sábado, 22 de janeiro de 2022

Portugal, meu amor, só há uma coisa que te faz cheirar mal

Os pinheirais cheiram a caruma brava, os montados, ao acre das giestas, os campos, à terra lavrada, as leiras, ao bafo dos bois e a costa, à babugem húmida da maresia e dos sargaços frescos e sadios. Portugal, meu amor, só há uma coisa que te faz cheirar mal. São as almas que se encobrem nos refolhos da hipocrisia e se disfarçam em aspectos sorridentes, em palavras gentis(?), em maneiras corteses (?) mas sempre tocando em flautas de dizeres de reserva, de argúcia, voltando a sua real estima para os cansaços da política manhosa de modo a que mais tarde ela lhes dê seu colo para um descanso mais do que delicioso. Daqueles que nunca lhes estremeça a bela vida que alcançaram à boleia da canibal ambição de subir, mas afogueando o horizonte num véu de fumarada espessa e traiçoeira.


Mário Rui
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E a saga continua

E a saga deste sujeito continua. Os que não deviam ter a incumbência de nada, encarregam-se obstinadamente de tudo. Talvez já fosse altura de mudares de vida. Não tanto pelo que dizes mas sobretudo pelo que nunca fizeste; largar a dependência política que sempre revelaste!


Mário Rui
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O mais difícil de tudo

Chego agora ao ponto mais difícil: o título!

Talvez assim; tudo nos infunde amargura, tristeza e nos afunda na dor. Tudo isto nos entristece e quase que nem a esperança conseguimos abraçar.

 

Mário Rui
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Quando não havia XANAX, a vida não era nada fácil …


Mário Rui
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Pardilhó/Estarreja d'outrora



Mário Rui
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Destinos

As tuas ambições, os teus egoísmos, os teus vícios, as tuas jactâncias, a tua valentia e as tuas manias, tudo isso se mascara. E tudo, desde o frágil ao grandioso, tem o mesmo destino. Cuida-te!


Mário Rui
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Sê polido, encobre a raiva sob o riso, e o riso sob o pesar.

Sê polido, meu amigo. Encobre a raiva sob o riso, e o riso sob o pesar. Todos nós disfarçamos os piores instintos. Inútil mascarada, se todos nos conhecemos bem. E, já agora, sempre gostei mais de ler livros que levem ao triunfo do que reler os que parecem fuga a uma derrota. Tomem todos bons banhos de sol. Mas para isso é necessário saberem insinuar-se, que a questão está em ter manha.


Mário Rui
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Rugas da Ria de Aveiro


Mário Rui
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O que por aí ouço.

Tenho ouvido mais juras sem fé do que de minutos tem um século.


Mário Rui
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“O que é tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei”

“O que é tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei”.

(Santo Agostinho)

Tenho um relógio que se farta de me chatear. Se adormeço, acorda-me, se estou acordado começa a bordar um estirado sermão sobre cobertores. Julgará ele que valem mais os seus vícios do que as suas qualidades? É mais rigoroso do que quatro praças da guarda republicana e o oficial de justiça, que por acaso nunca me chatearam. Até os ponteiros parecem que todos juntos se erguem contra mim. Vem uma hora, vêm duas, vêm três e nunca mais a coisa pára. Alongam-me o passado, encurtam-me o resto que me falta. E quando me apanho no largo, ainda aquele compasso me parece a lembrança de um tempo ido e de um futuro ignorado. Um intrujão destes dava por certo um óptimo redactor. Sabe tudo das nossas vidas. E o curioso, ainda por cima, é que não há um ajuntamento, um quarteirão, uma rua ou um campanário que não tenha tido um relógio por companheiro. Muitos o tiveram de herança, outros o alcançaram por trabalho ou sorte. Quem sabe se não foi uma hora má de aborrecimento, de tédio ronhoso, a inventar o marcador de tempos? É que a partir de uma certa hora, o que não está no livro dos destinos, está seguramente no mostrador daquele que repete minutos. Nada o detém. E eu, que já me esqueço de quase tudo, fico-me a considerar se ainda vale a pena saber quanto tempo o tempo tem. O mais das vezes ele desmancha, nega, afirma, contradiz, rebate e inventa, também à custa do relógio, que o que quer é que a sua fama não se estrague. À uma por causa da tradição, à outra porque estragada a fama lá podiam vir dois feriados em cada semana, coisa que negaria o acerto que julga ter pois que, afinal, dias e bocados de tempo consensualmente tidos como úteis, só mesmo o sábado e o domingo. E, se cortada essa tradição ao relógio, elevado desde sempre a tanta autoridade e poder, de certeza que depois apenas lhe restariam horas, dias e anos de cruéis desapontamentos. Ademais, hoje, tão acostumados que estamos à nossa contagem do tempo, podemos até não perceber a complexidade dos feitos dos nossos antepassados.


Mário Rui
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A desconversar não nos entendemos

Se antes era Fado, Fátima e Futebol, como certos iluministas dos tempos diziam, agora é bem pior. Somem-lhe pois ocasiões de horror, injustiças, intolerâncias, corrupções, desamores políticos, ditos por não ditos e outros que tais finamente ramificados. E então aquelas “conversas em família” postiçamente desavinda, digo eu, a que alguns também chamam de debates para as próximas legislativas? Um verdadeiro desconjuntamento ordenado, mas numa confusão ardilosamente estruturada. É vê-los controlando as respostas dadas com as perguntas esperadas. E se o “entrevistadeiro”, ou mesmo o “comentadeiro”, for da família do que deve dar respostas, então aí é que a coisa fica linda de morrer. Será que ninguém ousa ver que, porque um peso o quanto é peso pende, e quanto pende depende e assim sempre descende? Entre Fado, Fátima, Futebol e a política fingida de hoje para pacóvio ver, há diferenças marcantes, ou seja, algum cinismo no primeiro caso, nenhuma virtude no segundo. Muito alto podeis falar quase todos, porque pouco sabeis dizer, sendo sorte vossa que liberdade ainda não signifique libertação. Na ponta final da escala, bem-vindos sejam os que fogem a esta rotinização do parecer bem fazendo mal. Ainda os há, embora poucos!


Mário Rui
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Capa da edição de Janeiro de 2022 do jornal "O Concelho de Estarreja"



Mário Rui
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David Bowie – D.E.P.

8 de Janeiro de 1947, Brixton, Londres - 10 de Janeiro de 2016, Manhattan, Nova Iorque.


Mário Rui
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Somos capazes de fazer tantas coisas que às vezes nem nos passam pela cabeça.



Mário Rui
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Os meus amores supremos

Guardados religiosamente cá em casa ainda estão os meus fabulosos - porque sempre foram amores supremos – aparelhos de alta fidelidade. Fidelidade no som e na companhia que me fizeram. Passei nos primórdios pelos da Grundig, um salto depois para a Onkyo, a seguir os Sony, as colunas JBL, o amplificador Quad, o gravador Pioneer, o pick-up Technics, e eu sei lá mais o quê. Só sei que me fechava no quarto e o mundo era meu, um mundo que me parecia querer muito bem à vida e que sem interrogações apresentava-se-me colorido umas vezes, outras dóceis e outras tantas festivas. Ouvi, gravei, cantei, sonhei tantos anos com este culto e sem que nunca esses amores supremos lutassem contra o sensitivo que fui. Com eles sempre fiquei mocidade vivaz e sobretudo poeticamente enlevado. E, se chegado o tempo de concluir, quanto possível, em música, que o prazer estava findo por esse dia ou noite, lá regressavam no amplo do dia seguinte os tons quentes postos nos lóbulos das orelhas, mas também nas narinas porque a música tem cheiros inebriantes, e tudo era outra vez gama de tintas que se tonalizavam numa distinta paixão. E pela exuberância e largueza do que sentia naqueles sons, deleitava-me num anseio de voar até que se esfumassem em mistérios aprazíveis os desejos incontidos de quimeras sagradas. Afinal, devo quase tudo à música sem que ela me tenha pedido algo em troca. Deliciava-me na tinta poética dos crepúsculos sonoros, tal como na alva que depois vinha e, mesmo se taciturno, vingava-me no vigor da sua fisionomia musical, expressiva, e concentrava-me de novo na incidência e na insistência do som inteiro por fora e por dentro. E, por vezes, até na música se me refugiava um esquecimento sublime. Ainda hoje tudo isto se aquece no regaço do meu gosto teimoso, não obstante ele me sussurre que não posso continuar nesse perfeito. Mas insisto, nem que de onde a onde, com preocupações que me assustam e acobardam!


Mário Rui
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Eleições autárquicas a 12 de Dezembro de 1976

Eleições autárquicas a 12 de Dezembro de 1976

Tomada de posse de Maria de Lurdes Breu como presidente da Câmara Municipal de Estarreja, a 3 Janeiro de 1977.



Mário Rui
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The Rolling Stones


 Na hora em que um trio é um quarteto desfalcado. Fazes falta, Charlie Watts, e pena é que a vida não tenha mais do que duas portas. Uma por onde se entra, outra por onde se sai.


Mário Rui
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Por aí


Mário Rui
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O mais delicado perfume é o perfume do que foi perfume

Para muitos, esta canção pouco lhes dirá. Para outros, foram marcas numeradas em papel de luxo. Não é filosófica, talvez não tenha mensagem erudita, convincente ou duradoura. Mas o que importa isso? Vejam lá se percebem que a vida é também o deleite brando e demorado de a relembrar no que ela teve de mais bonito em alguns momentos das nossas vidas. E ainda na idade reflectida, o prazer desses dias não passa. A recordação vem forte, fica, e estas alegrias valem, sobretudo, pelo fio de doçura que deixam na saudade fecunda e jamais olvidada de tempos irrepetíveis. O mais delicado perfume é o perfume do que foi perfume. . .


Mário Rui
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Ano Novo - se não e encontrar, procure-o no Google

Em não havendo grande vontade para festejar o ano que agora se fina, que venha então o próximo e que cada um encontre muitas alegrias, paz e o mais que muito bem desejar. E o que não encontrar… procure no Google! Se não vir lá nada de jeito, ainda tem outra opção. Vá à Madeira, que é um país que fica lá para os lados da Macaronésia e que tem por hábito assinalar as festividades de fim de ano, e outras, sem restrições adicionais. Lá, ninguém tem medo do teste à covid já que afinal também ele tem o seu lado positivo. Já no nosso luso e continental território, as festas não acontecem exactamente nos mesmos termos. E porquê? Apenas porque uma das desvantagens de viver em Portugal reside no facto das romarias e dos piropos em português já não acontecerem ao vivo como noutros sítios “estrangeiros”. Mas também não vale a pena debruçarmo-nos muito sobre o lado oculto destes critérios. Isso dá um problema sério de coluna, coisa que de resto já afecta muito decisor político neste mal-governado rectângulo de terra. Enfim, no computador Portugal, que trata estes casos, tudo parece funcionar mal com tal base de dados, fruto do sistema (in)operacional utilizado. Mas também há que salientar que os  computadores são como as carroças: sempre têm um burro na frente, como eu...


Mário Rui
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Já era de esperar! Assim nem o árbitro nem o VAR fazem falta… A coisa ficará resolvida sem polémicas.



Mário Rui
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Por aí




Mário Rui
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Novo ano começa com novo aumento de custos. Tudo novo, portanto.

Li algures num desses nossos colossos da informação, que tanto abundam na pátria feliz onde não há famílias carenciadas, esta notícia sensacional que nunca havíamos conhecido e que surge agora como um feixe de coisas novas, mas sobretudo boas.

Novo ano começa com novo aumento de custos. Tudo novo, portanto.

A saber;

Electricidade – Rendas – Portagens – Transportes – Telecomunicações - Inspecções Obrigatórias de Automóveis, Comissões Bancárias, Gás, Água, Bens alimentares, Roupa e Apólices dos Seguros de Saúde.

Mesmo assim, acho pouco. Mas a coisa ainda há-de rematar pondo o triste pagante no circo, junto à jaula dos tigres, dizendo-lhe: - Ó meu prezado amigo, que agradável surpresa! Tenha a bondade de entrar.

Entretanto, ainda segundo os ditos periódicos, vai haver mais boas notícias. Os saqueadores vão oferecer a todos um magnífico corte de fazenda para um fato, uma grafonola e 6 discos, 7 pares de ligas para senhora, em seda, uma dúzia de caixas de pó-de-arroz, 25 latas de conserva especial, uma colecção de latas para a despensa (vazias, claro) e uma dezena de sabonetes mundialmente afamados. Também seria o cúmulo da indelicadeza se não o fizessem.


 
Mário Rui
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Ai, Benfica, Benfica...




Mário Rui
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2022 - Porta aberta para novos velhos sonhos?


2022, esse sim, que bem nos convinha que não trouxesse consigo mais desesperanças de valiosas recordações.

O de 2021 embaciou-me em demasia os óculos, os olhos, cortou-me aproximações porque o seu desenrolar só me deu menos bem travados diálogos, imperfeições que nem sempre foi possível remediar nesta nova edição de vida e roubou-me os modelos ‘domésticos’ como nunca havia imaginado. 

Mas mesmo os que venceram esta luta gloriosa souberam resignar-se como nós nos resignámos à dita.

A única diferença, não sendo ela despicienda, é que esses vencedores ficam com um título de que podem valer-se para não serem entregues de todo ao esquecimento.

E bem o merecem por terem conseguido deixar para trás as mais malditas das solidões que os acossaram.

Ainda sobre 2021, do cimo desta espécie de atalaia natural, a cada dia descortinávamos para todos os lados vastos horizontes de alentos e, afinal, não obstante alguns progressos, quer queiram quer não, ainda a paisagem ao longe está empestada em negrumes confusos.

Parece ainda que a nossa vontade mais não é do que frágil instrumento nas mãos de um destino traçado pelo autor de um crime.

É um mistério a sua pátria, a sua raça, donde veio e apenas temos a certeza de ser um ‘profeta’ terrível, porque as suas predições recaem unicamente sobre futuros assaz incertos.

Minando à surda na vida, quebrou a nossa vivida centelha.

Entre outras coisas, 2021 foi assim, também.

Não gostei nada desse trejeito, não gostei nada do que ele me ofereceu e quase nada, com efeito, o meteu em brios.

Vai-te, acolhe-te no sombreado retiro e que corra daqui a uma semana aragem, por débil que seja, que nos devolva os espaços imensos e não vacilantes.

Os que nos alonguem os momentos incomparáveis das nossas existências, acima de tudo os que nos possam idear a imaginação no mais vasto círculo dos nossos sonhos ou ambições. 

Chega bem, 2022! Cada ano que entra traz sempre um valioso conhecimento do que lhe foi o anterior e acrescenta uma esperança à nossa inocente vaidade.

- Pelo que vejo, disse-me já 2022, o meu amigo gosta de prosear. Respondi-lhe;

- Pois, meu rico senhor, eu moro a poucas léguas do mar, ainda a algumas do sol e desde sempre tenho batido todos os poentes que me são oferecidos e que fazem curas que são um milagre.

Não lhe posso dar hoje sorrisos, mas não me tire outra vez todos os meus sonhados segredos e muito menos os meus adorados ocidentes.


Mário Rui
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Feliz 2022




Mário Rui
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