ao dito trabalho e que de resto já se vem manifestando há algum tempo, encaixa-se, isso sim, a um outro nível que tem mais a ver com uma citação que li, seguramente através de um dos meus autores preferidos, e que diz assim; “o trabalho é bom quando dá prazer. O grande problema é quando o prazer começa a dar muito trabalho”.

Nunca confundir por favor este pensamento com o do outro que matava, estropiava, seleccionava e, ainda por cima, inscrevia no sítio de todos os horrores: “o trabalho liberta”. Nada disso, nada de mentes loucas.

Mas voltando ao que me interessa, ainda não encontrei melhor e mais simples maneira de exteriorizar o que sinto pelo que, com a idade, cansaço e pouca vontade de remar contra a maré que dia-a-dia de mim se apodera, passei a indiscutível fã da segunda parte da primeira citação. Pensem o que quiserem, mas é este mesmo o estado em que me sinto.

Vivo, apesar de tudo. Atento, mau grado o gosto de alguns, crítico e quantas vezes cáustico, pese embora tal não satisfaça espíritos mais fechados. Cada um é como cada qual e, já agora, nunca esqueçam, afianço-vos eu, que este estado pessoal de coisas não é afinal, ainda que neste particular a meu contra-gosto, muito diferente do Estado a que pertencemos.

Também quero e devo acrescentar que, acima de tudo interessam-me os destinos da minha Pátria. É aliás por isso que ainda escrevo, às vezes faço rádio, ocasionalmente faço coisas que resultam das minhas imperfeições e é bom de ver que então já me chegam os problemas que tenho para manter a minha vida em ordem e para me entender com os capitalistas, os sexualistas, os utopistas, os mitómanos, os demagogos, os internacionalistas, os comunistas, os trotskistas e até com o Sindicato dos Alfaiates.

A vida não é fácil. Nem para mim! Mas sinceramente não me sinto infeliz, medíocre, repulsivo ou mesmo vazio. E ainda bem que o destino me concedeu até hoje uma vida limpa e sem desmedidas ambições, que pude acompanhar o crescimento dos meus filhos, ouvir-lhes o palrar e as primeiras palavras. Se cheguei tão longe foi precisamente porque em todos os lugares onde estive, sozinho, com eles ou com a mãe deles, sempre me senti na minha própria casa.

É por tudo isto que eu acho que uma reputação feita era antigamente objecto de primeira necessidade. Hoje, assim não acontece. E esta é a razão pela qual vos disse há alguns dias atrás que ainda havia de ter uma conversa com algumas mentes mentirosas. Deixo-vos em cima o retrato ou o exemplo que nunca deveria sê-lo, das mentiras do nosso mundo.

Não observaram ainda a amizade criadora de Obama, a pomba branca, de Sarkozy o tal que se limita a ser ambicioso sem que o consiga, do sedutor Berlusconi, ante a serpente Kadafi, que um dia disse que bem e mal são preceitos de Deus, que ele amará mas que deve ser uma originalidade só dele. Certo, certo, é que chegado o tempo em que já não dá jeito o aperto de mão, o abraço caloroso, então vai daí e expulsem-no do país, com bombas, com metralhas, com asas voadoras, porque ele é um sabotador da tranquilidade e da ordem internacional. Liquidem-no porque ele despreza o seu próprio povo. E de facto é verdade! Só que toda esta acção tem um pequenino grande problema.

Quer seja na Líbia ou noutro sítio que lhes seja favorável - recordam-se do Iraque? - foram estes apertadores de mãos que criaram os monstros tolos em que se tornaram os delfins de outrora. Quais foram as virtudes que os mais fortes viram em terras longínquas para, em dado momento, o certo, elegerem cáfilas de malfeitores que subjugassem os da sua própria raça? Nós sabemos muito bem quais foram esses dons que as potências reinantes vislumbraram e apoiaram por décadas a fio. E também sabemos que em vez de apresentarem a verdade nua e bastante fácil de que a vossa acção «desinteressada» mais não era do que uma acção muito “interessante” e “interessada”, deu no que deu. O mais que conseguiram foi virar o feitiço contra o feiticeiro! Sim, porque embora o mundo seja isto mesmo, não tem que ser sempre isto mesmo. Uma interesseira alta espiritualidade jamais se poderá comparar com a honradez e a respeitabilidade de qualquer espécie dum homem puramente moral.

Temos de obrigar as falsas morais a curvarem-se, antes de mais nada, perante a hierarquia de quem persegue virtudes. É o que me parece.

Por isso mesmo é que, neste escrito, vos falei abertamente de mim, um pouco dos meus e um tudo-nada dos outros. E sabem porquê? Porque hoje pediram à minha mulher que lhe emprestassem o “livro de instruções” de que se serviu para educar os nossos filhos.

Ainda que me canse o meu trabalho, se me escape algum prazer em fazê-lo, não ambicione desmesuradas dimensões, ainda que os juízes mais sagazes às vezes estejam convencidos do carácter culpável das práticas dos feiticeiros do nosso tempo, não acredito que essa culpabilidade seja castigada. É também por tal facto que há pessoas a quem não devemos estender a mão em jeito de saudação. E se tivermos forçosamente de o fazer, então devemos procurar que elas tenham unhas bem aguçadas para picar fortemente as suas mãos. Queremos um mundo melhor.

Mário Rui

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Algarve





Regressei do Algarve e estou de volta a Portugal. É pena! Começava a habituar-me a uma vida perfeita longe do meu país de origem. Mas como tudo o que é bom acaba rápido…

Com a minha ida ao Algarve vim a descobrir que a crise é selectiva e, curiosamente, detesta os ares do sul. Lá em baixo não há carro, casa ou iate que se deixe abater por ela, o que acaba por ser uma desilusão porque sempre me disseram que a crise é como o sol: quando vem é para todos.

Não tinha oportunidade de ir ao Algarve já fazia cerca de dez anos. Talvez por isso as coisas me tivessem parecido mais intensas, únicas e especiais. Da praia, do mar e das festas de final de tarde às noites quentes e às mulheres, tudo no Algarve tem um toque que parece muito pouco nacional.

Passar férias no Algarve faz-me sentir como se estivesse a passar férias em Miami, mas a pagar em euros. A água do mar é calma e quente – com temperaturas a rondar os 24 graus -, as pessoas fazem-me acreditar que as mulheres portuguesas são mesmo das mais bonitas do mundo, as festas de final de tarde na praia e que se estendem até à noite não deixam ninguém indiferente, a quantidade e qualidade de dj’s internacionais que por lá passa fazem os cartazes dos principais festivais de Verão parecerem para meninos e o ambiente que envolve tudo isso não se vê em mais nenhuma parte do país.

Mas o Algarve é cada vez menos nosso dada a quantidade de estrangeiros que por lá passa. Mas não deixa de ser menos entusiástico saber que temos algo de bom para lhes oferecer. E verdade seja dita, os preços que lá se praticam são um mimo para eles. Para nós, tudo no Algarve parece disforme e antagónico para um povo que, na sua grande maioria, sofre com as dificuldades económicas actuais.

Para mim, o Algarve passou a ser como um grande amor de Verão, mas daqueles que não ficam enterrados na areia e sem o qual eu não saberei viver a cada ano que passa.


Rui André


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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Campeões assim?


Como a solução para a maior parte dos nossos problemas passa por assumi-los, também o problema que é a falta de humildade de alguns clubes portugueses de futebol deveria ser ultrapassado assumindo que o erro passa muitas vezes pela incompetência e falta de dedicação dos seus respectivos jogadores e dirigentes, mais do que a incompetência dos árbitros de que tanto se fala.

É admissível e moralmente aceitável, pois, que uma equipa que pratique bom futebol se queixe da arbitragem quando esta se revela tendenciosa. Já não o é quando uma equipa que pratica um futebol vergonhoso se desculpe com as decisões erradas do árbitro quando nada fez em campo para inverter o resultado.

Mais lamentável do que a situação que envolveu a ausência do árbitro no jogo da 2ª jornada do campeonato que opôs o Sport Clube Beira-Mar ao Sporting Clube de Portugal, é a tentativa cobarde dos que procuram bodes expiatórios para o insucesso da sua equipa.

O Sporting Clube de Portugal não pode e não consegue escapar à realidade nua e crua que lhe corre nas veias: o mau futebol que tem vindo a praticar nos últimos anos envergonha e desmoraliza os seus adeptos e ridiculariza a própria instituição.

Há muito que não via tão mau futebol como aquele a que assisti à 2ª jornada em Aveiro. Por isso, não posso achar admissível que uma equipa como a do Sporting que todos os anos se apresenta como candidata ao título se continue a desculpar com a incompetência dos árbitros, quando o único motivo para os seus sucessivos insucessos é tão só o de que as outras equipas são sempre melhores e eles medíocres no futebol que praticam.

Longe de mim pedir que pratiquem o melhor futebol ou que vençam todos os jogos que isso não me dava jeito nenhum. Peço apenas que evitem o embaraço de vos verem como uma instituição que, ao negar a visível falta de competência dos vossos jogadores e dirigentes, se torne tão baixa e mesquinha e que em nada se coaduna com a grandeza a que há muito tempo atrás habituaram os vossos adeptos.

A mim dá-me imenso jeito que continuem a jogar assim. Mas é preferível que assumam a vossa falta de qualidade em vez de nos sujeitarem a todos nós com desculpas de mau perdedor.

Rui André
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sábado, 20 de agosto de 2011

Ilusões



Mas como será possível que pessoas se passeiem tranquilamente dentro de uma piscina sem se afogarem?

Não se trata de uma piscina, mas uma recriação do artista argentino Leonardo Erlich – um criador de ilusões.

Uma velha piscina foi aproveitada para esta ilusão: no topo, foi montada uma estrutura de vidro laminado; sobre o vidro laminado, água.
Uma abertura, no exterior da piscina permite aos visitantes entrarem lá para dentro e experimentarem a sensação de caminhar debaixo de água – completamente secos.
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Interrogações e às vezes certezas

Não que seja minha preocupação falar-vos da multiplicidade de doutrinas, ou se preferirem de religiões, que caracterizam o nosso tempo. Sendo certo que as há de cariz ao mesmo tempo religioso, social e político, também não é menos verdade que outras se ficam apenas pela fé e pelo carácter social de que estão ou são embuídas.

Não é igualmente minha intenção filosofar em redor do que cada uma das muitas que por aí professam, transmitem aos respectivos crentes. Ser-me-ia difícil traduzir em palavras ou até em pensamentos o que verdadeiramente representam tantas doutrinas para cada um dos seus seguidores. Esta dificuldade, é bom de ver, resulta apenas da minha ignorância e impreparação para tratar tal tema com alguma, mínima que fosse, propriedade.

Também não quero fazer juízos de valor em relação às práticas de que cada uma se serviu, ou serve, para levar por diante os seus intentos. Não esqueçamos que, genericamente, todas amaram e amam o próximo e o seu próprio profeta, leia-se Deus, ainda que de maneiras diversas. Todas, ou quase todas, mutilaram, mataram, em nome de uma fé que aos olhos de civilizações tidas como avançadas no tempo, foi, e ainda é, algo de difícil compreensão senão mesmo de inconcebíveis actos.

Quase me apetece dizer que a crença, a religião indistinta, não tem ainda um fim em si mesmo. Às vezes, digo eu, o apreço pelo rebanho é mais antigo e forte que o apreço pelo indivíduo.

Bom, mas como disse no início, não vou dissecar em função destes últimos considerandos, até porque se o fizesse estaria a negar-me a mim mesmo. É que eu também tenho um Deus. Imagino que diferente do Deus de outros crentes, mas mesmo assim o meu Deus. Consola-me e dá-me ajuda manter-me sempre discípulo de um mestre. Não sei se assim é com outros da minha espécie, mas também não é importante que assim seja. Crucial é que nunca deixemos que o joio pretenda passar por trigo.
Vem tudo isto a propósito da recente visita do Papa Bento XVI a Espanha. E o que adiante vou dizer, é igualmente verdade quanto a qualquer outro destino geográfico que o Papa tenha, ou venha a traçar.

Na busca do conhecimento, não o querendo profundo demais porquanto se tornará necessariamente metafísico, quantas vezes já me interroguei sobre a mole humana, de verdadeiros crentes, presumo eu, que sempre acompanham e veneram esta figura papal esteja ela onde estiver. Sinceramente, aplaudo com gratidão este modo religioso de estar do bom e do mau, do pobre e do rico, nobre e plebeu, e todos os outros nomes que engrossam o número de fiéis que sempre dizem “presente, eu estou aqui”.

Interroguei-me e continuo persistentemente com dúvidas, porque me faltam respostas capazes, para tal correnteza de fé. Caberá aqui dizer que a fé, tal como o amor, não se discute. É! E quanto a isto por aqui me fico.

Voltando então ao cântico e à dança em redor da figura católica, apostólica e romana papal e, se quiserem, porque estou aqui de espírito aberto a outras figuras de fé que arrastam multidões, digam-me lá, se este caudal humano é movido por uma espécie de tendência ascensional que a mais não aspira senão a um Mundo melhor, personificado através destas figuras. Será isso?

Confesso que os meus olhos vislumbram sempre, sobretudo aquando da proximidade do Papa, não conhecendo tanto que o mesmo possa dizer em relação a outras religiões, olhares de júbilo, de alegria, de vontade de viver e de sentir que a vida em si mesma não é um fim mas antes um meio. E parece-me tão verdadeira esta maneira de louvar, quer se trate de jovens como de menos jovens que, a mim, mais perplexidade me causa. E, repito, não retrato este quadro em sentido crítico, bem pelo contrário quero fazê-lo na mais pura e tolerante inocência dos meus pensamentos.

A minha grande questão continua a ser, simultaneamente, tentar entender esta alegria que, diga-se em abono da verdade, muitas vezes contagia o longínquo, e a grande causa que a motiva. Se repararem bem, não me interessa estar aqui a fazer a apologia desta ou daquela crença. Importa-me muito mais saber que ela torna felizes alguns seres, e não são poucos, felicidade que em muito se assemelha a algo que é como dizer: “hoje consegui escalar esta alta montanha para pescar peixes”.

É de facto fascinante a existência, em total disponibilidade, de povos, a quem até podeís chamar de vivências apenas medíocres e vulgares que, somados aos mais difíceis, mais delicados, mais subtis, instruídos, e se vos agradar aos mais nobres, se unem num propósito único: o de terem um ideal nobre em vista.

Depois, até se podem separar, cada um para o seu canto, mas eu sempre achei que mesmo após a separação, para estas personagens a dor também é alegria e quantas vezes a noite é um Sol também.

Expliquem-me mais e melhor, se souberem, para além do que eu penso e, se assim for, só vos poderei elevar à condição de sábios. Mas a populaça será também ela toda ouvidos para as vossas justificações.

Mário Rui
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Os muros e as mentes





Quase me esquecia de vos dizer que no dia 13 de Agosto de 2011, o muro de Berlim, derrubado em Novembro de 1989, faria 50 anos. É bom que não esqueçamos estas datas. No entanto, é provável que em exame mais rigoroso alguns se sintam divididos pelo espírito de análise crítica e histórica da nossa cultura relativamente a tal monstruosidade. O que foi por demasiado tempo grande privilégio de alguns, não foi com toda certeza nada de comum com o nobre carácter de muitos, muitos mais.

A minha opinião é que teríamos de desesperar cruamente da nossa alma de seres humanos se estas horrendas invenções de mentes doentias persistissem. Os muros, as barreiras, nunca aproximaram ninguém. Bem pelo contrário. Segregaram espíritos bons!

Mário Rui
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Onde nascem as reformas?

Como dizia há dias, num dos meus escritos, a saga continua. Os acampados em Espanha, as batalhas na Grécia, as manifestações em Israel, os incêndios em Londres, as pilhagens em Birmingham, Liverpool, Nottingham e Bristol. Polícias e ladrões. Os bons contra os maus. A lei contra a anarquia.


Mas agora quero acrescentar a esta lista mais alguns episódios que fazem capa nos jornais ditos de referência que estampam outras realidades, afinal não muito diferentes das primeiras, ainda que mais pacíficas em termos de actuação.


Se bem que os contestatários de Bento XVI tenham levado porrada pelo facto de estarem contra os gastos da visita do Papa a Espanha, ainda assim, o que podemos ler na imprensa dos últimos dias tem mais a ver com; Estado gasta por ano 57 milhões de euros em rendas, crise fez aumentar em 23% o fecho de empresas nos 3 primeiros meses do ano, propostas de Sarkozy e Frau Merkel para o reforço da (des)governação europeia não convenceram os mercados, Messi derrota José Mourinho e Ronaldo – e aqui deixem-me salientar o que um tio meu, quando o tema da conversa versava futebol – sempre dizia e com gozada razão: “ … pois, pois, continuem a falar de futebol já que sempre que se marca um golo, o mundo pula e avança…” – subida de preços dos manuais escolares, câmaras cortam 633 postos de trabalho, mas despesa aumenta, o que é um serviço público de TV, e a isto junto que em 2002 um "grupo de trabalho" entregou as conclusões ao governo de Durão Barroso. Não foram aproveitadas e desde então a RTP torrou 2 mil milhões de euros públicos.


A conclusão principal do tal estudo seria a de diminuir os encargos com a TV do Estado, mas foi precisamente o contrário que sucedeu. Cá por mim não tenho grande opinião sobre o assunto porque a RTP não me interessa enquanto estação de TV do Estado uma vez que não se distingue das demais e consome muito mais recursos públicos.
Logo, privatizar ou não é-me indiferente. E só não o será para aqueles que "mamam" habitualmente no úbere do Estado cada vez mais depauperado, incluindo os respectivos trabalhadores cuja produtividade em alguns casos deve ser lendária.


É certo que outros destaques também contidos nesses jornais, nos vão transmitindo, ainda que com pouca convicção, alguma esperança de uma vida melhor, aspectos da actividade quotidiana do País e do Mundo.


Numa rápida vista de olhos pelos principais títulos parece-me de todo importante relevar da recente descoberta de 17 novos anticorpos contra o VHI e que podem vir a ajudar a desenvolver uma vacina conta a sida. Evidentemente que todos nós nos regozijamos com esta descoberta.


Aqui sim, haverá com toda a certeza um bom motivo para que nos alegremos, nem que seja por escassos instantes. Chama-se a isto e a tais factos similares, «civilização» ou «humanização». Ou, então, se preferirem, chame-se-lhe simplesmente sem louvor nem censura, e se quiserem também com uma forma mais ou menos política, o verdadeiro movimento democrático do mundo e da Europa em particular.


Ainda a propósito dos destaques que nos vão dando alguma necessidade de crença, li que, um tal de Warren Buffett, lá da terra tio Sam, pediu ao congresso norte-americano, para deixar de mimar os super-ricos. Esse apelo de “por favor cobrem-me mais impostos que eu já me estou a sentir mal” surgiu depois de conversar com os seus amigos mega-milionários a quem os impostos só têm feito cócegas. Como? Percebi bem? Voltei a ler o artigo, e é assim mesmo, ipsis verbis.


Como eu gostaria de saudar, ou só acenar um leve cumprimento a este homem que, sendo um dos três mais ricos do Mundo, sem medos e sem preconceitos, diz abertamente o que pensa. E a atitude, pouco me importando de onde lhe veio tanto dinheiro, é, quer se queira ou não, atitude de quem possui a grandeza de se tornar não apenas superior na acção, mas também uma consciência de louvada justiça.


Pena é que, como diria o pensador, «o que nós fazemos de bom, raramente, ou mesmo nunca, é compreendido, mas somente louvado ou condenado». Ao que julgo saber, assim aconteceu e 12 membros do super comité do congresso norte-americano que tem como missão reduzir o défice, recusaram sequer trocar umas ideias sobre o assunto. Lamentamo-nos de uma Europa que perdeu o Norte e consequentemente se perdeu no caminho. Pobre América que também já não se poupa à vergonha de tal consolação.


Pobre Mundo este que não percebe que cada um dá o que pode e quer, e ainda assim é vilipendiado na praça pública. No nosso pequenino País, com fortunas pessoais colossais, nunca assisti a tal oferenda, ou melhor a tanta humildade que só poderia vir de alguém com muitos sonhos, de alguém que sempre tenha estado em permanente vigília quanto à má sorte dos outros.


Esse, a existir, seria o verdadeiro reformador de consciências, desconfiando eu, no entanto, que seria também condenado qual Warren Buffett.


Acabo já. Só gostaria de rematar os meus pensamentos acrescentando que, da Europa já esperamos tudo. Mas se calhar o mal vem mesmo da América. Acabou-se o bom tempo de outrora, e foram alguns narcóticos desse paraíso passado que nos intoxicaram e nos traçaram o destino que há-de vir.
Mário Rui
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domingo, 14 de agosto de 2011

A bela época dos espíritos livres


Eliminadas as formas substanciais, só resta aos corpos
a extensão e o movimento. O resto há-de ser mecânica ...

Mário Rui
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sábado, 13 de agosto de 2011

Tabacaria


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
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Dos pobres e dos outros

Li hoje no jornal “Público” um artigo assinado por uma tal Sr.ª de São José Almeida que, francamente, me deixou enojado, é o termo, e onde a tal articulista se debruça sobre o Plano de Emergência Social que o Governo se propõe levar a cabo. Trata-se de um artigo extenso mas, para o caso, só me interessa falar um pouco a propósito de certas opiniões lá retratadas e de alguém que de facto me parece, posso estar enganado, da chamada esquerda caviar.


Se realmente isto é escrito por alguém que, na minha opinião, em muito se assemelha a uma certa esquerda bem instalada na vida, então até eu gostaria de, pela primeira vez, me filiar num desses partidos. Não sei se seria possível fazê-lo ao sábado mas, mesmo assim, talvez estivesse na disposição de hoje mesmo me munir de cadeira e guarda sol e por lá ficar até que as portas para a minha inscrição se abrissem. Provavelmente só na próxima segunda-feira.


E porque é que a senhora escreve o artigo? Porque se lembrou disso quando ouviu esta semana falar em algumas medidas do Plano de Emergência Social, governamental, para acudir à pobreza.


E porque é que a senhora se indignou tanto com este plano? Porque lhe lembra o "conceito de organização social que lhe está subjacente, uma organização da sociedade que aceita como normais as desigualdades sociais, para quem a existência de classes ou grupos sociais com direitos diferentes é da "ordem natural" do mundo ( conceito que de natural nada tem, e que procura ignorar que as sociedades humanas são construções obtidas da capacidade de racionalização e de abstracção do intelecto humano" ( sic).


Está aqui resumida a essência da ideologia de esquerda: a igualdade como conceito normativo e a forma de a combater, racionalizando e abstraindo...

Mas diz mais a erudita articulista : “é essa normalidade da desigualdade, essa aceitação de que há pessoas diferentes, que não podem ser iguais a nós – os que temos acesso a trabalho e a meios de sobrevivência -, essa conivência com a ideia de que há uns pobres que vivem das esmolas e dos restos, das sobras dos ricos ou dos remediados, salta de forma brutal e é recuperada enquanto conceito de análise e de organização social, quando se observa algumas medidas do chamado pelo Plano de Emergência Social (PES), apresentado nas linhas gerais pelo ministro Mota Soares.”


O que é curioso e ao mesmo tempo revoltante, é que a tal normalidade da desigualdade e essa aceitação de que há pessoas diferentes, que não podem ser iguais a nós, é-nos dada justamente por esta senhora que, segundo o escrito no seu artigo, tem ou tinha um irmão, lá na casa enorme onde viviam cheia de gente, numa família grande, que uma bela noite, já passava do jantar entrou pela porta dentro com três miúdos pela mão, descalços, sujos e ranhosos. Desde logo, minha senhora, antes de dizermos o nome dos outros é bom que nos demoremos um momento a lembrar a impressão que sentimos na presença da incomensurável tragédia humana.
Não seriam certamente descalços, sujos e ranhosos mas talvez antes a verdadeira significação de tão brusco despertar da tal tragédia humana de que falei há pouco. É diferente, não é?

Os meus pais não estavam e as empregadas (a Celeste e a Maria), ter-se-á enganado ou as suas criadas deixaram de o ser para serem só empregadas e, quiçá, como era corrente ao tempo (finais dos anos sessenta), nem por isso receberiam pelo trabalho que faziam porque para quem é de esquerda os privilégios dos pobres são o de trabalhar e não refilar, entraram em pânico com a novidade que o “menino” tinha inventado. Depois, acrescenta, que o “menino” meteu os três miúdos (evolução linguística natural de pessoa de teres e saberes) na banheira, encheu-os de champoo e sabonete e esfregou-os arduamente enquanto eles mudavam de cor. Vejam bem, de champoo e sabonete, qual epopeia homérica para aqueles três miúdos que mudaram de cor. Que jornalismo cretino!


Bem, sinceramente já nem me apetece acrescentar muito mais às minhas ortodoxas reflexões sobre o artigo do jornal e especialmente sobre a postura de quem assim escreve. Do PES, o tal plano de que a senhora muito desconfia, também não tenho vontade de o dissecar até porque ainda o não conheço.

Até pode ser mau, contraproducente, até pode ser uma segunda edição da sopa dos pobres dos anos sessenta. Logo veremos.


Agora, aquilo a que não deveríamos assistir no ano da graça de 2011 do século XXI, era a esta cultura de ópera com que frequentes vezes somos brindados por alguns articulistas.


Há gente pobre, muito pobre? Há, sim senhora! Há gente a quem a natureza humana nos obriga a ajudar? Há! E todos juntos havemos de o fazer, ainda que a história dos nossos dias acabe por ser um sem-número de pequenas cobardias, um sem-número de pequenas preguiças. Agora, o que a história dos sobreviventes das actuais calamidades não há-de ser é fingimento.


Por último e a quem interesse, deixei de gostar dos artigos escritos por esta senhora.Entendo que o que escreveu hoje, fere a sensibilidade dos que têm algum orgulho e estima própria, ainda que sejam pobres, descalços, sujos e ranhosos. Mas saiba a senhora que, mesmo assim, é mais difícil ferir a vaidade dos pobres quando foi ferido o seu orgulho.

Mário Rui

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Caos na NBA


Photoshop (Londres a ferro e fogo)

Mário Rui
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Pillage People (YMCA)

Photoshop (Londres a ferro e fogo)

Até no caos há comédia. Sinal dos tempos!

Mário Rui
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O que deve a Europa ao Mundo?

(photoshop)


Mas afinal, o que deve a velha Europa ao Mundo? Muitas coisas, boas e más, e sobretudo uma, que é ao mesmo tempo das melhores e das piores: o grande estilo na moral, a terrível majestade de infindas reivindicações, de infindos significados, todo o romantismo e todo o carácter sublime das problemáticas morais - e, por conseguinte, justamente a parte mais atraente, mais capciosa e mais seleccionada daqueles jogos de cor e de seduções para viver, em cuja cintilância arde hoje ainda o céu da nossa cultura europeia, o seu céu crepuscular - e, talvez por tudo isto, um dia se apague.

Mário Rui
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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vilar de Mouros. O Woodstock à portuguesa faz 40 anos






É bom fazer constar que em 1971 já havia portugueses visionários. Nem tudo era escuro, e a claridade também aparecia embora com muitos vigilantes atentos à moral das coisas. Realizar grandes coisas, naquele tempo, era difícil; mas o mais dificil era ordenar grandes coisas. E grandes coisas aconteceram à época. Hoje, desconfio dos visionários...
Mário Rui
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terça-feira, 9 de agosto de 2011

A saga da democracia


E a saga continua. Os acampados em Espanha, as batalhas na Grécia, as manifestações em Israel, os incêndios em Londres, as pilhagens em Birmingham, Liverpool, Nottingham e Bristol. Polícias e ladrões. Os bons contra os maus. A lei contra a anarquia.



Não me perguntem qual a razão para tanto protesto e especialmente para tanta violência. Há anos que ouço falar em segregação, xenofobia, marginalização, exclusão social, como cerne de todos estes movimentos, às vezes espontâneos, muitas outras vezes organizados até ao mais ínfimo pormenor.



De todo o modo, e seja qual for o rastilho que lhes dá chama, é preciso estar atento. O Mundo está em convulsão e talvez seja melhor que todos comecemos a tentar encontrar no outro mais um da nossa comunidade, ainda que na realidade assim não seja. Que pelo menos não os afastemos do mundo que afinal é pertença de todos.



Se em África as barrigas vazias não conseguem sequer gritar por ajuda, fruto da ganância dos que muito querem ter, no velho continente europeu as coisas passam-se de outra maneira. É sabido que muitas vezes o protesto não é em nome da fome mas talvez antes em nome de apetite a mais. Um apetite que se quer assemelhar ao dos que muito têm. Parece-me que aspirar a tanto também será pedir demasiado.



Agora pedir um pouco que seja aos que detêm quase tudo, isso sim, parece-me razoável. Mas atenção porque esta razoabilidade não pode nem deve assentar em princípios de pura selvajaria. É bem certo que a cara deste nosso novo mundo tem sido moldada com as mãos dos que têm poderio e quase sempre sem olhar aos mais necessitados.



E, estes últimos, quer queiramos quer não, já há muito que se interrogam; mas que espécie de homem sou eu se vivendo apenas para o meu trabalho, para a minha mulher e para os meus filhos, os vejo constantemente ameaçados? Não será meu dever defender o que amo e me pertence? É também um direito que lhes assiste. Se calhar aos que trabalham e também aos que procuram ocupação.



A sua carga é penosa, incerta a sua esperança. É necessária uma verdadeira habilidade para lhes inventar soluções ou, melhor, consolações. Nós, os que vamos sobrevivendo, também nos vangloriamos por até aqui termos vivido numa época que gosta de se elogiar por ser a mais humana, a mais suave, a mais justa que alguma vez existiu debaixo do Sol.



Se assim tem sido, e duvidando eu de tal afirmação, então seguramente que os mais bafejados pela sorte e sobretudo os que tudo roubaram em nome da construção de uma civilização mais solidária e unida, enganaram-nos, falharam. E esse falhanço tem vindo a repercutir-se das mais variadas formas como disso é exemplo a saga a que me referi no início.



Que volta dar a isto? Os conflitos que por ora se vivem em vários países europeus, e aqui viro em particular a minha atenção para Inglaterra, não serão certamente insolúveis. Se forem, então o nosso mundo suicidar-se-á tragicamente.



Não sendo um estudioso destas matérias ditas sociais, mas reconhecendo haver injustiça, como de resto qualquer simples espectador reconhecerá, no que toca à justa distribuição da riqueza, às oportunidades que se abrem a algumas pessoas e se fecham hermeticamente a outras, ainda assim, acho que a insurreição a que assistimos por estes dias em cidades inglesas, mais não é que puro vandalismo a soldo de uma ignóbil recriação de adolescentes que mais não reinvindicam senão o gosto da violência pela violência.



Ainda não vi, nem ouvi, os verdadeiros desafortunados da vida à frente do pelotão a apontar as verdadeiras causas para tal actuação. É a crise do desemprego? É a marginalização a que muitos são votados neste País? Será que também acham que a democracia é apenas e só uma forma de decadência da organização política? Eles que durante anos e anos de verdadeira guerra ouviram os discursos inflamados e de fé de Churchill.



Não. Não posso aceitar que estes últimos acontecimentos tenham razões fortes que os sustentem.
Começa-se a adivinhar o que vale alguém quando o seu talento começa a enfraquecer, quando deixa de mostrar do que é capaz. E alguns cidadãos e mesmo dirigentes políticos ingleses já deram provas dessa fraqueza.



Quanto aos tais adolescentes que mais não reivindicam senão o gosto da violência pela violência, tal como disse antes, é preciso guardar alguma da nossa preocupação porque, apesar de tudo, eu também sei, e foi o mesmo Sir Winston Leonard Spencer-Churchill que o disse: «neste mundo circulam muitas mentiras, mas o pior de tudo é que metade delas são de facto verdades»
Mário Rui
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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Indústrias criativas

Não é que me apeteça rir, até porque o assunto é suficientemente sério para o fazer. Há uns anos atrás, no meu papel de radialista e no seguimento de dezenas de entrevistas que entretanto já havia feito em outras tantas eleições, autárquicas, legislativas, parlamento europeu, eu sei lá que mais, sentou-se no estúdio para mais um saudável e renhido frente-a-frente eleitoral, um candidato, por sinal excelente pessoa, que ali ia esgrimir os seus argumentos com os restantes pares de debate.


Para o desenvolvimento da terra, e estávamos em campanha autárquica, este candidato batia-se fortemente pela criação das chamadas indústrias criativas como tratando-se de motor impulsionador de uma nova e profícua actividade, toda ela virada para, afinal, a melhoria das condições de vida de todos os munícipes.

O primeiro aspecto que gostaria de relevar é, ainda, a minha santa ignorância, assim dita porque ainda hoje persiste, sobre o que é isso de ‘indústrias criativas’. Com a total disponibilidade da minha parte para melhor compreender o assunto, muito pesquisei sobre o mesmo e, confesso, pouco aprendi ou, dito de outro modo, concluí tratar-se de pura dialética, de resto muito em consonância com o que se ouve em campanhas eleitorais.

Trago à escrita esta dissertação inicial, não para ridicularizar a pessoa que na altura a defendia, mas antes para me penitenciar por não ter chegado a raciocínio tão eloquente que de facto me permitisse perceber de que coisa falava aquele candidato. Se calhar, e sem qualquer tipo de vergonha, já o disse em relação a outros, a culpa para tal disfunção só a mim poderá ser imputada até porque, se “ burro velho não aprende línguas, não é por ser velho. É mesmo por ser burro”.


Será talvez o meu caso, embora eu de indústria ainda perceba alguma coisa, a minha escola vem de lá e a minha ocupação profissional também. Agora de ‘indústrias criativas’ é que já me embaraço ao tentar decifrá-las.


Bom, mas adiante e vamos ao que agora interessa. E o que agora interessa é, parece-me, volvidos alguns anos após a tal entrevista/debate de que vos falei, repito, parece-me que começo a ver alguma luz ao fundo do túnel.

Aliás já num Governo anterior, nem sei bem em que ano, um outro ministro e julgo até que com a mesma pasta, a da Economia, falava também muito acerca do turismo português e do seu potencial quanto ao real crescimento económico do País. Ou seja, a ideia, à época, e segundo a minha pobre opinião, seria a de pôr todos os portugueses de bandeja numa mão e guardanapo na outra, para servir condignamente esta indústria turística, mais na vertente hoteleira.


Sim, porque estas indústrias têm tantas outras vertentes que o melhor é nem aflorarmos tal coisa. Estaria esse ministro a falar igualmente de indústrias criativas? Às tantas até estava e eu, parvo como sou, a não perceber patavina do que ele dizia. Sou mesmo tótó.


Agora um outro ministro – a mesma pasta - revelou esse mesmo desejo no livro "Portugal na Hora da Verdade", editado antes de assumir o novo cargo, ...com a ideia de trazer pensionistas ricos do norte da Europa para virem viver para o nosso país. E para quê? Presume-se que para dar novo ímpeto à nossa depauperada economia. Se com isso atingíssemos o nosso zen, o nosso ressurgimento, eu até rezaria a todos os santos para que essa vaga se aproximasse com avidez! Como se se tratasse de alcançar alguma coisa.


Finalmente percebi o que são ‘indústrias criativas’. Do mal o menos. Velho e ainda assim a tentar assimilar um pouco do conhecimento deste Mundo Novo. Não me julguem profeta da desgraça, peço-vos, mas a despeito desta ideia e deste ministro, este homem tem, na vida, a arte de improvisar; espanta mesmo o mais subtil dos observadores.


Mas antes de almejada ou apenas estudada esta nova forma de crescimento, por favor Sr. Ministro, importa que se conheça o seu verdadeiro objectivo, o seu horizonte, as suas forças, os seus impulsos, os seus erros e sobretudo o ideal que norteia tal ideia. Olhe que indústrias já temos muitas e algumas delas criativas quanto baste.

Olhe que governantes a pensar de modo tão teatral já os tivemos em quantidade suficiente para dizermos chega! Pois não sabe V. Exa do que necessita o País? Necessita de homens que ordenem grandes coisas: educação, instrução, conhecimento, saúde, trabalho, igualdade de oportunidades, e verá que conseguiremos ser País.


Qual País de turistas? Qual País dos nossos pais? É para o País dos nossos filhos que nos devemos dirigir. Para esse é que devemos, todos, lançar o nosso impetuoso desejo, mais impetuoso que o próprio mar.


Deixando de parte este tom exortativo, só espero deste Governo homens que experimentem mas com os pés bem assentes na terra, que vejam longe, que ouçam os outros, que saibam esperar e que sonhem constantemente com coisas extraordinárias como as que antes enumerei. Livrai-nos das vitórias mesquinhas.


Mário Rui

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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Só pode ser humor (mau) alemão! O que acham?


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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Verão



Como é que está a ser o vosso Verão? Bom? Mau? Assim assim?


O Verão e o Natal são as épocas do ano que eu mais gosto. A única diferença está no facto de eu contar desesperadamente os dias até ao próximo Verão, o que já não acontece com a época natalícia porque sinto sempre remorsos por não oferecer prendas a ninguém.


Com o Verão nada disso acontece porque nele não há espaço para remorsos ou arrependimentos, tristezas ou mágoas.


O Verão é a altura ideal para os sonos tardios e para as horas trocadas, para os festivais e para as tainadas, para ver os dias ficarem mais compridos - e por isso para evitar a depressão de ver a noite chegar às seis da tarde - e para ver o sol cair na linha do horizonte e esperar que nasça outra vez.

O Verão é também a melhor época do ano para emagrecer e por isso para dar nas vistas, para aproveitar as ofertas de emprego que outros recusam, para comer bem, para sair e conhecer novas pessoas e locais, para acabar o livro que começámos a ler ainda no Inverno e para o inevitável “lava-me porco” no vidro do carro que a água da chuva não limpa.


Com o Verão vêm também os amores – os que ficam enterrados na areia para serem desenterrados no ano seguinte e os que duram um pouco mais - e as desilusões a eles associados, os amigos com quem tomamos um copo e que esquecemos até os vermos no Verão seguinte, as amigas das amigas, as noites sem casaco que fica a ganhar pó no armário até à época fria, e os turistas e a família do estrangeiro que nos obrigam a aperfeiçoar uma língua que não é a nossa.

Inevitavelmente, o Verão é a época do ano que nos anima a alma - e as caipirinhas o corpo -, que arruma com as preocupações que preferimos esquecer para só voltar a pegar no mês seguinte, que dá aquele empurrãozinho às fantasias e às aventuras de uma só noite – e às vezes de mais – e que nos faz ocupar a memória do computador com os álbuns das vivências que recordaremos para sempre daquele quente e longo Verão.


Não sei se já vos disse que o Verão é uma época muito especial e os sonhos que se constroem das noites que rapidamente se tornam dias também. Por isso, posso dizer-vos garantidamente que o Verão é a minha praia e a minha praia é aquela que eu estou a ver precisamente ali ao fundo
Rui André

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Coerentes pensamentos

Sinceramente começa a faltar-me paciência para ler alguns artigos com a assinatura do Dr. Vital Moreira, no jornal Público. Paciência não tanto quanto à forma como escreve mas sobretudo quanto ao conteúdo do que escreve.


Então não é que agora, este douto pensador, vira a sua atenção, ou se calhar acção, no sentido de extinguir instituições de ensino privativos militares: o Colégio Militar, os Pupilos do Exército e a Escola de Odivelas. Apresenta algumas razões para o facto: sendo financiadas pelos respectivos utentes nem assim desarma porque mesmo não sabendo, acha que há por ali financiamento encapotado do Estado.


Mas diz mais e passo a citar: «no caso das escolas privativas, aliás, trata-se de uma tradição que atenta contra alguns eminentes valores constitucionais, como a ilegitimidade das prerrogativas de casta, a proibição da segregação em função do género, a gratuitidade do ensino público».


Sobre as primeiras razões que aponta, nem alvitro qualquer opinião já que me parece que o Professor continua embuído de um espírito de esquerda que há muito caiu em desuso, para não dizer em desgraça. Relativamente à gratuitidade do ensino público, dessa sim, interessa-me falar.


Desde logo para lhe perguntar onde está verdadeiramente esse ensino gratuito? Depois para lhe lembrar que, enquanto professor universitário na Universidade de Coimbra, anima uma associação privada, a CEDIPRE, que tem as seguintes características: é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, que se rege por estatutos e pela lei, com sede na própria FDUC, ou seja nas instalações da Universidade pública.


Como é que se relaciona esta associação privada, com a universidade pública?
Assim: por protocolo (!) que define a utilização de espaços, pessoas, instalações, equipamentos, e até a própria aquisição de livros. Além disso, toda a actividade académica da associação privada, deve ser aprovada previamente pela FDUC que também pode impedir actividades da associação, na escola. É também aí que se definem as contrapartidas da associação para com a escola pública. E que virão no protocolo.


Assim, a FDCU, manda nos espaços, no pessoal, no equipamento, nas instalações e nas iniciativas que a associação dispõe e exerce, no local que é da FDUC, ou seja, um local público, como é o de qualquer escola do Estado. Várias associações deste teor, apoiam e organizam quase dúzia e meia de cursos de pós-graduação, com duração variável e destinados a licenciados, em regime “pós-laboral”, ou seja, nas últimas horas das Sextas-feiras e aos Sábados.


Quem frequenta estes cursos, de pós-graduações, paga bom dinheiro – a quem? À entidade privada ou à pública?- pela inscrição e pelas propinas. Segundo as contas do CEDIPRE, por exemplo no ano de 2005, a maioria das despesas da associação, contabilizadas como “custos”, foi para…”honorários” (sic). Isso, mesmo com altos patrocínios público-privados, obtidos por protocolo, de empresas com óbvias ligações ao Estado, como Anacom, ERSE, Banco de Portugal, Instituto de Seguros de Portugal e Instituto Nacional de Transporte Ferroviário.


No artigo, Vital Moreira refere o facto de não estarem disponíveis os respectivos orçamentos daquelas escolas. Tal como o do CEDIPRE, cujo protocolo é desconhecido publicamente. Quanto pagou o CEDIPRE à FDUC em função de tal protocolo?


Quer acabar com aquelas escolas que têm tradição e custam quase nada ao Estado? Acabe primeiro com o seu CEDIPRE nas instalações da UC e ponha-o a funcionar em sítio arrendado ou comprado para o efeito, com pessoal pago para tal e sem ajuda do erário público.

Até quando o Prof. Vital Moreira abusará da minha paciência?


Mário Rui

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