sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Devemos também dar ouvidos aos que estão nas franjas.




















Se nos aprouver, podemos fazer chacota. Não sei se neste caso o rei vai nú. Mas sei que a D.Duarte Pio assiste o direito de também falar. São tantos os que verborreiam ao sabor dos acontecimentos que vão marcando o dia-a-dia do país que, mais um, não fará certamente mal aos portugueses. Sobretudo depois de ouvirmos os mais estapafúrdios discursos vindos de pessoas com pouca idoneidade moral. Sendo certo que o pretendente ao trono terá poucas possibilidades de ascender ao poder, nem por isso será caso para o marginalizarmos conquanto a sua intervenção de hoje se faça em torno de palavras sensatas, prudentes e, se possível, com mais propriedade do que a utilizada pelos tais destituídos de moralidade. Se lançar mão de oralidade convincente, que deixe mensagem e toque quem a ouve, tudo bem. Precisamos de vozes que acalentem e transmitam  algum alento ainda que seja dinástico. Não vejo pois razão que justifique troça ou ostracismo só pelo facto de se tratar de figura da Casa Real. Dir-me-ão alguns que vivemos na alvorada da era da transformação radical e que tal estado não é compatível com regimes monárquicos. Talvez. Mas também não é menos verdade que vivemos num momento em que toda a estrutura do poder que mantinha o mundo coeso se está a desintegrar. E esta desintegração não é fruto da acção dos Reis. No caso de Portugal, o colapso da sociedade democrática, está bom de ver,  só pode ser atribuído a forças que abalam o poder e a autoridade  em todos os níveis do sistema  e que, parece-me, cada vez serão mais intensas e difusas, como de resto lhes convém. Por outro lado, é bom que nos lembremos que as nossas três Repúblicas também nasceram de três golpes militares, após os quais os governantes se lançaram na tentativa de reorganizar a sociedade, com os resultados que agora estão à vista de todos. É e sempre foi a qualidade do poder a determinar o grau de satisfação de um povo, de uma nação. No nosso país, esta qualidade tem sido nivelada por baixo. Assim tem sido pela simples razão de que a riqueza de que muitos se têm rodeado só oferece poder de fraca qualidade. Como disse Montesquieu, “o luxo arruína repúblicas”. Também disse que “a pobreza monarquias”. Em qualquer dos casos é sempre útil, já que não podemos ter uma felicidade absoluta, que possamos ter contrastes que assinalem e façam distinguir os sistemas menos maus e avaliá-los como tais. É por esta ordem de razões que queremos saber, sendo nós os governados, o que necessariamente devemos ignorar. Para tal devemos também dar ouvidos aos que estão nas franjas.

Mário Rui

Viragens



















Então mas este virou segunda edição de Passos Coelho?

Mário Rui