terça-feira, 7 de julho de 2015

Grécia, demito-me, obviamente!



É demais! Toda a gente percebe da Grécia, até eu. Toda a gente percebe de devedores e credores, menos eu, que não devo nada a ninguém. Vou demitir-me da Grécia, de lá vou ficar apenas com as gratas recordações dos meus amigos. Do Tirésias que tinha a mania de contradizer os mais importantes conselhos do mundo clássico, do Zeus convencido da sua suprema divindade, do Narciso que se olhava para ele mesmo e já agora da ninfa Eco, rapariga especialmente inflamada e dotada de amores e de outras coisas, e isso era bom para ela e para os que sobravam, embora fosse uma tagarela - talvez como muitos dos que hoje em dia usam o Facebook. Demito-me da Grécia pois só vejo outros ‘deuses menores’ obcecados por si mesmos e socialmente defeituosos, esperando avidamente a Némesis para a União Europeia. Despeço-me da Grécia pois esta abundância de comentaristas, escrevedores, fazedores do nada e quejandos que submetem a sua própria liberdade às paixões e interesses de terceiros, está a dar cabo da minha paciência. E seja qual for a opinião que ouça ou sinta, opinião que vai gastando mais senso do que aquele que adquire, gradualmente faz de mim burro. Ou então talvez seja tanta abundância tola que faz de mim pobre e quem sabe se o mesmo não estará a passar-se também com os gregos contemporâneos. Apolo, masculino que se fartava, está do meu lado; ainda hoje luta por tornar as pessoas conscientes dos pecados cometidos, ainda hoje age na purificação dos pecadores que à regeneração se sujeitam, poucos, entretanto. Já pedi a exoneração do cargo de fiscal da Grécia e inclusivamente da EU. Já me fartei dos que têm como objectivo em primeiro lugar tomar assento no Facebook para dizerem que estiveram aí , e em segundo lugar transmitir o resultado para o máximo de gente possível, mesmo que o resultado seja apenas estar enamorados de si mesmos. O ofício exonerativo entreguei-o a Zeus, pai dos deuses e dos homens e ele aceitou-o alegremente, tendo-me dito; - “rapaz, qualquer um de nós pode morrer após uma vida passada a ajudar fantasmas e mesmo que os tivéssemos percebido, acabariam por não ter sido mais do que umas ligeiras ondulações nas nossas mentes”. Estou farto de helénicos, não dos antigos mas dos actuais, alguns deles portugueses, e mesmo de mim já me vejo grego uma vez que tantos mitos de vozes que ouço na minha cabeça até me parece que nem são de outras pessoas mas sim mitos meus falsamente imaginados como sendo os dos outros. Boa noite, Grécia, antes que dê em Narciso! Pedirei a recondução do lugar quando achar que em Portugal desapareceram as criaturas de sensação e muito pouco pensamento e em lugar delas me aparecer o Manel que saiba do que fala e assim possa ajudar quem de facto precisa de ajuda. Nem que para isso tenha de ir desenterrar o "Escuta Zé Ninguém"
 
Mário Rui
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