quinta-feira, 16 de junho de 2011

Há coisas que não se explicam



Há no tempo de agora vinte e quatro horas e ordinários minutos. Existem todas estas horas calmamente perdidas nos tempos. Há também hoje dezasseis dias de um mês de Maio, de um ano bom, que se arrasta há setenta e sete anos. Confuso? Talvez...
Há um perímetro de floresta calma, que rodeia milhares de válvulas corcomidas pelo tempo, esse tempo formado finalmente de horas , segundos e minutos. Vai acontecendo que desta composição, a decomposição observada traduz-se exactamente em nada. Vaga vida! Há também uma tela branca onde os homens observam a correr um pesado e duradouro caminho.
Há, há tudo isto. E vocês não se querem aperceber de tal. Mas, a juntar, há também o homem de bigode farto, com os dentes sujos e salientes, que ao falar mais parece nada dizer. Traseiro grande, nada perspicaz, antes sonolento, passivo...Ele, e muitos outros homens, caminham por aquela estrada poeirenta coberta de uma areia granulada. Atrás deles está o Sol. Aquela bola imensa de fogo que redescobre o sabor das coisas mais simples. É que pode dar-se muito ao simples.
Tudo isto não vai além de análise.
Vem ainda distante o roncar de um motor. Motor que faz rodar dois aros sobre os quais se apoia um homem . Os super-homens apoiam-se em quatro ou mesmo seis aros e, contudo, quantas vezes mal suportados pelo tempo. É o tempo dos homens. O chicote há-de castigar esse tempo. Alegra-te por isso!
E quando desço dos meus montes e falo aos que me escutam perco a ânsia de lhes dizer alguma coisa e fico-me. Só, comigo. Esses não me entendem apesar da escuta. Pensam demasiado neles próprios. Subo de novo aos meus píncaros. Muito brancos. Ávidos do surgir do deus Sol
O infinito enche-me as medidas. O vento é bom companheiro. Fustiga-me, sem contudo ferir-me.
E que importam os automatismos de que os homens se servem? Esforçam-se por conseguirem mais botões, botões onde carregar fazendo girar o sistema. Estás nele.
Eu amo o carregar na terra que se vai escoando entre os meus pés.
Calmamente, sento-me no chão do meu Deus
Calmamente, alcanço o fim.
É o meu monte.
É o meu começo.
Estarei certo?
E a nota errática e ao mesmo tempo melodramática , lá vem outra vez o tempo, dos homens é esta:
«... oh. serve!»


Mário Rui - Maio de 1977