quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Tem dias escuros e bafientos




Tem dias escuros e bafientos em que a partida de amigos se revela como algo demasiado veloz, sofrido e simultaneamente coisa mal compreendida. Antes mesmo de darmos o passo seguinte aflora-nos à memória aquela reminiscência de passado, de epopeias mansas mas não apagadas, com um ar de mistério como se de surtida de sonhos que se escapam pelos interstícios do tempo se tratasse. São dias mais melancólicos mas nem por isso distraídos, servem-nos justamente para acariciar aquela sensação de mágoa por tudo o que não fizemos e devíamos ter feito. A vida é assim, umas vezes certeira quanto ao atingir de propósitos por nós estabelecidos, outras vezes ataca-nos com a refinada tolice de quem nos quer precipitar para a interrogação. E posto assim o tom cinzento o que deve um homem fazer para colorir de oiro outro meio mundo? Faltam-nos palavras que explicam os despojos que inventámos, inventámos, digo bem, e a sensação com que se fica é como seria então com os que a gente nem conhece. São maus os tais dias escuros mas concedo-lhes o benefício da dúvida porque às vezes mostram-nos momentos lúcidos
para o espírito e ajudam a perceber a tão desesperada quanto estúpida luta em que nos vamos todos os dias um bocadinho. Daí que uma boa lógica ou tão só uma boa lembrança se deva escrever sempre com dois ou mesmo três lll.


 
 
Mário Rui
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