quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como se mede o valor das coisas pelo prazer do insólito




Alegrem-se os sem abrigo, presumo que os de Barcelos, pois o presidente do clube de futebol local, Gil Vicente, promete-lhes uma semana de bebida, da boa, Moet & Chandon, se a equipa vencer a Taça da Liga. A propaganda salazarista afirmava que “o vinho dá de comer a um milhão de portugueses.” Os de agora prometem enganar os estômagos dos esfomeados com álcool. Expliquem-me se há alguma diferença evolutiva quanto ao pensamento português de antanho e de agora. Pobre de espírito, este presidente. Melhor seria estar calado. Até o pai do teatro português, o verdadeiro Gil, cuja obra é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, ficaria abismado com tal eloquência desta novilíngua que desestrutura a mente e os actos de alguns. Diria ele: “mas afinal porque razão perdi eu tempo e paciência com a peça «O velho da horta’, em que revelei um perfeito domínio do diálogo e grande poder de lidar com personagens e acções que se aproximaram da comicidade? Afinal há-de vir um qualquer Fiúza para me pôr de rastos».


É Portugal no seu melhor! Valerá realmente a pena lutar pela elevação moral e pelas liberdades de espírito de mentecaptos feitos presidentes da bola? Piedade para com este país e para com gente desta.

Mário Rui