sábado, 17 de outubro de 2015

Há muitos relógios a dar horas


Não sei se o tempo existe mas que há muitos relógios a dar horas, há! Até parece que foi o relojoeiro quem fez o mundo. E foi tanta a imensidão da hora feita, e tantas são as suas celebrações, que o mundo ficou mudo de sonhos e alguém lhe disse que afinal esse era um detalhe que não tinha a menor importância. E assim foi avançando a hora de não sonhar, em triste bebedeira cada vez mais solitária, até ao fim do dia. Umas seguidas de outras, as horas foram dormir. Veio a alvorada e a hora encontrou o mundo ofendido sentado na rua, exausto de esperança de tanto se queixar do sonho fugido. E o anunciado detalhe sem importância visto e sentido sem sonho possível, às primeiras horas do dia desvaneceu-se em pouca vontade de continuar sofrendo e em muita de vingar-se. Foi já pela manhã que o mundo acordou de vez de um sono que lhe haviam dito ser cura para o sonho amputado, detalhe sem valor, então tomou um bom banho, um café quente e, ao meio-dia, arrependido de ter dormido com um sonho mal contado, se ergueu arrependido e se perguntou; «que fim deram aos meus sonhos de juventude?». «Porque me agitaram, me fizeram sofrer, me deprimiram em horas que me levaram aonde eu não queria ir?» Foi essa a hora que fez tocar as campainhas do mundo e o mundo disse; «como tenho muita vontade de que reparem em mim, a partir de agora mudo a hora quando muito bem me apetecer! Tenho de dar duro para parecer menos idiota do que sou». E assim, de quando em vez, há um mundo que muda a hora não vá a hora mudar o mundo. E assim, esse mundo já não precisa de passar as horas todas aprendendo e compreendendo o que não deve, antes usa o tempo para imitar os sonhadores, as respostas, os modos de agir e sobretudo para evitar as preocupações que sobram dos grandes erros dos maus conselhos de certos tempos.


Mário Rui
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Desmandos do jornalismo contemporâneo


Claro que nada me move contra o senhor Eduardo Barroso e portanto não é dele que quero falar. Apetece-me é dizer que leio com alguma frequência o jornal i e começo a ficar cansado por ter de dedicar letramento a revista cor de rosa. Jornal, deve ser leitura que oriente a opinião da semana, algo que consista em informar acontecimentos de importância geral, ou de notoriedade incontestável, e não gazeta que sacie curiosidades ociosas. Mas esta é a minha expectativa quanto ao prazer de leitor e à necessidade de informação e se quiserem não lhe dediquem muito crédito, mas deixem-me desabafar assim.  Averiguada a falta de livros que por aí anda, eu apostaria no desenvolvimento de jornalismo didáctico em lugar de desmandos do jornalismo contemporâneo. Não me interessam fait divers, toilettes, passagens de carácter exclusivamente pessoal , graças mundanas e muito menos intimidades. É uma abdicação total do conveniente em favor do fútil e daí que, ainda que amavelmente céptico, eu passaria tudo isso para a tal revista do social que muito leva em conta as preocupações estéticas dos colunáveis. Disse! E qualquer dia não dou mais um centavo ao i.


Mário Rui
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