segunda-feira, 4 de junho de 2012

Paz Celestial - 23 anos depois

















O Protesto na Praça da Paz Celestial (Tian'anmen) em 1989, mais conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial, ou ainda Massacre de 4 de Junho consistiu numa série de manifestações lideradas por estudantes na República Popular da China, que ocorreram entre os dias 15 de Abril e 4 de Junho de 1989. O protesto recebeu o nome do lugar em que o Exército Popular de Libertação suprimiu a mobilização: a praça Tiananmen, em Pequim, capital do país. Os manifestantes (cerca de cem mil) eram oriundos de diferentes grupos, desde intelectuais que acreditavam que o governo do Partido Comunista era demasiado repressivo e corrupto, a trabalhadores  da cidade, que acreditavam que as reformas económicas na China haviam sido lentas e que a inflação e o desemprego estavam a dificultar as suas vidas. O acontecimento que iniciou os protestos foi o falecimento de Hu Yaobang. Os protestos consistiam em marchas (caminhadas) pacíficas nas ruas de Pequim. Tudo acabou em tragédia. Passam hoje 23 anos sob essa carnificina e milhares participaram em vigília, em Pequim, em memória das vítimas do massacre. A memória dos homens é curta. Convém avivá-la.

Mário Rui

Bem prega Frei António Borges










Homem da Goldman Sachs, a instituição que está em todo o lado, até na falsificação das contas públicas gregas, António Borges, o 13.o membro do governo, que Passos Coelho foi buscar para, imagine-se, vigiar as privatizações portuguesas, anda por aí muito indignado com os elevados salários dos portugueses. Despedido do FMI para a Europa por ser incompetente, como afirma Marc Roche, jornalista e autor de um livro sobre a Goldman Sachs, ganha 225 mil euros livres de impostos e mais uns milhares por ser o responsável pela venda de empresas do Estado.

António Borges andou anos pela Goldman Sachs, era um dos quase dois mil directores da instituição financeira e nunca entrou no radar de Roche, que é correspondente financeiro do “Le Monde” em Londres. Homens como Mario Monti, primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, governador do Banco Central Europeu, e Papademos, ex-primeiro-ministro grego, todos eles quadros da Goldman Sachs, entrararam, e muito, no radar de Roche, que investigou o papel daquela instituição financeira na crise financeira, na falsificação das contas gregas e em muitas outras situações que puseram o mundo e a Europa de pernas para o ar.

Até hoje ninguém foi preso e, pelo contrário, todos desempenham cargos importantes em diversas instituições. Diz Roche que a Goldman Sachs gosta de ter os seus homens na sombra dos poderes políticos, para, basicamente, controlar o que se passa com o dinheiro do mundo.

Mas António Borges não passava ou passa de um peixe miúdo no mundo da Goldman Sachs. Afastado do FMI, o governo deu-lhe o estatuto de ministro e pô- -lo a tomar conta das privatizações. Isto é, poderá ter dado à Goldman Sachs o poder de decidir quem compra o quê e em que condições. Passos Coelho conseguiu, assim, o milagre de transformar um peixe miúdo num tubarão. Algo que deixa perplexa muita gente cá dentro e lá fora. É o caso de Marc Roche, que, em entrevista à Renascença, afirma, sem papas na língua: “O FMI disse-me que se livraram dele porque não estava à altura do trabalho e agora chego a Lisboa e descubro que está à frente do processo de privatizações. Há perguntas que têm de ser feitas”.

Muitas, com certeza. Ainda por cima quando António Borges sempre fez figura cá dentro à conta de ser um quadro da Goldman Sachs. Como em terra de cegos basta ter um olho para ser rei, o obscuro quadro da Sachs passou de figurinha internacional a figurão nacional. A tal ponto que chegou a imaginar ser líder do PSD, embalado por uma parte da comunicação social que o apresentou na altura como o Messias salvador dos sociais-democratas e da pobre política nacional. Borges acabou por ter entradas de leão e saídas de sendeiro. Corria então o ano da graça de 2005 e estava Marques Mendes no poder.

Esteve uns meses no FMI, responsável pela Europa. Foi sol de pouca dura. Em vez das razões pessoais invocadas na altura, vem agora Marc Roche informar os portugueses que as razões foram outras. Basicamente incompetência. Mas nem isso o impediu de continuar a debitar opiniões sobre a situação portuguesa e a propor soluções que lhe dão direito a títulos na comunicação social. Agora são os elevadíssimos salários dos portugueses que impedem o crescimento económico e a criação de emprego. A este economista da Goldman Sachs e do FMI não passou pela cabeça os elevados impostos, o peso excessivo do Estado, os contratos ruinosos feitos pelo Estado com as grandes construtoras do país e as rendas obscenas com as eléctricas, devidamente assessoradas pelas Goldman Sachs caseiras.

Mas o país aceita sempre muito bem quem venha de fora com um cartão de visita fabricado nos EUA ou no Reino Unido, sempre cheios de soluções mágicas para os já muito diagnosticados problemas de Portugal. E quando um governo nomeia um António Borges responsável pelas privatizações, a par de um lugar no conselho de administração do grupo Jerónimo Martins, também não é de espantar que os deputados eleitos pelos portugueses chamem a uma comissão parlamentar este quadro da Goldman Sachs, 13.o membro informal do governo e ex-director do FMI para a Europa.

Iluminados Para Marc Roche, a “filosofia” Goldman Sachs está presente na política europeia através de um grupo de “iluminados” que são “simultaneamente um grupo de pressão, uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda mútua” eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana, apesar de se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer na Goldman Sachs os “tecnocratas” que actualmente são protagonistas na Europa.

Se Marc Roche não faz ideia do que andaram a fazer peixes graúdos é natural que o nome de Borges não tenha entrado no seu radar. Algo semelhante aconteceu em Portugal. Borges só entrou no radar nacional quando tentou entrar na política e fugiu pela porta pequena.

Fonte: Jornal i

Mário Rui