quarta-feira, 19 de junho de 2013

Justiça



















Dizem que o perigo que hoje assola os mais desfavorecidos não é, conforme alguns afirmam, o choque de civilizações mas a ausência de valores compartilhados. No Brasil, há comunhão de interesses. Ainda bem! Aplaudo os que lutam por objectivos comuns em benefício dos que são votados a uma rede insocial que despreza os fracos em favor dos fortes e corruptos. Já só falta a réplica na mesma língua – em Portugal.

 
Mário Rui

Caras sem rosto

























“Não há símbolos do PSD (nem dos outros dois partidos) que apoiam o candidato a Oeiras. Aliás nem o rosto do candidato. "O meu nível de notoriedade é tal que não preciso de colocar a minha cara", diz o escritor, comentador televisivo e ex-inspector da Polícia Judiciária” (Jornal Sol)

Foi este o candidato que nos sugeriu que uma notoriedade intrínseca feita a dele o escusava de colar a sua própria cara ao cartaz de campanha. Enfim, são opiniões de gente que pelo vistos se acha acima dos tradicionais métodos de apresentação pública e, portanto, lança borda fora um meio que sempre me pareceu útil para melhor dar a conhecer um dos lados do político. A cara! Claro que atitude assim assumida pode sempre interpretar-se de modos vários. Um destes, e considerando os tempos conturbados que se vivem, acho que radica no facto de muitos dos candidatos às próximas eleições autárquicas, embora apoiados pelos respectivos partidos, não quererem mostar o outro lado da realidade. Já não apenas a metade restante da sua face, mas antes a das próprias forças políticas que lhes dão suporte, tal tem sido o desvario posto em prática pelas mesmas na governação do País. Envergonha qualquer um. De resto, como refere a notícia do Sol, nem sequer símbolo do partido aparece nesta campanha. Mas não se julgue que esta postura toca apenas os candidatos do PSD. Se olharmos para o PS, a coisa não muda assim tanto de figura. Dizem os estudos que, na matéria, são 19 os socialistas que optaram por não apostar o símbolo do partido e 12 social-democratas que fizeram o mesmo. Figurino destes é o oposto do que se via há um bom par de anos atrás o que, embora surpreendente, não deixa de traduzir um certo mal-estar, nomeadamente no seio dos dois maiores partidos nacionais, quanto a associações visíveis que começam a parecer ao eleitor e até ao próprio candidato, de mau tom. Evidentemente que opiniões diferentes sempre dirão que este modo de interpretar os actuais sinais não reflectem em nada a realidade existente. Pois bem, cada qual pensa e concluí à sua maneira e esta é a minha, dando no entanto abertura para que me convençam do contrário. Política nacional a raiar o grau zero só podia dar nisto. Sociedade sitiada apesar de ainda não entrincheirada, e se calhar já lá deveria estar, parece aconselhar prudência a candidato que se dispõe a ocupar lugar na política local. A proximidade é muita e se uns ainda permanecem longínquos ao eleitor, e por tal blindados dos “ataques” populares, outros há que por estarem perto podem vir a ser incomodados. Portanto, pelo sim e pelo não, considerando o paralelismo das atitudes, a similitude de condutas de governo do país nacional e local e a possibilidade de que se manifestem hostilidades inesperadas, manda o bom senso que se evite o confronto directo. Apaguem-se as caras, se possível os símbolos, utilizem-se as tácticas do toca-e-foge, na esperança de que a escassez de armamento dos eleitores e o esquecimento da simbologia possa, com alguma esperança, trazer uma conclusão conhecida à partida. Talvez eu esteja enganado, mas acho que o mundo torna-se presente para os nossos olhos como uma sucessão de imagens graváveis , e o que quer que não se adeque a ser gravado numa imagem não lhe pertence verdadeiramente. Daí, simultaneamente perceber e não perceber a ausência de rostos e símbolos na campanha em curso. Mesmo reiterando dúvidas, preferia olhar olhos nos olhos, em papel que fosse, todos os candidatos.

 
Mário Rui