quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Histórias da história

Pela ciência de viver

Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.
O título da notícia sobre a entrevista de Stephen Hawking ao El Mundo diz tudo: "Não há nenhum Deus. Sou ateu". Imagine-se o cabeçalho contrário, igualmente ridículo: "Deus existe. Sou crente".
Hawking pode ser um bom cientista, mas até hoje não foi capaz de escrever um único livro que fosse compreensível por quem não fosse cientista também. Foi o autor de um dos maiores golpes publicitários do século XX: chamou a um impenetrável livro de física A Brief History of Time.

Tudo naquele título atrai o flâneur curioso. Quem não quer ler um livro sobre a história do tempo? Quem não acha graça à ideia do tempo ter uma história? E, acima de tudo, quem é que resiste a um livro sobre coisas científicas (e logo porventura chatas ou incompreensíveis) que promete e consegue ser breve, não obstante ser breve apenas em termos milimétricos?
Uma Breve História do Tempo – que eu já comprei e tentei ler umas más duas vezes – bem poderia ter 50 mil páginas se fosse só um pouco mais claro. Tal como é, exigiria um título diferente: "Um Longo e Confuso Livro Armado em História do Tempo".

Hawking acrescenta que "A religião acredita nos milagres, mas estes não são compatíveis com a Ciência". Note-se que a Ciência tem direito a letra grande, mesmo no meio de uma frase.
Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.

Deus pode não ser grande, mas Hawking é parvo.

Miguel Esteves Cardoso   (Crónica jornal Público de 24/09/2014)
 
____________________________________________________________________
 
Uma “história”, qualquer que seja, tem sempre dois lados. Cada um interpreta-a como muito bem entender e não vem mal ao mundo pelo facto de haver opinião diferente quanto à leitura que dela se faz. O futuro, seja qual for, se calhar não será mais racional do que o presente ou do que o passado, então como preferir isto àquilo? A escolha pode e deve ser feita individualmente. Acontece também que, qualquer dogma, pode muito bem ser negado por quem não alinha em crença religiosa, mas também deve ser lembrado que há outras espiritualidades, por exemplo políticas e científicas, que deixam muito a desejar por se revelarem exactamente do mesmo modo, ou seja, dogmas absolutos. Por mim, opto por uma posição de neutralidade meramente benevolente relativamente aos que acham que a conformidade está com eles, não importa quais nem o tipo de conformidade. Em todo o caso, e não obstante bondade minha assim expressa, devo manifestar igualmente modo de ver pessoal. Assim, acho que o que também há, sem dúvida, é uma imensa maioria de verdades que não são absolutamente verdadeiras, mas nem por isso são menos existentes; elas são «deste mundo» e eu adoraria que, segundo muitos, não sendo a religião capaz de as explicar convincentemente, fosse então a 'sabida´ ciência a desempenhar papel subtil na explicação do pensamento humano. Fico pois à espera que tal ciência acabe em definitivo com a guerra, com os extremismos, com a fome em África, e não só, com a loucura de certos homens e já agora com as outras respostas que façam do mundo um sítio melhor para se estar. Ninguém é dono da verdade irrefutável e se alguém se arroga o direito de a tomar para si como coisa inquestionável, só está a dar prova da sua própria ignorância. E tanto se me faz que se trate de 'verdade' religiosa ou de 'verdade' da ciência!
 
 
Mário Rui
___________________________ ________________________________