quinta-feira, 9 de maio de 2013

Taxa de desemprego em Portugal bate recorde e chega a 17,7%




















Taxa de desemprego em Portugal bate recorde e chega a 17,7%

Afinal o que mais dificulta a nossa compreensão não são as nossas convicções apaixonadas mas antes a experiência vivida no dia-a-dia. A Europa já viveu e pensou em tempos de feroz guerra, quando os canhões troavam e as bombas explodiam. Para os que cresceram nessa altura o contraste das suas vidas foi tão impressionante que muitos se recusavam a ver qualquer futuro. No entanto a ansiada paz acabou por chegar e a prosperidade, bafejando uns e não tanto outros, lá trouxe acalmia, esperança e sobretudo um roteiro optimista para a maioria dos povos. Hoje, com uma guerra de diferente natureza, e sendo certo que por agora sem sirenes, bombas ou canhões, lá voltámos ao ciclo do barco sem âncora. O mesmo é dizer que a confiança básica no provir, condição única e absolutamente fundamental para a continuidade da nossa identidade, esfumou-se. Veja-se o desemprego galopante por esse velho continente e mais em particular em Portugal. É um estranho, não sendo porém alguém que pertença a um mundo “desconhecido fora daqui”. É um ser que, por permanecer, nos obriga a pensar em enxotá-lo, o que se torna num processo que pode levar muitos anos, ou mesmo nunca acontecer. A familiaridade que já travou connosco é de tal ordem que, o governo do país, até parece já ter pensado em que circunstâncias se pode confiar no estranho. Ouço ‘bondosas’ e cálidas palavras de crer, de crédito quanto às políticas assumidas, mas o que não sinto nem vejo são procedimentos acertados que nos levem à criação de boas relações de parentesco com estes guardiães do tudo e do nada. Apenas nos fornecem as suas próprias interpretações e, com tal modo de dizer e fazer, só ficamos com uma pequenina informação gerada por meio de sabedoria esotérica. Não vale nada pois está no domínio do empírico. Ora, acontece que assim sendo, estas parcas informações desvinculam-nos do futuro que nos levou à luta de uma vida por um horizonte que sonhámos melhor. O meu problema está no facto de achar pouco provável a reconstrução de cais que albergue barco e sobretudo âncora. Hoje, a vida em sociedade tem mais a ver com o risco, com a insegurança, e se calhar assim é apenas porque apanhámos no nosso caminho “gente transcendental”, que estudou e aplicou uma ciência dita especializada mas que, no fundo, mais não fez senão um discurso formal de incertezas. Tudo gira em torno da decisão probabilística, esquecendo-se a imprudência de tal modernidade. Sem disputa bélica como outrora, vivemos nova guerra. Deslumbramo-nos diante do jogo livre dos insignificantes e assim damos acesso às incongruências que eles pretendem colar à nossa cada vez pior condição de existir. Interessante é perceber se esta má disposição das partes que constituem um todo não é igual à que deu lugar à guerra de que antes falei. Com uma substantiva diferença. Finda a contenda, a Europa assistiu à firmeza de homens que, como dizia La Bruyère, participavam da ideia: “Há uma vergonha de se ser feliz face a certas misérias”. Já desapareceram todos e pese embora terem deixado legado, poucos, muito poucos, o quiseram chamar a si. Ou por incompetência, ou por avareza.

Mário Rui