quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sorria, está ser espiado

O novo ano está aí e eu ainda estou para perceber qual é a piada de celebrar com champanhe e passas a chegada de um ano que sabemos que vai ser terrível para todos.
Tirando isso, nada melhor para começar o ano do que saber que a Associação do Comércio Audiovisual de Obras Culturais e de Entretenimento de Portugal (ACAPOR) vai avançar com queixas-crime contra mil portugueses por pirataria ilegal de filmes através da Internet. Bem bom, hã? E mais, garante Nuno Pereira, presidente dessa Associação, que esta vai apresentar todos os meses mil queixas na Procuradoria-Geral, a começar já no dia 5 de Janeiro. Ou seja, ou eu muito me engano ou o Orçamento de Estado para 2011 vai ter de ser revisto para englobar os custos de construção de novas prisões em cada cidade, vila e aldeia. Sim, porque a Internet também chega às aldeias! E a ser verdade a concretização dessa medida, estarão os Tribunais cheios de ‘piratas’ informáticos até 2047 - partindo do princípio de que o mundo não acaba em 2012, obviamente.
Ao que consta, o download ilegal de filmes prejudica grandemente a indústria cinematográfica. E eu até podia concordar com isso se não continuasse a ver o Tom Cruise a viver numa casa de 40 milhões ou o George Clooney a passar férias em Itália no seu pequeno iate. E quem fala em cinema fala obviamente em música. Os bonzinhos, coitadinhos, os que se sentem lesados pelo download ilegal de músicas ou filmes, querem fazer dos outros os maus da fita por violarem os Direitos de Autor e por partilharem ficheiros ilegais na Internet. Na minha modesta opinião, eu acho que eles querem encher ainda mais os seus já largos bolsos.
Pergunto eu: se um cliente paga mensalmente à sua operadora telefónica ou por cabo para poder ter um limite de downloads, isso não significa que já está a pagar pelos downloads que efectua? Uma pessoa que aceda ao Youtube e aos conteúdos ilegais (?) lá depositados, está também a cometer um crime? Se querem efectivamente irradiar o download ilegal de filmes e músicas, sugiro que se centrem em quem fornece ou disponibiliza esses ficheiros e não em quem os descarrega. Ou seja, ir directamente à fonte de pirataria. E uma coisa é usar esses ficheiros para consumo próprio, outra é usá-los com fins comerciais. É tudo farinha do mesmo saco?
E perguntam vocês e muito bem: então e como é que eles têm acesso a informação privilegiada sobre o que cada um de nós faz ou deixa de fazer na Internet? Eu não faço a mínima ideia, mas acho que a espionagem de comunicações alheia é um crime grave. Com que autorização acedeu a ACAPOR aos IP’s e aos conteúdos acedidos pelos ditos piratas (?) informáticos? Partilhar ficheiros para consumo próprio não é crime. Crime é o preço dos CD’s e DVD’s, dos concertos e dos bilhetes de cinema. Isso sim, é um crime gravíssimo!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira