terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A história do Portugal contemporâneo




















A história do Portugal contemporâneo  (VER AQUI)

 
Quando um dia for escrita a história do Portugal contemporâneo, se é que alguém a conseguirá contar bem face à torpe realidade dos factos sórdidos por ora vistos e vividos, por certo julgará o futuro leitor estar em presença de conto de espantalhos ou de  fábula de sátiros viciosos. Certamente não vou poder lê-la, desde logo porque  já por cá  não andarei mas, mesmo confiando em boa interpretação de mui avisado historiador que por aí apareça, e na mais que improvável perenidade do meu eu para o ler, dificilmente será narração histórica para nobilitar os vindouros e o país enquanto, como devia ser, Estado com sentido. Procuro, procuro e não acho siso em quase nada do que vai acontecendo nesta terra. Subtrai-se continuadamente a sua realidade, a sua veracidade o seu valor. Surgem os construtores do destino dos  nossos descendentes e como que parecem querer erigir os templos onde repousarão para todo o sempre as obras que ufanam o nosso ser português. Depois, vêm os outros, os que também parecem estar preparados para as alturas, e chegam para demonstrarem que a adoração dos valores dos primeiros não é coisa que se deva fazer com fé em impulso veloz. Cuidado, dizem estes,  a apreensão básica, simples, da demonstração dos que analisam causas e estruturam templos, não garante a prosperidade, não é o sublime direito ao futuro. Acrescentam, é mais estratagema ardil com que se oculta o verdadeiro plano, resultado de um conjunto de ideias, de combinações que, graças a longa experiência de já tão longa peregrinação no reino do suspeito, têm infelizmente vingado no seio dos atrevidamente embusteiros. De facto, toda a realização, todo o passo em frente, deve ser objecto de atinada reflexão por banda de quem, mais tarde ou mais cedo, o vai pagar. Ora, como os Paços de certos edificadores ainda não estão concluídos mas eu já os estou a pagar, e pelos vistos assim continuarei sabe-se lá até quando,  rogo a quem me lê que me atenda neste sussurro do aprender a examinar as causas e os efeitos de tanta obra. Não é por refutar  ideais que assim falo, só eu sei como luto por eles, é apenas porque me ensinou a vida das auto-estradas, das rotundas, das ciclovias, dos gimno-qualquer-coisa, dos estádios da matéria, dos centros de congressos, das imponentes fachadas, que devo calçar luvas diante de tão “essencial” construção que forrou o bolso de outros tantos, quase todos eles prenhes de genuínos critérios de (a)moralidade.

 

 
Mário Rui