segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A minha gata.

















Tenho em casa uma gata. Como é bom ter em casa uma gata. É um ser amigável, não contesta as minhas decisões, as acertadas, não discute o que não tem discussão, não se oferece retorquir às vergonhas que lhe aponto já que as subentende e, melhor e mais sublime que tudo isso, não mente. Como eu gosto da minha gata. Entende o que lhe digo e não me põe obstáculos no caminho. Não me faz nascer, assim muito devagarinho e progressivamente, nenhum sentimento de repulsa em relação àquilo que é. Um ser quase perfeito. Era assim que deviam ser alguns seres pensantes que, de tão parcos de inteligência e especialmente de bom senso, só merecem ser votados ao desprezo. Calados quanto baste, inteligentes quando não dão opiniões, espertos quando são cretinos, assim é que deviam permanecer. Na maior parte das vezes. Agora é o Franquelim que se lhes dá na gota. Um Franquelim que, ele mesmo, se tivesse dois dedos de juízo, jamais se meteria na alhada em que se meteu. Na do BPN e na do actual governo. Mas não, preferiu dar o flanco e ouve agora o que se calhar não quer. E deve ouvir bem, pois está na sua cara que não procedeu de modo elevado em ambas as situações. Embora Franquelim, parece nada ter a ver com o outro. O do pára-raios. Quem sabe se não lhe faria jeito nesta altura. O pára-raios que lhe evitasse a trovoada e o relâmpago que lhe bate na face. É bem-feito. Ninguém o mandou meter-se na enrascada do BPN. E é estúpido porque também ninguém o obrigou a dar tão baixa nota de ética política como a que por estes dias lhe vai percorrendo o corpo e, quem sabe, a alma. Depois vêm os moralistas.Os que acham que o mundo devia ser gerido por uma casta de homens que, sendo retratos fiés do Franquelim, ou piores, digo eu, esses sim, estão acima de qualquer suspeita, impolutos até o diabo dizer chega. Os que, não tendo uma atitude política já que os cargos assumidos desse cariz o não foram, deviam ter tratado a tempo e horas da nossa honradez, e não o fizeram. É tão ignóbil na sua aceitação para o cargo, o Franquelim, quanto o foi um tal de Constâncio na supervisão de um Banco, o de PORTUGAL. Ignóbil quando fechou os olhos ao desvario que campeava na banca portuguesa. Se um diz que não tomou conhecimento a tempo do que se passava, então o outro nem sequer quis tomar em mente o que estava a acontecer. Mas agora, jornalistas, fleumáticos do meu reino, pensadores da minha praça, estações televisivas inteirinhas, blocos, soviéticos, alguns centristas, socialistas, verdes avermelhados, sindicalistas das massas proletárias, todos, mas todos juntinhos, esqueceram-se do (in)Constâncio e o que conta é o outro. O Franquelim. Ambos farinha do mesmo saco. São iguais, gentes não minhas que vociferam ao sabor da cor arregimentada politicamente e que mais não conseguem senão aspirar a meninos de coro. Clamo aos deuses, sejam ou venham de onde vierem, que me expliquem o que leva tanta gente a atacar um charlatão e a defender um hipócrita. Afinal o mundo é tão pequeno para o nosso pensamento que não vislumbro motivo para que esta gente não se detenha por instantes na meditação calada mas assertiva e, só depois, se indigne. Mas com faca de um só gume. Quando a usam com dois gumes, metem-me nojo! Esta merda de democracia, feita pelos poderes de alguns escribas, opinadores e quejandos, pode e deve ser denominada a do engano! Do engano que querem colar ao nosso corpo. À nossa mente já não o conseguem. Mais pela maneira fingida como nos querem tratar que propriamente pela dialética de que lançam mão na tentativa vã de nos convencerem. Por mim, jamais hei-de ser escravo dos senhores deste tempo que a abstracção humana/política criou, reuniu e classificou em anos, meses, dias, horas e minutos de uma infeliz democracia dos que julgam ter uma significação para os outros. Cada vez gosto mais da minha gata. Prefiro ter a minha felicidade interior associada a um ser limitado, mesmo felino, que subjugada a ladrões de ideias e velhacos do tempo. Chamem-se eles Franquelins, Constâncios, apostadores de uns ou cegos, porque não querem ver, de outros. É que os felinos devem tudo à natureza. Os humanos de que vos falo devem tudo a um modo de estar na vida que transcende ordinariamente os limites do que poderia ser proveitoso a todos nós. E, assim sendo, se alguma utilidade ainda lhes restasse, então só a poderíamos lançar para a sarjeta. À utilidade e às vossas feias máscaras! É Carnaval. Que boa altura para o fazer.

Mário Rui